segunda-feira, 22 de julho de 2024

2024

 

Há uns tempos, vi um vídeo algures em que um perito qualquer (são sempre peritos!) dizia algo como "quando pegamos num papel e numa caneta e escrevemos, não conseguimos pensar em mais nada ao mesmo tempo - todos os nossos pensamentos estão concentrados naquela caneta, no papel e nas palavras que estamos a escrever. É impossível escrever uma coisa e pensar noutra diferente ao mesmo tempo". Fiquei a pensar nisso. A palavra "terapia" já me tinha vindo várias vezes à mente quando pensava na escrita, mas nunca tinha percebido exatamente o porquê de escrever ter, para mim, esse efeito terapêutico, e o porquê de me sentir tão leve e curada enquanto escrevo. "Eureka!", pensei, depois do vídeo. "É mesmo isso - se estou a escrever, não existo em mais nenhuma dimensão! Se estou a escrever sobre o dia de sol que está, não consigo ter, em simultâneo, um pensamento palpável e claro sobre outro tema qualquer.”

E lembrei-me das horas que passava, há anos, agarrada a este blog, e do quão feliz me fazia este simples exercício de materializar pensamentos leves, sensações felizes, ou apenas dúvidas, incertezas, sonhos ou desejos. Era tão feliz aqui!

Sei que, em 2024, já ninguém lê blogs.

Em 2024, passamos horas a fazer scroll do Instagram, a ver fotografias paradisíacas das vidas dos outros, pessoas de sucesso a falar sobre o seu próprio percurso extraordinário, a ver vidas mágicas, e a assistir a mini vídeos de segundos, incessantemente, anestesiados e alheados dos nossos próprios sentimentos mais profundos. Em 2024, estamos todos ligados através dos ecrãs, somos todos bonitos e elegantes, somos todos sociáveis, vamos a sítios incríveis e estamos gratos pela vida que temos. Em 2024, no entanto, quando desligamos os ecrãs, sentimo-nos mais cinzentos e sós, mais banais, desmotivados e infelizes que nunca.

Em 2024, decidi voltar a escrever porque tenho medo de me perder nesse vício das cores e da magia das redes sociais. Ontem desabafava com uma amiga sobre inseguranças físicas (nunca estamos bem, não é? E até sei que estou em melhor forma que em 99% da minha vida) que, depois de me ouvir, se calou, e me disse “conheço-te há quê? 15 anos? És a pessoa que conheço que mais me faz rir. Mesmo quando estás mal, falamos e és a única pessoa que me anima e arranca uma gargalhada. Não te percas, corpos há muitos, tu marcas pela tua conversa interessante e sentido de humor. Não te percas”.

Fiquei a pensar naquilo. E sei que me perdi algures. Perdi-me no sentido de me deixar levar pela droga do scroll constante, de perder horas a ver as vidas dos outros, mini reels que 99% das vezes me esqueço, e de deixar de investir neste cantinho que tão bem me fazia e onde sentia que era mais Eu que nunca.

Em 2024 ninguém lê blogs, mas quis encontrar-me e voltar a fazer a minha terapia aqui. Se alguém me ler e sentir isto uma chamada de atenção para deixar de perder tanto tempo, passivamente, em futilidades como as redes sociais, e para voltar a investir naquilo que realmente lhe enche a alma, já valeu a pena este regresso e esta deambulação de hoje.

É bom estar de volta.

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