Há uns tempos, vi um vídeo algures em que um perito qualquer (são sempre peritos!) dizia algo como "quando pegamos num papel e numa caneta e escrevemos,
não conseguimos pensar em mais nada ao mesmo tempo - todos os nossos
pensamentos estão concentrados naquela caneta, no papel e nas palavras que
estamos a escrever. É impossível escrever uma coisa e pensar noutra diferente
ao mesmo tempo". Fiquei a pensar nisso. A palavra "terapia" já
me tinha vindo várias vezes à mente quando pensava na escrita, mas nunca tinha
percebido exatamente o porquê de escrever ter, para mim, esse efeito
terapêutico, e o porquê de me sentir tão leve e curada enquanto escrevo.
"Eureka!", pensei, depois do vídeo. "É mesmo isso - se estou a
escrever, não existo em mais nenhuma dimensão! Se estou a escrever sobre o
dia de sol que está, não consigo ter, em simultâneo, um pensamento palpável e
claro sobre outro tema qualquer.”
E lembrei-me das horas que passava,
há anos, agarrada a este blog, e do quão feliz me fazia este simples exercício
de materializar pensamentos leves, sensações felizes, ou apenas dúvidas, incertezas,
sonhos ou desejos. Era tão feliz aqui!
Sei que, em 2024, já ninguém lê
blogs.
Em 2024, passamos horas a fazer
scroll do Instagram, a ver fotografias paradisíacas das vidas dos outros, pessoas de sucesso a falar sobre o seu próprio percurso extraordinário, a ver vidas mágicas, e a assistir a mini vídeos de segundos, incessantemente,
anestesiados e alheados dos nossos próprios sentimentos mais profundos. Em 2024, estamos
todos ligados através dos ecrãs, somos todos bonitos e elegantes, somos todos
sociáveis, vamos a sítios incríveis e estamos gratos pela vida que temos. Em
2024, no entanto, quando desligamos os ecrãs, sentimo-nos mais cinzentos e sós, mais banais, desmotivados e infelizes que nunca.
Em 2024, decidi voltar a escrever
porque tenho medo de me perder nesse vício das cores e da magia das redes
sociais. Ontem desabafava com uma amiga sobre inseguranças físicas (nunca
estamos bem, não é? E até sei que estou em melhor forma que em 99% da minha
vida) que, depois de me ouvir, se calou, e me disse “conheço-te há quê? 15 anos? És a pessoa que conheço
que mais me faz rir. Mesmo quando estás mal, falamos e és a única pessoa que me
anima e arranca uma gargalhada. Não te percas, corpos há muitos, tu marcas pela
tua conversa interessante e sentido de humor. Não te percas”.
Fiquei a pensar naquilo. E sei que me perdi algures. Perdi-me no sentido de me deixar levar pela droga do scroll constante, de perder horas a ver as vidas dos outros, mini reels que 99% das vezes me esqueço, e de deixar de investir neste cantinho que tão bem me fazia e onde sentia que era mais Eu que nunca.
Em 2024 ninguém lê blogs, mas quis
encontrar-me e voltar a fazer a minha terapia aqui. Se alguém me ler e sentir isto uma
chamada de atenção para deixar de perder tanto tempo, passivamente, em futilidades
como as redes sociais, e para voltar a investir naquilo que realmente lhe enche a alma, já valeu a pena este regresso e esta deambulação de hoje.
É bom estar de volta.
Estamos em 2025 e foi com grande prazer que vi a Pippa voltar ao blog.
ResponderEliminarUm dos meus favoritos. 💌💕