terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ai ca nervos!

Estávamos os dois a passear no final da tarde, por Sintra, quando me lembro que... não tinha roupa interior nova azul para começar o ano! Nem sou muito supersticiosa, mas a verdade é que em 2008 fiz isso e foi dos meus melhores anos de sempre. A partir daí, comecei a acreditar que os dois acontecimentos estavam completamente interligados e que, se bastava um truque tão simples, por que não repeti-lo? Pois então, lembrei-me disso hoje quase às 18h, com todas as lojas quase a fechar e longe como um raio de qualquer shopping. Desabafei com ele:
- Não comprámos roupa interior! Onde havemos de comprar agora?
- Ui... deixa ver se passamos por alguma loja que venda pijamas e assim...
Andámos, andámos.
- Olha esta. Tem peúgas e lenços, pelo menos. É o mais perto que vimos até agora.
- Vou perguntar!
Entrei e estava só uma senhora ao balcão, a atender uma família inteira com dois filhos aí nos seus quinze, dezasseis anos. Fiquei à espera que me abordasse.
- Boa tarde! Em que posso ajudá-la?
- ... Boa tarde! Desculpe a pergunta, mas por acaso não vende roupa interior? - tentei perguntar o mais baixo possível.
- Diga?
- ... Roupa interior... Por causa da passagem de ano... Dizem que tem que se estrear roupa azul, não é? - acrescentei, mais envergonhada que eu sei lá, como se tivesse que lhe dar explicações.
- Temos algumas peças. Só um momento, por favor.
- Obrigada.
Entretanto, a família lá saiu e estivemos a ver o que havia. Escusado será dizer que eram só cuecas gigantes e com padrões horríveis. Pensei que nenhum ano podia correr bem com aquilo vestido. Agradeci e vim embora. Ele estava cá fora, à espera, a segurar a Malti.
- Não tem nada de jeito...
- Deixa lá. Sabes, deixaste a senhora que estava na loja chocada.
- Chocada? Com o quê?
- Pediste roupa interior, não foi?
- Sim...
- Pois, ela estava a sair e a comentar com o marido, escandalizada - "por amor de Deus, quem é que entra numa loja e pergunta se tem roupa interior?".
- Ai sim? Ela não compra, é? É que a única maneira de comprar é entrar numa loja, acho eu.
- Deixa lá. Eu fiz-lhe uma cara que ela calou-se logo. Mas foi de rir, estava mesmo chocada contigo!!
Agora digam-me: qual é o problema de perguntar numa loja se há roupa interior? Temos que ter vergonha de usar cuecas? Que nervos de gente... Se ficam chocados com isto, nem quero ver como são no dia-a-dia... De qualquer maneira, o meu ano já vai começar sem uma parte do ritual. Vamos lá ver se as doze uvas passas são fortes o suficiente para tratar sozinhas do bom ano. Bem preciso! :)

Feliz 2014 a todos!! Que todos vossos sonhos se realizem!!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Aquele "X" que muda tudo

Em vésperas de se saber o sexo do bebé, faziam-se apostas, partilhavam-se palpites, revelavam-se premonições. Uns tinham a certeza que era menino. Outros diziam "menina!" sem hesitar. O pai estava no primeiro grupo. Juntamente com os meus pais. E pais dele. E praticamente toda a família. "Vai ser menino! Não há dúvidas!". E eu, portadora da criança, permanecia em silêncio, sentindo-me apenas um invólucro humano destinado a trazer um novo ser ao mundo. "O que achas que vai ser? Não sentes nada? Dizem que as mães sentem logo. Dizem que as mães conseguem sentir se é menino ou menina". Mas eu não fazia parte desse grupo abençoado e geneticamente melhorado. Ainda tentei falar com a minha barriga, em silêncio - "ouve lá, tu que estás aí dentro: tens pilinha ou pipi?" - mas juro que não me responderam. Andava até um bocado triste por não ser uma mãe iluminada e não ter criado logo uma ligação para lá de espetacular com o meu pequeno rebento, a ponto de desenvolver imediatamente diálogos avançadíssimos. Por isso, em vésperas de consulta em que era quase garantido saber-se o sexo (o médico tinha-nos garantido que havia 90% de probabilidade de já conseguir ver), resolvi escrever meia dúzia de linhas ao ser que vivia aqui dentro. Foram estas as linhas que agora partilho, em parte, com vocês. É engraçado para mim relê-las, porque admito que já nem me lembrava do que tinha escrito há mês e meio atrás:

"11 de novembro de 2013, 14:02
Querido filho ou filha,
À data de hoje ainda não sabemos o teu sexo. As apostas dos familiares e amigos multiplicam-se (...). Aqui a tua mãe, no entanto, ainda acredita, bem lá no fundo, que és... uma menina. Porquê? Porque sempre imaginei a minha vida com uma menina no colo. Porque sempre sonhei com uma menina a nascer, nos mil sonhos com partos que tive. Porque toda eu sou feminina e conheço apenas o mundo das mulheres. Porque toda a família próxima são mulheres. E porque tenho medo de não saber educar um rapaz. Porque tenho medo de o ver ficar com a voz grossa, com barba, de o ver tornar-se parvo e a tratar mal as raparigas. Porque sei que um dia vou vê-lo chegar a casa bêbedo ou vou descobrir que fuma às escondidas e tenho medo de não saber lidar com isso. De qualquer maneira, o teu pai quer tanto que sejas rapaz, que tenho que começar a pensar também nesse cenário, não é? A parte boa é que dizem que os rapazes são mais ligados à mãe... Há sempre uma parte boa, não é?

Não sabemos ainda o teu sexo. E como é que irás ser? Como é que será a tua carinha? Os teus olhos? O teu nariz? E o teu cabelo? Eu e o teu pai somos tão diferentes que há mil combinações que poderão sair daí. Estou curiosa, admito. Serás mais moreno ou mais branquinho? Resmungão ou mais calminho? Vais gostar tanto de música como nós? Vais alinhar nas nossas cantorias e danças aparvalhadas? Vais ter sentido de humor e rir-te das nossas piadas e brincadeiras? Vais gostar de ler como eu gosto? Vais ser desportista e sempre com vontade de fazer mil programas? Vais ser esperto e curioso, com vontade de saber tudo? Espero que sim. Tenhas apenas cromossomas X ou Y também. E acima de tudo espero perceber-te e compreender-te sempre. Espero que vejas sempre em mim alguém para conversar e alguém em quem confiar, como sempre vi a minha mãe. És feito de amor e espero que sintas sempre isso."

E assim termina...

... O último fim-de-semana do ano:
1. Consegui ir aos saldos ao El Corte Ingles, Zara, Adolfo Dominguez e Mango (não entrava numa Mango há mais dum ano, um dia explico a minha história traumatizante que me levou a cortar relações com a marca).
2. Sobrevivi. Nem estava muita gente, talvez por ter ido tão tarde. Fiquei mais pobre, mas com a sensação de ter feito boas compras
3. Armei-me em fashion adviser e obriguei-o a experimentar meio El Corte Ingles. Meti-o no provador e, enquanto ele experimentava a roupa, eu saltitava entre a Boss, Ralph Lauren e Paul & Shark a escolher calças e casacos (sim, porque os homens têm menos três mil peças de roupa que as mulheres, mas são mais esquisitos nas marcas). Ia ouvindo uns "isto nem pensar, detesto!", mas não desisti. Conclusão? Saiu de lá com peças de roupa de estilos totalmente novos e deu-me vontade de repetir a façanha muitas mais vezes.
4. Fiquei sem bateria no carro por não o ligar uns dias, e tive que experimentar pela primeira vez em muitos anos a assistência em viagem. Aprovada! Rápidos e eficazes. Tenho carro outra vez.
5. Fui sair à noite pela primeira vez (e última?) grávida. Primeiro queria muito dançar, mas só via cigarros à volta e comecei a ter medo que o fumo fizesse mal. Quando finalmente relaxei e senti que estava a exagerar, pois o ar estava limpo, a música ficou mais alta e comecei a ter medo que a bebé estivesse incomodada. Parvoíces? Talvez... Mas até maio acho que danço só em casa ou no ginásio, pelo sim, pelo não...
6. Encontrei um ex colega que não via há anos, à porta da casa-de-banho. Perguntou-me se tinha novidades. Sabem aquele momento em que respondemos "tudo igual" por preguiça? Foi o que fiz. E arrastei a minha barriguinha embora.
7. As minhas calças mais justas já não apertam. Adeus, calças! Até daqui a uns meses!
8. Fomos à Feira Popular e fiquei mesmo desiludida. O piso é péssimo, os carrosséis parecem pré-históricos e até a Casa Fantasma só me permitiu soltar um "ai". E eu sou muiiiiito facilmente assustável.
9. As grávidas são as melhores amigas de qualquer pessoa que queira jantar fora: não bebemos álcool, tornamos o jantar mais barato e ainda podemos conduzir sempre. Além disso, ninguém se vai meter connosco na noite. Todas as mulheres deviam ter uma melhor amiga grávida.
10. Descobri uns sapatos até bem engraçados que alegadamente, quando calçados, aumentam o desejo na mulher. Têm umas pequenas bolinhas que massajam a planta do pé em pontos estratégicos, segundo me explicaram. E acrescentaram-me que as maiores clientes são mulheres mais "maduras". Fiquei a pensar experimentar para confirmar se funcionam.
11. Ainda não sei o que vou fazer na passagem de ano. É o mal de trabalhar dia 30. E vocês, já têm planos?

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sabemos que estamos mesmo grávidas quando...

... Ouvimos as nossas colegas comentarem "aii é horrível ter as mamas pequenas, um dia destes ponho silicone" e a seguir a outra responder, a olhar para mim: "tu não participas na conversa, porque não tens razão de queixa". Não, minhas amigas. Isto é gravidez. Não nasci assim. Nem fiquei assim aos dezasseis anos. Nem aos dezassete. Nem aos vinte. Só fiquei assim nos últimos meses. E acho sinceramente que este crescimento anormal foi uma forma que alguém lá em cima, com alguma marotice à mistura, arranjou para manter os homens entretidos e entusiasmados connosco sem os deixar reparar no pequeno pormenor de que as calças nos ficam mais justas de dia para dia. Ahh seu malandro! Já agora, podem ficar assim para sempre?...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dá para meter isso num saco e trazeres-me, Pai Natal?

“Este Natal foi especial, não foi?”. Perguntaram-me isto uma meia dúzia de vezes. Pelo menos. Fui acenando que sim, sem pensar muito. Porque realmente era suposto ter sido. Era suposto. Estou grávida, vem aí a minha filha (estas duas palavras juntas ainda nem me parecem reais) e era suposto ser o Natal mais feliz de sempre. No entanto, no final do dia de ontem, quando fazíamos os dois o balanço do Natal, desabafámos quase em uníssono, sem nos encararmos diretamente – “este ano o Natal foi fraquinho, não foi?…”. E não, não teve nada a ver com a qualidade ou quantidade dos presentes recebidos. Até porque nunca é isso o mais importante (e a verdade é que até superaram completamente as expectativas). Não teve nada a ver com a comida (ótima como sempre). Não teve nada a ver com o tempo. Nem tampouco com os filmes que passavam na televisão. Teve única e exclusivamente a ver com as pessoas que se reuniram este ano. Ou, neste caso em concreto, o menor número delas. Este Natal, ao contrário do que costuma acontecer noutros anos, os primos não coincidiram todos na mesma casa. E é essa malta nova que costuma animar tudo, com conversas e brincadeiras até tarde. Ah e faltou a minha avó materna, ao mesmo tempo que a avó materna dele estava também doentinha. Este ano acabou por tornar-se, por isso, mais sério. Um Bom Natal, na mesma, mas com a sensação de que faltava qualquer coisa...

E o que aconteceu foi que, no meio dessa falta de brincadeiras e risos, não consegui relaxar a ponto de me esquecer que trabalhava logo no dia 26, nem consegui esquecer a quantidade de trabalho que tinha hoje à minha espera. No meio dessa seriedade, não consegui esquecer-me que, pela primeira vez em trinta e um anos, não ia ver a minha avó no Natal. No meio dessa seriedade, não consegui esquecer-me que agora só vejo a minha irmã umas dez vezes por ano. Não consegui esquecer-me que me custa horrores trabalhar longe dos meus pais. E não consegui esquecer-me também que a minha bebé vai nascer longe dos avós e dos tios. Sei que não era altura para esse tipo de pensamentos, mas não consegui evitar. Enquanto todos conversavam, à volta da mesa, eu só tinha vontade que aquilo fosse normal e não estivéssemos todos reunidos apenas por ser Natal. Só tinha vontade de estar mais vezes com estas pessoas, as minhas pessoas, estas pessoas de que tanto gosto, e que tanta falta me fazem o resto do ano. Pai Natal, para o ano, esquece os bens materiais, e traz-me apenas estas pessoas mais vezes para junto de mim, sim? Quero muito que esta bebé cresça perto destas pessoas que tanto me inspiram.
Entretanto, a pulseira mais fofinha que já vi na vida.  O "charm" também pode ser usado num colar,
mas para já vão andar os dois bem juntinhos aqui no meu pulso. :)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!!!

Como ontem trabalhei, tive que deixar compras para hoje. Pior ideia de sempre! Filas em todo o lado, pessoas a comprarem nitidamente por impulso, empregados a olharem para o relógio, ansiosos, porque queriam ir para junto da família... Lembrança para o meu eu futuro: não repetir a façanha!! Dia 24 é para estar com a família descansada da vida, não para me enfiar em shoppings. :)

Posto isto... Queria desejar um Feliz Natal a todos os que passam por aqui! Espero que já estejam junto da família e das pessoas que mais gostam a comer como se não houvesse amanhã. A minha prenda já me deram e têm dado todos os dias: é continuarem a passar por aqui é a fazerem-me sentir o vosso carinho. Que recebam todo esse carinho em triplicado é o que vos desejo!!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Modo férias: ON/OFF?

Há por aí muita gente a trabalhar todos os dias das próximas semanas exceto dia de natal e de ano novo? Se sim, saibam que estou completamente solidariária com vocês: não tenho férias nenhumas e, para além disso, vou ter que andar horas na estrada para conseguir reunir-me com todos... Ainda bem que o famoso sono das grávidas e os enjoos ainda não me atacaram, caso contrário, esta vida era completamente impossível... A todos os outros SORTUDOS: aproveitem bem as férias!! E aproveitem para estar bem junto das pessoas de quem gostam. Afinal de contas, mais que os presentes, é isso que interessa... Boas festas!!

sábado, 21 de dezembro de 2013

Prefiro trabalhar com mulheres

Digam o que disserem - que as mulheres são intriguistas, que as mulheres têm inveja umas das outras, que as mulheres são falsas, blablablá - prefiro ter uma mulher "chefe" que um homem "chefe". Prefiro entrar num gabinete duma mulher, sem pensar, que num homem. Mando mais piadas de forma descontraída a uma mulher que a um homem. Envio mais rapidamente "um beijo" no fim dum email a uma mulher que um homem. E podia continuar a dar mil exemplos. Hoje deu-me um ataque de saudades da mulher mais inspiradora,
engraçada, competente e descontraída com que trabalhei até hoje. Tive saudades das vezes em que, no fim da conversa mais séria do mundo, dávamos por nós a discutir uma receita. Tive saudades das vezes em que, depois de revermos prazos, falávamos daquela loja que abriu ali perto e tinha ótimos preços. Tive saudades das vezes em que ia ao gabinete dela mostrar apenas coisas fúteis como o meu novo aparelho nos dentes - "olaaá!! Não nota nada diferente em mim, Dra?". Tendo um homem a quem reportar o trabalho, a barreira é dez vezes maior. E tenho realmente saudades daquela minha "mãe do trabalho", que me inspirava e ensinava tanto, e que servia verdadeiramente como meu exemplo de profissão a seguir.

Digam o que disseram das mulheres, quando nos damos bem com elas pode ser tão mais fácil... Nada como duas
pessoas a falarem a mesma língua, no meio dum mundo cheio de testosterona e futebol. E agora vou dormir, que neste mundo de homens, não percebem que estou grávida, que é quase Natal e que... uma mulher grávida no Natal gostaria de comprar presentes, descansar e estar simplesmente junto dos seus... Até amanhã!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O mundo ao contrário

Nunca vos aconteceu apetecer trocar de vida com alguém durante um dia? Só um dia, para ver que tal. Ontem dei por mim a desejar ter outra profissão durante 24 horas enquanto conversava com um casal. Ela era designer e faz da criação de roupas vida. Ele era jornalista e tinha mil histórias engraçadas para contar. Eu? Só ouvia, pois dei por mim a pensar que não tinha nada de giro para contar. Passo os dias em frente ao computador, agarrada a livros e folhas. Estudo, escrevo, discuto ideias, mas não faço nada interessante cujo relato consiga animar alguém. E estava a ouvir os dois queixarem-se das roupas que não ficam como querem, ou das reportagens que podem ser melhoradas, e suspirei. Pareciam-me profissões de sonho. Sei que a relva do vizinho parece sempre mais verde, mas nunca me apeteceu tanto trocar um dia de vida com alguém como enquanto os ouvia. Adoro o que faço, mas é pouco criativo e não dá para contar em condições a alguém que não seja da área. Queria desejar roupa por um dia. Ou apresentar um programa. Só para ver que tal. É a vocês, nunca vos deu vontade de trocar de pele com alguém durante vinte e quatro horas?

Habemus nome!

E, de repente, ele diz-me, como quem não quer a coisa: "é verdade, o meu irmão perguntou-me o nome da sobrinha, para lhe comprar o kit do Benfica. Disse-lhe Constança, não é?, e...". Ia continuar a falar.
- Desculpa, disseste-lhe o quê?
- Oh. Tu ouviste...
- ...
- Achas que eu sou teimoso, mas eu já decidi há mais dum mês que podia ser o nome que querias. E já disse a toda a gente que era esse o nome, para tua informação. Só não te disse logo a ti para não ficares toda mimada e a achar que ganhas sempre.

E é isto. Faz-me estas coisas e fico sem motivos para o continuar a insultar. Que injustiça! De qualquer maneira, já tem nome e, pelos vistos, já tem até kit de sócia a caminho. Nem sabia que era possível... O meu pai é que agora me vai matar, porque sempre me disse que não se impunham clubes às crianças. Mas isso agora é outra história. Este sorriso no rosto agora vai ficar aqui colado umas horas... E ninguém mo tira. Já tens nome, minha filha. :)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Natal a dois - quando pensar nisto parecia um pesadelo

Quando era (mais) jovem, tinha para mim que o pior de me tornar a adulta era a perspetiva de, um dia - numa realidade que desejava muito longínqua -, ter que abdicar da minha família no Natal e ter que passar com a família dele. Ok, sei que há coisas piores, mas eu só me concentrava nisso, não sei porquê. E os anos foram passando até que comecei a ter amigas que, mesmo sem estarem casadas, começavam a dar esse passo... Comecei a ficar assustada, Muito. E a temer que esse dia chegasse também para mim. É que a Véspera de Natal eram os meus pais, era a minha irmã, era a minha avó (desde que, infelizmente, o meu avô morreu), eram os meus inúmeros primos, tios, era aquela sala, era aquela lareira, era aquele cheiro tão característico que se entranhava nas roupas e nos cabelos e não saía durante dias, por muito que se lavasse, eram aquelas escadas, eram aquelas paredes de pedra, era aquela comida naquela mesa sem fim, era aquela árvore de Natal sempre surpreendentemente original, era aquele compasso de espera até à meia-noite, era o coração a ficar apertado, era o Pai Natal a abrir a porta, eram os seus passos cada vez mais próximos, era o seu “Ho Ho Ho!”, era vê-lo finalmente a descer as escadas, eram aqueles momentos a conversar com ele, eram os momentos da entrega dos presentes, era o experimentar todos os presentes depois, era a alegria da família junta, era a música, era a conversa entre todos. A véspera de Natal era tudo aquilo e não me via a abrir mão disso por ninguém. Cheguei a comentar isto com a minha mãe, que, mesmo muito sensata, por pouco não me deu um puxão de orelhas. “Vocês são um casal. São uma família. Têm que encontrar a vossa própria forma de viver o Natal. E têm que vivê-lo juntos. Olha quando tiverem filhos… Vão separar-se na mesma? Não pode ser, filha…”. Só que eu continuava com aquela nuvem negra a pairar sob mim: não me via sem o meu Natal. Não me via sem “aquele” Natal, por mais que adorasse a família dele também.

Até que… subitamente, algo aconteceu. Como a minha avó teve o AVC, decidiu-se não fazer “o” Natal como era costume, para não a sobrecarregar. De repente, senti-me perdida. “Então como vai ser a Véspera?”. Sim, porque o Dia era sempre com a minha família paterna, mas o verdadeiro Natal para mim era a Véspera, era essa que me enchia as medidas. E foi aí que se fez luz: “passamos juntos o Natal, certo?”, perguntou-me ele. “Os teus pais podiam vir também”. De repente, tudo fez sentido. Perdi um Natal, mas ganhei outro. Perdi uma lareira, umas paredes de pedra, umas escadas, mas mantive os inúmeros primos (ganhei novos), os tios (ganhei novos), a comida até perder de vista, as piadas, as conversas, os risos, a juventude, os presentes sempre com grandes explicações associadas e sempre a mesma reação “dá muito jeito!!”. Perdi em parte o Natal, mas a Véspera continuou cheia de cor, cheia de alegria, cheia de amor. E gosto de ver que, em certa medida, ganhei uma família muito muito parecida com a minha. Quanto ao dia, continua tudo igual, e é passado junto do modo de sempre. De qualquer maneira, a todos aqueles que andam aterrorizados, como eu estava, com a perspetiva de perderem o “vosso” Natal, ao ter que o partilhar: tenham calma. Muito calma. Tudo pode correr bem. E podem sempre pensar que estão, não a subtrair afetos, mas a somar uma família à vossa. E no Natal nunca há gente a mais, certo? No Natal, como negar uma família que afinal até se soma à que já tínhamos?

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Dão-se lições de engate.

Aconteceu-me algo como não me acontecia há muito. Correção: aconteceu-me algo como nunca me tinha acontecido. A história começa com o típico “girl meets boy”, só que aqui o “meet” foi numa viagem de carro de 300 kms com mais gente à mistura, o "boy" era mais um homem com quarenta anos, e a "girl" era eu, que nem queria conhecer ninguém, mas vi o meu espaço de viagem partilhado. Falámos todos algum tempo sobre temas banais, mais para fazer o tempo passar (na minha perspetiva) que pelo interesse que os mesmos temas nos suscitava. Conversas banalíssimas, ao melhor estilo “desbloqueador de conversas em elevador – nível 1”. A meio lá falei em marido, como quem não quer a coisa. Ele falou também na mulher e no filho. Falámos em trabalho. Falámos de temas atuais. Os intervenientes iam-se alterando, pois éramos cinco à conversa. E lá chegámos ao destino. O normal depois daquilo seria nunca mais falarmos e nunca mais nos cruzarmos. Não tínhamos nada em comum, nem sequer a faixa etária (cálculo que ele será mais velho uns dez anos), por isso, despedi-me sem olhar para trás. Só que… passado uns dias, mensagem no Facebook. Era o clássico “chegaste bem?”. Pensei logo de mim para mim que só perguntámos às pessoas próximas se “chegaram bem” a casa. Que nos interessa a forma ou a rapidez com que o resto do mundo chega a casa? Sejamos francos: nada, não interessa nada. Respondi um fugaz “sim, sim, obrigada”. Mas ele queria saber mais. Queria saber se eu estava necessitada de cafeína! “Queres ir tomar café um dia destes?”. Apetecia-me responder “sim, tomo todos os dias café e tenciono continuar a tomar, obrigada pela preocupação”. Optei por dar uma resposta evasiva. Só que ele continuou, no dia seguinte: “gostei muito de te conhecer. E vou ser sincero, senti uma atração muito grande. Não me importava nada de te dar um beijo”. Mau, Maria. Respondi qualquer coisa como: “e eu vou ser sincera: não foi recíproco e prefiro esquecer que se falou nisto”.

Mas fiquei a pensar naquilo. E no que devia realmente ter dito. Quando cheguei a casa e lhe contei, ele ainda se riu por me ver grávida e naquela situação. Só que acho que gostei menos da brincadeira que ele e comecei a matutar naquela abordagem à campeão. Comecei a pensar que devia era responder algo como:
1. Não se engata ninguém assim.
2. Se quiseres engatar alguém no futuro, acalma aí os ânimos e tenta primeiro CONVERSAR com a mulher.
3. Se vires que não está muito para aí virada, não insistas.
4. Deves apenas continuar a abordá-la se fores tendo respostas e ela demonstre algum interesse.
5. As conversas devem ser progressivas e primeiro devem falar de gostos comuns, partilhar sonhos e histórias.
6. Devem estar juntos pelo menos 3 vezes. 
7. Falar logo em beijos é ofensivo para uma mulher, porque geralmente uma mulher gosta de sentir que em primeiro lugar os homens gostam da sua maneira de ser.
8. Nunca, mas nunca fales de beijos se só viste a mulher uma vez e ela não te deu o mínimo sinal de interesse.
9. Após estas lições estarás apto a avançar para o nível iniciado de engate nível 2. Sim, são muitos níveis. E tu nem o nível iniciado de engate tinhas concluído, por isso vai com calma.
10. A seguir a isto, apaga o meu contacto do facebook e vai tentar a sorte com outras enquanto a tua mulher não descobre e não te põe na rua.

Não fiz isto. Não vou gastar as minhas lições de engate com quem não merece. Mas digam-me lá se não é uma triste tentativa de engate? Que é feito dos homens à moda antiga? Ah, e já agora – não menos importante – que é feito dos homens fiéis?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Querido Pai Natal

Querido Pai Natal, como estás?
Muito frio por aí ou já mandaste instalar ar condicionado? Vê lá que as constipações e gripes nesta altura são complicadas e difíceis de curar...
E já tens tudo comprado ou ainda tens espaço para mais ums carta um pouco atrasada? Bem, se os CTT não fizerem greve, espero que as minhas palavras te encontrem a tempo...
Habituaste-te aos meus pedidos cheios de sonhos inalcançáveis à mistura, não foi? E, talvez por isso, sei que este ficarás impressionado com o meu sentido prático inédito e que tentarei conferir a esta carta. É que pedir é fácil, é de graça, e eu tenho noção que me "esticava" sempre um bocado neste momento. Começava com pedidos fáceis de concretizar e depois ia subindo a parada, o que tornava as coisas bastante complicadas aí para o teu lado, não era? De qualquer maneira, deixa-me dizer-te que te portaste sempre à altura e que conseguiste até surpreender-me meia dúzia de vezes! Parabéns por isso e obrigada por seres sempre tão certeiro naquilo que decides oferecer.
Este ano, no entanto, resolvi esquecer os sonhos e pensar apenas verdadeiramente no conceito de “precisar”. Ora, do que preciso mesmo? Vou com base nas respostas a esta pergunta que formulei esta carta.
Em primeiro lugar, preciso de óleo para os travões do carro. Aquele sinal vermelho começou a acender no painel há uns dias, parece algo assustador e sério, por isso, é o meu primeiro pedido. Depois, preciso também de produtos de beleza: cremes para as malfadadas estrias, pois a barriga vai crescer nos próximos meses (deixo-te escolher, confio no teu critério), bons hidratantes, água tónica para o rosto, algo para hidratar as pontas do cabelo e dar brilho, uma boa máscara de pestanas e ainda um creme para as mãos e outro para os pés.
reciso também de massagens de drenagem linfática, porque sei que estas pernas vão começar a inchar e convém antecipar-me. Há uma ótima promoção num sítio aqui perto, se quiseres entra em contacto comigo, querido Pai Natal, e conto-te tudo.
Ah preciso ainda de leggings e túnicas e vestidos largos, que parece-me que até maio parte da minha roupa me vai deixar de servir.
O meu porta-moedas também já tem sete anos e meio, e já teve melhores dias, mas não é prioritário.
Por fim, preciso de um carrinho e de outras coisas que nem sei como se chamam para receber a bebé que aí vem. Sei que são caríssimos e que, tecnicamente, devia ser ela a pedir, mas espero que percebas que falo enquanto porta-voz das suas necessidades, já que sou eu que a carrego, certo?
E pronto, Pai Natal, acho que era isto. Também gosto muito de livros, e séries, e de viagens (ando com vontade de ir à Eurodisney outra vez!), mas parece-me que não encerra o conceito de “necessário”, por isso, podes considerar um capricho e rir-te com desdém nesta parte. Eu percebo.
Se sobrar ainda saúde, felicidade e muito amor perdidos aí pelos teus sacos, a verdade é que isso era o mais importante de tudo. Falamos sempre de bens materiais, mas o que mais quero é que a minha filha nasça com saúde e alegria e que eu possa estar cá anos e anos a tomar (bem) conta dela.
E agora, sim, é isto, Pai Natal.
Já sabes que gosto muito de ti. Obrigada por pensares em cada um de nós e nos fazeres sentir especiais a todos pelo menos uma vez por ano.
beijinhos da sempre tua, Pippa,
e da pequenina ainda inominada

O último dia contigo

Nunca vos aconteceu olhar para alguém (principalmente alguém muito próximo) e pensar "e se nunca mais o/a visse?". Ok, talvez não e sou eu que devo ter tendência para o dramatismo, mas já me aconteceu inúmeras vezes. E aparece sem aviso. Aconteceu-me vezes e vezes com os meus pais. Com as minhas avós. Com a a minha irmã. Com ele. E até com a minha cadela. Sem saber porquê, de repente, penso "e se acontecesse amanhã alguma coisa e esta fosse a última vez que estamos juntos?". E é horrível a sensação. Horrível. Hoje deu-me com a minha irmã. Enquanto ela falava, senti-me tomada por uma vontade gigante de a abraçar e dizer o quanto a adoro. Senti vontade de pedir desculpa por todas as vezes que não a compreendi, por todas as vezes que me distraí e não percebi que estava triste. Senti vontade de poder apagar todas as vezes que nos zangámos por motivos estúpidos. Senti vontade de dizer que sinto por ela um amor inexplicável, que a quero proteger mais que a ninguém na vida, que adorava que estivéssemos mais vezes juntas, e que detesto estar longe. Senti vontade de a abraçar e trazer para casa outra vez para junto de mim, de dormir com ela como quando éramos pequeninas e preferíamos ficar juntas a ficar cada uma no seu quarto. Isto de estarmos longe uma da outra parte-me o coração e sinto que o tempo que vamos tendo juntas não chega para explicar o quanto é importante para mim.

Hoje, enquanto ela falava, senti vontade de dizer tudo isto. De a abraçar e não largar mais. De a encher de beijos. O que fiz? Pois... Não fiz nada disto. Porque somos adultas, porque estávamos nos anos da minha avó, porque tínhamos todo o tempo do mundo para conversar, porque não fazia sentido, porque era uma parvoíce por-me ali com sentimentalismos. Sabes que mais, pequenina? Não era uma parvoíce. E agora o dia acabou e não te disse nada do que te queria dizer. Digo-te agora. Nunca se sabe quando é que os dias passam e fica, afinal, tarde demais. Sinto tudo isto por ti e muito mais. Adoro-te, maninha. Tinha saudades tuas. E continuo a ter. Todos os dias. E sei que isto só vai passar quando voltarmos a estar juntas diariamente.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Voltei a ver a Casa dos Segredos

... E acho que, se estivesse lá, enlouquecia. Aquela Sofia parece-me tão passivo-agressiva, com aquele voz calma e ao mesmo tempo tão tensa, que me faz lembrar uma pessoa com que já me cruzei em trabalho e que tirava toda a gente do sério. Acreditem: os passivo-agressivos são os piores: estão constantemente em conflito interior, tensos, mas depois tentam falar de forma excessivamente calma e não têm coragem de admitir o que pensam ou usar palavras mais negativas. Dizem tudo, mas com muitos rodeios, entram em conflito e vitimizam-se depois... Aiii não tenho saudades nenhumas de pessoas assim! Os passivo-agressivos levam os outros à loucura, mas continuam aparentemente calmos. E só de lembrar de tanta calma fico irritada e já passaram anos. Sim, admira-me que esta casa dos segredos continue tão calma com tanta passividade-agressividade à mistura.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Eu sei que não se brinca com coisas sérias...

...Mas como não rir ao minuto 03:05 deste vídeo? O assunto era sério: a entrevistada dizia ser filha ilegítima de Nélson Mandela nunca reconhecida. O momento era de grande tristeza, eu sei. No entanto, sem querer brincar com os sentimentos de ninguém, oiçam/ vejam a resposta dela à pergunta "por que nunca mudou o apelido para Mandela?". O Facebook já está enraizado em todas as faixas etárias e localizações geográficas.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O amor gasta-se?

Diziam-me há tempos “já não consigo gostar de ninguém a sério. Já tive amores arrebatadores. Já me entreguei totalmente. Já me dediquei de corpo e alma. Já me atirei de cabeça, sem pensar. Já gastei a quantidade de amor que tinha dentro de mim. Já não consigo gostar de ninguém a sério. Pelo menos, não da mesma maneira incondicional e arrebatadora.” E ouvir isto foi ouvir-me a mim mesma, aqui há uns valentes anos atrás. Lembro-me de ter pensado algo muito semelhante quando terminei um namoro também assim, desses amores que são amor e paixão e loucura em doses iguais. Desses amores que faziam o meu dia ter duzentas e duas horas. Desses amores que me faziam derreter de cada vez que o via sorrir. Desses amores que me faziam sentir borboletas na barriga de cada vez que nos beijávamos. Desses amores que me faziam arrepiar de cada vez que dizia um simples "gosto de ti". Desses amores que me faziam ter cola nos dedos e não conseguir soltar os cabelos dele. Quem nunca teve desses amores? Esses são os amores que chegam e nos consomem todas as forças, que nos tiram o sono e o apetite. São os amores que nos fazem cantar quando estamos sozinhos, mesmo sem sabermos porquê. São os amores que nos fazem sorrir quando vamos sozinhos na rua, simplesmente porque sim. São os amores que nos fazem sentir que o mundo pode terminar amanhã e que temos que aproveitar ao máximo este amor que nunca ninguém viveu igual. São os amores que nos fazem amar com partes do corpo onde não pensávamos que o amor chegasse. Amamos de forma completa, como um todo, da cabeça até aos pés, e cada parte de nós treme, e se arrepia. Sim, já todos amámos assim. E com certeza já quase todos terminámos um desses amores. E depois? Depois, fica o vazio. O sentir que nada nunca mais vai ser igual. O desacreditar. O fechar o coração. O pessimismo. A desilusão.

Passei por isso. Aquele era “o” amor da minha vida, com certeza nunca mais me esqueceria dele. Ele dizia-me o mesmo: “nunca vou conseguir estar com outra pessoa sem me lembrar de ti, porque foste o melhor que já tive”. E eu retribuía. E acreditava naquilo com todas as forças. A melhor parte? É que, felizmente, não era verdade. Igual nunca mais houve, como era de esperar. Mas houve diferente. E melhor ainda, até. E, aos poucos, fui reaprendendo a gostar. De forma mais ponderada, talvez. De forma mais calma, pensando não só no hoje, mas também no amanhã. E as mãos voltaram a ganhar cola. E a barriga voltou a ter borboletas. E cada parte do corpo voltou a tremer. A fome? O sono? Já não os perco, mas o amor será menor por isso? Não, de forma alguma. Simplesmente ninguém sobrevive sem comer e sem dormir, e há uma altura em que tudo se reequilibra. Vem a fome e o sono. Vão as inseguranças e os medos. E o segundo balanço parece-me claramente mais positivo. Não sei se o amor se gasta. Mas sei que, se se gasta, também se renova. E tem capacidade de renascer.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ser cigarra ou ser formiga

Tenho imensas vezes – demasiadas? – esta dúvida: devo concentrar-me em viver da melhor forma o presente ou devo concentrar-me em preparar o futuro? Por um lado, sinto uma ânsia gigante de viver a vida ao máximo, de aproveitar os tempos livres para viajar (nem que seja cá dentro), de conhecer sítios novos, bons restaurantes, de poder viver uma vida de conforto, cultura e também de beleza. Tenho vontade de vestir boas marcas de roupa, investir em acessórios de qualidade, bons produtos de beleza, e de oferecer presentes sem olhar ao preço. Em suma, é uma ânsia de viver uma vida “em grande”, porque a vida "são dois dias", como sempre me disseram. Só que, por outro lado, há momentos em me sinto culpada por não ter grandes poupanças. Por vezes olho para a minha conta, e quase vejo o meu reflexo, tamanho é o vazio que ali se vive. Olho para aquela escassez e sinto que ando a desperdiçar anos de vida de trabalho, porque não sei bem para onde o dinheiro foi. Aliás, sei para onde foi, mas preferia continuar a vê-lo, a cheirá-lo, a tocá-lo.

Tenho pensado nos meus pais e no exemplo deles, e questiono-me se algum dia construirei tanto como eles construíram. Questiono-me se algum dia terei dinheiro para me tornar proprietária de uma bonita casa para os meus filhos crescerem. Questiono-me se algum dia poderei dar-lhes a oportunidade de estudar em boas escolas, se algum dia poderei inscrevê-los numa Academia de Música, num desporto, em explicações. Os meus pais sempre investiram ao máximo na minha educação e da minha irmã, sem pestanejar. Não nos davam prendas se tínhamos uma grande nota, mas não questionavam se pedíamos para ter aulas de piano. E depois afinal guitarra. E depois instituto de inglês. E que tal francês? E alemão. Francês. E agora quero nadar. E também quero ter aulas de ténis. Tudo o que fosse aulas, tinha um “sim” garantido, mas agora pergunto-me como. Como é que conseguimos viver a vida, pagar um teto, um carro, viajar, conhecer novos restaurantes, vestir roupas de boas marcas e ainda ter para a educação dos filhos? Digam-me a verdade: temos que abdicar das jantaradas, algumas viagens e algumas marcas, não é? E assim, pela primeira vez na vida, começo a admirar quem, qual formiguinha silenciosa, prepara a marmita com o almoço de véspera, poupando, assim, uns bons €300 por mês em restaurantes. Começo a admirar quem se vira para a cozinha, adora preparar o jantar e abdica de jantar fora. Começo a admirar quem consegue poupar na comida, nas viagens, nas boas marcas “porque sim” e, aos poucos, vai criando um valente pé de meia.

Eu sou da geração dos estados partilhados nas redes sociais ao estilo “Maria está no Spa XPTO”. Sou da geração das viagens lowcost, em que andar de avião “não custa nada!” (pois, custa “só” o hotel e a alimentação no destino). Sou da geração Time Out, em que quem não conhece o novo bar, o novo restaurante ou o novo cafezinho está… pois, o nome já diz tudo… “out”! Sou da geração dos mil euros, em que todos nos queixamos de falta de dinheiro, mas a verdade é que também gostamos de o gastar bem. E sempre gostei de ser desta geração. Exceto quando me dão estes acessos de poupança e de peso na consciência. Sim, se puder pedir já um desejo para 2014 (Será muito cedo ainda?) é aprender a ser mais formiguinha e deixar um pouco a vida de cigarra. As formigas também podem ser felizes, não podem??

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Quem quer ser mais elástico?

A semana passada decidi experimentar uma aula de yoga. Sempre me disseram que, quem não tem cão, caça com gato, por isso pensei que, se não podia correr, havia de por este corpinho a mexer na mesma, nem que fosse a dobrar-me toda em posições com nome de flor em cima dum tapete. Cheguei à aula de yoga e vi um grupo enorme de pessoas com ar muito compenetrado e profissional. Temi não acompanhar o nível daquela aula. No entanto, acabou por correr tudo bem e surpreendi-me com a minha própria elasticidade, pois pensei que, estando parada há algum tempo, e com mais perímetro abdominal, já não fosse possível agarrar os meus pés da mesma forma, tocando com a cara nos joelhos esticados. E estava eu toda contente comigo mesma, a sentir-me uma plasticina humana, quando o professor nos mandou replicar uma nova posição, que consistia em deitarmo-nos de barriga para baixo no tapete e agarrarmos os pés por trás das costas, até nos esticarmos em forma de cesto humano. Ainda tentei fazer, mas comecei a sentir-me mal por estar completamente em cima da Cookie, e optei por chamar o professor discretamente à parte, para lhe perguntar se, estando “em estado de graça” (adoro esta expressão!) aquela posição não seria arriscada. Acenou-me que sim e sugeriu-me uma alternativa. E o resto da aula lá correu serena e tranquilamente, sem grandes dificuldades. Acontece que, no final da mesma, o professor decidiu chamar-me, enquanto eu me calçava.
- Então está grávida??!, perguntou-me, com ar de felicidade, como se fosse familiar próximo.
Acenei que sim.
- E sente-se bem?? Feliz??
- Sim, muito bem. E fiquei contente por continuar a ter elasticidade. Estava à espera de não conseguir fazer tanto, hoje.
- Pois tem elasticidade!… Sabe porquê?

(E foi aqui que eu me arrependi solenemente de me ter denunciado. Nota importante: o resto das pessoas continuava por ali a calçar-se e a arrumar os tapetes)

- … Porque isto é a sua bacia. (e exemplificou com as mãos) E a sua bacia vai expandir-se. AssimVai expandir-se até deixar sair o bebé. O seu corpo está aos poucos a abrir-se. É um processo natural. E, neste processo, todas as articulações estão a acompanhar o movimento da bacia, e estão a alargar-se. Por isso é que se sente mais elástica. É normal. É o seu corpo a preparar-se para expulsar o bebé. Assim. Repare.
E eu não sou nada esquisitinha. A sério que não. Raramente alguma conversa me mete impressão. Mas aquela demonstração do meu corpo a expandir-se como uma massa gelatinosa, com a bacia a alargar para expulsar um pequeno ser… hmmm… Como dizê-lo? Não foi a imagem mais apelativa do mundo. Nem era o que esperava retirar duma tranquila e zen aula de yoga, Principalmente porque tinha uma plateia à minha volta a ouvir aquela animada descrição da minha bacia em expansão. Não… Prefiro continuar a pensar em mim como uma contorcionista sexy que propriamente como uma bacia humana a expandir-se. Pode ser, senhor professor?

Dos dias quase terríveis

Uma familiar no hospital há mais de duas semanas, porque os rins deixaram de funcionar. Trabalho a potes, cheia de prazos para cumprir. Uma consulta de obstetrícia importante, porque na última se abordou o malfadado tema "placenta prévia", que me deixou sem correr desde aí, por prevenção - só uma aula de yoga, pilates e passeios diários. Uma sentença que ia ser lida hoje e que, apesar de não me afetar diretamente, me dizia muito pelas pessoas envolvidas nesse acidente de viação. Era o que estava na agenda do dia de hoje. Por isso, esta dia 9 de dezembro tinha tudo para ser interminável. Mas não no bom sentido. Comecei o dia com um friozinho no estômago a pensar em tudo o que tinha pela frente.

No entanto... aos poucos, tudo se foi compondo: soubemos que a familiar melhorou e que os rins começaram a funcionar hoje, ao fim de quase três semanas de diálise. Na consulta, o médico disse, a sorrir, com ar despreocupado, que estava tudo bem e que a placenta já estava no sítio. Para os leigos, como eu, a placenta prévia significava, a manter-se assim, uma cesariana obrigatória e a impossibilidade de fazer grandes esforços até maio. Entretanto, a sentença foi lida e não podia ter sido mais positiva. E o trabalho? Esse está quase... Lá para as 3 da manhã deve estar terminado.

E estávamos os dois comentar entre nós todos os acontecimentos do dia, quando ele me diz "sabes, o meu pai foi ontem a Santiago de Compostela. Disse-me que foi pedir por tudo isto que hoje ia acontecer". Fiquei surpreendida. O meu sogro nem é uma pessoa muito religiosa, por isso, este gesto deixou-me boquiaberta. "Também pediu que a netinha tivesse direito a uma placenta no sítio?", perguntei, meio a brincar, meio a sério. "Disse-me que pediu por tudo". À exceção do meu trabalho, claro. Será que é por isso que ainda não o consegui terminar, enquanto o resto se resolveu logo? De qualquer maneira, achei mesmo fofinho. Às vezes é agradável conhecer facetas novas das pessoas que julgávamos conhecer bem. E é agradável sermos assim surpreendidos. Quanto a mim, não acreditava nisto das promessas, mas... "que las hay, las hay!"

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ainda não tenho árvore de Natal, mas...

... Já tenho prendinhas para colocar debaixo dela. Hoje entrei, pela primeira vez, numa Chicco (estava com descontos, por isso, não resisti!!), e comecei a ver as roupinhas (m-i-c-r-o!) para meninas recém-nascidas. Fiquei mesmo embevecida - são tão pequeninas... tão fofinhas... tão cor-de-rosinhas... E fiquei emocionada a pensar na possibilidade de, daqui a cinco meses, aquelas roupinhas poderem estar preenchidas com a minha filha lá dentro. "A minha filha". Parece tão surreal! Mas foi como se, finalmente, tudo isto tivesse tomado uma forma que não a minha barriga estranha e maior. Como se, finalmente, tudo isto fosse mesmo real e não apenas uma metamorfose do meu corpo. Sim, porque às vezes sinto-me apenas um alien, a crescer de dia para dia, a sentir os botões das calças a ficarem mais apertados, enquanto me repetem "é normal, estás grávida", mas só vejo a barriga a crescer, a crescer, não tive enjoos, não sinto nada cá dentro, nem um pontapé, nada. Às vezes penso mesmo "estás aí? Mexe-te, rapariga. Dá um pontapé, força!!". Hoje, com as roupinha, parece que tudo se tornou, finalmente, palpável, real. Comprei três bodies para meia estação e vim embora emocionada, enquanto ele me gozava. São as hormonas, eu sei. São as hormonas. E os homens não as têm num turbilhão dentro de si.

... Ando a sentir-me eu própria uma meia de Natal, daquelas que as crianças penduram junto à lareira, para o Pai Natal ali deixar um presente. É que a Malti tem-se deitado em cima da minha barriga, todas as noites. Sai da caminha dela, a meio da noite, e vem para cima de mim. Tem-me acontecido acordar a sentir-me pesada, olhar para a frente e estar ela a dormir em cima do edredão, com a cabeça encostada na minha barriga. Não sei se é coincidência ou não, mas acho piada à nova mania dela. Como se estivesse a proteger o presente que sabe que vai receber até ao dia em que o puder finalmente abrir. E gosto, porque sinto que a bebé que aí vem tem já uma espécie de irmã mais velha.

... Já ando a viver todo o espírito de Natal. Ontem foi dia de passear por Campo de Ourique, conhecer o Mercado (está lindo, bem ao estilo dos de Madrid e Barcelona, e também a fazer lembrar o do Bom Sucesso, mas sem a parte de lojas de roupa), petiscar por lá, e depois passar na Karl's Cookies a comprar umas bolachas. Tinha lido esta entrevista sobre este casal de americanos, o Karl e o Greg, que decidiu abrir esta loja cá em Portugal e tinha ficado com água na boca. Vale a pena. São tão boas como tinha imaginado. E já foram todas!
À entrada do Mercado. Estavam todos a beber vinho e gins. Pareciam bons, mas eu só posso confirmar
essa qualidade daqui a um ano. ;)
No início eram doze. Só sobrou a caixa para a fotografia. E a vontade de repetir.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Como vingar-nos sem querer

Hoje à hora de almoço distraí-me e deixei o meu chapéu (lembrei-me de o usar hoje, apesar de gostar sempre mais de ver nos outros) no restaurante onde almoçámos, pousado na cadeira. Só me lembrei uma meia hora depois, quando já estávamos no carro.
- O meu chapéu...!!!
- Perdeste-o?
- Ficou no restaurante!!!
Procurei logo o número do restaurante e liguei para lá.
- Boa tarde! Estive há pouco aí a almoçar e deixei um chapéu na cadeira...
- Não ficou cá nada, respondeu-me uma voz feminina nada simpática e calorosa.
- Não pode confirmar? Sei que deixei na minha cadeira. Estávamos na esplanada...
- Tenho a certeza. Não ficou nada.
- Mas...
- A sério, minha senhora. Já fizemos a vistoria e não está cá nada.
Desliguei, mas não estava convencida (sim, sou teimosa) e insisti com ele para irmos lá na mesma.  Demos meia volta e lá fomos. Escusado será dizer que o chapéu estava lá. Fui procurar a senhora que me tinha atendido ao telefone, para lhe dizer que afinal me tinha induzido em erro e que afinal estava ali. Encontrei um grupo de pessoas ao balcão.
- Desculpem, eu liguei para cá há pouco e falei com uma senhora... Sabe quem foi que atendeu?
- Foi comigo que falou, respondeu-me um dos homens.
- Ah não... Falei com uma senhora. Era uma voz feminina. Pode chamá-la, por favor? Era sobre um chapéu...
- Menina... Foi comigo que falou.
Acho que engoli em seco. Ele, meio corado. O resto do grupo em silêncio, alguns a conter o riso.
- Ahhh... Olhe é só para dizer que afinal o chapéu estava cá. Encontrei-o.
Devo ter feito o sorriso mais amarelo que já fiz. Dei as boas tardes e saí, com o chapéu debaixo do braço. Qual sermão qual quê? Já tinha feito ali estragos a mais, por ali.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Manifesto em defesa dos olhos castanhos.

Quando foi a última vez que elogiaram os olhos castanhos de alguém? E uns olhos azuis ou verdes, quando foi a última vez que elogiaram? Com certeza estarão a dar por vocês a pensar que elogiaram mais vezes olhos claros. Ou porque são mais raros. Ou porque podem ter tonalidades mais invulgares. Ou porque refletem melhor o sol. Ou porque são mais límpidos. Ou porque, simplesmente, acham mais bonito olhar para a cor azul ou verde que para a cor castanha. Porque a verdade é contemplamos o mar e o céu. Contemplamos paisagens verdejantes. Contemplamos montanhas que se prolongam até perder de vista. Não contemplamos a terra. Ou árvores despidas de folhas. E músicas? Cantamos a “cor azul”. Até os Coldplay cantam sobre os “green eyes”. Mas os olhos castanhos, talvez por serem considerados mais vulgares, são quase sempre menosprezados na música ou na poesia.

E lembrei-me de tudo isto por dois motivos (desculpem, mas uma mulher precisa sempre destes preliminares, mesmo que teóricos). Primeiro, porque uma amiga minha teve uma filha de lindos olhos azuis e ninguém parava de repetir (eu incluída) o quão lindos e maravilhosos eram os olhos da menina. Ninguém parava de repetir o quão bonita será ela, a loucura que irá provocar nos rapazes, que logicamente não lhe resistirão, etc. E, depois, porque eu própria já dei por mim a pensar na cor dos olhos da minha bebé: serão azuis? Serão verdes? Serão castanhos? Podem ser de qualquer uma destas cores, porque na nossa família há cores para todos os gostos. Dei por mim a desejar ardentemente uns lindos olhos azuis. Mas ao mesmo tempo, fiquei a pensar: “e castanhos, porque não? Serão menos nobres ou menos merecedores?”. E decidi – como se estas coisas se pudessem decidir – que serão castanhos os seus olhos, como os meus, e que serão lindos na mesma. Nem melhores nem piores que uns olhos azuis ou verdes. Sim, porque parece que afinal ninguém deseja uns olhos castanhos para os filhos. Há sempre o desejo incontrolável de que a criança vá buscar aqueles olhos da tia-avó materna Rosa, ou do bisavô João do lado do pai, ou aqueles olhos do primo em sexto grau Adalberto. Pois eu não, decidi ser do contra e que quero uns olhos castanhos como os meus. Vale o que vale (ou seja, NADA), mas acredito que uns olhos castanhos podem ser quentes. Hipnotizadores. Desafiantes. Magnéticos. Meigos. Ou doces.

E escrevo este Manifesto pelos olhos castanhos, para que todos te elogiem à nascença, minha pequenina cookie, mesmo que não nasças com olhos da cor do mar, ou do céu, ou das paisagens verdejantes de perder de vista. Escrevo este Manifesto pelos olhos castanhos, para que todos os bebés que nasçam com a cor de 90% dos olhos dos portugueses, se sintam igualmente originais, e únicos. Porque os Coldplay podem não contar os “Brown eyes”. Os Delfins podem não cantar a “cor castanha”. Mas canto-a eu. Em defesa da igualdade dos direitos aos olhos castanhos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Fui o Barney Stinson por uma noite

Não, não andei no engate. Não andei a inventar formas de conquista ou a partilhar truques maquiavélicos para conhecer ninguém. Não andei de fato vestidodias seguidos. Foi mais simples que isso: fui jogar LaserTag. Sim, aquilo que o Barney adora, no “How I met your mother”/ “Foi assim que aconteceu”, e que basicamente passa por entrar numa sala escura, com uma arma em punho, e tentar matar os adversários, que têm um colete a protege-los e que ficam iluminados quando são “mortos”. Ah, ser “morto” significa levar uma pequena descarga elétrica.

A ideia era irmos só jantar para comemorar o aniversário dum amigo, mas, no fim do jantar, o aniversariante viu que tinha aberto um salão de jogos/ palco de LaserTag ao lado do restaurante (o que me levou a pensar se a escolha do restaurante terá sido coincidência) e, perante a cara de entusiasmo dele, ninguém conseguiu negar a incursão ao mundo dos jogos. Eu nunca tinha feito nada parecido e confesso que primeiro fiquei com algum medo. Primeiro, porque não sabia que se a descarga elétrica do cinto seria ou não perigosa. Falei com o empregado e decidimos colocar o cinto no nível 1 – apenas vibração. Escusado será dizer que todas as mulheres quiseram o mesmo nível. Queríamos divertir-nos, não sofrer. O aniversariante levou com o nível máximo, por ter tido a ideia de nos levar para ali. Depois, porque todo aquele equipamento e ideia de jogar no escuro me parecia assustadora. De qualquer das formas, não partilhei os meus medos com ninguém e lá coloquei o cinto e depois apertei o colete, tudo muito caladinha. Pusemos também uns chapéus/ capacetes, mais para compor o estilo militar que outra coisa. Pegámos nas armas, bem pesadas, e estivemos a treinar a mira. Comecei a sentir o coração a bater mais rápido. A primeira equipa entrou. Esperámos que nos chamassem. Espreitei pela cortina – estava tudo escuro. O coração a bater mais rápido. Fizeram-nos sinal para entrar....

Lá dentro, uma espécie de casa abandonada, arbustos, efeitos de fumo a sair, sons da selva. Estava aterrorizada. Senti umas mãos a agarrar-me – “não estás com medo?”, perguntou-me ela. Não sei o que respondi, mas SIM, ESTAVA. O saber que qualquer pessoa podia aparecer atrás de mim, no meio da escuridão, e dar-me dois tiros, não é a melhor sensação do mundo, nem a típica sobremesa para um jantar de aniversário. Avançámos as duas, pé ante pé, a apalpar a parede para nos guiarmos. Entrámos dentro da casa abandonada e decidi espreitar para os arbustos. “Tau!”, primeira morte. Senti uma ligeira vibração, o colete a piscar todo, no meio da escuridão, e escondi-me na casa outra vez. “Doeu?”, perguntou-me a amiga do aniversariante que, nitidamente, estava a partilhar os meus medos. Não, não tinha doído nada. A partir daí, o medo desapareceu. Era apenas o medo do desconhecido, da dor. Era o medo do medo. A partir daí começou a ter mais piada. Avancei. Comecei a tentar matar alguém da equipa adversária, cujas cabeças iam espreitando dos arbustos. Dei uns tiros. Levei outros. Tentei fazer mira, mas no escuro era tudo à sorte. De vez em quando ficava menos escuro e mudávamos de posição, mas nunca houve propriamente uma estratégia de grupo. No fim, soube que tinha morrido cinco vezes e não tinha conseguido matar ninguém. Uma desgraça. Mas pelo menos saí feliz, porque consegui libertar-me e divertir-me. Arrisquei. Sem medos. Não fiz nada de jeito, mas ultrapassei o medo de criança das Casas dos Terrores e afins, em que era sempre a criança que mais gritava, quando aparecia algo no escuro. Diverti-me. E fiquei com vontade de repetir. Alguém já experimentou também? Há mais Barneys por aí?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Para mim era um Tarot e uma meia de leite, se faz favor

Tenho apanhado na Sic, todas as manhãs, enquanto tomo o pequeno-almoço, o programa da Maria Helena, Taróloga, em que esta responde aos dilemas dos seus ouvintes, que lhe telefonam, angustiados, para encontrar rapidamente uma resposta. Para dizer a verdade, costumo ligar a televisão apenas para ver as notícias matinais, mas o que é certo é quando o programa das cartas começa, dou por mim colada, o que faz com que demore o dobro do tempo a fazer qualquer coisa e me atrase sempre mais do que queria. É como quando vemos um acidente e não conseguimos tirar os olhos, mesmo que estejamos arrepiadas. E tenho reparado que, salvo um ou outro pormenor, a conversa é sempre, sempre, sempre a mesma, sempre algo do estilo "Booom diiiiaaa!! Olá, olá!!! Quantas vezes ligou para cá até ser atendida, meu anjo?? ... Vêem, pessoas aí em casa? Se ligarem AGORA vão conseguir falar comigo. Liguem AGORA. Isso meeeesmo. O número é o que está no ecrã... Então, meu anjo? Qual é o seu dilema?... Hmm... Vamos lá ver as cartas. Pois... Olhe, pensamento positivo. Pensamento positivo e tudo se vai resolver. Pode não ser agora, agora, mas pense positivo e as coisas vão resolver-se, ok? Mas amanhã falamos melhor, eu ligo-lhe. Ou eu ou alguém da minha parte, ok? .... Booooom diiiaaa!!! Olá, olá!!!! Quantas vezes ligou para cá até ser atendida, meu anjo??" e assim sucessivamente.

Ora bem, anjos-da-Maria-Helena-que-ligam-para-lá, deixem-me dizer-vos uma coisa: "olá olá!" eu sei dizer muito bem, também. "Pensamento positivo" também. Chamar-vos "meu anjo" também chamo, sem problema. Do que precisam mais? Ah e não cobro nada! Que tal? Sinceramente, percebo que estejam angustiados e que queiram uma palavra amiga e compreensiva, mas... eu tenho estado a ver o programa atentamente (ou parte dele, já que, no final do segundo telefonema fujo de casa a correr, porque já estou mega atrasada) e... não vejo ali nada que eu não dissesse, do alto do meu senso comum. Parecem-me apenas clichés misturados com um cocktail de espiritualidade. No tempo da Maya, pelo menos ainda havia o Top Signos, que dava para espreitar e sair de casa a saber se o meu signo Peixes estava em número 1 ou não, o que me tranquilizava e dava forças para o dia que ia enfrentar. Agora, enquanto lavo os dentes, vou ouvindo aquela lenga-lenga repetida e tenho pena de quem está a ligar, preocupado como um raio com os seus problemas, e que só ouve aquelas frases repetidas num tom totalmente comercial e desprovido de preocupação. Sinto que aquelas pessoas precisam é de um amigo, de alguém com quem falar. E para isso não precisavam de gastar dinheiro. Para isso até eu servia, a sério. E desculpem, pessoas que acreditam no Tarot, e desculpa, querida Maria Helena, meu anjo, mas não estou a criticar as vossas crenças, porque, para mim, ali não há sequer Tarot nenhum. Ali há apenas sede de telefonemas. E rápidos, de preferência.

Não são só os cães que perdem pelo.

Hoje, ao final do dia, quando a empregada vier limpar a minha secretária, esvaziar o meu caixote do lixo e arrumar a minha cadeira, vai com certeza assustar-se. Com certeza vai ficar aterrorizada e a pensar quem ou que criatura medonha se sentou aqui durante o dia. É que hoje o meu computador está a ficar cheio de pelos. E os pelos não param de cair. A secretária está a ficar com pelos espalhados aleatoriamente por todo o sítio. E até a cadeira parece palco de luta entre dois animais ferozes. Estou a deixar um rasto de pelo por onde passo. Já ouvi bocas. E a minha conclusão é só uma: foi péssima ideia trazer o colete de pelo novinho em folha para o escritório. E tenho que admitir: foi uma má compra. O pelo sintético até parecia bom, mas deve estar mal feito, porque sinto-me um cão com perda de pelo. A sério, é assustador. Ando, e os pelos do colete voam. Espirro e caem pelos do céu. Não é bonito. Má compra. Má compra. Bem me parecia que era demasiado barato. É quentinho e tal, mas sinto-me uma Maria, do "João e Maria" (ou, no original, "Hänsel e Gretel", dos Irmãos Grimm), a plantar pelos para não se esquecer do caminho para casa, à falta de migalhas. “Ai é tão fofinho, tão quentinho e tão barato! Por que não hei-de de comprá-lo?”, perguntei a mim mesma quando vi este colete tão fofinho, tão sozinho e acessível a olhar para mim na loja. Aqui está a resposta. Não precisam de mais metáforas e comparações, pois não? Já imaginaram o meu cenário decadente de hoje. Podem rir-se à vontade, é justo.
Depois deste desabafo, lembrei-me agora de algo que não tem nada a ver com o post, nada mesmo: ninguém quer comprar um colete lindíssimo em pele sintética (sim, aqui ninguém mata animais!), só usado uma vez? Bom preço!! Contactem a autora do blog. ;)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A escolha foi clara... Clara!

Em primeiro lugar, obrigada a todos os que comentaram ontem e partilharam os seus nomes femininos preferidos. Foram uns amores! :) Depois, queria dizer-vos que andei a contar todos os nomes (sim, levei a tarefa a sério!) e.... querem saber qual foi o nome mais votado até ao momento? (ainda pode haver reviravoltas).Txann txaan txaaan taaaan...!!

Para minha grande surpresa, o nome mais votado por vocês foi o bonito e simples... Clara! Estive a ver e, em 2012, ficou em 25.º lugar na lista dos nomes femininos mais colocados em Portugal, mas parece que aqui é o 1.º. E confesso que gosto muito, mas não é um dos que faz parte da nossa lista de nomes para discussão. Nesse lista, no entanto, estão outros nomes que muitos de vocês também sugeriram. ;)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A saga da escolha do nome

O que acontece quando temos uma mulher que adora nomes clássicos, talvez influenciada pelos mil livros que devorou, pelos filmes que viu e reviu, que “tem a mania que gosta de nomes diferentes” e quando temos um homem que é a pessoa mais prática deste mundo, que tem a visão mais pragmática de sempre, os dois pés bem assentes na terra e adora “apenas nomes banais e iguais aos de mil pessoas que já conhecemos”? E o que acontece a estes dois, ambos extremamente teimosos, se, juntos, tiverem que chegar a um acordo quanto ao nome para a filha? E se ambos adorarem argumentar até à exaustão? E o que acontece se ambos gostarem de ganhar sempre um debate e não desistirem facilmente? Eu posso responder-vos a essa pergunta, porque, infelizmente, revejo-me na descrição da primeira, sendo que os comentários entre aspas são as características que cada um de nós atribui ao outro no que toca à escolha de nomes.

Pois bem: isto dos nomes está difícil. Aliás, “difícil” é dizer pouco - esta parece-me uma tarefa impossível de chegar a bom porto! E porquê? Porque eu acho que ele escolhe apenas nomes comuns e cheios de protagonistas já conhecidos. Os nomes que sugere foram já atribuídos a pessoas que nos são próximas. Para mim, são nomes que já exerceram a sua função, já foram vestidos, já foram usados, já foram gastos. Ele não percebe esta minha visão. Por outro lado, para ele, os nomes de que gosto são nomes demasiado arcaicos, suscetíveis de trocadilhos variados, com ares de sangue-azul-wanna-be e com diminutivos péssimos. Já tínhamos decidido o nome para rapaz, mas para menina parece tarefa pior que assinar um tratado de paz!

No meio disto, conseguimos, não sei como, fazer uma pequena lista de nomes aceites por ambos para discussão. E caímos no erro de partilhar a lista com os mais próximos. Conclusão: os meus sogrinhos cortaram logo metade da lista, apresentando argumentos sólidos e válidos. Os meus pais cortaram outra metade, recorrendo a analogias, exemplos e argumentos emocionais. A minha irmã cortou mais algumas hipóteses. E cada pessoa com que partilhei a lista tratou de aniquilar alguns dos nomes.

Por isso, a minha inquilina continua, à data de hoje, sem nome. E enquanto o debate continua, começou a ser tratada por nós por “cookie”, por ser pequenina, por parecer uma bolachinha saltitona e por dar vontade de lhe dar pequenas trinquinhas. Mas a “cookie” não vai ser eternamente uma bolachinha, vai nascer e precisa de um nome. Por isso, se quiserem dar sugestões de nomes... falem agora ou calem-se para sempre! ;)

Viajar no tempo

O filme de ontem, o "Dá tempo ao tempo" é um filme feliz. A não ser um acontecimento mais triste, que mais
não fez que retratar a ordem natural das coisas, tudo o resto foi uma sucessão de momentos felizes, em que basicamente nos dizem para tentarmos aproveitar melhor todos os momentos da vida, sem aflições desnecessárias. Pois bem: foi o que fiz hoje. Acordei e, em vez do habitual salto da cama dominical, cheio de pressa para aproveitar cada raio de sol, deixei-me estar. Quis sentir aquele momento, vivê-lo, agarrá-lo. Só me levantei uma hora depois. O dia foi todo passado com a certeza que ia aproveitar cada momento até porque tínhamos o dia reservado só para nós, sem quaisquer planos. Demos as mãos, muito. Conversámos. Tanto. Tanto. Tanto. Sobre os nossos planos. Sobre o que aí vem. Partilhei com ele mil cenários possíveis para o futuro (adoro esse jogo). Sonhámos um bocadinho (ok, mais eu, até porque supostamente essa é a minha área). Passeámos. Quilómetros. Namorámos. E várias vezes pensei "ainda aqui estamos, estou a conseguir viver este dia, até está a durar mais".

Mas as 21h lá chegaram, as estúpidas, e
quando olhei para o relógio já estava sozinha, sem uma mão a segurar-me. E isto de ter que passar dias sozinha custa-me. Não me consigo habituar. Achamos que cada vez vai ser mais fácil, mas há coisas que nunca melhoram. Tento agarrar os dias, tento com todas as forças, mas nunca aprendi o segredo. Mesmo o dia mais perfeito termina sempre. E não sei se são as hormonas, essas malditas, não sei se foi o filme de ontem, não sei se são só as saudades, mas se me dessem agora algum desejo, só queria um: que voltasse a ser 8h da manhã. Era bom ter esse poder às vezes, não era? Desculpem este post, mas supostamente aqui falo do que sinto e hoje toda eu sou saudades.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Balanço do dia

1. Os hambúrgueres são definitivamente o novo sushi. Para mim nada é melhor que uma sopa de miso e um prato cheio de sashimi de peixe bem fresco, mas nos intervalos dos pauzinhos ando a render-me à febre da reinvenção dos hamburguers e hoje lá experimentámos mais um sítio destes "que diz que é da moda". Até agora, aqui entre nós, o meu preferido começa por "B", mas vereditos só no final, não é?

2. Senti finalmente o espírito natalício! Decidimos dar um saltinho à Rua Castilho bem cedo, para ver se a tarde de festa por ali prometia, e deparámo-nos com música, muita música, tapete vermelho, balões e... neve!! Muita neve a cair por todo o lado. E quem é que não sente o natal com neve? Ok, podia ser espuma atirada por máquinas, mas o efeito era bastante parecido. E só por isso já valeu a pena! Vim de mãos vazias, mas feliz e a cantarolar músicas de natal. Acho que a seguir trato do pinheiro e da decoração natalícia lá em casa...

3. Fui ver o filme mais lamechas que está em cartaz nos cinemas, o "Dá tempo ao tempo"/ "About time". E descobri que estou impossível. A sério que sim. Tudo me fazia chorar desalmadamente, quer fosse o momento do pai a pegar na bebé pela primeira vez, quer fosse o pai dele doente... Ai meu Deus! Isto são as hormonas? É que eu quase que roncava a chorar. Já ouvi muita gente insuportável no cinema, a rir descontroladamente de tudo, alto e bom, mas a louca-do-choro nunca tinha visto e acho que arrecadei o prémio para o primeiro lugar logo na primeira participação.

4. Ando com o bichinho das compras a atacar como nunca. Mas tenho que me dizer a mim mesma vezes sem conta: "vais-ficar-gorda, vais-ficar-gorda, nada-te-vai-servir, nada-te-vai-servir" para me conseguir controlar. Acho que me vou virar para o calçado e os acessórios.

5. Por último, espero que ninguém leve a mal a piadinha, mas há adeptos do Académica por aqui a ler-me? Se sim, parabéns!! ;)

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

365 dias.

Sim, ontem o blog fazia um aninho. 365 dias sem interrupções de escrita. E, sinceramente, sem querer começar com a conversa do “aii o tempo passa tão rápido” ou “aii ainda ontem era uma criança a jogar ao elástico, como é que já sou adulta?”, certo é que não me parece - de todo! - que um ano já tenha passado. Parece-me impossível! É que a triste verdade é que, para mim, foi praticamente ontem que, em casa dos meus pais, com um gelo lá fora, com a sala quentinha toda só para mim, a noite já avançada e com o computador aberto com a tese de mestrado por concluir, tive um momento de desespero misturado com inspiração e pensei:“agora apetecia-me mesmo mesmo era escrever à vontade e não com esta linguagem tão técnica!!”. Assim, em cinco minutos, não mais que isso, abri um blog - este - para extravasar a minha vontade de dar largas à imaginação, de desabafar sobre tudo e mais alguma coisa, e escrever, mas escrever à vontade, sem formalismos, sem amarras, sem formatação obrigatória, sem linguagem técnica… O nome do blog surgiu logo sem pensar, porque já estava criado em título de brincadeira: metade eu era, metade era uma homenagem. Se fosse hoje, talvez escolhesse outro nome, simplesmente para não ser tão egocêntrico e autobiográfico, talvez optasse por um nome mais abrangente, mas já está, já está. A formatação do blog nunca me ocupou muito tempo, porque nisso já gastava as minhas energias na tese: aqui queria escrever, apenas. Sem pensar na forma, sem pensar em fazer um espaço lindo de morrer, sem pensar em encher isto de imagens de vasos fartos de peónias, e hidrângeas, e outras imagens lindas. Para isso sabia que havia já mil blogs em que eu própria gostava de ir passear e maravilhar os meus olhos. Tampouco pensei em encher-vos de imagens dos meus looks diários, ou de partilhar com vocês dicas de maquilhagem, de moda, de compras várias. Mais uma vez, sabia que havia mil blogs que já o faziam de forma irrepreensível. E nem ousava sequer comparar-me com eles. Sabia também que não me apetecia mostrar a cara. Por nada de especial, mas apenas porque o objetivo era apenas um: escrever. Adoro moda, como qualquer mulher. Adoro coisas bonitas. Mas, acima de tudo, adoro é escrever. Por isso, desde sempre decidi que o que ia partilhar aqui eram apenas palavras. Uma imagem de vez em quando, talvez. Uma partilha de compras se me apetecesse. Mas eu sou essencialmente palavras, por isso, dar outra coisa que não isso seria enganar-me a mim mesma.

Por tudo isto, obrigada a todos aqueles que, mesmo sem fazerem a mais pálida ideia de como sou, de quem sou, do que visto ou de onde almoço, mesmo sem imagens bonitas, continuam a vir aqui apenas por isso: pelas palavras. Gosto de saber que ainda há quem goste de ler tanto como eu. E que até me perdoa o facto de este espaço continuar tão despido e sem grande beleza. Obrigada! Aguentaram por este ano. Obrigada por continuarem desse lado. Ah e obrigada também por me deixarem ter ainda a caixa de comentários aberta a todos, sem restrições, sem moderações. Anónimos incluídos, todos à vontade. É muito bom poder continuar assim. Muito muito bom. Entretanto, se forem hoje ao vodafone mexefest talvez até nós cruzemos por lá. :)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Adivinha

Quem é que adivinha o porquê de hoje ser um dia muuuuito importante aqui para o blog? Vá, vocês conseguem. :)

Direito de resposta capilar

Para aqueles que gozaram de forma disfarçada com o meu corte de cabelo e disseram que não era assim taaanto, eis a resposta em imagens, para ser mais simples. A foto da direita tinha quatro meses, por isso, podem imaginar onde é que o cabelo já ia, depois da travessia do verão, em que cresce como uma erva daninha daquelas bem teimosas. Assim, e porque o cabelo também direito a resposta, aqui vai:
O antes e o depois (e até já tinha mostrado a foto da direita). Ah a cor é a mesma, não fiz nada! Só muda é mesmo a luz e o facto de uma foto ser interior (com flash) e a outra exterior. A minha professora de espanhol disse-me, quando me viu, e sem ter conhecimento do novo inquilino da minha barriga: "cortou tanto! Sabe, em Espanha as mulheres também cortam muito quando vão ser mães, porque não dá jeito estar na cama do hospital com cabelo comprido e sem poder lavar". Medonho! Eu só fui na conversa do "ser moderna" do meu cabeleireiro, ok? Não teve nada a ver com bebés! Juro. Juro pelo meu querido cabelo. :p

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Música para fazer bebés

Não tenho como negá-lo, por mais vontade que tenha de o fazer: quando os Roxette estavam na moda, muito cantei e dancei ao som deles. Quer fosse a “The look” (“sheee’s got the look!”), “It must have been love” (e lembro-me de ficar muito deprimida com o triste final do amor alheio, cantando de modo muito sentido “but it’s over nooooow”), “How do you do”, quer fosse a “Sleeping in my car”, a “spending my time” (esta fazia-me sentir adulta, não sei porquê) ou a “Vulnerable” (meu Deus, esta é a que tenho mais vergonha – cantava em frente ao espelho, muito concentrada e compreensiva “she’s so vulneeraaable”. Ridícula). Eram os finais dos anos 80, inícios dos anos 90. Quem não passou por essa fase de música romântica?

Na mesma onda sentimental, o meu primeiro slow agarradinha a um rapaz foi ao som da “Porque tu m’aimes encore”, da Céline Dion (quem se lembra daquela início em francês - “j’ais compris tous les mooots”?). Foi uma época cheia de romantismo exacerbado, de cantores que gritavam o seu amor sem medo, cheias de laca no cabelo, lantejoulas, brilhos e ombros do casaco bem definidos, enquanto nós em casa cantávamos. E estes dois exemplos são para mostrar que ouvia música bem lamechas e até gostava e muito. No entanto, à medida que fui crescendo, algo aconteceu e deixei de ter paciência para este tipo de músicas ditas “para-fazer-bebés”. Talvez tenha sido a adolescência e o querer ser mais “fixe” e ouvir música mais animada, mas o que é certo é que o gosto por música mais calminha e romântica ainda não voltou. Raramente gosto de músicas mais “lamechas”.

Por isso, desde que sobrevivi à minha overdose de romantismo do tempo dos Roxette, ando a ouvir música mais rock ou eletrónica. Agora está na moda dizer “indie”, mas o estilo “indie” é tão vasto que continuo a preferir as velhas terminologias musicais. De qualquer maneira, enquanto estava a ouvir há dias Arcade Fire, Kings of Leon, Phoenix, Empire of the Sun, etc, lembrei-me “espera aí, agora a bebé vai começar a ouvir o que eu oiço. Não ficará nervosa com este ritmo todo?”. Comecei a ler fóruns na internet (nunca façam isso!) e todas as mães diziam “só devemos ouvir música clássica para acalmar os nossos bebés. Eles gostam”. Acreditei sem pestanejar e comecei a ouvir Choupin, Bach, Beethoven e Vivaldi (e atenção que, talvez por ter tocado piano, adoro música clássica), apenas. Mas comecei a ficar com sono. Acrescentei alguma “musica-para-fazer-bebés”, já que supostamente a bebé só gosta de música calma. Mas continuei com sono. Cada vez mais. E dizem que não se pode abusar do café nesta fase.

Até que se fez luz! Percebi tudo: as mães têm sono durante a gravidez, porque só ouvem música parada! Abri o meu Grooveshark (dos poucos sites de música que não estão bloqueados no sítio em que trabalho) e voltei ao meu registo habitual, mais animado. A música-para-fazer-bebés já voltou mais. Dancei os slows todos, apaixonei-me e desapaixonei-me, tornei-me adolescente a ouvir os amores e desamores alheios, mas já chega. Tenho que trabalhar e preciso de música animada para me manter acordada. Além disso, se a bebé já está feita, já não preciso da música para a fazer, certo? Certo. ;) Bebé aí dentro, se me conseguires ouvir, espero que gostes da animação! E que gostes de dançar tanto quanto eu.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O dilema de ter filhos, esse pecado capital

Quase todos os dias há, a certa altura, um tema qualquer que gera discórdia aqui no trabalho e cria-se um mini debate. O tema é quase sempre política, não sei porquê, mas também se discutem assuntos mais banais e sem importância nenhuma para o mundo. No outro dia, no entanto, gerou-se uma discussão que me deixou a pensar. E deixou-me a pensar principalmente porque quase todos os homens pensavam da mesma forma. Então qual era a discórdia? Pelos vistos houve, em plenas autárquicas, uma candidata qualquer a determinada Junta de Freguesia que teve a ousadia de fazer campanha já… grávida! E o meu colega estava muito chocado a contar-nos. A preocupação dele não era o cansaço que ela pudesse sentir em plena campanha ou se faria mal ao feto tantas viagens, e comícios, e jantares. A preocupação eram os eleitores que, alegadamente, estavam a ser enganados. “Quem é que vai votar em alguém que já sabe que vai passar seis meses de baixa?”, perguntava ele, de forma retórica, como se a resposta fosse absoluta e inquestionavelmente – “ninguém!”. Só que gerou-se então o debate. Os meus argumentos do contra foram: primeiro, não era certo que tirasse seis meses de licença, podia tirar até só dois e depois ficar o marido em casa. Segundo, o facto de ficar dois ou três meses em casa não era sinónimo de ser uma má Presidente da Junta, pois podia continuar a colaborar ainda que não a tempo inteiro. Terceiro, todos tiram férias e viajam, por isso, podia até acontecer que, no total, ela viesse a trabalhar mais dias que muitos concorrentes não grávidos, mas com queda para as viagens. Quarto, se ele fosse boa candidata, com certeza iria compensar nos restantes 3 anos e muitos meses com um ótimo mandato.
O meu colega continuava: “ela está a assumir um compromisso com os eleitores. Está a candidatar-se, porque quer representá-los. Ora, estando grávida, já sabe que dali a uns meses não os vai poder representar.
“Então não pode candidatar-se?
”, perguntámos nós, mulheres, em coro.
“Pode candidatar-se no próximo mandato. Neste, não. Primeiro tem os filhos, depois pensa na política”.
Eu não estava a acreditar naquele argumento.
“Sabes que muitos homens em que votas podem vir a ser pais, não sabes? Simplesmente não vês a barriga, nem vão para o hospital para lhes ser retirada uma criança de dentro do corpo. Mas sabes que muitos homens em que votas podem vir a ser pais e querer ficar também em casa com a criança, não sabes? Então já agora não votes em ninguém em idade fértil. Ou não votes a menos que se comprometa a não cometer a ousadia de… ter um filho, esse pecado capital!”.

(sim, eu acho que me comecei a passar, porque comecei a “pessoalizar” a história, enquanto trabalhadora grávida)
“Eu não estou a ir tão longe. Se acontecer, aconteceu. Só que eu nunca votaria em alguém sabendo de antemão que ela não vai estar a representar-me nos próximos tempos. Só isso.”
Para mim, não era “só” isso. Para mim, era a prova de que as mulheres continuam a ser vistas de forma diferenciada só porque têm filhos. Para mim, era a prova de que mesmo com a história da licença partilhada pelo pai e pela mãe, há sempre a presunção de que a mãe é que vai ficar em casa meio ano a tomar conta do bebé, enquanto o pai vai continuar a sua vida, como se nada fosse. Pensei que as mentalidades estivessem mais evoluídas e já se presumisse que ambos vão ter participação nos primeiros tempos, seja pai ou mãe. E sim, posso estar a “pessoalizar” isto e não ter o distanciamento necessário para intervir de forma desapaixonada e neutra nesta discussão. Mas que se há-de fazer? Talvez os debates mais acesos surjam precisamente nestes casos, não?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A nova linguagem – a saga de quem não fala “gravidês”

Há coisas que nem nunca esteve grávida ou rodeada de mulheres grávidas (ou ainda quem simplesmente não decorou tudo o que as amigas grávidas iam contando) não sabe. E eu não sou exceção. Comecei esta aventura a zero, sabendo apenas o ABC básico e cheio de lugares-comuns, tais como: a gravidez são nove meses, a grávida ganha barriga e deve ganhar cerca de nove quilos no total, às vezes tem enjoos, outras vezes não, por norma queixa-se que está sempre cansada e não consegue apertar os atacadores, a grávida fica com a cara um pouco inchada lá mais para o fim, a grávida fica louca sempre que o bebé dá pontapés e repete que ele vai ser jogador de futebol, a grávida tem mudanças de humor súbitas e incompreensíveis. E tinha estas ideias gerais, também porque trabalhei com duas grávidas e achei-as ambas um bocado bipolares, maldispostas, lembro-me que andavam sempre com as mãos na cintura, desenvolveram um certo andar à pinguim e tinha ideia que se queixavam de tudo. Cheguei a comentar com uma amiga minha que detestava trabalhar com grávidas, porque andavam com as hormonas descontroladas e ainda por cima desculpavam-se com o estado de graça a todos os segundos, como se o estar grávida fosse justificação para o estarem a comportar-se como perfeitas idiotas. Tinha também algumas noções gerais de índole mais prática, como o facto de existir o ácido fólico (que era algo para o bebé não ter trissomia 21), de as grávidas esfregarem a fruta e os legumes para não terem bactérias que afetassem o bebé, e de as grávidas não poderem comer carne mal passada porque não estavam imunes a qualquer coisa (que não entendia, mas que acenava que sim-pois-é-perigoso-não-comas-então). Sabia também que as grávidas falavam em semanas e não em meses, o que sempre me irritou solenemente, porque parecia que era para separar o mundo entre as orgulhosas grávidas e o seu dialeto próprio, e os outros comuns mortais. E, por fim, achava piada às grávidas que começavam logo às duas semanas de gravidez a falar de roupas para bebés, e que mudavam a foto do perfil do Facebook para uma foto da barriga delas gigante, com umas mãos à volta do umbigo. Para além disto, pouco mais sabia.

E, por isso, tem sido toda uma aventura iniciar-me no mundo do ácido fólico, dos suplementos, dos cremes anti-estrias, da toxoplasmose (ahh… e afinal até há pessoas imunes e tive a sorte de ser uma delas, por isso, afinal não tenho que esfregar frutas e legumes como se não houvesse amanhã e posso comer carne praticamente crua. Lá se foi um mito abaixo), da placenta alta ou baixa, e até das semanas em vez dos meses. No entanto, tive que descobrir sozinha algo que talvez já todas as mulheres saibam mesmo sem terem estado grávidas: descobri que a história da gravidez ser nove meses não é bem bem bem verdade. Pois então estava eu a fazer contas à vida (neste caso, à bebé) e a pensar “fixe, no dia X chego às 16 semanas. O que significa que são 4 meses, já só faltam 5!”. Só que, no mesmo momento, comecei a pensar “espera lá, mas a data de nascimento prevista é só daqui a quase 6 meses, como é que é possível? Afinal a gravidez são 10 meses?”. Cheguei a casa, peguei no livrinho que comprei e comecei a pesquisar – pois então, blábláblá, a gravidez são 40 semanas, blábláblá, os médicos contam a partir da última menstruação, blábláblá, por isso dá 10 meses lunares. Parei ali. Dez meses lunares?! Mas agora andamos em bruxarias, a seguir a lua? A seguir tenho que cortar uma madeixa de cabelo e colocar uma pata de rã num caldeirão, ao luar? Dez meses? Fiquei chocada. Já para não falar no vídeo com o parto que resolvi ver na internet. Mulheres: nunca façam isso!!

Enfim… Tudo isto está a ser uma descoberta, acreditem. Toda a linguagem, todos os conselhos, tudo… E sinto que, tal como ando a ter aulas de Espanhol, também devia ter aulas de “Gravidês”, porque a verdade é que não falo ainda nada! Nada… A ver vamos se nos meses que faltam aprendo tudo o que é necessário. É que ninguém nos avisa que há todo um mundo novo aqui à nossa espera.

PS: por favor atirem-me à cara e gozem comigo se um dia colocar uma foto de perfil só com a barriga quase a explodir e duas mãos a acaricia-la, com orgulho. Será merecido!

Fenómenos inexplicáveis

Se estão numa festa e, de repente, mal uma música começa a dar, metade das pessoas se alinha, sem combinar nada entre si, e faz a mesma coreografia, sem errar dois passos, isso significa o quê? Que estamos perante uma música-fenómeno, daquela que todos conhecem e - mais que isso - tem coreografia associada que toda a gente sabe de cor. Basta pensar na Macarena, na Saturday Night, na Asereje e, mais recentemente, na Gangnam Style. São músicas que, automaticamente, põem toda a gente a dançar e a reproduzir os passos da dança. Se são músicas de grande qualidade e musicalmente de nível superior? Claro que não. Mas poucos ficam indiferentes: mesmo que odeiem, o corpo começa a ganhar vida própria e a abanar-se ao som do ritmo.

A semana passada a minha irmã mostrou-me uma música que me disse ser o novo "fenómeno". Explicou-me que teve imensas visualizações no youtube mal apareceu e que a prova que estava a ser um sucesso é que já pediam esta música em discotecas, segundo um amigo dela que é Dj (!!) e já havia paródias do videoclip. Ouvi a música e achei tão má, tão má, tão má que me pareceu impossível aquilo ser um sucesso em mundo algum. Primeiro, o homem está estranhamente obcecado com a raposa. Depois, interessa assim tanto o que ela diz? Por fim, a letra remete para um mundo infantil que não coincide com o ritmo acelerado da música. De qualquer maneiram deixo-vos este estranho fenómeno para se prepararem caso um dia destes oiçam nalguma festa e não percebam a rápida movimentação de pessoas para a pista. Vejam lá se concordam comigo:

sábado, 23 de novembro de 2013

Socorro: preciso de um manual de instruções!

Estava ainda eu abananada com o novo papel de grávida e já andava a enfermeira à minha volta a fazer-me mil e uma perguntas para preencher o Livro da Grávida - ou lá como se chama aquele livrinho em que supostamente temos que apontar todas as informações médicas durante estes nove meses.
- Diga-me lá então o seu nome.
- ...
- Idade à nascença da criança?
- Hãnn.. A minha idade quando nascer?
- Sim.
- ...
- Peso?
- ...
- Profissão?
- ...
- Nome do pai?
- ...
- Data de nascimento?
- 1954.
- Pode repetir?
- 1954.
- Isso dá... quantos anos?
- Cinquenta e nove.
- Cinquenta e nove??
- Sim...
Nem pensei mais naquilo.

Só no fim da consulta ouvimos a enfermeira, que me estava a chamar, discretamente, à parte. Fui lá.
- Olhe, quando perguntei os dados do pai deu do pai da criança, não foi?
- Não, dei do meu pai! Não foi o que pediu?
- Ahh!!
(Cara de alívio indisfarçável)
- Ahh! É que era para dar o nome do pai da criança! Do seu marido. Bem me parecia que o seu marido não tinha essa idade.
E riu-se com vontade.

O nó que devo ter causado àquela mulher que, atrapalhada, me via a dar a mão a um jovem e a dar os dados dum homem mais maduro como pai. E o que me rio agora quando imagino o que terá pensado. Não, querida enfermeira. Não era o que estavas a pensar. Podes dormir descansada! Esqueceram-se foi de me avisar que a partir de agora a mãe sou eu e o pai é ele. E acho que vou demorar muuuuuuito a habituar-me. Sim, gosto muito de ser filha e a verdade é que foram trinta e um anos como filha. É compreensível, não é? Ninguém nos deu um manual de instruções para quando chegasse esta altura!