terça-feira, 17 de setembro de 2024

Os Nossos Filhos

Os meus filhos têm, neste momento, 8 e 10 anos. Quem segue este blog desde o início acompanha-me desde os tempos em que ainda sonhava em ser mãe. Pois é, o tempo voa! Ainda ontem descrevia o parto de cada um e hoje aqui estou eu a aprender a lidar com uma quase adolescente e um menino que ser o próximo Cristiano Ronaldo.

O Cristiano Ronaldo em potência é quase um clone dos meus gostos e comportamentos de criança, ainda que com testosterona à mistura. Mas a quase adolescente é uma criança muito diferente da criança que eu fui. E inicialmente custou-me aceitar isso, porque instintivamente todos nós queremos moldar as crianças à imagem do que fomos. Não gosta muito de ler, foge da ginástica e adora volley (que era simplesmente o meu ódio de eleição!). Tentei durante algum tempo torná-la a criança que eu era, admito com alguma vergonha. Até que pensei "mas não é muito mais divertido incentivar uma personalidade tão complexa e diferente da minha?". E desde então está a ser tão mais fácil! Aprendo com eles todos os dias. Tento ensinar, mas têm ambos uma visão tão diferente que redescubro o mundo ao lado deles.

Por isso, o melhor conselho que tenho a dar a quem está a entrar nesta jornada da maternidade é: esqueçam os filhos que foram e aceitem os filhos que têm. Tudo é mais fácil assim!

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Método do Silêncio

Tenho uma amiga que sempre foi a minha Conselheira Amorosa durante mais de 20 anos. Conselheira Amorosa é dizer pouco. Esta minha amiga ouve com toda a atenção e cuidado, dá inúmeros conselhos para a relação propriamente dita (namoro, caso, casamento, o que seja) e também conselhos específicos para apimentar a relação (no sentido s€xual). É uma amiga inteligente e muito perspicaz, lê bem os outros e tem desenvolvido uma técnica a que dei o nome dela, mas que aqui chamo "O Método do Silêncio", por uma questão de anonimato.

A técnica deve ser aplicada em relações amorosas ainda não sólidas, em fase de conquista, e consiste no seguinte: sempre que a outra pessoa se está a afastar, ou escreve menos, ou falha aos compromissos, ou parece estar a esmorecer nos sentimentos, devemos desaparecer. *Puf!*. Sem mais nem menos, sem nenhuma explicação, sem um "até já". Para o método ser bem aplicado, devemos deixar de abrir mensagens, escrever e dar notícias. 2 ou 3 dias assim. Ela já utilizou o método por tempos mais longos, mas penso que isto é suficiente. No fundo, fazer um "ghost" mas sem ser definitivo.

Lembro-me muitas vezes deste Método quando alguém me pede, a mim, um conselho amoroso. E lembro-me porque é exatamente o oposto do que sempre fiz e defendi (o "Método Pippa"): escrever, ligar, preocupar-me, querer saber do outro. Mas sei que resulta, porque já a vi utilizar - sempre com sucesso.

Já o utilizaram? Concordam com esta abordagem?

Segundo ela, a pessoa fica desesperada a querer notícias, porque se habituou à nossa atenção e presença, e por isso é infalível.

Partilho hoje aqui no blog, caso alguém esteja numa situação amorosa que corre mal e precise duma dica milagrosa :) Um dia destes direi, no entanto, em que consiste o Método Pippa.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Ser Boa Pessoa

Li estas férias o livro "Desvendar Mentes", de David J. Lieberman. Apesar de adorar uma boa história, tenho tentado fugir dos livros que apenas me entretêm de forma passageira, sem nada me acrescentar, e tenho procurado ler livros que me ensinam algo e me deixam algum ensinamento mesmo depois de os fechar. Nem sempre é fácil. Há livros que, de tão pedagógicos que são, e com tanta informação me trazem, me deixam cansada e me levam a desistir. Leio imenso em trabalho e preciso dum equilíbrio suave - basicamente, uma leitura que me ensine sem me maçar.

Este livro conseguiu essa proeza de me deixar a pensar e a trocar impressões com quem me rodeava, sem, no entanto, me deixar nunca cansada. Sublinhei, parei, meditei, voltei a ler. Foi muito bom! A dada altura, o autor explicava porque é que a forma como vemos os outros revela a nossa essência e porque é que a forma como tratamos os outros revela, essencialmente, o estado da nossa saúde mental. E dei por mim a rever-me em tantas situações em que me chateei apenas por estar mais cansada e irritável! Percebi também que o nosso cérebro filtra a maioria das situações e nunca nos culpabiliza pelo que corre mal. Não vemos os nossos próprios defeitos e tendemos a amenizar o que fizemos mal, para não estragarmos a nossa narrativa de personagem principal da nossa vida. Por outro lado, concluí que devo ser, no fundo, boa pessoa, porque sempre achei que toda a gente seria boa pessoa também! O autor diz expressamente que não é assim e devemos aprender a detetar os sinais dum manipulador, psicopata ou sociapata, para não cairmos nas suas teias. Olho aberto!

Aconselho mesmo. É um bom livro para ponderarmos as ações de quem nos rodeia e analisarmos de forma mais objetiva, mas também para mergulharmos no nosso próprio mundo de forma mais analítica. Leiam e digam-me algo!

terça-feira, 23 de julho de 2024

A crise dos 40

E agora?

Namorei. Fui pedida em casamento. Casei. Tive a lua-de-mel. Trabalhei muito. Engravidei. Tive uma filha. Mudei de trabalho. Vivi numa bolha. Voltei para o trabalho. Voltei a fazer desporto. Fiz uma São Silvestre. Engravidei outra vez. Tive outro filho. Vivi numa bolha outra vez. Ele foi trabalhar para fora. Vivi sozinha a 3. Foi duro. Voltou. Voltámos a viver juntos os 4. Trabalhei muito. Voltei ao desporto. Eles cresceram. Veio a pandemia. Sofri muito em casa. Sofremos. Trabalhei muito. Senti-me prestes a ter um burnout. Mudei de emprego. Trabalhei muito. Comecei a fazer desporto diariamente, ao acordar. Eles continuaram a crescer. E a crescer.

E agora?

O que vem depois? Quem sou eu agora? Para onde vou? O que acontece a seguir? Que objetivos se tem aos 40? Com o que podemos sonhar? O que devemos desejar e onde devemos investir?

Estarei com uma crise de meia idade?

Voltei a escrever para ir partilhando, essencialmente, como é a vida depois dos 40 e depois de já termos concretizado os objetivos a que nos propusemos e depois de termos realizado os sonhos que tínhamos para nós.

E agora?


segunda-feira, 22 de julho de 2024

2024

 

Há uns tempos, vi um vídeo algures em que um perito qualquer (são sempre peritos!) dizia algo como "quando pegamos num papel e numa caneta e escrevemos, não conseguimos pensar em mais nada ao mesmo tempo - todos os nossos pensamentos estão concentrados naquela caneta, no papel e nas palavras que estamos a escrever. É impossível escrever uma coisa e pensar noutra diferente ao mesmo tempo". Fiquei a pensar nisso. A palavra "terapia" já me tinha vindo várias vezes à mente quando pensava na escrita, mas nunca tinha percebido exatamente o porquê de escrever ter, para mim, esse efeito terapêutico, e o porquê de me sentir tão leve e curada enquanto escrevo. "Eureka!", pensei, depois do vídeo. "É mesmo isso - se estou a escrever, não existo em mais nenhuma dimensão! Se estou a escrever sobre o dia de sol que está, não consigo ter, em simultâneo, um pensamento palpável e claro sobre outro tema qualquer.”

E lembrei-me das horas que passava, há anos, agarrada a este blog, e do quão feliz me fazia este simples exercício de materializar pensamentos leves, sensações felizes, ou apenas dúvidas, incertezas, sonhos ou desejos. Era tão feliz aqui!

Sei que, em 2024, já ninguém lê blogs.

Em 2024, passamos horas a fazer scroll do Instagram, a ver fotografias paradisíacas das vidas dos outros, pessoas de sucesso a falar sobre o seu próprio percurso extraordinário, a ver vidas mágicas, e a assistir a mini vídeos de segundos, incessantemente, anestesiados e alheados dos nossos próprios sentimentos mais profundos. Em 2024, estamos todos ligados através dos ecrãs, somos todos bonitos e elegantes, somos todos sociáveis, vamos a sítios incríveis e estamos gratos pela vida que temos. Em 2024, no entanto, quando desligamos os ecrãs, sentimo-nos mais cinzentos e sós, mais banais, desmotivados e infelizes que nunca.

Em 2024, decidi voltar a escrever porque tenho medo de me perder nesse vício das cores e da magia das redes sociais. Ontem desabafava com uma amiga sobre inseguranças físicas (nunca estamos bem, não é? E até sei que estou em melhor forma que em 99% da minha vida) que, depois de me ouvir, se calou, e me disse “conheço-te há quê? 15 anos? És a pessoa que conheço que mais me faz rir. Mesmo quando estás mal, falamos e és a única pessoa que me anima e arranca uma gargalhada. Não te percas, corpos há muitos, tu marcas pela tua conversa interessante e sentido de humor. Não te percas”.

Fiquei a pensar naquilo. E sei que me perdi algures. Perdi-me no sentido de me deixar levar pela droga do scroll constante, de perder horas a ver as vidas dos outros, mini reels que 99% das vezes me esqueço, e de deixar de investir neste cantinho que tão bem me fazia e onde sentia que era mais Eu que nunca.

Em 2024 ninguém lê blogs, mas quis encontrar-me e voltar a fazer a minha terapia aqui. Se alguém me ler e sentir isto uma chamada de atenção para deixar de perder tanto tempo, passivamente, em futilidades como as redes sociais, e para voltar a investir naquilo que realmente lhe enche a alma, já valeu a pena este regresso e esta deambulação de hoje.

É bom estar de volta.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Faltam-me as Palavras


Ainda me lembro de, há uns anos - talvez 2010 -, ter o hábito de acordar e ir logo ler, duma assentada, os blogs todos que seguia. Tinha cerca de 10 blogs de eleição e, apesar os mesmos não incluírem fotografias e não conhecer a identidade dos seus autores, utilizava a imaginação para preencher o que a ignorância não sabia nem tinha maneira de saber. Talvez fruto desse quase-anonimato, os blogs eram também mais transparentes. Partilhavam-se dramas, desejos, pensamentos e desabafos, quase em modo diário, pois viam-se os leitores como amigos e não como comentadores anónimos maliciosos. A escrita era partilha, em que o blogger escrevia sobre um tema e os leitores muitas vezes respondiam com a sua visão do mesmo. Não havia cá medos da crítica gratuita, até porque os blogs eram ainda um mundo mais ou menos fechado, em que só ia, praticamente, quem seguia o autor, o apreciava e queria conhecer o seu percurso.

Gradualmente, os blogs começaram a evoluir e a permitir a inclusão de fotografias, de forma cada vez mais apelativa. Nasceram então as Chiaras Ferragnis (à data, ainda muito à sombra da marca “The Blonde Salad”) e as Alexandras Pereiras (à data, também debaixo do nome “Lovely Pepa”) e deu-se a junção entre o texto e a moda. Começou a ser comum a partilha de várias fotografias com o look do dia e textos a acompanhar, mais ou menos pessoais, incluindo as marcas das vestimentas. Contudo, os textos estavam lá sempre. E o que me continuava a agarrar era exatamente isso: não queria ver (só) a roupa, queria saber onde é que a roupa ia e porque é que ia. Queria conhecer a história por trás das fotografias. Voltando à Chiara e à Alexandra dos exemplos, por exemplo, conheci os namorados de cada, entretanto ex, acompanhei os desgostos de amor, as novas paixões, as finais dos cursos, conheci os pais e os amigos.

Até que a Instagram nasceu e, com ele, a migração em massa. As bloggers de moda tinham ali uma plataforma mais rápida, acessível no telemóvel, de consumo mais imediato. Para quê escrever longos textos que, tantas vezes, nem se conseguia ler bem no telemóvel, se os textos se podiam agora resumir a uma legenda da fotografia com o look do dia? Inicialmente, aceitei bem a mudança e aderi logo. Eu própria ia partilhando fotografias e perdendo cada vez mais tempo a ver fotografias maravilhosas de paisagens paradisíacas e de looks que eu imaginava só ser possível nas revistas de moda. Foram tempos criativos. Até que todas as fotografias começaram a ser iguais. A mesma cor sépia. As mesmas poses desprevenidas. As mesmas comidas. Os mesmos lugares. Às bloggers juntaram-se anónimas mais ou menos magras e mais ou menos fotogénicas, que nunca tinham escrito uma linha, mas sabiam tirar fotografias e gostavam de roupa ou de viajar. Continuo a ser consumidora da aplicação, mas noto que a imaginação e os textos cada vez mais escasseiam.

Em simultâneo, o Youtube começou a ganhar mais adeptos, com novas personalidades expansivas e extrovertidas a partilharem dicas de tudo e mais alguma coisa. E nova migração em massa dos bloggers.

Depois, os Podcasts. Para quê ler se podemos ouvir as mesmas palavras enquanto andamos, corremos, conduzimos ou fazemos o jantar?

Mais recentemente, o TikTok, com as instagrammers a começarem a dançar e a fazer vídeos curtos, numa espécie de Youtube versão fast food.

E os blogs? Esses, ficaram como as aldeias do interior, quando os seus habitantes emigram todos para o Porto ou Lisboa: vazios, com os seus anciães a guardarem as memórias e a dar indicações aos turistas que por ali passam, quase em modo decorativo. Os blogs ficaram quase vazios.

Por isso, sinto falta de ler. Mas textos bons, intimistas ou sarcásticos, opinativos e sinceros. Adoro moda e as fotografias do Instagram inspiram-me. E aderi também aos Podcasts, que me fazem companhia a correr, por exemplo. Adoro a novidade e acompanho a evolução da tecnologia com atenção e proximidade, não me interpretem mal.

Mas…. E as palavras? Sem ser em papel, onde lemos agora bons textos por aqui, por este sítio começado por htpp? Não lemos, certo?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Quase 3 anos depois: olá!


Tenho recebido alguns emails e mensagens, nas últimas semanas, a perguntar o que é feito da Pippa Coco. Fui tentando responder diretamente a cada pessoa que me fazia a pergunta, e cada email ou mensagem deixou ali uma sementinha. As sementinhas foram crescendo e hoje, mais que nunca, deram frutos , porque acordei com uma vontade gigante de escrever e de regressar ao blog.
Peço desculpa a quem ficou à espera que a Pippa desse sinais de vida. Peço desculpa a quem me seguiu e se sentiu, do dia para a noite, sem uma amiga. Não, a Pippa está bem, de saúde e com a família também fresca e fofa.

O que aconteceu? O que acontece a todos os adultos (eu é que achava – ah ah ah ah – que poderia ser diferente): fui-me deixando absorver pelo dia-a-dia, pelos afazeres, pelos horários e obrigações, e deixei passar a capacidade de contemplação aos poucos. O blog ficou ali parado, como se fosse um diário da adolescência a que não sabemos muito bem o que fazer.

Querem um breve ponto de situação?

Estou na mesma.

Minto: estou com mais uns anos em cima. Tenho meia dúzia de cabelos brancos que nascem espetados no topo da cabeça e que odeio, porque lembram-me que já não tenho 20 anos. Tenho a pele mais flácida, aguento menos o álcool e cada vez me deito mais cedo ao fim-de-semana.

Os meus filhos estão lindos! A Constança já tem 5 anos e continua uma castiça. Adora dançar e desafiar. Não admite que adora mimo, tenta ser independente e engraçada, mas derrete-se com vestidos e laços, e sorri quando lhe faço festinhas. O Francisco é o oposto. Aparentemente um mimado, sempre a procurar abraços e beijinhos, mas depois não faz nada do que dizemos e está cada vez mais homenzinho, a dar saltos à ninja e a querer jogar futebol. Em comum têm algo que adoro: são loucos um pelo outro! Defendem-se com unhas e dentes e, se for preciso, atacam o próprio pai/mãe que esteja a dar uma reprimenda ao respetivo irmão.

Ah lembram-se de desejar constantemente emagrecer? Já não tenho pedido, porque passei a pesar naturalmente menos, à volta dos 58kg. Continuo a dar nos doces diariamente, de forma religiosa, como um drogado procura a dose (será que podia ter usado a palavra “religiosa” e “drogado” na mesma frase? Hmmm.. adiante). Mas tenho conseguido fazer desporto frequentemente e, de alguma forma, devo ter enganado o metabolismo! Yeaaah! A Pippa de 2014 ia rejubilar de alegria!

Mais coisas? Estou com menos piada. Tenho que o admitir. Cada vez ligo menos o botão do sentido de humor, à falta de plateia. Ando menos sociável. E menos interessante ou culta. Vejo menos as minhas amigas, o que me deixa com um sentimento de vazio permanente.
Ganho mais.
Mas tenho menos tempo para “mim” e para namorar.

Estou adulta.
E nesse caminho, deixei a minha Terra do Nunca abandonada ao esquecimento. Hoje vim espreitar esta Terra onde fui tão feliz. E acreditem que só queria ter forças para conseguir regressar mais frequentemente. Para me rir e sonhar. E depois partilhar por aqui. Mas, acima de tudo, gostava de voltar a ser a Pippa, otimista, sonhadora, sarcástica e opinativa.

Estou adulta. E tornei-me uma seca.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O fim da WhatsApp?

Aparentemente, ontem o WhatsApp foi ao ar e não se falava de outra coisa. E digo "aparentemente", porque não sou viciada na app, não estou em mil grupos e - surpresa! - continuo a escrever sms ou, por ter iPhone, iMessages.

Serei pouco popular ou pouco sociável? Talvez! Mas prefiro acreditar que terá a ver com a idade, pois vivi até aos 17 anos sem telemóvel e só há cerca de 2, 3 anos comecei a usar mais assiduamente o WhatsApp.

De qualquer dos modos, adorei muitos dos memes que inventaram sobre o tema. O meu preferido foi este:

Imagino que muito boa gente se identifique! :)
Talvez com a queda, muita gente tenha reaprendido a conversar ao vivo, algo cada vez mais (injustamente) subvalorizado.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Paixão

Paixão.
Trabalhar com paixão.
Viver com paixão.
Amar com paixão.

Sempre tentei pautar a minha vida pela máxima do "aproveitar enquanto cá estou". Até que o trabalho, a rotina, o facto de ele ter começado a trabalhar fora e o cansaço me engoliram. Até que alguma desilusão pela falta de reconhecimento no trabalho, pela dedicação e pelos sacrifícios me engoliram. Sim, continuei a trabalhar. Continuei a sorrir. Continuei a chegar a casa e a brincar com os bebés. Continuei a marcar coisas ao fim-de-semana. Continuei a fazer desporto. Continuei a tentar olear esta máquina chamada vida e a fazer o que era suposto fazer.

Mas a paixão? A paixão por todas as coisas desvaneceu-se um pouco no ano passado. Talvez tenha sido quando a minha empregada/ babysitter desapareceu do mapa, na altura em que estava de licença em casa, com o bebé e a Constança, e a tentar perceber como é que funcionava a dinâmica de dois bebés ao mesmo tempo mais uma casa para tratar. Talvez tenha sido quando tive que tratar sozinha do batizado, porque ele tinha começado a trabalhar num sítio novo. Talvez tenha sido quando voltei ao trabalho e ele teve que ir para fora, deixando-me sozinha a aprender a dinâmica nova "casa-trabalho-nova empregada-dois bebés em casa". Talvez tenha sido quando voltei ao trabalho e percebi que o trabalho tinha continuado sem mim e que eu não era, afinal, indispensável como achava ser. Fui bem recebida, mas foram pequenas coisas que me fizeram sentir algo "substituível". Talvez tenha sido quando, mês após mês, me cansava, mas continuava a dar tudo, mesmo sem dormir. Talvez tenha sido quando, no final do ano, na altura dos prémios, senti que o meu trabalho e sacrifícios não tinham sido devidamente valorizados. Talvez tenha sido quando senti que ser mulher seria sempre um fator de desvalorização num mundo dominado por homens.

Talvez tenha sido cada desses fatores que me fez perder alguma chama. Há alturas assim, não há? Neste caso, a primeira diferença notória foi ter deixado de escrever. Comecei a sentir-me meia vazia, desinteressante, cansada e cinzenta. Ia escrever o quê? "Olá, estou cansada, porque esta noite o bebé não me deixou dormir e tenho um prazo para hoje." Achei que o blog não devia ser um muro de lamentações. E só me apetecia mesmo lamentar. Não ia dizer "olá, hoje tive uma branca a meio duma reunião e percebi que estou um caco". Não sou pessoa dada a depressões, acho eu, mas andei muito tempo em modo "down", sem perceber para onde estava a caminhar a minha vida e a tentar encontrar conforto nos abraços e carinhos que trocava com os bebés no final do dia ou nas corridas que ia dando.

Os meses foram passando. Ele regressou. Voltei a ter mais ajuda. Voltei a sentir que éramos novamente "nós", "uma família". As coisas foram melhorando. Comecei a fazer mais desporto como terapia. Comecei a sentir o meu antigo "eu" a regressar.

Conclusão? Ter dois filhos pequenos e segurar sozinha o barco, com um emprego com horários malucos é... não há outra palavra... uma merda. Podemos adorar os filhos, podemos adorar o emprego, podemos adorar tudo. Mas acho que, a dada altura, perder a paixão pelas pequenas coisas é inevitável. Acabamos sempre sugados pelas rotinas, fraldas, horários, papas, prazos, stresses.

Não prometo recomeçar a escrever todos os dias. Mas hoje dei por mim a morrer de saudades de escrever aqui. E percebi que esta é, verdadeiramente, uma das paixões que tenho. Isto, este cantinho à beira-blogosfera plantado.

Até já.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O novo iPhone

Faltam 10 minutos para ser lançado o novo iPhone 7. Se estou ansiosa? Estou, sim, principalmente porque a minha querida filha me partiu o ecrã do telemóvel e preciso urgentemente de um novo.

Mas em dia de lançamento de novo telemóvel dei por mim a percorrer esta galeria e a lembrar-me do meu primeiro telemóvel, que não está aqui: o Nokia 5110.
É incrível como um telemóvel que, à data, nem SMS dava para enviar (a operadora não suportava o serviço), causou tanto impacto na minha vida. Tinha a capa vermelha, que adorava, e só o facto de poder falar com as minhas amigas em qualquer lugar já era motivo para muita excitação.

Sim, não havia selfies, não havia Apps, não havia nada para fazer a não ser telefonemas - sim, espantem-se, crianças, mas só podíamos usar o telemóvel para conversar! - mas fui muito muito feliz a conversar com o meu telemóvel vermelhinho. Saudades desse tempo.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

XX e XX vs XX e XY

Dei um jeito ao pescoço no último treino e andava há dias como se tivesse engolido uma vassoura - muito esticada, sem conseguir mexer o pescoço para um lado nem para o outro.

Como não sabia mais o que fazer, marquei consulta num osteopata e fui lá hoje. Levava uma camisola larga e com decote em forma de barco tanto à frente como atrás, para lhe dar espaço de manobra. Só que, quando lá cheguei, ouvi algo que não estava à espera - "dispa-se, por favor". "Dispo? Mas é só o pescoço que me doi", disse eu, enquanto tentava parecer descontraída e relaxada. Não estava. Era um homem, pouco mais velho que eu, não havia mais ninguém em todo o gabinete, a rececionista tinha ido almoçar e senti-me desconfortável. "Tem que se despir, porque tenho que ver onde está a origem do problema. Até pode estar na anca".

Continuei a sentir-me desconfortável, mas lá o fiz. E ainda bem que fiz, porque saí de lá, uma hora depois, a sentir-me praticamente nova e quase sem dores.

Sei que para os profissionais da área da saúde deve ser indiferente o sexo da pessoa que lhes aparece à frente. Mas não me lixem: é sempre diferente, pelo menos numa primeira consulta, estar à frente de um homem ou de uma mulher, principalmente se for duma idade próxima da nossa. E, ou a pessoa que está à nossa frente é tão profissional e descontraída que, a dada altura, já nem nos lembramos que é um homem - é apenas um ótimo profissional, como era o meu ginecologista - ou, então, o desconforto mantém-se e nada feito. Neste caso, mais vale mudar.

Talvez por isso, há uns tempos, uma pessoa conhecida me disse que tinha tido um treino com um PT e que desistiu logo. Agora só queria ser treinada por mulheres.
- Mas desististe porque era desconfortável?
- Não chegou a ser. Ele era mesmo muito profissional. Mas assim a probabilidade de haver um momento desses, de desconforto, é de 0%. Prefiro evitar problemas. Até porque o meu marido podia um dia não gostar de me ver a trocar mensagens com ele.

Concordam? Também preferem ser seguidos por pessoas do mesmo sexo?

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Terceiro dia de escolinha

E pensava eu que ao segundo dia já não ia custar tanto, nem a ela nem a nós. Pensava eu que, ao terceiro dia, já seria tudo fácil e sereno. Errado. Hoje deixei-a e continuou a chorar tanto que senti que deixei parte do meu coração atrás de mim. Chamava pela ama, chamava por mim, pelo papá, pedia colinho, dizia que não queria "escolinha"... e eu só queria conseguir explicar-lhe que isto é o melhor para ela, que é melhor estar ali com outros meninos que ficar em casa fechada mais um ano, e que me sai caro pagar ama e escola, e que é um sacrifício que fazemos pelo bem dela. Só que o meu lado racional desfaz-se em cacos ao mesmo tempo que o coração se parte e também me dá vontade de chorar, e choro mesmo, e saio dali a pensar "vou mas é acabar com isto e deixá-la ficar em casa mais um ano, coitadinha".

Enfim. Isto é mesmo duro. Custou menos regressar ao trabalho no fim da licença que isto. Porque ao menos nessa altura sabia que ela ficava no ambiente dela e que a podia visitar quando quisesse. Escola? Ninguém me tinha avisado que custava tanto. Às duas. :(

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Primeiro dia de escolinha - A cromice da mãe

Hoje é (ou era?) o primeiro dia de escola da Constança. Esteve até agora em casa, as coisas foram correndo bem, o registo e a dinâmica pareceu ir funcionando para todos os envolvidos, por isso, fomos mantendo na base do "vamos indo e vamos vendo". Eu nunca tive um plano a longo prazo, nunca fui extremista ao ponto de defender só casa ou só escola, sabia que havia vantagens e desvantagens em cada um dos cenários, daí que tinha definido que a iria por na escola quando sentisse que a casa já não a estimulava o suficiente. Esse momento aconteceu depois do bebé nascer. A dada altura percebi que, com o bebé para dar atenção, não conseguia (eu ou a pessoa que estivesse em casa) focar-me no desenvolvimento dela, levá-la a passear, a andar de triciclo ou ao escorrega, não conseguia sentar-me ao lado dela a desenhar (e a limpar depois tudo o que sujava), a ensinar novas músicas ou palavras, ou até a insistir para ela deixar de usar fraldas. Sobrevivia-se, as coisas iam-se fazendo, mas começou a haver demasiado Canal Panda para o meu gosto - "senta-te aí a ver a Patrulha Pata enquanto a mamã vai trocar a fralda ao bebé"; "olha o Panda! não posso brincar contigo, porque tenho que dar o leitinho ao bebé", e por aí fora. Por outro lado, desde que terminou a minha licença comecei a perceber que a Constança andava mais irritadiça, a precisar de atenção, e comecei também a questionar se o bebé teria estímulo suficiente, uma vez que a ama não conseguia ter dois minutos para o por no tapete de atividades (a Constança atirava-se logo para cima dele) ou passear com ele, por exemplo (é difícil para a ama passear sozinha com os dois).

Posto isto, tomei a decisão (um bocado sozinha, porque o pai inicialmente não concordava): estava na hora de ir para a escola. Consegui uma vaga para setembro, na escola que queria, por isso, foi uma questão de ir tentando convencer o pai, nos meses que faltavam. Lá consegui que ele concordasse comigo.

Hoje é (era?) então o dia "D". Já tinha a mala pronta desde ontem, o lanche e a farda da escola preparada para a vestir. Ontem, no entanto, comecei a stressar. Mas a stressar a sério. Não me deu para a choraminguice (estranho!), mas para os nervos. Comecei a questionar tudo. Será que a iriam compreender na escola? Eu percebo o dialeto dela, ela até fala relativamente bem, com alguns verbos e pronomes pelo meio, mas há palavras que ainda não diz direito e que nem todos percebem. Ela fala uma língua própria e às vezes tenho que a traduzir para os outros que não dominam a língua. Quem é que vai saber o que é o "Kuim" (coelhinho) e a importância que tem para ela? Quem vai saber o que é o "tim" (leitinho) e que, se o está a pedir, é sinal que tem sono? Quem vai saber o que é a "chi" (bolachinha) e que ela está com fome? Quem vai perceber, quando estiver triste, que o "cóínho" é ela a pedir colo? E o "Tai" (Panda style), quem é que ia perceber que, quando falar no "Tai", ela quer dançar? E isto ia piorando de minuto para minuto. Depois lembrei-me que eles não iam saber o ponto de desenvolvimento dela. Não sabem que sabe ler os números em português e inglês, e também as cores. Não sabem que sabe as notas musicais e adora cantar enquanto as toco. Não sabem que adora animais, dançar e dar cambalhotas. Não sabem o que a faz rir. Não sabem como reage quando tem sono ou está chateada. E como lhe dar a volta. "Coitada da minha filha, vai ser incompreendida!" Quando dei por mim, estava a escrever um "manual de apoio à Constança". Às duas da manhã. E a enviar por email à educadora. Incluí um dicionário Constança - Português. Incluí os pontos fortes do desenvolvimento e os pontos a desenvolver. Incluí conselhos. Tornei-me uma croma. Tornei-me uma croma. Tornei-me uma croma.

A seguir ao almoço vou deixá-la lá. Se não me der um ataque de choro. Sim, é o primeiro dia de escolinha. E custa muito. Mas acho que custa verdadeiramente é às mães. Os pais vivem isto mais na desportiva. As crianças acabam por adorar (eu sempre adorei a escola, por exemplo, e por norma é um sítio feliz para as crianças). As mães é que são umas cromas, muitas vezes. Pelo menos eu acuso-me!

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Cantar e (des)encantar

Estava ontem a ler a lista dos filmes que vão estrear esta semana (faço sempre exercício por mero masoquismo, pois com duas crianças em casa raramente consigo ir ao cinema!) e deparei-me com este que me chamou a atenção. Além de ter a maravilhosa Meryl Streep e o Hugh Grant, atentem na história:

"Passada na Nova Iorque dos anos 1940, a história verídica da lendária Florence Foster Jenkins, uma socialite e herdeira nova iorquina que perseguiu de forma obsessiva o seu sonho de se tornar uma grande cantora lírica. Se quando cantava, a voz que ouvia na sua cabeça era bonita, para todos os outros tratava-se de uma experiência horrível mas hilariante. O seu "marido" e agente, St. Clair Bayfield, um aristocrático ator inglês, conseguiu sempre proteger a sua amada Florence da cruel verdade, mas quando esta decide dar um concerto público no Carnegie Hall, St. Clair sabe que está prestes a enfrentar o seu maior desafio."

Estava eu muito contente a ler a descrição e a ver depois o trailer, quando tive uma epifania. Uma triste e cruel epifania: estou sempre a cantar e nunca ninguém me disse que canto bem. Recuei no tempo. Revivi momentos. Uns atrás dos outros. Viagens de carro com os meus pais, quando eu ainda era uma adolescente, em que o meu pai, a dada altura, desligava o rádio e dizia "Pronto, agora vamos conversar!". Viagens de horas no carro em família, em que canto e coreografo as músicas que passam na rádio e ele começa a cantar por cima, como quem não quer a coisa. Noites com a Constança ao colo, a cantar músicas de embalar, e em que ela cada vez grita mais e mais alto. Hmmm... Algo me diz que posso ser uma pequena Florence em potência. De qualquer dos modos, adoro cantar. Não tenho a pretensão de dar concertos nem de me tornar uma grande cantora lírica, mas hei-de continuar a cantar (melhor ou pior) e a espantar os males, como diz o ditado. Só espero não espantar quem me rodeia. E só espero que os meus filhos não saiam a mim e herdem a capacidade de canto do pai, que, aqui entre nós, canta realmente bem, afinado e com projeção de voz.

Cantar, ainda que pessimamente, faz bem à alma. Pelo menos à nossa.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Para os dias de calor

O calor chama por fruta fresca, salada, sumos com muito gelo, peixe e comidas mais leves, certo?

Por isso, o ceviche foi uma descoberta recente que combina bem com estes dias de verão.

O que leva o ceviche? Leva peixe cru marinado em "sumo de tigre" (bebida feita com o peixe marinado na lima e com os outros ingredientes e que, no Peru, é usada para curar ressacas!, e supostamente dar força e energia), salsa e coentros. Também leva cebola e piripiri, o que dá um travo picante e que convida a beber muito (controlem a mão ao temperar, se não, passam o almoço a beber água!). Pode acompanhar-se com batata doce e legumes, e também com milho. É fresco, é leve e... ando fã. Já experimentaram? Também gostam? Acho que vão gostar e há muitas receitas na internet para todos os gostos e grau de habilidade na cozinha!
Almoço de domingo, no Panca Cevicheria. A acompanhar, limonada bem fresca. De sobremesa um gelado de doce de leite com chocolate. Sim, porque eu falei em comida leve e fresca, não disse que tinha que ser pouco calórica. ;)