terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Final de ano tão mau só pode significar ano novo perfeito

Depois do azar com a viagem a Amesterdão (que nunca aconteceu, mas que tive que pagar), depois do carro, e como o azar é cigano e vem sempre com outros iguais a ele atrás, claro que tinha que continuar com os azares. Uns atrás dos outros. Primeiro, passei a Véspera de Natal com febre e o dia de Natal com arrepios e dores em todo o corpo. Mas não foi só isso: tinha um trabalho para entregar na sexta e tive que trabalhar no próprio dia de Natal. Que bom, não é? Pois, só que também não foi só isso. Depois de ter feito noitada a trabalhar, sexta madruguei, fui trabalhar, imprimi tudo e percebi que não havia correios disponíveis. Teria que ir ao aeroporto. Assim, fui ao site ver o horário e li que, em dias úteis, os CTT do aeroporto fechavam às 21h, e nos fins-de-semana e feriados às 17h. Ainda tentei ligar para lá a confirmar o horário, mas não atenderam. Às 19h30 acabei o resto do trabalho, fui ao aeroporto enviar aquilo e.... qual não foi o meu espanto quando vejo que... OS CTT ESTAVAM FECHADOS. Entrei em pânico. Voltei para o escritório. Toca a mandar o trabalho por email. E fui tentar mandar por fax também, por via das dúvidas. Conclusão? O fax decidiu medir forças comigo. Nunca dava entregue. Até às 23h. E enquanto isso, em casa, ele à minha espera com a bebé para jantarmos. Eu sem lanchar, praticamente sem dormir, ainda com febre, com vontade de partir a porcaria do fax aos pontapés, que nunca me tinha falhado, mas que quando eu mais precisava decidiu fazer greve. Fui embora pior que estragada. Nem me lembro se depois jantei. O que me deixou menos preocupada foi perceber que a Constança não estava com febre como eu. Até... ONTEM. Ontem, coitadinha, a meio da noite começou a ficar cheia de febre. E eu com os coração na mão.

No meio disto tudo só tento convencer-me que tudo vai melhorar. E que um final de ano tão, mas tão mau só pode significar um Ano Novo perfeito. Mal isto tudo melhore, venho cá contar-vos tudo sobre o Natal propriamente dito. Espero que o vosso Natal tenha sido bem menos atribulado que o meu!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mas o que é que me deu?

Não sei o que se passa comigo, mas desconfio que foi por andar a gozar com a Maria Helena (a taróloga, nutricionista e tudo e mais alguma coisa) no Facebook do blog. Só pode ter sido isso. Depois do azar de Amesterdão - e porque um azar nunca vem só -, hoje fiquei sem chaves do carro. Ia a sair de casa quando me lembrei que tinha deixado as chaves do meu carro no carro dele, ontem à noite. Como ele já tinha saído de casa há meia hora, já estava a quilómetros de distância e não podia voltar para trás. De modo que tive que chamar um táxi e vir trabalhar. Ao almoço devo voltar a chamar um táxi para ir a casa almoçar. E depois para voltar. Este dia vai-me sair barato, vai.

Maria Helena, nunca mais gozo com o teu programa! Entretanto, vou aguardar os momentos de romance que prometeste hoje para mim e para todos os nativos do signo Peixes (aqui), vou fazer por dormir oito horas esta noite e manter a energia em alta (tudo ao mesmo tempo ou alternadamente?) e aguardo ainda ansiosamente que me atribuam mais poder no trabalho. Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay....

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A receita que mudou a minha vida. Ou os serões.

Se tivesse que associar o final da minha infância/ início da adolescência a um filme, esse filme seria qualquer um da Guerra das Estrelas. Se tivesse que associar a um cheiro, seria ao cheiro das pipocas acabadas de fazer. O ritual repetia-se: o meu primo ia até lá a casa, pegávamos nas cassetes que tínhamos, escolhíamos o filme que íamos ver, fechávamos um pouco as persianas para a sala ficar mais escura, e íamos fazer pipocas, tudo para dar uns ares de cinema. Sim, porque cinema tinha que ter sempre pipocas! E a receita era sempre a mesma: pegávamos num tacho, colocávamos óleo no fundo, levávamos ao lume, púnhamos o milho em cima e, quando estivesse quente, começávamos a ouvir as pipocas a estalar e a tampa do tacho a saltar. No fim, uns quinze minutos depois, pegávamos num saco de açúcar, atirávamos uma boa dose para cima das pipocas e lá íamos ver o filme.

Foram, portanto, anos e anos e anos a levantar a tampa do tacho a medo, com medo de levar com uma pipoca assassina no olho, para ver se as pipocas já estavam prontas. Foram anos e anos a apanhar algumas pipocas esturricadas e tachos queimados no fundo. Foram anos e anos de tachos para lavar no fim, cozinhas sujas e a ter que ouvir a minha mãe queixar-se da confusão que tinha feito na cozinha. Em adulta, deixei praticamente de fazer pipocas em casa por causa da trabalheira que dava.

Até que, no outro dia, a nutricionista do ginásio partilhou comigo meia dúzia de receitas e esta, em particular, mudou a minha vida e fez-me ir buscar este hábito antigo e tão bom da infância. Ok, podem achar exagerado uma receita conseguir mudar a vida de alguém, mas acreditem que esta em particular, se não mudou a minha vida, mudou os meus serões! Numa altura em que não conseguimos ir ao cinema, por termos uma bebé em casa, mas em que continuamos a adorar ver filmes e séries, esta receita tem sido a nossa melhor amiga. Começámos a rever Seinfeld há duas semanas e, não raras vezes, temos vindo a dar por nós a colocá-la em prática. Se são gulosos como eu, mas meteram na cabeça que ainda têm salvação e ainda hão-de ser saudáveis (como quem?... como eu), se gostam de pipocas e de um bom serão de cinema em casa (eu, eu, eu!), se gostam de receitas rápidas e sem sujar nada (eu), aqui está a receita que também pode salvar os vossos serões. Sem sujar tachos e sem fazer estragos na linha. Depois digam lá se gostaram:

- Colocar o milho para pipocas num recipiente de vidro e deitar um pouco de água no fundo.

- Acrescentar à água alguns temperos a gosto, para aromatizar. (exemplo: cravinho, canela, raspas de laranja para experimentar. Também podem experimentar pimenta caiena, erva-doce, anis ou outras ervas secas a gosto.)

- Tapar o recipiente com película aderente e fazer furinhos com um garfo.

- Colocar no microondas na potência máxima e aguardar que os grãos estourem.

- No fim, voltar a polvilhar as pipocas com os temperos já utilizados.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

E que tal Amesterdão?...

...Não aconteceu... Ainda não me apeteceu vir aqui falar nisso, mas em resumo foi isto: não conseguimos ir. Uma sucessão de acontecimentos, desde percebermos que (por puro esquecimento) não tínhamos cartão de cidadão ou passaporte da bebé ainda tratado, até concluirmos que, em cima da hora, não tínhamos com quem deixá-la, até passarmos a ter, mas, ao mesmo tempo, ter-me aparecido trabalho como se não houvesse amanhã, enfim... Foi todo um conjunto de contratempos que me fizeram baixar os braços e dizer "ok, fica para a próxima". Ainda não estava preparada para deixar a bebé sozinha tantos dias, acho eu, porque o trabalho só por si resolvia-se... Pelo meio, enviei email ao Hotel, que me respondeu dizendo que iam tentar não cobrar nada. Na segunda, qual não foi o meu espanto quando vi que, afinal, tinham cobrado e os dias todos. Agora estou nesse ponto: pobre, não-viajada e em contactos com o Banco a ver como posso reaver o dinheiro. É que não foi pouco...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Esta angústia

Às vezes ela aparece e começa a roer cá dentro, até ficar a doer a barriga. Rói, e rói, e rói. É esta angústia, uma angústia de não estar a viver tudo o que devia. Uma angústia que rói e não se cala, e me diz "devias aproveitar mais, estás a desperdiçar a tua vida, devias fazer algo relevante, estás a viver só a 1%, tens tantos sonhos e estão a ficar todos pelo caminho". E quando a angústia chega, geralmente vem com ela a mesma certeza: que tenho que voltar às aulas de piano (porque é que a angústia tem esta obsessão com o piano? já não toco há quase quinze anos), tenho de voltar ao desenho, às pinturas (também já não pego em papel e lápis ou aguarelas há mil anos, mas a angústia tem memória de elefante), tenho de voltar a fazer um desporto que não seja só correr, tenho de viajar, tenho de sair urgentemente das quatro paredes em que a minha vida se processa, tenho de ver a luz do dia, o sol, o mar, escrever, viver, aproveitar cada segundo. Há uns anos, gostava de poesia (entretanto cansei-me, não sei bem porquê). E cheguei a pegar nos meus poemas preferidos e fazer deles música. Música mediana, cantada e tocada de forma mediana, mas que muito me entreteve e fez feliz. Um deles, o "Quase" de Mário de Sá-Carneiro dizia (ou cantava) isto, a dada altura: "...e mãos de herói, sem fé, acobardadas, puseram grades sobre os precipícios...". Nestes dias de angústia é isto que sinto: que toda a minha vida está cercada de grades de segurança que me impedem de correr riscos, mas ao mesmo tempo de viver. E que ando neste "quase" permanente, neste quase-viver, neste quase-fazer. Sou feliz, mas quero que a minha filha tenha orgulho em mim e não cresça a ver a mãe um ser cinzento que sai de casa às 9h e volta às 21h, sempre cheia de papéis debaixo do braço e a olhar para o vazio a pensar no que tem agendado para o dia seguinte. Quero que a minha filha veja em mim um exemplo de alguém realizado e feliz, alguém inspirador que a faça inspirar-se também a ser a melhor versão possível dela. Esta angústia rói. Mas às vezes é necessária para decidirmos pegar novamente no que nos faz feliz e dedicarmo-nos a isso. A angústia rói, mas é ela que nos faz mexer. E não nos deixar acomodar à rotina dos dias, a sermos hoje igual a ontem e a amanhã.

Amanhã pode estar tudo igual. Mas hoje decidi tirar o "quase" da equação e sair destas quatro paredes para ir ver o sol. Sair mais cedo. E sentir um pouco o sol que está lá fora. Amanhã podem voltar a por as grades. Mas agora, com licença, deixem-me saltar daqui.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

É já amanhã

Amanhã rumamos os três para Amesterdão. Ainda não sei se faço bem, mas decidi levar mesmo a bebé. Não conseguia ficar quatro dias sem ela. Ainda é demasiado cedo. Dicas sobre a cidade e dicas sobre viajar com bebés aceitam-se!

A polémica sobre o dar de mamar em público

Ontem publiquei esta notícia no Facebook do blog, longe de imaginar que seria tão comentada e que levaria a tantas opiniões diferentes.

Basicamente, Louise Burns, uma jovem mãe de 35 anos e com três filhos, estava a amamentar a sua bebé mais nova, de 12 semanas, num "luxuoso hotel de Londres", quando o empregado lhe veio pedir o favor de se cobrir com um guardanapo de pano. A justificação foi que poderia ofender alguém presente no hotel. A mãe diz que se sentiu humilhada, incomodada, teve vontade de chorar e quis levantar-se para ir embora. Colocou fotografias no Twitter a explicar o sucedido e acrescentou que ninguém devia fazer alguém sentir-se dessa maneira, porque as mães já se sentem pressionadas a dar de mamar e que, no caso dela, era até a primeira vez que estava a conseguir fazê-lo sem problemas. Na sua conta do Twitter recebeu comentários como: "Se não gostas do que eu (como mãe) estou a fazer, não olhes. É uma atitude de 1920". Entretanto, o hotel pediu desculpas e disse que até apoia a amamentação.

Ora, eu tenho a impressão que, neste tipo de notícias, se misturam sempre vários temas. Em primeiro lugar: as mães afinal sentem-se pressionadas a dar de mamar? Acredito que sim, nas primeiras semanas do bebé, mas acredito também que a corrente oposta está em notório crescimento, incentivando-se a independência da mãe e o recurso ao leite em pó desde muito cedo. Assim, apesar de a Organização Mundial de Saúde aconselhar a amamentação exclusiva do bebé até aos seis meses, e a amamentação parcial até aos dois anos, tenho ideia que vivemos num país em que poucas mães cumprem esta recomendação, até porque, na maioria das vezes, têm que começar a trabalhar antes dos seis meses. Olhem à vossa volta: quantas mães conhecem que levaram à letra aquela diretiva e deram de mamar até aos dois anos? Parece-me que houve uma inversão na mentalidade e que hoje se encara como "estranha" quem continua a dar de mamar após uma certa idade (ouve-se muito dizer "o filho já tem dentes e ela dá de mamar, que horror!"). Concluindo, acho que pode haver uma pressão inicial - a sociedade tende a considerar melhor mãe quem dá de mamar no primeiro mês ou dois, é verdade-, mas depois essa pressão dilui-se, chegando ao ponto oposto de se considerar contra natura quem continua a dar de mamar após os seis meses.

Em segundo lugar, vem então a questão que se levanta nesta notícia: dar de mamar obriga a alguma discrição? E é aqui que julgo que as opiniões divergem mais. Eu considero que sim. Sei que muita gente discorda de mim neste ponto. Mas passo a explicar. Para mim, sendo a amamentação indiscutivelmente um gesto bonito, que deve ser incentivado (nomeadamente pelas entidades empregadoras), e natural, é, no entanto, também um gesto íntimo, um gesto que deve ser apenas da mãe e do filho. Praticamente ninguém, muito menos gente estranha, deve participar/ assistir ao momento. Já dei de mamar em público, tive que dar, mas optei sempre por me/nos cobrir com um pano para preservar esse momento e resguardar-nos. Os outros vão achar repugnante ou nojento? Julgo que não, mas não é isso que está em causa. Vão ver a mama da mulher como algo sensual? Também julgo que não. Mas, para mim, o que está em causa é simplesmente uma confusão entre o que é natural - e a amamentação é algo natural - e aquilo que deve ser imposto a terceiros. Nenhum terceiro tem que ser obrigado a assistir a esse momento, que é exclusivamente meu e da minha filha. Se estiver em casa, é uma coisa. Quem lá está, se lá está, é porque já é alguém próximo. Na rua? Nos hotéis? Nos restaurantes? Aí, defendo a discrição, e porquê? Pensando no outro lado, ninguém tem que estar a almoçar e a ver a mulher ao lado a tirar as mamas para fora e a dá-las ao filho. Ora, os beijos são naturais e ninguém gosta de ver casais aos linguados no meio da rua, pois não? E são sinal de amor! Sei que pode parecer um exemplo descabido, mas no fundo é como dar de mamar: é um gesto de amor, deve ser incentivado, mas qual é o mal de se pedir que seja feito com algum recato? Há pessoas mais conservadoras. E tal como temos que respeitar as mães e os bebés, também podemos respeitar as tais pessoas mais conservadoras, pedindo-se alguma discrição no momento em que a mãe retira o soutien e começa a dar de mamar ao filho. Não vejo nisso algum tipo de humilhação. Pelo menos eu, que sempre o fiz, nunca me senti humilhada. Senti-me, isso sim, resguardada no momento a dois com a minha bebé.

PS: Vendo as fotografias que a visada da notícia colocou, parece-me que realmente já estava a ser discreta, não se vê nada com a camisola. Mas pode haver pessoas com outras religiões e culturas que considerem um atentado ao pudor, mesmo assim. Como dizia alguém na página do facebook, e muito bem, importa sempre lembrar que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Para quem vê "House of Cards" (e para quem fuma)

Tenho visto a série House of Cards. E cheguei a uma conclusão (irrelevante para o mundo, mas que quero partilhar na mesma): gostava de gostar de fumar. Passo a explicar. Não fumo. Odeio cheiro a tabaco. Odeio o fumo e toda a neblina que se cria nos sítios em que se fuma. Odeio o vício e a forma como os fumadores se reduzem perante a dependência do tabaco. Não fumo nem hei-de fumar. Mas, se fumasse, gostaria que fosse como, nesta série, o casal principal faz todos os dias à noite (depois de engendrarem os mais maquiavélicos planos): seria um cigarro fumado a dois, um cigarro partilhado, ambos encostados no parapeito na janela, fumando à vez, enquanto conversam. Se fumasse, seria assim, "um pensativo cigarro", como dizia o nosso Eça de Queirós. Gosto do conceito do casal a conversar, no final do dia, a partilhar aquele prazer, aquele pequeno vício, com estilo e descontração. Quem não fuma, nunca terá exatamente esse momento, pois não?... Não é por acaso que nunca um Eça de Queirós escreveu ou nenhum argumentista fez séries em que as personagens principais bebem um "pensativo sumo de laranja", cheios de estilo, no final do dia, ou comem uma "pensativa tablete de chocolate" com todo o glamour. As personagens principais de livros, séries ou filmes bebem álcool ou fumam, no final do dia. Nunca vou passar de uma personagem secundária, está visto.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

BoyHood - ou as mulheres bonitas demais

Tinha um amigo que era apaixonado por uma amiga nossa em comum (entretanto lembrei-me que até já contei essa história aqui). A nossa amiga em comum, verdade seja dita, era (é) uma das mulheres mais bonitas que conheço. Cara muito simétrica, olhos separados um do outro com a distância correta, muito grandes e expressivos, pele impecável, dentes de anúncio, sorriso rasgado, pele de porcelana, cabelos fortes e brilhantes, alta, magra, sempre muito bem vestida e com uma voz muito suave. O meu amigo era completamente apaixonado por ela e estava sempre a repetir o perfeita que ela era. Foi apaixonado por ela muito e muito tempo. Até que um dia me disse que tinha conhecido outra rapariga e que tinha começado a namorar. Tivemos um diálogo parecido com este:
- Então não eras apaixonado pela...?
- Era. Ela é perfeita.
- Pois.. e nem sequer fazes nada quanto a isso? Vais deixá-la escapar?
- Vou. Ela é perfeita, é uma mulher lindíssima, mas nunca conseguiria namorar com ela. Cansava-me. Prefiro mulheres menos perfeitas. Há mais surpresa. Não cansam tanto.

Quando, no sábado, comecei a ver o novo filme do Richard Linklater, "Boyhood", comecei a ver com a expectativa de estar prestes a ver um dos melhores filmes dos últimos anos. Não só é ele o realizador de uma das minhas trilogias preferidas - os "Antes" -, como também a ideia por trás da história e todas as críticas que já tinha lido elevavam as minhas expectativas para os píncaros. Sim, estava certamente perante uma obra-prima, com uma ideia nunca antes vista de gravar cenas durante 12 anos para os atores acompanharem verdadeiramente o crescimento das suas personagens na ficção. No entanto, quarenta minutos depois de começar a ver a obra-prima, já eu dormia enquanto os anos da história (e os longos minutos do filme) passavam. Continuei a ver o filme no dia a seguir. Vi até ao fim, mas tive que me esforçar por não adormecer outra vez. Eu sei que tenho uma filha que não me deixa dormir e que pode ter sido isso a justificar o meu desinteresse pelo filme, mas não consigo deixar de comparar o filme à mulher perfeita do meu amigo. O filme é um espetáculo visual. É mesmo. Ver os anos da história a passarem, e os atores a mudarem também, é de mestre. Sem dúvida. Mas é só isso. O filme é uma mulher bonita, simétrica e esteticamente perfeita mas desinteressante, no sentido em que a ideia por trás dele é tão boa, que nem parece ter havido grande esforço extra para tornar a história profunda. Algo do estilo "a ideia é boa que nem temos que nos esforçar".

A ideia é realmente ótima, mas a história não tem profundidade, não nos desperta emoções, não nos faz rir ou chorar, não mexe connosco. Gostamos de olhar. É maravilhoso ver, de quinze em quinze minutos, as personagens a tornarem-se mais velhas e assistir ao crescimentos dos atores. É maravilhoso sentir que somos espectadores convidados da vida alheia e que podemos acelerar o tempo alheio, como se fôssemos pequenos deuses. Mas é só isso. Não mais. Os diálogos não são tão complexos como seria de esperar. A música não é tão boa como podia ser. Mesmo os atores parecem estar só a meio gás. Sim, o filme é maravilho. Mas, tal como a seguir o meu amigo escolheu a mais feia, também nós vamos preferir outros filmes, porque, mesmo com mil defeitos, têm mais interesse e piada. No caso do filme, continuo a preferir os "Antes", com todas as suas imperfeições. Pelo menos, fizeram-me sonhar. Este filme apenas me deu sono (o que também permite sonhar, mas não, não é a mesma coisa)...

Somos todos feitos de hormonas

Hoje está tudo igual a ontem e, no entanto, acordei bem-disposta e otimista - como acordo sempre, aliás. Não costumo recorrer a citações, mas gosto muito duma frase que atribuem a Churchill: "Sou um otimista. Não me adianta muito ser outra coisa". Basicamente isto resume a minha maneira de estar: acredito sempre que vai correr tudo bem, não tenho grandes angústias e raros temas me tiram o sono. Sou uma otimista. À exceção dos dias em que sou atacada pelas malandras das hormonas. Torno-me outra pessoa. Completamente. E o pior é que tenho noção disso, mas não consigo deixar de me sentir assim. E nesses dias compreendo as pessoas pessimistas e mais tristes. Compreendo mesmo. Somos mesmo feitos de hormonas, não é? A tristeza e a nostalgia repentinas, a necessidade de mimo. Um turbilhão de sentimentos a aparecerem de 28 em 28 dias, sensivelmente. Não tinha saudades nenhumas disto (quando estamos a amamentar, os ciclos passam-nos ao lado). E imagino que seja estranho para um homem compreender estes dias - "Então ontem estavas bem e hoje já estás insatisfeita com tudo?". Mas também eles funcionam à base de hormonas, seja quando veem um jogo de futebol e se exaltam, seja quando conduzem, seja quando veem uma mini-saia... Afinal de contas, somos todos hormonas, mas as nossas pedem atenção e as deles reclamam por necessidade de se afirmar, certo? Menos mal... Que se afirmem dando-nos atenção. Sempre se torna um mundo melhor e mais equilibrado. ;)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Os dias NÃO

Há dias maus. Há dias em que estamos mais cansados. Dias em que estamos ensonados. Dias em que estamos mais sensíveis. Dias em que estamos mais irritados. Dias em que estamos mais esfomeados. Dias em que estamos mais mimados. Dias em que estamos mais tristes. Hoje estou um bocado de tudo, com destaque para o último ponto: uma tristeza gigante e ainda por cima insustentável. Já dei por mim a olhar para tudo objetivamente e a pensar "está tudo igual a ontem, porque é que ontem isso era ótimo e hoje já não chega?". Hoje acordei assim: mais sensível, com vontade de ouvir só músicas lamechas e afundar a minha própria tristeza em bolachas, e chocolate, e mimo, e séries, e mimo.
...
O que me leva a concluir, que, um ano e meio depois, parece que algo chamado "TPM" me veio visitar outra vez. Não tinha saudades nenhumas disto.