segunda-feira, 30 de junho de 2014

Este não é um texto sobre moda*

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Não se deixem enganar pela fotografia, tirada no casamento que tive no último fim-de-semana: este não vai ser um texto sobre moda. O vestido da imagem tem cinco anos e comprei no El Corte Inglès, na Studio Classics, que é uma marca que só conheço de ver lá. As sandálias têm também dois ou três anos e são da Schutz, marca que adoro, mas onde só me atrevo a comprar de vez em quando. O cabelo foi esticado em casa e a pulseira com o infinito e pendente com o "mum" foi presente de Natal, é da Tiffany, e já a mostrei melhor aqui. Nada de novo e a gritar "novidade-2014!!", portanto. Lamento...

Não se deixem enganar pela fotografia, repito: este pretende ser apenas uma prova de que, após mês e meio de se ter um bebé, é possível metermo-nos nas roupas do "antes". Há um longo caminho a percorrer, e custa ver que, de repente, todo o mundo se concentrou na imagem, no ginásio, nas corridas, nas sementes, nas zumbas, nos sumos, nos grãos, nos abdominais, enquanto nos concentramos nas fraldas, nas vitaminas, nas vacinas, nos carrinhos, nas roupinhas, nos toalhetes, e nos cremes para bebés. Há um looooongo caminho a percorrer, mas hei-de percorrê-lo com calma. Coube num vestido de 2009 e isso já foi um grande passo para mim.

* E, no entanto, como me perguntavam várias vezes as marcas das roupas que mostrava aqui, foi a primeira vez que optei por mencioná-las logo desde o início. Não falei sobre moda, mas, pensando bem, também nunca estive tão perto.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O pai e a mãe do recém-nascido - descubra as diferenças

Cenário 1
Mãe está com o filho recém-nascido ao colo e este chora.
Consequência:
Surgem logo mil fiscais-da-mama, trezentos fiscais-do-frio, cento e quarenta fiscais-do-calor, sessenta fiscais-da-fralda e vinte e nove fiscais-da-chupeta, a correr de todos os cantos, em sobressalto, como que a responder a um chamamento qualquer e à obrigação de educar a mãe novata, perguntando, sábia e rispidamente:
- Será fome? Há quanto tempo deste de mamar? O teu leite será suficiente? Estás a dar suplemento?
- Terá frio? Não devias aquecer esses pezinhos? Não terá o peito descoberto? Não será melhor por um cobertor? Não será melhor vestir um casaquinho?
- Terá calor? Não está transpirado? Não será melhor tirar as meias? Não queres tirar o casaquinho?
- Terá feito cocó? Já mudaste a fralda? Serão cólicas? Fizeste massagens?
- Não queres experimentar por-lhe a chupeta? Não queres insistir para se habituar?

Cenário 2
Pai está com o filho recém-nascido ao colo e este chora.
Consequência:
Surgem logo mil quinhentas e vinte e nove mães, a correr de todos os cantos, como que responder a um chamamento qualquer:
- Ohhhhh!!
- Que querido!
- Que jeitinho...
- Ohhh...
- Está a chorar? Coitadinho!
- Ohhh... Queres ajuda?

É verdade, ser mãe pela primeira vez no meio de mães mais experientes é lixado. Os fiscais andam sempre em cima. Ser pai é tãaaao mais fácil, não me venham com tretas. A mãe tem todos os seus passos serem analisados: é a mama que tem que dar leite a toda a hora (e do bom!), é a temperatura que está sempre em mudança e deve ser refletida na roupa, é a fralda que tem que ser mudada, é a forma como se pega ao colo no bebé, é tudo... Ser pai é tão, mas tão mais fácil. E não, não estou ressabiada com nada nem com ninguém, mas é uma constatação que tenho feito desde os dias em que estive na maternidade e da análise de outras famílias também. De certa forma, a sociedade exige perfeição das mães no contacto com os filhos. Dos pais? Exige apenas a sua presença. Sim, a sua sociedade é machista. Mas o que é mais triste é que, muitas vezes, este machismo começa nas próprias mulheres. Por que será? Por que nos sairá um "ohhhh" automaticamente se vemos um pai pegar num filho e, se vemos uma mulher, já desligamos o botão do "oh" e buscamos apenas mais e mais perfeição? Por que será que somos tão mais críticas com as outras mães e totalmente condescendentes com os pais? Não deveríamos, em pleno século vinte e um, ter evoluído para a total igualdade de sexos também nestes cenários? Se isto fosse o outro programa de rádio, terminaria dizendo "vale a pena pensar nisso"... Como não é, resta-me ir embora e pensar nisto mais um bocadinho. Juntem-se a mim se quiserem. ;)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Ainda és desse tempo?

Hoje acordei a sentir-me cheia de energia (benditas seis horas de sono!!) e determinada, entre outras mil coisas, a por em dia a leitura dos meus blogs preferidos. E uma das vantagens de ler é que, estava a "nostalgiar-me" com este post da Loira (que não conheço pessoalmente, mas que me parece uma mulher cheia de graça) e lembrei-me dum episódio recente. Sim, porque às vezes ler e conhecer os outros, é conhecermo-nos também a nós mesmos e revivar a nossa própria memória.

Pois então aqui há meia dúzia de meses encontrei, num aniversário dum tio, uma cara familiar. Ela teria cerca de quarenta anos, era uma mulher bem parecida e com um sorriso simpático. Olhou para mim e eu olhei para ela. Desviámos o olhar. Eu conhecia-a, mas de onde? Voltei a olhar. Ela, talvez sentindo o olhar, olhou também. Sorriu timidamente. Eu respondi ao sorriso fazendo um sorriso "meio-termo", daqueles que servem para cumprimentar quem não temos a certeza se conhecemos bem ou não. Continuei a falar com as minhas primas e esqueci aquilo, talvez fosse apenas alguma amiga dos meus tios e já nos tivéssemos cruzado neste tipo de jantares. É, talvez fosse isso. Mas passado uns minutos, oiço um "Oláaa!! Já sei de onde a conheço! Bem me parecia!!". Olhei para trás.
- Foi minha aluna no secundário!
- Ahhh...!!
- Introdução às Técnicas de Informática.
- Sim!! Tem razão!
- Bem me parecia. Comentei com a sua tia que a conhecia e pelo seu nome cheguei lá.
- Oh professora, desculpe! Como estávamos noutro contexto não a associei ao secundário. Tem toda a razão, fui sua aluna.
E acrescentei, com toda a sinceridade, que a professora estava exatamente igual desde há dezasseis ou dezassete anos atrás. Conversámos um pouco, perguntou-me pelo meu percurso profissional, falámos da minha vida pessoal, da gravidez, etc, até que, a dada altura, comentei com ela:
- Professora, estava agora a pensar e julgo que a última vez que trabalhei com disquetes foi nas suas aulas.
- Disquetes...?
- Sim, e a última vez que trabalhei com o MS-DOS.
- Oh... ainda é desse tempo?
- Sim...
- Ai que agora fez-me sentir tão velha.
- Oh professora, não diga isso, se não, também me sinto velha...!

O que é certo é que, de repente, no meio de uma multidão de adultos e até crianças com iPhones e iPads com internet e wifi, fomos transportadas para esses longínquos anos 90, em que, se queríamos ligar-nos à internet, tínhamos que esperar, pois o modem demorava minutos a ligar e fazia imenso barulho - piiiii piiiii piiiiiiiiii. Fomos transportadas para esse tempo em que uma disquete servia apenas para guardar documentos em Word, PowerPoint ou Paint, em que uma música demorava dias a "sacar", em que as conversas se tinham no mIRC e em que cada página da internet demorava segundos a carregar. Esse tempo do MS-DOS, do C-dois-pontos-parágrafo.

Sim, sou desse tempo. E dei por mim a lembrá-lo cheia de nostalgia, como se lembrarão os nossos pais e avós do momento em que viram a primeira televisão a cores, o primeiro computador ou o primeiro telemóvel. Nostalgia, não tristeza ou saudades, porque felizmente sou do tempo em que tenho a certeza que sou mais feliz agora que aquilo que era nesse tempo que passou.

domingo, 22 de junho de 2014

O sorriso que me deste

Sábado de manhã. Acordar com as temperaturas a fazerem (finalmente!) lembrar o verão. Olhar lá para fora e ver o céu completamente azul a perder de vista. Decidir passar o dia junto ao rio, perdidos no meio dos recortes verdes das montanhas. Sorrir perante a possibilidade de andar de barco. Nadar. Bronzear. Dar uns mergulhos e umas braçadas no rio ou na piscina. Preparar as toalhas, o protetor, as havaianas, o saco da bebé. Andar uma hora e meia de carro. Sim, a promessa do dia paradisíaco fazia valer a pena a viagem. Chegar ao destino. Pegar em tudo, por a bebé na alcofa à sombra, a dormir. Despir. Ficar em bikini. Inspirar. Meter a barriga para dentro. E depois decidir assumir sem complexos o corpo imperfeito de um-mês-pós-parto. O dia estava bom demais para dramas desse tipo. Fechar os olhos. Sentir o sol a tocar a pele, finalmente. Abrir os olhos. Olhar para a piscina e para o rio, lá em baixo. Saborear os momentos de tranquilidade antes de mergulhar. Aiii, rico dia, finalmente!! Até ouvir um choro. Tímido, primeiro. Seguro, depois. E cada vez mais alto. Pegar na bebé. Pegar na bebé, que pelos vistos detestou o calor e queria atenção. Pegar nela e não conseguir voltar a deitá-la o resto do dia, sem que desatasse novamente a chorar de forma desalmada. Piscina? Rio? Sol? Esquecer tudo. Azar... Sol há sempre. E aquele sítio também. Pegar na bebé e ficar à sombra o resto do dia, a ver a paisagem paradisíaca à distância de um choro.

Sábado à noite. Jantar, cada um a pegar na bebé à vez. Despedir-nos do destino. Entrar no carro. Ligar a música. Fechar os olhos. Desfrutar do silêncio, finalmente. Até ouvir um choro. Tímido, primeiro. Seguro, depois. Será fome? Fome será certamente. Olhar para o relógio. Constatar que faltam 45 minutos para chegar ao destino. Decidir saltar para o banco de trás, tirar a bebé do ovo e dar-lhe de mamar. Nisto, reparar que o carro parou. Olhar para fora. Ver, com estupefação, dezenas de caras desconhecidas a olhar para dentro do carro no exato momento em que eu tinha posto a mama de fora para lhe dar de mamar. Pelos vistos tínhamos passado no meio duma festa popular qualquer que tinha ocupado parte da estrada onde passávamos. Oiço-o só comentar virado para trás, meio engasgado: "Pior timing era impossível, não era?". Sim, pior timing era completamente impossível. Escondo-me como consigo. Dou por mim a maldizer com todas as forças aquele sábado, 14, que é pior que mil sextas, 13.

Chegar a casa, cansada e rabugenta. Pegar na bebé. Prepará-la para por a dormir, a sentir-me em modo zombie, a dizer mal do meu dia. De repente, ei-lo. Ali, no meio da escuridão, apenas iluminado pelo candeeiro ao longe da mesinha de cabeceira. Primeiro, duvidei. Seria mesmo? Olhei para outro lado. Voltei a olhar. Seria? Seria? Mas ali estava mesmo. Confirmava-se! O primeiro sorriso da minha bebé querida. O primeiro sorriso rasgado, a desafiar todo o meu cansaço e rabugice. O primeiro sorriso... E repetiu-se. E eu a sorrir também, de modo pateta e descontrolado, sem conseguir parar de sorrir, e depois a rir, e a rir, sem conseguir parar de rir até doerem os músculos da cara. De repente, aquele sábado era um dia radiante e maravilhoso. O cliché do sorriso duma criança. Tornei-me uma pessoa que diz clichés como "nada bate o sorriso duma criança". Mas como não dizer? Não é uma criança qualquer. É a minha filha, que há um mês estava ainda dentro de mim. E riu-se. Riu-se para mim. Que dizer? Fez o meu dia. Sábado, catorze? Fica para sempre assinalado, sim. Mas pelos melhores motivos.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

As duas versões da história

Sábado tive um casamento dum casal de que gosto muito e a quem desejo as maiores felicidades. Sábado tive um casamento e estava excitadíssima não só por, enquanto romântica incurável, adorar celebrar o amor, mas também por ter saudades de festa a sério. Sim, tinha saudades de ter um pretexto para me embonecar, tinha saudades de usar saltos altos, arranjar o cabelo, usar vestidos de festa e acessórios. Passei as últimas semanas por casa, a sair apenas por períodos muito muito curtos, e estava realmente com saudades de ter uma festa com tudo a que tinha direito. A bebé ficou em casa dos meus pais, tirei leite nos dias anteriores e congelei, por isso, até podia beber álcool pela primeira vez em quase um ano sem pesos na consciência... Os dados estavam lançados para ser um dia em grande - e foi. Só que, como em todas as histórias, também esta tem uma versão completamente cor-de-rosa e outra mais realista.
Versão 1
O casamento foi um sucesso a todos os níveis. Quanto à parte que me toca, fiquei com o ego em cima de tantas vezes ter sido abordada por outras mulheres com comentários do estilo: "Estás igual, parabéns!!", ou "Inacreditável que tenhas acabado de ser mãe, estás ótima!!" e por aí fora. Sim, uma pessoa pode dizer que entra por um ouvido e sai por outro, mas há uma parte dos elogios que ficam e fazem bem à auto-estima, não há como negar. Comemos muito bem, dançámos até às 3 da manhã, bebi gin pela primeira vez em muitos meses, pus as conversas em dia e aproveitámos para namorar muito. Sim, foi um sucesso.

Versão 2
O casamento foi um sucesso, mas eu não estava nada igual a antes de engravidar, apesar dos simpáticos elogios. Horas antes, após tentar dois vestidos que não serviam, mesmo com a ajuda da minha mãe - "filha, desiste, vais estragar o fecho, isto não aperta!! - e estar quase a desistir, houve finalmente este vestido que me serviu, não sei como, porque até parece bem justo na cintura. Dois dias antes, a minha amiga B. - obrigada!! - tinha-me emprestado uma cinta para o pós-parto, que apertava tudo e me deixava quase sem respirar. Magreza, a quanto obrigas!! Pensei que com a cinta podia caber em qualquer trapinho dos meus tempos pré-gravidez, mas mesmo assim só a terceira consegui entrar num vestido. Imaginem a frustração... Por outro lado, durante o casamento, os meus pais estavam sempre a mandar fotografias e vídeos da bebé, o que me deixou com o coração nas mãos e gradualmente mais ansiosa por voltar para casa. Também gradual foi o crescimento das mamas. Quem já deu de mamar sabe do que falo. Pode parecer espetacular (visualmente para mim até é), mas fiquei quase a explodir e a sentir imensa pressão. Conclusão: no final da noite, quando cheguei a casa, foi com uma alegria incontrolável que saltei dos saltos, arranquei o vestido e a cinta, respirei finalmente e abracei a minha filha como se não a visse há meses, não a conseguia largar. Acho que quase a afoguei em beijos.

Agora digam lá: que versão preferem? O glamour da primeira, certo? Também eu. Mas não seria inteiramente verdadeira se não vos contasse as duas. Sim, ser mãe é um novo mundo. Não são só os sorrisos que vemos na Caras, em que famílias numerosas com roupas a condizer, cabelos brilhantes e dentições perfeitas posam, elegantemente. Ser mãe também é isto tudo que contei aqui na segunda versão. Pode não ser só glamour, mas é o maior amor do mundo e sinceramente tem compensado tudo. No final da festa, após só umas horas separadas, vieram-me as lágrimas aos olhos de saudades da bebé. Nem um mês tem e já me faz isto. Quero ver onde vou chegar ao fim de alguns anos...