Ainda me lembro de, há uns anos - talvez 2010 -, ter o hábito
de acordar e ir logo ler, duma assentada, os blogs todos que seguia. Tinha cerca de 10 blogs de
eleição e, apesar os mesmos não incluírem fotografias e não conhecer a identidade dos
seus autores, utilizava a imaginação para preencher o que a ignorância não sabia nem tinha
maneira de saber. Talvez fruto desse quase-anonimato, os blogs eram também mais
transparentes. Partilhavam-se dramas, desejos, pensamentos e desabafos, quase
em modo diário, pois viam-se os leitores como amigos e não como comentadores
anónimos maliciosos. A escrita era partilha, em que o blogger escrevia sobre um
tema e os leitores muitas vezes respondiam com a sua visão do mesmo. Não havia
cá medos da crítica gratuita, até porque os blogs eram ainda um mundo mais ou
menos fechado, em que só ia, praticamente, quem seguia o autor, o apreciava e
queria conhecer o seu percurso.
Gradualmente, os blogs começaram a evoluir e a permitir a
inclusão de fotografias, de forma cada vez mais apelativa. Nasceram então as
Chiaras Ferragnis (à data, ainda muito à sombra da marca “The Blonde Salad”) e
as Alexandras Pereiras (à data, também debaixo do nome “Lovely Pepa”) e deu-se a junção entre o texto
e a moda. Começou a ser comum a partilha de várias fotografias com o look do
dia e textos a acompanhar, mais ou menos pessoais, incluindo as marcas das
vestimentas. Contudo, os textos estavam lá sempre. E o que me continuava a
agarrar era exatamente isso: não queria ver (só) a roupa, queria saber onde é que a
roupa ia e porque é que ia. Queria conhecer a história por trás das fotografias. Voltando à Chiara e à Alexandra dos exemplos, por exemplo, conheci os namorados de cada, entretanto ex, acompanhei os desgostos de amor, as novas paixões, as finais dos cursos, conheci os pais e os amigos.
Até que a Instagram nasceu e, com ele, a migração em massa.
As bloggers de moda tinham ali uma plataforma mais rápida, acessível no
telemóvel, de consumo mais imediato. Para quê escrever longos textos que,
tantas vezes, nem se conseguia ler bem no telemóvel, se os textos se podiam
agora resumir a uma legenda da fotografia com o look do dia? Inicialmente,
aceitei bem a mudança e aderi logo. Eu própria ia partilhando fotografias e
perdendo cada vez mais tempo a ver fotografias maravilhosas de paisagens
paradisíacas e de looks que eu imaginava só ser possível nas revistas de moda.
Foram tempos criativos. Até que todas as fotografias começaram a ser iguais. A mesma
cor sépia. As mesmas poses desprevenidas. As mesmas comidas. Os mesmos lugares.
Às bloggers juntaram-se anónimas mais ou menos magras e mais ou menos
fotogénicas, que nunca tinham escrito uma linha, mas sabiam tirar fotografias e
gostavam de roupa ou de viajar. Continuo a ser consumidora da aplicação, mas noto que a imaginação e os textos cada vez mais escasseiam.
Em simultâneo, o Youtube começou a ganhar mais adeptos, com novas personalidades expansivas
e extrovertidas a partilharem dicas de tudo e mais alguma coisa. E nova
migração em massa dos bloggers.
Depois, os Podcasts. Para quê ler se podemos ouvir as mesmas
palavras enquanto andamos, corremos, conduzimos ou fazemos o jantar?
Mais recentemente, o TikTok, com as instagrammers a começarem
a dançar e a fazer vídeos curtos, numa espécie de Youtube versão fast food.
E os blogs? Esses, ficaram como as aldeias do interior,
quando os seus habitantes emigram todos para o Porto ou Lisboa: vazios, com os
seus anciães a guardarem as memórias e a dar indicações aos turistas que por ali
passam, quase em modo decorativo. Os blogs ficaram quase vazios.
Por isso, sinto falta de ler. Mas textos bons, intimistas ou
sarcásticos, opinativos e sinceros. Adoro moda e as fotografias do Instagram
inspiram-me. E aderi também aos Podcasts, que me fazem companhia a correr, por
exemplo. Adoro a novidade e acompanho a evolução da tecnologia com atenção e
proximidade, não me interpretem mal.
Mas…. E as palavras? Sem ser em papel, onde lemos agora bons
textos por aqui, por este sítio começado por htpp? Não lemos, certo?
Continuo (também) a preferir escrever. Escrever em blogs.
ResponderEliminarEu leio! Adoro ler e já tinha saudades aqui da Pippa =)
ResponderEliminarJa tinha tantas saudades de te ler.concordo contigo plenamente. Com o tempo deixei de seguir bloggers por isso mesmo e muita foto e publicidade e pouco conteudo. Bem vinda de volta.
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