Como dizia, numa altura em que todos se tornaram Chefs e partilham pratos coloridos e de babar (sim, o que eu me babo!) pelo Instagram, Pinterest e Facebook, sinto que a má comida e os maus cozinheiros (onde me incluo) começam a ser esquecidos. Já ninguém fala das más experiências culinárias que teve, já ninguém tem coragem de contar sobre a vez em que queimou o jantar, sobre aquela vez em que a sopa saiu azul (hello, Bridget) ou como correu aquele dia em que admitiu ao namorado que nunca cozinhou na vida (lembram-se da Carrie?). Por isso, em honra de todas essas personagens que me fizeram sentir menos sozinha, e também para que outros cozinheiros tão modestos quanto eu não se sintam sozinhos neste mundo cruel, hoje vou contar a minha mais recente experiência terrível na cozinha.
Depois de duas semanas a comer carne, carne e... mais carne (!) - ou não tivéssemos andado entre o Alentejo e Trás-os-montes -, resolvi dar o Grito do Ipiranga versão faca e garfo. "Hoje jantamos peixe!", disse, determinada. "Temos que comer peixe!", repeti. Ele perguntou-me onde é que queria comer peixe numa terra conhecida pela carne. "Nem que vá comprar e cozinhamos em casa. Temos que comer peixe. O meu corpo pede peixe, está farto de comer carne - e ainda por cima vermelha." Ele encolheu os ombros e andámos Alfândega da Fé fora a procurar supermercados. Andámos, andámos. Lá encontrámos um Minipreço. Saltei carro fora, a salivar pelo peixe, e entrei lá à procura dum robalo, uma dourada, qualquer peixe fresco... Nada. Só encontrei filetes de pescada congelados, com a garantia, contudo, na embalagem que eram "100% peixe". E a fotografia demonstrava-o, com um filete cortado a meio, com um ar fresco e suculento. Peguei na embalagem e metia-a ao cesto de compras. Fui buscar também uns legumes para saltear. Não era o que tinha idealizado - estava com desejos dum robalo grelhado com legumes cozidos - mas era o que estava mais próximo. Paguei, fomos para casa e atirei-me ao fogão. Para começar, os filetes tinham que ser fritos e não podiam ser feitos no forno, como me tinha parecido no supermercado, ao ver a embalagem na diagonal. O símbolo que me parecia um forno era afinal uma frigideira cheia de óleo. Torci o nariz. Optei por fazer com azeite em vez de óleo. Quando o azeite começou a ferver, atirei os filetes. O caos. O azeite começou a saltar por todo o lado, a minha roupa incluída, uma fumarada, um cheiro a queimado, parecia que a cozinha ia deitar fogo. Lá controlei aquilo. Virei-me para os legumes. Preparei-me para servir. Sentámo-nos. Começámos a jantar.
- Este é o prato de peixe que tanto querias?, perguntou-me em tom de gozo.
- Não, foi o que consegui.
- Já provaste o peixe?
- Não. O que tem?
- Prova.
Provei. Meus caros, se aquilo tinha peixe, eu sou loira e tenho 1,80m. Aquilo sabia a farinha. Apenas farinha. Era uma massa branca farinhenta que nada tinha a ver com a figura da embalagem. Os legumes, por sua vez, sabiam a água. Que é o mesmo que dizer que não tinham sabor absolutamente nenhum. Se fechasse os olhos e participasse numa prova cega de paladar, não ia conseguir dizer que alimento era aquele. E ali estávamos nós, sentados à mesa, com velinhas à volta a tentar disfarçar o cheiro a queimado, com janelas abertas para ver se o fumo saía, o exaustor ligado no máximo, a comer um composto queimado farinhento e uma miscelânea de legumes sem sabor. De repente, começámos a rir. A rir, porque aquilo era um desastre. Porque nada se aproveitava. Porque quem chegasse ali diria que tínhamos acabado de sobreviver a um incêndio. Porque o jantar estava uma valente m€£*@.
- Há maçãs. Queres uma?
- Quero.
E assim acabámos o jantar a comer maçãs. A rir. Cheios de fome. Salvos pela paisagem lá fora, que nos enchia a alma, já que o corpo continuava vazio, coitado. Serve o presente texto também para vos alertar: filetes de pescada Dia? Esqueçam. Ou então comprem só para terem um jantar comédia como este. E depois digam o que acharam.
Hahahah. Eu também me encaixo na categoria "boring e desastrada a cozinhar". E são tantas as peripécias que quase não me lembro de nenhuma em especial... Mas há uma que me ficou na mente por ter achado estranha: decidi fazer arroz doce na bimby, para mostrar à minha mãe que ia ter concorrência... quando chegou o momento de juntar os ovos, pu-los lá para dentro sem pensar no assunto e a maquineta continuou o processo. Quando terminou o tempo e abri a tampa vi que tinha 1 monte de arroz pálido e 3 ou 4 ovos cozidos a boiar no cimo! Esqueci-me que tinha de os mexer antes de os colocar lá dentro... Nunca mais tentei...
ResponderEliminarEsses congelados pré cozinhados são o caos! Prefiro comprar daqueles lombos de salmão congelados e fazê-lo em papelote no forno com muitas ervas. É rápido, não suja quase nada e é muito bom ;)
ResponderEliminarBjs
Todos nós já achámos um dia que o azeite também serve para fritar... mas não, não serve.
ResponderEliminarNão serve? Eu frito sempre em azeite e fica óptimo
EliminarO azeite serve para saltear (um processo rápido e que necessita de pouca matéria prima), não para fritar. E isto deve se ao facto de o azeite ser altamente prejudicial acima de uma determinada temperatura, cerca de 160 graus. Mesmo para saltear, se puder usar manteiga ou manteiga clarificada, melhor ainda. Já se quiser confitar er o azeite é fantástico. Mas deve ter o cuidado de não deixá-lo ultrapassar os 60-70 graus
EliminarAcho que se começarmos a formar um movimento #desastrenacozinha vais perceber que não estás sozinha e que até as supostas meninas prendadas têm episódios assim!
ResponderEliminarOlá Pippa! Voltei à blogosfera e o regresso ao teu blog foi logo de partir o côco a rir com este post :) ainda bem q conseguiram manter a boa disposição. Eu desenrasco-me bem na cozinha e a prova é q engordei o meu namorado desde q vivemos juntos, eheh. Mas tbm tenho episódios desses, não te preocupes ;)
ResponderEliminar