quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Saber contar a verdade

Uma amiga contava-me ontem que, certo dia, logo após a faculdade, em determinada entrevista, lhe perguntaram se achava que iria gostar de trabalhar em determinado departamento. A minha amiga, do alto da sua transparência, respondeu:
- Não lhe posso garantir que vá gostar, porque a verdade é que nunca trabalhei nesse departamento, seria a primeira vez.
A este episódio acrescentou outras entrevistas que teve. Numa, assumiu que a má média da faculdade se deveu a não ter estudado muito, e que teve sempre muita vida social durante esses anos. Noutra, assumiu que, após um primeiro emprego, chegou a trabalhar numa loja, porque precisava de se manter financeiramente independente enquanto não encontrava nada na área.
- Achas que foram todas respostas erradas?
Tive que ser honesta e dizer que sim, que achava que tinham sido respostas erradas. Aliás, as respostas poderiam ser consideradas corretíssimas num mundo ideal. No mundo ideal, no entanto, a verdade tem que ser trabalhada. E dourada. A ponto de se tornar a verdade que querem ouvir, e não a queremos necessariamente contar.

Assim, no primeiro caso, a resposta que queriam ouvir para contratar seria "com certeza irei adorar. Parece uma área fascinante". Ora, ninguém tem certezas de algo que não conhece, o que faz desta resposta um bocado manhosa, na minha opinião. De qualquer maneira, tenho a certeza que um candidato com esta resposta seria escolhido em detrimento da minha amiga.

No segundo caso, teria que justificar a média baixa com "o trabalho em simultâneo, durante a faculdade, para manter a independência financeira". No terceiro, diria que estava a investir na formação (mesmo que a formação fosse apenas ver a Maria Helena e o tarot na televisão, de manhã) e que estava a trabalhar por conta própria.

"Mas é mentiraaaaa", dirão vocês, a cantarolar João Pedro Pais. Não é mentira, respondo-vos. É a verdade que aqueles entrevistadores querem ouvir, convenhamos. ;) E não tenho formação nenhuma em recursos humanos, mas penso apenas na perspetiva do futuro empregador... O futuro empregador quer ser enganado, quer ser conquistado, quer ser galanteado. Sim, isto é tudo como um namoro na fase inicial: conquistar, elogiar e vender o nosso melhor. O pior? Não interessa nada para já...

5 comentários:

  1. Anónimo08:13

    Tens toda a razão. No entanto, há questões que nem deveriam ser colocadas numa entrevista de emprego. A mim já me perguntaram se tinha filhos. Fiquei tão chateada com a questão, ainda por cima foi colocada uma semana depois de ter tido um aborto. Fiquei com o lugar, porque respondi o que ele queria ouvir em todas as questões, mas passei a detestar o coordenador pela entrevista de emprego que me fez.

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  2. Anna08:52

    Algo me diz que somos da mesma área .. :) Sou finalista de mestrado e já fui a tantas entrevistas, já fiz tantos CVs e cartas de motivação/apresentação .. já fui inclusivamente a várias ações de formação do género "como fazer um bom CV", chegando à conclusão que além do curso que ando a tirar, devia tirar um curso só para saber passar em entrevistas x)

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  3. Em relação à 1ª pergunta, a minha resposta iria variar consoante o anuncio de emprego a que eu estaria a tentar concorrer. Se o anuncio dissesse que queriam pessoas para uma area especifica e me perguntassem o que eu achava de ir para outra area, eu diria que não era essa a area para aquela estava a responder ao anuncio.

    Se o anuncio nao especificasse area e me fizessem a pergunta, então:

    - se nunca tivesse trabalhado nessa area, diria "não me importo de aprender coisas novas e de novos desafios"
    - se já tivesse trabalhado nessa area, diria "já trabalhei nessa area, portanto tenho alguma experiencia na mesma"

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  4. Engraçado, escrevi hoje um texto meu acerca de entrevistas e de alguns erros que cometi. Não foram esses, mas são um bom ponto de vista!

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  5. Parece que é tudo uma questão de burocracias...em certa medida as pessoas são robôs logo têm de dizer não aquilo que pensam mas aquilo que está estipulado ser a resposta mais correcta para o entrevistador...enfim...

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