terça-feira, 22 de setembro de 2015

Lamentamos o que fizemos ou o facto de termos sido descobertos?

A propósito das recentes notícias sobre o escândalo da Volkswagen nos Estados Unidos com o software fraudulento que despistava testes laboratoriais à emissão de poluentes, e a propósito do subsequente pedido de desculpas apresentado pelo chefe da marca nos Estados Unidos - "lamentamos o sucedido" - fico com uma dúvida. Trata-se de uma dúvida com que fico sempre que assisto a pedidos de desculpa públicos: o que se lamenta verdadeiramente?

Lamenta-se realmente o sucedido e a manipulação, ou o facto de terem sido descobertos? Continuariam a lamentar e a arrepender-se do que fizeram se nunca viessem a ser descobertos? Pois... De qualquer maneira, também acho que, se pensarmos bem, é quase sempre assim. Poucos têm coragem de assumir erros não descobertos, não é verdade? Mas a errar e a ser descoberto, que se tenha pelo menos a grandeza de se assumir os erros, dar a cara e saber pedir desculpa. E agir depois em conformidade.

Quanto a mim, talvez por ser a feliz (agora um pouco menos feliz) proprietária de um veículo marca Volkswagen, estou expectante para ver os desenvolvimentos desta história...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Ir ao céu e ao inferno em dois dias

Eu sei que não há amas perfeitas. Tal como não há infantários perfeitos. Tal como não há avós perfeitos. Adiante... A minha filha está desenvolvida, diz imensas palavras, parece feliz, é sociável e divertida. Em grande parte, isso devo-o à ama que escolhi, bem sei. Mas se lhe agradeço tudo isso, às vezes também me consegue levar ao desespero.

Este fim-de-semana tínhamos um casamento muito esperado, duma pessoa muito próxima. E tínhamos combinado que a ama ficaria com a bebé a seguir à missa, e enquanto durasse o casamento, para podermos estar à vontade os dois. Assim, no fim da missa, lá demos beijinhos a todos os conhecidos, endereçámos os votos de felicidades aos noivos, tirámos fotografias, mais beijinhos, mais fotografias... E ligámos à ama, para avisar que íamos a caminho. Nada. Ama de grilo. Insistimos, insistimos. Nada. Acabámos por levar a bebé connosco para a quinta onde iria ter lugar o copo d'água. Claro que acabei praticamente por não conseguir falar com ninguém, tamanha foi a correria que se seguiu. A minha filha é adorável, mas também tem o seu quê de louca e só está bem a "falar" com toda a gente, a meter-se com todos os que a rodeiam. A dada altura, estava até a dar uma espécie de espetáculo de dança em frente à banda, que tocava ao vivo. Os convidados sorriam. Eu sorria também, mas parte de mim já rezava para que o sono a atingisse e a pusesse a dormir. Isso ou que a ama ligasse de volta. O sono lá acabou por chegar. Por pouco tempo, mas chegou. O telefonema da ama é que só chegaria no domingo...

Conclusão: foi um casamento maravilhoso, divertido e com bom gosto. Mas foi também muiiiiito cansativo. A somar a isto tudo, uma maquilhadora que se atrasou mais de meia hora e me fez também chegar à igreja com a noiva já lá dentro. Um cartão multibanco perdido. Um carro sem gasóleo no dia a seguir. Um Benfica que perdeu. Foi, portanto, um fim-de-semana em que o balanço foi feliz, mas em que me senti viajar constantemente entre o céu e o inferno. Uma parte do céu foi esta, no dia a seguir ao casamento, e apanhar os últimos momentos de verão do ano:
Sim. Uma parte do céu é saber que estes dois fazem parte da minha vida.
 Nos dias bons e nos dias menos bons.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A minha barriga

Estou um bocado desiludida com a vida e com os genes que me saíram na rifa.

Porquê? Porque acabo de constatar que nunca tive uma barriga tão lisa em toda a minha existência como aquela que a Carolina Patrocínio (que partilhou ontem com o mundo que esperava a segunda bebé) tem, com quase 5 meses de gravidez. Desconfio que a anatomia dela é diferente da do comum dos mortais e que o útero dela fica noutro sítio (tipo nas nádegas), porque não vejo onde um bebé possa caber numa barriga tão estreitinha. Eu, com 5 meses de gravidez, estava apenas gorda, sem cintura e com as calças todas já apertadas.

E sim, isto é inveja. Pura.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sonhos estranhos ou o início da loucura

Ando com uns sonhos muito estranhos. Tão estranhos que eu, cética quanto a essa história de os sonhos esconderem um significado ou uma mensagem oculta, já dei por mim a pensar "hmm... quererá dizer alguma coisa?".

Primeiro, sonhei que estava na sala duma casa abandonada em que começaram a entrar lobos. De mansinho, avançavam pela sala a olhar para mim e a medirem-me de alto a baixo. Eu recuei, sem perceber se eram perigosos ou não. Saí da sala e fechei a porta. Eles abriram a porta e vieram atrás de mim. De cada vez que eu abandonava a divisão em que estava, fechava a porta e passava para outra, eles abriam a porta e vinham atrás de mim. Não cheguei a perceber se me queriam atacar. Acordei nervosa, a pensar naqueles lobos estranhos, obcecados em seguir-me, mas que também não faziam mal - simplesmente andavam ali.

Depois, sonhei que estava num concurso de karaoke (!!) em que um homem, supostamente perito na matéria, analisava as nossas capacidades vocais e decidia se sabíamos cantar. Na televisão aparecia um gráfico em que a linha vermelha significava a nota certa, e a linha amarela equivalia à nota em que cantávamos. Comecei a cantar, confiante. Qual não foi o meu espanto quando percebi que nenhuma das notas em que eu cantava se aproximava sequer da certa. Esforçava-me, esforçava-me, mas ficava sempre aquém, muito abaixo no gráfico. E o pior é que eu ouvia-me a cantar bem. "Não sabe cantar!", concluiu o perito, de forma bruta. E acordei, a transpirar.

Lobos, karaokes. Devo estar a ficar louca, não?

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Matei o romantismo

Há três anos, dizíamos o "sim", de sorriso rasgado e olhos humedecidos.
Há dois anos, fazíamos uma festa para comemorar a data.
Há um ano, recebi flores, ofereci uma viagem e trocámos muito amor.

Este ano? Acordei tarde, tomei banho à pressa e reparei que as gavetas da roupa interior estavam todas do avesso (a minha filha acha que as cuecas são colares e adora desfilar com dez ou mais colares de cada vez). Por comodismo, acabei por pegar numa lingerie melhor que tinha guardada, e que foi aquela que vesti no dia "D", há três anos. Só que, para já, é tudo aquilo que assinalo quanto a comemorações do aniversário de casamento: vesti a mesma roupa interior.

Acho que matei o romantismo.

Prometo iniciar manobras de reanimação.

domingo, 13 de setembro de 2015

Um bocadinho de mim

Estive a ler alguns posts antigos meus e foi um exercício engraçado: durante uns largos minutos, voltei a encontrar-me, lembrei-me de quem era há anos atrás. Adoro ser mãe, não me interpretem mal, e adoro conciliar o ser mãe com um trabalho exigente. Não me imagino de outra forma. No entanto, entre o trabalho, o gerir a casa, uma filha e um marido, entre o tratar de todas as facetas da vida, não tenho momentos de pausa. Estou sempre a ir, a fazer, a tratar, a dar, a telefonar, a perguntar, num verbo constante que não me permite, por vezes, simplesmente ser "eu", o sujeito sem predicados. Nos meus posts antigos foi isso que vi: eu, eu, as minhas considerações, opiniões, sonhos, piadas, dramas ou desvarios. "Eu" em modo pausa, contemplativo, às vezes só parvo, mas sempre com tempo, muito tempo.

Onde é que podemos ser nós no meio dos dias a dois, a três, a quatro, entre os dias que se atropelam, onde é que podemos ser nós no meio dos horários, dos prazos e das obrigações? Não sei onde está esse lugar, mas gostava muito de o encontrar outra vez, de vez em quando. Não sei se querer ser eu é, simplesmente, um exercício de narcisismo, um exercício egoísta e infantil, mas sinto que o meu equilíbrio passa por aí, por conseguir conciliar a vida do dia-a-dia com o ter tempo só para ser "eu", com as minhas tais considerações, opiniões, sonhos, piadas, dramas ou desvarios. Ontem estivemos numa festa e a Constança foi connosco. Queria ter uma conversa com princípio, meio e fim, mas não deu. Passei a festa a correr atrás dela, a brincar com ela, a falar sobre ela, a pegar nela e a alimentá-la. Não tive tempo para conversar 5 minutos seguidos nem que fosse sobre o facto de estar chuva ou vento. E isto deixa-me com uma sensação de algum vazio, como se o sermos "nós, família", com tarefas e afazeres me engolisse e me perdesse algures. Sei que nem todos os dias são assim, mas às vezes há um dia destes que nos deixa mais cansados e frustrados e com vontade de nos queixarmos. Faz parte do processo, não faz?


Nota: Gostava de saber escrever bem, ao ponto de conseguir tornar este desabafo um texto poético, bonito, melancólico e profundo, mas saiu assim: um desabafo tosco e desajeitado. Só que nem vou apagar: percebi que este desabafo tosco e desajeitado era, afinal, tudo o que precisava. Hoje, este texto foi o lugar em que me encontrei e fui "eu", só sujeito sem predicado.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A filha do Mourinho

Quando, há tempos, li um boato qualquer sobre a filha do Mourinho poder andar envolvida com um membro de uma qualquer boysband percebi que estava a chegar a altura dela: jovem, rica, filha de um pai famoso, rapidamente iria chegar o momento em que a comunicação social repararia nela.

O que eu não imaginava é que seria a filha a tentar chamar a si a atenção da comunicação social a todo o custo e não o contrário. Ao ler (ou melhor, ao ver!) hoje as notícias, percebi que, realmente, alguém queria muito ser falado - e não, não era o pai Mourinho, porque esse já é naturalmente falado todos os dias. Ora reparem:
Ninguém sai assim de casa, ainda por cima de braço dado com o pai (com o pai!, que deve estar a morrer de constrangimento), se não estiver a pedir atenção a todo o custo, certo? E não me venham dizer que adorou tanto o vestido que se sacrificou por amor à moda... O que é certo é que nem a achava muito gira, mas hoje já nem reparei na cara. Nem eu nem nenhum homem que tenha visto as fotografias! Pronto, e agora que já percebemos que a miúda cresceu, acho que já pode ir tapar-se um pouco, antes que o pai tenha um colapso.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Trabalhar a cabeça

Não sou nem nunca fui adepta de jogos de telemóvel, de computador ou de consolas. Tive a minha dose de Gameboy e Nintendo quando era mais nova, foi uma fase que ainda durou uns dois ou três anos, mas acabou e parecia enterrada para sempre. Hoje em dia, podem ver-me a fazer Sudoku ou Palavras Cruzadas, mas não mais que isso. Até que descobri este jogo inventado por portugueses, o eQubes, e que até me tem feito perder uns minutos. São equações matemáticas, mais ou menos complexas, que têm que ser resolvidas em "x" tempo para podermos passar de nível. Os primeiros níveis têm cálculos um bocado básicos (0=0?, a sério), mas depois torna-se mais interessante. Ele, que começou a jogar antes de mim, dizia-me ontem, meio a brincar, meio a sério, que é bom para combatermos o Alzeihmer. E eu não sei se poderá haver algum fundamento científico para isso, mas que sinto o cérebro mais ativo e exercitado depois de meia dúzia de equações, lá isso sinto. É que já não vou para nova e convém realmente mexer, não só o rabinho, mas também estes neurónios, que com a idade hão-de começar a ficar mais preguiçosos...

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

À procura de casa

Andamos à procura de casa. A casa que temos tornou-se pequena para os três (mais a ama, que lá passa os dias) e para a família e amigos que, por vezes, nos visitam. É pouco espaço para tanta gente e tantas coisas. A casa tinha um tamanho perfeito para um casal em início de vida, mas com o aumento da família tornou-se claustrofóbica. Os armários tornaram-se jogos de Tetris, em que as peças dificilmente encaixam todas. As roupas da estação anterior já têm que ir recambiadas para os arrumos. É tanta gente e tanta coisa para tão pouco espaço que não sei como é que ainda não houve atropelamentos.

Procurámos meses e meses, mas o mercado do arrendamento está louco: as casas são todas caríssimas e boas ou péssimas e com rendas acessíveis, há poucas casas disponíveis com boa relação preço/qualidade. E o que há, desaparece em dois dias, há que assinar logo contrato. A procura estava complicada e deprimente, mas, há cerca de duas semanas, pareceu-me que finalmente tinha encontrado "a" tal. Era enooooorme, em perfeito estado de conservação e sem precisar de obras, numa zona residencial que gosto muito, com bons acessos, ótima exposição solar e um preço que não me pareceu nada proibitivo. Fomos ver a casa e fiquei tão entusiasmada que não resisti e atirei logo numa proposta no final da visita, não sem antes trocar um rápido olhar de confirmação com ele. A proposta foi aceite. Voltámos a reunir-nos com os proprietários para acertar alguns pormenores, Estava encontrado o nosso novo lar. Achava eu.

Duas semanas passadas, ainda não conseguimos assinar contrato nenhum, porque supostamente os donos foram de férias e ainda não conseguiram reunir-se outra vez connosco. Neste entretanto, eu ando a desesperar e a sonhar acordada com novos móveis e decoração. Mas ele, que se revelou um vendido, já viu outra casa que gosta muito. E anda a assediar-me com essa descoberta. Só que eu não esqueço aquele amor e já consigo imaginar-me a ser(mos) muito felizes ali. De maneira que ando com o coração nas mãos à espera do desfecho desta história. Sinto que "a" tal está ali e só espero que não fuja. Vou dando novidades (espero que seja para breve!)...

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Dentro do segredo

O número de livros que li nos últimos tempos diminuiu drasticamente. Poderia culpar o trabalho, que me absorve grande parte do tempo. Poderia culpar o facto de ter uma filha pequena, que absorve outra grande parte do tempo. Poderia culpar o meu pequeno drama doméstico de ter um marido que não adora que acenda a luz da mesinha de cabeceira até de madrugada. Poderia culpar as histórias, que andam menos interessantes e que me cativam menos. Poderia culpar muitos fatores. Mas nenhum seria "a" resposta para a diminuição das minhas leituras. A verdade é que ando a ler menos por uma simples razão: preguiça. Preguiça. Não adianta vir com rodeios. Quem quer, lê. Quem quer, faz. Ponto. E eu andei a ler menos porque fui preguiçosa, mas ando a mudar isto.

Nos últimos tempos, além de retomar alguns clássicos, como o "1984" ou o "Admirável Mundo Novo", que são sempre bons de de reler, acabei um livro que, por acaso, até era da minha sogra: o "Dentro do Segredo", do José Luís Peixoto, e que relata a viagem do escritor à Coreia do Norte. A minha sogra comentou comigo alguns trechos e fiquei tão, mas tão curiosa, que logo nesse dia agarrei no livro (com a autorização dela, claro está) e comecei a ler. Sem conseguir parar. Adoro livro de viagens. Transportam-nos para outro lugar e fazem-nos viajar quilómetros, sem mexer o rabo. Mas este livro não é um livro de viagens. Também não é um livro sobre a História da Coreia do Norte, que se limite a descrever datas e números. Este livro é um livro sobre a Coreia do Norte aos olhos de alguém que podíamos ser nós. Este livro é um diário intimista de alguém que interpreta e descreve a Coreia do Norte, como um amigo que nos conta a sua mais recente viagem, num dia de inverno, enquanto seguramos uma chávena de chá quente nas mãos. Não conheço o José Luís Peixoto, mas depois de ter lido o livro, sinto que viajei com ele e vivemos esta aventura juntos. Ri-me com os comentários, ainda que contidos, às descrições dos guias que os acompanharam. Ri-me com as encenações feitas nas visitas às fábricas, aos supermercados, aos museus e ao laboratório. Partilhei do cansaço nas viagens infindáveis de autocarro. Partilhei da dúvida generalizada face ao que se ia vendo. Vivi, como se fosse minha, a angústia de não ter telemóvel. De só ter um canal de televisão em todo o lado. De todas as regras e proibições. Cansei-me de ouvir falar dos Líderes. Mas foi uma bela viagem. E hei-de ler mais, muito mais, do José Luís Peixoto. Só tive pena de só agora o/nos ter/termos conhecido.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O cycling é demoníaco

Hoje à hora de almoço decidi ir ao ginásio. Fui ao site espreitar o mapa de aulas e vi que havia pilates. Não sou muito de aulas de grupo, mas costumo gostar de pilates e de todas as aulas que envolvam alongamentos e conhecer, basicamente, os limites ao nível do contorcionismo do corpo. No final da manhã, ainda no trabalho, comecei a ativar o modo "zen", depois peguei nas coisas, meti-me no carro, pus uma música mais calma e fui para o ginásio. Quando lá cheguei tive, no entanto, uma surpresa.
- Pode dizer-me em que sala é a aula de pilates?, perguntei ao rapaz da receção.
- Hmm... pois... vinha à aula de pilates? É que o novo mapa de aulas só entra em vigor na 5a. Hoje só há cycling, a esta hora, e hidroginástica. Por que não experimenta a aula de cycling? Dizem que é muito boa, os alunos adoram.
- Não sei, vinha mesmo a contar com o pilates...
- Experimente. Vai adorar, a sério.

E fiz aquilo que nunca se deve fazer: receber um conselho dum estranho. Pior que isso: acatar um conselho dum estranho. Mas aquele rapaz, que nunca me tinha visto na vida antes, faz ideia do que eu gosto ou não gosto? Aquele rapaz faz ideia do que eu vou adorar? Pois passado 50 minutos eu tinha uma dor gigante nas coxas e um coração a mil a gritarem-me "Claro que não! Burraaa!!".

Fui fazer a aula. Eu devia ter percebido logo desde o início que não estava no meu ambiente: toda a gente já estava sentada, com ar compenetrado, e devidamente equipada com fatos de ciclista dignos da Volta a França (eles) e bodies justos, decotados e berrantes, a exibir a boa forma física e o bronze do verão (elas). Devia ter percebido que não estava em terreno de amadores e devia ter fugido logo. Enquanto escrevo isto, com as pernas e os braços ainda a tremer, apetece-me bater com a cabeça na secretária. Bur-ra! Mas ali fiquei. A música começou e a professora logo explicou que era tempo de tratar de inverter os erros das férias. Íamos voltar à forma. Apeteceu-me gritar "Calma que eu nunca estive em forma nisto do cycling!!", mas vi os outros a acenarem e fiz o mesmo, como quem diz "claro, força com isso". A pressão do grupo é tramada. A música não deu tempo para respirar. Não sei que cd era aquele, nem como apelidar o estilo de música, mas pela batida acelerada diria que seria humanamente impossível, para mim, acompanhar aquilo com passos de dança dignos desse nome.
- Vai começar a montanhaaaaa! Toca a aumentar a carga!!
E assim fui apresentada ao mote da aula. Tenho ideia que aquela frase foi repetida tantas vezes como o número de batidas da música, mas talvez seja um pouco exagerado, pensando bem.

A partir daí, não parámos de subir montanhas. Cada uma mais alta que a outra. Tínhamos que subir parte com o rabo empinado no ar e só podíamos descansar no assento quando estivéssemos mesmo de rastos (sendo que o descanso no assento era demoníaco, porque aquele assento faz doer o rabo como tudo!!). Obviamente que me sentia sempre de rastos, mas quis manter alguma postura e tentei ir quase sempre com o rabo no ar também. Maldita decisão. Sinto que subi três vezes a Serra do Marão em bicicleta. Não tenho a certeza de já conseguir sentir o rabo. Não sei bem como é que os homens aguentam aquele assento entre as virilhas, com os todos os extra que têm, comparando com as mulheres. Tenho os braços e pernas a tremer. O coração ainda não acalmou. E acho que vou ter pesadelos com montanhas nos próximos dias.

Só posso concluir uma coisa: cycling é completamente demoníaco. E enquanto me lembrar disto, ninguém me vê sentada num assento duro, que me magoa as virilhas e as nádegas, a pedalar a 200km/h e a subir montanhas imaginárias, com o coração a saltar da boca. Parabéns a todos os que conseguem, têm o meu maior respeito e consideração, boas montanhas a todos, mas eu não sou, definitivamente, uma dessas pessoas.