quarta-feira, 30 de julho de 2014

Não há disto no meu tamanho?

Não sou muito alta. Também não sou baixa. Acho que ando ali pelo meio termo, na chamada estatura média. Tempos houve em que desejei ser mais alta, para parecer as modelos que via nas revistas, mas acabei por aceitar bem a minha altura e a contornar o "problema" com saltos altos, sempre que me apetecia crescer um bocadinho. No entanto, pela primeira vez, tenho-me sentido grande demais. Grande demais porque não caibo nas roupas lindas que tenho comprado para a bebé. É que as roupas para as meninas são qualquer coisa de se perder a cabeça, mas só há nestes tamanhos mínimos. Eles são mil e um estampados que são a coisa mais fofa, eles são laços e lacinhos, folhos e folhinhos, rendas, botões, aplicações e cores sempre esuper femininas... Tenho visto roupa lindíssima, um mundo novo que nem sabia que existia e que me tem surpreendido muito pela positiva. E penso que devia haver roupa assim adaptada ao meu tamanho...
Há bocado, por exemplo, estava a observar (e a babar para cima dela) a Cookie descansadinha na alcofa a palrar sozinha, e dei por mim a pensar que, se existisse no meu tamanho, usava já uns calções nesta cor (adoro este azul "tiffany") e com um laço mais pequeno, adaptado à minha idade, claro, mas também deste padrão. Não é lindo?
O mesmo tem acontecido com imensas peças de roupa dela. Ao pendurar os vestidos e os fofos, quando chegámos de férias, dei por mim a babar para cima de quase tudo é a imaginar versões de cada peça no meu tamanho. Ia jurar que no meu tempo não havia nada disto...

terça-feira, 29 de julho de 2014

Para começar bem o dia

Adoro o pequeno-almoço. Seja em que altura do ano for é sempre a refeição do dia que me sabe melhor. No entanto, nas férias, parece que tem um sabor ainda mais especial. Talvez porque temos tempo. Talvez porque temos o sol a sorrir lá fora. Talvez porque temos a promessa de um dia bem passado. Talvez porque temos as pessoas mais importantes junto a nós. Por isso, sempre que estou de férias, tento caprichar mais um pouco e preparar o pequeno-almoço com mais calma, aproveitando para fazer aquilo que não tenho tempo de fazer durante o resto do ano. À semelhança do que fiz o ano passado, este ano tenho aproveitado para experimentar novas receitas de sumos para começar o dia cheia de energia. Temos liquidificadora cá na casa em que estamos, por isso, todos os dias há novos ingredientes a saltarem lá para dentro. Hoje experimentei uma receita alegadamente "detox": meia courgette, dois kiwis, três folhas de couve, sumo de um limão e algumas folhas de espinafre, alguns morangos no topo e polvilhado com aveia e linhaça dourada para mim; meia courgette, um kiwi, duas folhas de couve, uma laranja, sumo de meio limão e oito morangos para ele. Fez uma careta, quando viu. Eu já estava a contar.
- Prova. Dá uma oportunidade.
- O que tem?
- Morangos, resumi. É antioxidante.
- Não estou oxidado...
- Bebe...
Fui espreitando, pelo canto do olho. Não fez mais caretas. Pouco a pouco, o copo ficou vazio. Não me disse que gostou, mas um silêncio às vezes vale mais que mil palavras. Amanhã experimento novas receitas. Acompanho com uma fatia de pão torrado com queijo fresco light, um café, o jornal... Ahh adoro começar o dia assim. Melhor só mesmo se o pequeno-almoço aparece feito... [fica a dica caso "alguém" leia isto... ;)]

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Novo conceito de férias

Sexta-feira ao final do dia rumámos para o Algarve. E constantei que, como seria de esperar, a logística duma família que viaja com um bebé e um cão é completamente diferente daquela a que estávamos habituados. A roupa parece multiplicar-se, no momento de fazer as malas, temos que pensar nas fraldas descartáveis, nas fraldas de pano, babetes, toalhetes, chupetas, etc, e ainda nas nossas coisas, na comida da Malti,... Depois é ainda preciso encaixar alcofa, ovo e carrinho no carro, juntamente com as nossas malas. No fim de tudo ainda tem que haver espaço para nos sentarmos os dois e a Malti ir também confortável. Lá se resolveu. A viagem depois até se fez bem, com uma breve paragem para esticar pernas e comer qualquer coisa.

Não vou negar: estar de férias com um bebé é uma experiência totalmente nova. Sair de casa é um ritual demorado. De três em três horas tenho que lhe dar de mamar. Ao mesmo tempo temos que passear a Malti para que ela não se sinta excluída. São as fraldas para mudar à bebé. As roupas que se sujam porque bolçou. Não é fácil. Mas julgo que estamos a conseguir. Trocámos a praia pela piscina, para já. Adaptámos os horários. E temos conseguido na mesma apanhar sol, ler, namorar e passear, tudo com a ajuda dos quatro avós, que também estão cá.

Sim, tudo é uma experiência nova. Estou a gostar e parece-me que temos conseguido conciliar tudo isto com a nossa vida de casal, mas, como disse, para já temos alguma ajuda. Por isso, cada vez mais admiro os meus e tantos pais que sempre conseguiram sê-lo e fazer com que parecesse tão fácil, mesmo com mais de um filho. Dou por mim a olhar à volta e a apetecer-me dar uma pancadinha nas costas a cada casal de pais que passa com ar descontraído e como se ser pai fosse a tarefa mais simples do mundo. Não o faço porque seria estranho. Mas mando pancadinhas imaginárias. A todos eles. Porque é maravilhoso. Mas não é simples. Fazer parecer simples é tarefa difícil. ;)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Quem é o Rui?

A Constança mudou. Ganhou bochechas, a barriga está mais redondinha e até as coxas estão mais cheiinhas. Já não é um bebé esguio como quando nasceu (apesar de ter nascido com o respeitável peso de 3,450kgs) e este crescimento galopante obriga-me a renovar o guarda-roupa quase a um ritmo semanal. Mas o mais giro é que cada dia palra mais. E mais e mais. Primeiro eram uns "ohhh", depois uns "gaaaah", uns "guuuh", depois aprendeu a dar uns guinchos histéricos ("ihhh!!"). Até que ontem... Ontem saiu-lhe um "Rrr-uuuuuuui!!"
Não quis acreditar. Chamei-o.
- Ouviste? Ela disse "Rui".
- Oh. Estás a sonhar.
- Disse. Juro. Fala com ela, para ver se repete.
E ele começou, incrédulo, a tentar comunicar com ela, meio contrariado, e a imitar uns "guuh" e uns "ohhh". Até que.... "Rrrrr-uiiiii!!"
- Ouviste???
- Ouvi.
- Disse, não disse??
- Disse... Claro que está só a palrar, mas parece mesmo "Rui". (silêncio) QUEM É O RUI?

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Estranhas ligações

Parti o meu iPhone. Mas não foi partir um bocadinho, foi deixar cair e ficar com o visor todo estilhaçado, como uma teia gigante de vidro. Doeu. Muito. Ainda dói.

Com a fúria, voltei a correr. Canalizei a raiva para o desporto. Funcionou. Voltei a correr com os tempos e distâncias de há um ano.

Parti o iPhone e agora leio as mensagens aos bocados e vejo as imagens divididas em mil pedaços. Custa tanto saber que vou ter que pagar o arranjo e ficar sem o telemóvel uns bons dias (e talvez perder tudo o que lá tenho, milhares da Cookie incluídas) que perdi o apetite.

Ah, lembram-se da cinta? O "S" serviu. Oh yeah.

Não sei se há ligação entre as frases de cima. Talvez haja. Menos mal...

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Cenas do Além

Há um ano, alguém* me disse que, de acordo com os astros, neste verão nasceria um novo "Eu". E disse-me também que ia mudar radicalmente de vida. Pediu-me para escrever aquelas palavras, não fosse esquecê-las. E eu assim fiz. "Escreva. Escreva o que estou a dizer. Acredite em mim: no próximo verão, a pessoa que é agora vai desaparecer. Vai nascer uma nova versão sua, totalmente renovada, uma pessoa muito mais segura de si, sem dúvidas, sem hesitações. E a sua vida a nível profissional vai mudar totalmente."

Já é verão. Estou à espera. Astros...? Então?

*E não, não foi a Maria Helena. Juro.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O segundo método de emagrecimento mais infalível do mundo

Antes de mais, espero que não estejam a ler o texto ao engano: apesar do título do post poder soar a publicidade manhosa a um suplemento ou a um comprimido qualquer, não é disso que se trata. Trata-se, isso sim, do segundo método mais velho e infalível da história da Humanidade para fazer emagrecer uma mulher (a seguir ao primeiro método, que é um novo e louco amor), e que consiste simplesmente em chamar-lhe gorda, ou insinuar que está "cheiinha" ou com algum peso a mais. Esqueçam os livros de auto-ajuda, hipnotismo, consultas de nutrição, massagens, lipoaspirações ou comprimidos mil. Chamem gorda a uma mulher, ainda que sub-repticiamente, e a boca dela fechar-se-á a quaisquer doces e salgados enquanto se lembrar daquelas amargas palavras.

No meu caso, aconteceu ontem: eu tinha decidido comprar uma determinada cinta pós-parto, após falar com algumas recém-mães que me garantiram que era milagrosa e que trazia a cinturinha de vespa de volta num instante. Fui então a uma farmácia.
- Boa tarde, queria comprar aquela cinta, por favor.
- Para si deve ser o tamanho "M", certo?
- Hmm... Costumo usar o "S". É melhor ser o "S", não acha?
- Não me parece. A menina é.... (hesitação)... grande. Parece-me que o "M" será mais adequado para si.
- Pois, mas isso é agora, porque fui mãe recentemente e ainda estou mais cheiinha. Eu antes usava o "S"...
- Pois, mas sabe que o corpo não volta ao que era. Olhe para mim... (A senhora tinha umas senhoras ancas) Quando era nova, também usava o "S". Agora mesmo o "M" só entra com muito muito esforço. Sabe que a idade vai pesando e o corpo muda. Vamos engordando e não há volta a dar...
- Acredito... Mas eu preferia, mesmo assim, experimentar o "S", para confirmar se serve ou não, ok?
- Ok, menina. Vou encomendar o "S", porque não temos aqui na farmácia. Pode vir buscar na Quarta-feira? Mas olhe que não lhe vai servir, vai ver... (riso condescendente)
- Às tantas não serve mesmo, mas assim não fico a pensar nisso, ok? Experimento por via das dúvidas.
- Muito bem. Então fica encomendado. Até Quarta.

Por isso, raismepartam se até Quarta não fecho a boca a todas as porcarias. Nem que passe fome, mas aquele "S" há-de servir-me, nem que fique sem respirar a vesti-lo. E hei-de desfilar na farmácia com aquele "S" enfiado, nem que esteja roxa de suster o ar e encolher a barriga. Ou então não, e fico mal. Torçam por mim. ;)

sábado, 12 de julho de 2014

Os pés da Cinderella

Acontece-me muitas vezes: ou chego a casa dos meus pais e reparo que a minha mãe está a usar uma peça de roupa igual a alguma que comprei, ou comentamos em simultâneo que passámos na loja X e reparámos na mesma peça de roupa. Não me acontece com mais ninguém, mas acontece-me constantemente com a minha mãe. Temos gostos muito muito semelhantes, apesar de fisicamente sermos bastante diferentes e de as roupas nem nos assentarem da mesma forma. De qualquer dos modos, há determinadas marcas que só namoro e não compro, e que a minha mãe pode comprar. Por isso, por vezes, quando tenho casamentos ou festas mais formais, dou por mim a ir espreitar o armário de vestidos e os acessórios da minha mãe e sair de lá com algum vestido emprestado. É como ir às compras dentro de casa, adoro. E apesar de termos formatos de corpo muito diferentes, costumo gostar muito de me ver com os vestidos da minha mãe. O problema são os pés. A minha mãe calça micro sapatinhos. Tem pés mínimos. E é tudo muito bonito, mas eu, que tenho duas barbatanas (calço 39, mas não sou muito alta), não consigo calçá-los e fico só a babar-me para cima deles. Não sei se é por não poder calçá-los e serem todos inacessíveis para mim, mas juro que nunca vi coleção de sapatos mais bonita. Adoro todos. Tão perfeitos, tão lindos, tão tão... mínimos.

Hoje estava a olhar para os pés da Constança e constatei que certamente sairá a mim. Se continuar a evoluir assim, nada de pezinhos pequenos e delicados, a calçar um 35 gracioso e feminino. Nada de pezinhos de Cinderella, os mais pequeninos dos arredores, a contrastar com os pezões das malfadadas filhas da madrasta. Tem uns senhores pés, que com apenas 2 mesinhos já enchem com orgulho sandálias de 3 a 6 meses. Acho que vou mas é inscrevê-la já na natação. Se sair à mãe-Big-Foot, pelo menos há-de conseguir nadar rápido...

sexta-feira, 11 de julho de 2014

A rua ficou mais triste

A rua da casa dos meus pais ficou hoje mais triste. A rua ficou mais triste nem tanto por mim - que o via apenas casualmente, quando visitava os meus pais -, mas sim por todos os vizinhos, adultos ou crianças, com que ele se cruzava diariamente, cheio de energia e de sorriso contagiante. A rua ficou mais triste, a cidade perdeu um sorriso e o mundo daquela família ficou com certeza para sempre mais vazio.

Costuma-se dizer que a morte nos apanha sempre de surpresa. Só que, neste caso, nem apanhou. Neste caso, a morte escreveu-lhe uma carta com aviso de receção e deu-lhe tempo para se preparar, se é que é possível alguém preparar-se para a morte. Assim, por aquilo que me contaram, após ter sido detetada uma doença terminal, este homem de garra logo tratou de traçar alguns objetivos que queria ver cumpridos no tempo que lhe restava: queria ver a filha casada, o filho licenciado e queria ainda festejar o 50.º aniversário, dali a muitos meses. Os médicos diziam, em surdina, que dificilmente teria tantos meses de vida. De qualquer maneira, determinado a enfrentar aquele bicho terrível que lhe devorava o corpo e lhe retirava avidamente tempo de vida, a um ritmo feroz, quando foi comprar o fato com que pretendia ir ao casamento da filha, comentou na loja: "Este fato hei-de usar no casamento da minha filha e no meu funeral". A frase parecia vinda de alguém terrivelmente ciente do seu destino e conformado com o mesmo. Imagino que na loja terão feito um sorriso amarelo, ao ouvir tal frase, e minimizado a mesma. Imagino que terão respondido algo do estilo "oh com certeza que usará mais vezes, parece estar ótimo". E estava ótimo. O espírito mantinha-se desperto e fortalecido. Só que o corpo definhava face àquele bicho implacável. De qualquer maneira, os meses foram passando. E deu o braço à filha, no dia do casamento, até ao altar. O filho licenciou-se. E o dia do 50.º aniversário chegou. Nenhum médico tinha previsto tanto tempo de vida, nem no cenário mais otimista. Festejou o dia junto dos que lhe eram mais próximos. Abraçou quem quis. Beijou quem mais gostava. Não deixou palavras por dizer. No dia seguinte, voltou a vestir o fato que usou no casamento da filha. Tal como tinha previsto. E todas as senhoras que trabalhavam na loja se foram despedir dele, de coração apertado.

A rua da casa dos meus pais ficou mais triste. E eu fiquei com a certeza que há pessoas mesmo inspiradoras, a quem nem a morte assusta, e que têm um sorriso tão forte que conseguem sorrir até ao último dia. Sei que a morte vence sempre, no final. Mas gosto quando lhe dão luta e se riem perante a mesma. Porque inspiram-nos a viver. E a aproveitar cada dia ao máximo com mais afinco.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Estou tão em forma

Hoje decidi que ia voltar a mexer este rabinho. Andava a adiar o regresso ao desporto, a adiar, a adiar, mas quase dois meses depois parecia-me que estava mais que na hora de voltar às lides desportivas. A verdade é que, não sendo uma Carolina Patrocínio nem estando sequer lá perto, até me fui exercitando durante a gravidez e continuei a ir ao ginásio e a nadar até praticamente a bebé me saltar cá para fora. Juntando a isto o facto de andar a dar passeios quase diários desde que saí da maternidade (quanto mais não seja para passear a Malti, que continua a exigir atenção e eu dou, pois claro), acreditei, muito ingenuamente, que até estaria com a resistência para a corrida no ponto em que a deixei. Pois então, depois de um dia de descanso bem sucedido, que incluiu finalmente piscina, vesti-me a preceito e aproveitei a histeria do jogo Brasil-Alemanha para me fazer à estrada sem testemunhas oculares.

Resultado? Cheguei a casa a sentir-me o Brasil depois de levar sete golos da Alemanha. Cheguei de rastos, completamente transpirada, ofegante e vermelha. O pior foi que tive até que fazer a bomba da asma, porque ouvia-me a chiar. Não foi como esperava, não. Mas depois sentei-me e contei os meses que estive sem correr. Contei os quilos que engordei e perdi nos últimos meses. Lembrei-me das alterações que o meu corpo sofreu. E concluí que há-de ser normal custar o regresso à rotina... O que decidi é que não hei-de desistir e vou continuar a insistir até recuperar a minha resistência. Como asmática sempre tive consciência (até de ouvir o alergologista a repetir) que tenho uns pulmões mais sensíveis que outra pessoa, mas que com muito exercício vou lá na mesma. E hei-de ir. Nem que vá vermelha e ofegante. Ou de bomba na mão. Gostava que um dia a minha filha tivesse orgulho em ter uma mãe que corre mais de dez metros sem ficar ofegante. Aiii, estou tão em forma...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Qual é o teu talento?

Ando com uma angústia que não me sai da cabeça, depois de ter visto um daqueles típicos filmes de domingo à tarde rapaz-conhece-rapariga-que-namora-mas-no-final-de-sessenta-minutos-de-filme-descobrem-que-foram-feitos-um-para-o-outro-e-ficam-juntos-para-sempre. E a angústia nada nem a ver propriamente com o filme, cuja história ou protagonistas já nem sequer me lembro, mas apenas com uma única e concreta cena do mesmo. A dada altura, quase toda a família se encontra reunida em casa da protagonista e partilham um jogo com um rapaz: cada um costuma apresentar um talento aos restantes membros da família, numa espécie de teatro caseiro. E então há quem toque guitarra, há quem cante, há quem represente uma cena de um filme e há quem faça magia. Até aqui nada de especial. Correto...? Errado.

Foi exatamente aqui que comecei a matutar e a ficar angustiada. Se, de repente, fosse a uma casa em que tivessem este hábito e me chamassem para "atuar" sem ter qualquer instrumento à mão, qual seria o meu talento? Canto medianamente, por isso, não faria disso um talento. Danço também mediamente, por isso, idem, pouparia os demais convivas a três minutos de dança ou cantoria improvisada e atrapalhada. Depois de muito pensar, reuni dois tristes e vergonhos talentos, algo que acredito que nem toda a gente fará e que pudesse, por isso, ser minimamente surpreendente:
1. Poderia fazer uma ocarina com as mãos e imitar o som de pássaros (isto). Seria um momento deprimente, mas pelo menos parece-me ter o tal fator surpresa;
2. Poderia, em alternativa, escrever um texto ao inverso, da direita para a esquerda, e pedir depois a alguém que lesse tudo em frente a um espelho. Seria outro momento entediante, mas mais uma vez fator surpresa, certo?

A verdade é que continuo a pensar em "talentos" que estejam à altura do nome, mas... não me ocorreu mais nada. Tantos anos de vida, tanto tempo livre e parece-me que não desenvolvi nenhum especial talento. Não faço magia, não imito vozes, não faço formas com balões, não faço música com copos... Ai, maldito filme.

E vocês, quais são os vossos talentos?

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Procuram-se ideias

Ando com uma crise criativa. De escrita?, perguntam vocês. Não. Essa, felizmente, nunca atravessei, e mesmo que escreva menos é apenas por falta de tempo, não por falta de ideias. Ando com uma crise criativa de outro tipo. Uma crise de ideias para comemorar o nascimento da Cookie. Queria fazer/ comprar/ mandar fazer algo que marcasse a data do nascimento dela, algo bonito e original, mas não sei o quê. Já pensei em plantar uma árvore para assinalar o nascimento, em revelar fotografias dos três e fazer uma montagem bonita, já pensei em comprar um colar com as nossas iniciais do nome, mas... O que eu queria mesmo mesmo, bem lá no fundo, era ser uma aprendiz de Beethoven para ser capaz de compor uma obra com a força de uma "Für Elise", ser uma amostra do Da Vinci para conseguir pintar algo semelhante a uma "Mona Lisa", ou um Shah Jahan à escala local para mandar fazer um Taj Mahal assim mais pequenino e humilde. Quando era nova sentia-me capaz de desenhar qualquer coisa, adorava pintar, mas parece que essa capacidade desapareceu com a idade e falta de treino. Também me sentia uma pianista razoável, mas hoje em dia toco os Parabéns sem pauta e pouco mais. Falta de criatividade ou falta de jeito? Não sei o que é, acho que é tudo junto, mas parece que nada está à altura do que queria. Como é que se assinala o nascimento de um filho, quando não somos artistas e não podemos por mãos à obra, mas apenas comprar o trabalho de outras mentes criativas? Gostava mesmo que um dia a minha filha crescesse e lhe pudesse mostrar algo que assinala o ano em que nasceu, para que pudesse sentir-se tão especial como a vejo. Ideias procuram-se.

terça-feira, 1 de julho de 2014

O dia D #4

(Primeira parte: aqui; segunda parte: aqui; terceira parte: aqui)

Depois de um dia a ouvir dizer que tinha grande resistência à dor, comecei a acreditar um pouco naquilo, de tanto o ouvir. As horas iam passando e, se a dilatação e as contrações aumentavam, a dor não, por isso, se me perguntassem, a dada altura, como era afinal o trabalho de parto, a minha resposta seria um sorridente "Facílimo!! Não custa nada!!". Talvez por isso quando, de repente, a primeira contração a sério apareceu, nem queria acreditar. Contorci-me toda de dores, em posição fetal. Aquilo era a pior dor menstrual de sempre multiplicada por dez. Parou.
- Estás bem?
- Sim. Acho que começaram. E digo-te: se é assim, é horrível. Mas vou tentar concentrar-me na respiração na próxima vez, a ver se ajuda.
Toda a vida tinha ouvido falar na respiração como essencial no trabalho de parto. É nos filmes, é nas séries, é nas aulas de preparação para o parto: "concentrem-se na respiração". E parece facílimo, não parece? Respirar. Concentrar na respiração. Fazemos isso tantas vezes, qual poderá ser a dificuldade? Pois... Só que não é. De todo! Fácil é fazê-lo sem dores. Quando a próxima contração chegou, eu só queria arrancar as fitas e tubos do soro, e sair da maca. Não sei porquê, mas o meu instinto em cada contração era sair da maca e andar a pé. Não podia, obviamente. Tive que continuar a contorcer-me ali deitada, presa por fitas e fios, e a gemerNenhuma respiração parecia conseguir ajudar. Pusemos o episódio em pausa e carreguei no tal botão. Quando a enfermeira veio, tentei, no entanto, ser contida e educada no pedido:
- Olá!! Já tenho algumas dores. Penso que já podemos pensar na epidural.
- Muito bem. Vou chamar a anestesista. Um segundo.

Nesse preciso momento, a dor pareceu abrandar automaticamente, por antecipação da epidural mágica. Em dois ou três minutos, a anestesista já lá estava. Eu tinha suportado dores fortes durante dez minutos, no máximo. Nada de especial, pensando agora à distância.
- Ora então já está com dores...?
- Sim, Sra. Dra. Já tive algumas dores...
- Pois, mas até parece muito bem, deixe-me que lhe diga. Ora vamos então à epidural. Explicaram-lhe o que é a epidural nas aulas de preparação para o parto?
- Sim.
- Muito bem. Então vou pedir-lhe que se encoste para trás, o máximo possível. Isso... Recue até à ponta da cama, com as costas direitas. Vou pedir que não se mexa, que fique o mais imóvel possível. A seguir, vou anestesiar primeiro localmente e...
De repente, fomos interrompidas por uma enfermeira, que entrou no quarto, em sobressalto:
- Dra.! Preciso de si agora. É uma urgência.
- Que se passa?
- A senhora do quarto X...? Vai ter que ser cesariana. Precisamos de si.
- Não dá tempo de dar esta epidural?
- Não, desculpe. Tem que ser agora.

E ali fiquei, encostada para trás, o máximo possível. Com as costas direitas, num ângulo de noventa graus. Imóvel. Como um drogado a ressacar a quem prometeram mais uma dose e fica a salivar. Eu estava cheia de dores e já só sonhava com a epidural. Só que a epidural foi-me negada. Voltei a deitar-me, resignada e irritada. A aguentar as contrações, cada vez piores e piores. E já sofria também nos intervalos das contrações por antecipação da próxima. Qual respiração, qual quê? Naqueles momentos só sabia gritar "Aii meu Deus", "epiduraaal!!" ou ainda "a anestesista? Preciso da anestesista!!". Naqueles momentos fiquei fã para todo o sempre de todas as mulheres por todo o mundo que passaram por todo este processo sem epidural. É dose. Estive assim cerca de quarenta e cinco minutos e percebi que sou muito mais frágil do que pensava. O corpo é frágil. E as contrações abalam-no. E de que maneira! Ele ia-me fazendo festinhas nos ombros, e perguntando pela anestesista às enfermeiras, nos intervalos. Sim, porque, a dada altura, eu já só dizia:
- Chama a anestesista, por favor. Por favor. Preciso mesmo. Isto é horrível.
Senti-me um ratinho pequenino, eu, antes tão dona e segura de mim. Eu, que antes imaginava que sabia perfeitamente o que eram "as" contrações. Sabia nada. Não sabia nada... Era a triste conclusão a que começava a chegar.

Até que:
- Olá. Posso entrar?, Perguntou uma voz masculina desconhecida.
- Sim...
- O meu nome é X. Chamaram-me para lhe dar a epidural. A minha colega vai demorar um pouco na cesariana, por isso, vim eu.
Olhei para ele. Juro que parecia um anjo. A bata de um branco imaculado. O cabelo, se não tinha caracóis, pelo menos é assim que o imagino, angelical. A voz sábia e tranquilizante. Juro que aquela voz, só por si, me fez deixar de ter dores. Ouvi quase que uma música celestial a seguir à palavra "epidural". O meu corpo fez tudo automaticamente, a partir daí. Encostou-se. Recebeu a anestesia local. E a epidural, logo a seguir. Apenas senti uma ligeira picada. Mínima. E nuvens a entrarem dentro de mim. Nuvens, nuvens, nuvens. Comecei a levitar, cheia de nuvens.
- Ahhh... Bendita epidural.
As contrações transformaram-se em ligeiras cócegas, que sentia, do alto das nuvens, mas sem causar qualquer dor ou desconforto.
- Dei-lhe uma dose. Quando voltar a ter dores, repetimos e/ou aumentamos a dose, ok?
Não sei se respondi, sequer. Estava completamente zen e a rir-me já por tudo e por nada.
- Bendita epidural.

Passado algum tempo, novo toque.
- Está quase, quase!
Acabámos o episódio da Guerra dos Tronos. Já era noite, praticamente. Até que senti uma dor imensa e uma impressão dentro de mim, como se algo tivesse caído abruptamente. Toquei novamente no botão das dores. Veio uma enfermeira.
- Estou com dores outra vez, penso que é melhor reforçarem a epidural.
Atrás, veio uma médica. Novo toque.
- Está pronta. Está pronta.
De repente, um rebuliço. Começou a entrar gente e mais gente. Parecia um filme em que aceleraram a imagem, via movimento atrás de movimento, tudo acelerado.
- Prepare-se para fazer força.
- Já? Vai ser agora?
- Sim, está pronta.
- Mas estou cheia de dores. Não podem só dar mais um bocadinho de epidural? (eu avisei que me tinha transformado num ratinho cobarde)
- Agora é rápido, prepare-se para fazer força.
Não fiz logo força onde era suposto fazer força. Primeiro, olhei para o lado, para ele. Emocionado, apertou-me a mão com mais força. Não dissemos nada, acho eu. O que havia para dizer?...

A seguir, não consigo bem explicar a sucessão de acontecimentos. Mas sei que o trabalho de parto em si foi praticamente como tinha imaginado. O "forçaaa, forçaaaa!!". O "está quaaaaseeeee!!". Tudo quase instintivo e natural. Tudo como se já tivesse lido o guião antes de entrar em cena. Só que nada nem ninguém me tinha conseguido explicar como ia ser depois, o momento mesmo antes do nascimento. Nada nem ninguém me tinha dito. Nada nem ninguém me explicou que, de repente, a imagem e o som paravam. Que, de repente, iria ser só eu e um silêncio absurdo e que, à minha volta, tudo começaria a aparecer em câmara lenta. Ninguém me disse que, de repente, o tempo pára. Que, de repente, somos só nós e um medo maior que nós. E dou por mim aterrorizada. Tenho medo de errar, de não saber fazer força, de não saber tirar aquele ser de dentro de mim, de não ser capaz. Um silêncio impossível de aguentar. Um silêncio envolto em medo, os ponteiros do relógio em suspenso, e só eu e aquela mão ali do meu lado agarrar a minha, aqueles olhos ali ao meu lado procurarem os meus. E a darem-me força. Força. A única palavra que interessa: força, tenho que fazer força. Força. Para interromper aquele silêncio, para vencer aquele medo. Força. Força. E eu faço. Faço toda a força que tenho. Uma e outra. E ainda outra vez.
...
E, de repente, algo quebra o silêncio. Algo vence o medo. Um choro. Um choro.

E mistura-se aquele choro primordial, virgem, a saudar pela primeira vez o mundo, com um choro gasto e velho - o meu. E choro por a ouvir chorar. E vejo-a sair de mim, frágil, assustada, de braços abertos, como sempre sonhei, como tantas tantas vezes sonhei. E vejo-a aproximar-se de mim, trazida por mãos invisíveis, vindas nem sei de onde, e agarro-a, agarro-a a tremer, deito-a no meu peito, e choro, e choro, e choro. E penso ou digo (não sei bem, porque tudo me pareceu um filme e o sonho e a realidade confundem-se): "amo-te, amo-te, amo-te". E acrescento, como se fosse necessário: "muito, muito, muito". Eu, que nem acredito que se ama muito, porque o amar é um sentimento total, absoluto, e se amamos tem que ser com todo o nosso ser, o amar é incalculável, é mais que muito, mas acrescento "muito", porque naquele momento amar não chega. E soluço. E beijo-a. Aquele ser que sai dentro de mim, ainda viscoso, sujo, roxo. E beijo aquele ser que, mesmo viscoso, sujo e roxo, é o ser mais bonito que já vi, porque é fruto de mim, fruto dos meus sonhos, é a minha filha, a minha filha esperada, e é a mais bonita do mundo. Beijo-a, ali, naquele momento que é só nosso, porque o tempo continua suspenso, a andar em câmara lenta. Beijo-a durante todo o tempo que me apetece. O tempo é nosso e só nosso. Beijo-a. E amo-a com toda a minha força. E tanta força que tenho! Amo-a. Amo-o. Amo-nos aos três. E, de repente, o tempo continua o seu curso, naturalmente. Tiram-ma das mãos, de cima de mim. Levam-na para lavar, para medir, pesar, vestir.
- Está tudo bem?
- Está ótima. 50 centímetros e 3,450kgs. É perfeita.

É perfeita. Tudo o que se quer ouvir. Perfeita. Como se a história terminasse aqui e tivéssemos o final feliz com que sempre tínhamos sonhado. Só que a história não termina aqui. A história começa agora. E o calendário marca zero. A história está só a começar. Bem-vinda, meu amor.

(Conclusão no próximo post...)

Sê tu mesmo

Hoje, em conversa com uma pessoa amiga que me dizia que ia ter uma entrevista importante, lembrei-me de algumas frases com que embirro e que são geralmente ditas e repetidas nestes dias:
- Sê tu mesmo.
A questão é: será que alguém decide, em plena entrevista, encarnar outra pessoa?... Este conselho sempre me pareceu tão vão...
- Parte uma perna.
A última vez que me disseram esta frase parti literalmente a perna, por isso, fiquei com particular aversão a esta.
- Vou ficar a torcer por ti.
Aqui talvez seja o meu lado infantil a falar, mas sempre que dizem isto imagino-os em modo contorcionista chinês de seis anos, todos torcidos sobre si mesmos, com as pernas enroladas à volta da cabeça.

Assim sendo, geralmente opto por dizer apenas, nestes dias decisivos: "espero que corra bem". E fico honestamente à espera que corra bem, de telemóvel na mão, a acreditar que, se a sorte protege os audazes, o sucesso protegerá quem tem mérito, garra e dedicação. Mesmo sem conselhos sábios e gastos.