Vi ontem na internet, por indicação duma leitora, a reportagem da Tvi designada
"O sexo dos anjos" e que se debruça sobre
o despertar da sexualidade (em sentido lato) na adolescência. Entrevistam-se alguns jovens, uma psicóloga, um cirurgião plástico, pais e professores e aborda-se uma adolescência muito diferente da minha, pois, apesar de toda a informação já disponível, fui uma adolescente mais concentrada na escola e nas amigas que propriamente nos rapazes. Adorava sair com as minhas amigas e falávamos de rapazes, mas por curiosidade; debatíamos paixões, mas essencialmente platónicas; contávamos as nossas experiências, mas sempre com o namorado, pois nunca fomos de "curtir".
A reportagem revelou, por isso, uma adolescência nova para mim, apesar de não terem passado assim tantos anos desde que vivi a minha. Começa com um grupo de cinco amigas a arranjar-se numa Sexta à noite (até aí, igual). Vamos acompanhamos o início da sua saída: arranjam-se em frente ao espelho, com baton, lápis preto, pó, blush, unhas pintadas. No corpo, têm vestidos justos e curtos, grandes decotes. Aí começa a diferença principal, pois vivi uma adolescência "envergonhada" em termos de indumentária - tapava-nos todas muito. Nos pés, grandes saltos. Dizem estar cientes das roupas provocantes que têm vestidas. Referem as redes sociais: há quem as aborde para tomar um café, há quem as aborde apenas porque quer algo mais ou aqueles as querem apenas levar para a cama. Vão para um bar. Depois para outro. Dançam como quem tem plena consciência do seu corpo, realçado pelas roupas justas que escolheram. Sorriem
. "Há animais que dançam para começar o acasalamento", diz a mais extrovertida do grupo, acrescentando, no entanto, que dançam apenas umas para as outras. Outra do grupo, até aí em silêncio, acrescenta ainda que um homem tem que saber dar prazer.
Ora aí está uma frase em que o meu eu-adolescente jamais pensaria. Penso que estas adolescentes estão a anos-luz do que eu alguma vez fui na mesma idade.
De seguida, conhecemos Ana Carolina, 15 anos, Brasileira, vive em Portugal há um ano, em Palmela.
"Eu passo muita maquilhagem", conta-nos, justificando perante nós e perante si mesma o que a levou a ser gozada pelos colegas. Actualmente, faz publicidade a automóveis, por exemplo, mesmo não tendo idade para tirar a carta.
Maquilhagem? 15 anos? Mil anos-luz da minha adolescência.
Pelo meio, discute-se a recente capa da Vogue com uma menina de 10 anos, completamente produzida e maquilhada. Não será nova demais?
Passamos para uma turma do 9.º ano, na Charneca da Caparica, onde os alunos aprendem mais sobre é um dos métodos contraceptivos masculinos, o preservativo
. "As unhas podem rasgar os preservativos", explica a professora. De seguida, esclarece os mitos relacionados com o tema.
Gosto da abordagem da professora, simples e descomplexada. Parece-me que se adequa perfeitamente à nova realidade destes jovens adolescentes.
Posto isto, uma breve análise sobre as redes sociais: fotos e vídeos íntimos. De acordo com o projecto "Aventura Social", 15% dos jovens estiveram envolvidos em provocações com recurso a novas tecnologias, um número assustador, no mínimo.
A imagem altera-se e conhecemos ainda a Patrícia Ribeiro, uma jovem que vai submeter-se a uma mamoplastia de aumento.
"Gosto de sair e de... agradar". Concorda que vai ficar mais atraente, pois
"ter um peito bonito é algo que agrada aos homens". O Dr. Ibérico Nogueira explica o fenómeno e diz que, em última análise, é a procura pela felicidade que as faz submeter-se à cirurgia.
Fico a pensar que cada vez mais vemos jovens de 18 anos já com silicone e confesso que me faz alguma confusão, nessa idade, já pensarem tanto em agradar, não a si mesmas, mas aos homens.
Por fim, numa escola, os alunos de 14 e 15 anos falam da aparência, das músicas que ouvem, da beleza e da sexualidade. Fala-se também numa falsa igualdade entre os sexos: os rapazes podem ter muitas namoradas (são "chefes"), as raparigas não podem ter muitos namorados ("galdérias"). O contrário também acontece: eles são esquisitos, se têm poucas namoradas, mas elas vão ser vistas como "puras". Acho a análise engraçada, mas precoce, tendo em conta a idade que têm os ditos analistas.
No fim da reportagem, fiquei com a sensação de que estamos perante uma nova adolescência bastante mais consciente da sua sexualidade, uma adolescência mais precoce e "adultizada". Os tabus e as inibições parecem ter diminuído imenso desde o "meu tempo". No entanto, julgo que a esta reportagem faltará "o dia seguinte". Como ficarão todos estes jovens no dia a seguir a envolverem-se com alguém
"só porque sim"? Ficará o sentimento de culpa? A solidão? Ser jovem sempre foi difícil. Mas temo que, com esta nova sexualidade tão precoce, as emoções e os sentimentos não acompanhem o corpo. Temo que, no dia seguinte, as emoções e as inseguranças típicas dos adolescentes venham ao de cima e que estes adolescentes se transformem crianças a precisar, afinal, de carinho. Ser jovem é difícil. Assim parece-me que será ainda mais...