segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O vício dele.

Primeiro, andavam às cabeçadas. E sempre que falávamos as duas, ela desabafava sobre aquele amor "tóxico", no entendimento dela:
- Nunca mais vou estar com ele, ouviste? Nunca mais! Escreve o que eu te estou a dizer. Esta história para mim morreu.
E eu só respondia:
- Posso escrever antes o que sei que vai acontecer?
- Porquê, não acreditas em mim?
- Acredito que tu acreditas no que estás a dizer. Mas não acredito que vá realmente acontecer.
- Então o que vai acontecer?
- Ele vai ligar-te ou escrever-te uma mensagem, vai dizer que quer estar contigo, e tu não vais resistir.
- Claro que vou resistir.
- Não vais. Agora estás dura e decidida. Daqui a uma semana vais estar saudosista e carente. Escreve o que te digo.

- Ok.
Mas ela não escreveu. Nem tão-pouco acreditou em mim – aquele exercício de futurologia parecia-lhe desfasado da realidade e de improvável concretização. Eu não acreditava naquela determinação – sabia que aquele coração de pedra era ilusório e escondia, afinal, um interior de manteiga. Rimos e mudámos de assunto. Depois, uma semana mais tarde, voltámos a falar.
- Tudo bem?
- Sim. Blábláblá.
- Então o que vais fazer hoje?
- (um silêncio comprometedor...) Vou estar com o Y.
Não sou especialista em futurologia. Mas sei reconhecer um vício quando existe. E, neste caso, sei que, tal como o constante “vou deixar de fumar”, também o “vou deixar de o ver” pode até ser uma vontade, mas é daquelas vontades 'sísmicas', que tremem e se esvanecem por quase nada. Ela diz que não quer vê-lo mais, mas também sabe que gosta de o ver. Demasiado. Por isso, tal como o cigarro que fuma dificilmente será o último, também aquele beijo pouco provavelmente irá morrer solteiro. Para quê negar?

Quanto a mim, só torço pelo fim dos cigarros. Quanto aos beijos, nunca li nem ouvi dizer que fizessem mais a alguém... E sei que, feliz ou infelizmente, haverá muitas e muitas mulheres com este (bom?) vício.

domingo, 29 de setembro de 2013

V de vitória

Este foi um dia de vitórias: vitória para o ténis português, com o João Sousa; vitória para o ciclismo nacional com o Rui Costa; vitória para todos os partidos, após o apuramento dos resultados das autárquicas (dizem sempre todos que interpretam os resultados como vitórias, certo?). Quanto a mim, se me sagrei campeã foi em cansaço. Este meu dia teve 48 horas, quase que jurava. Isto de começar projectos novos e ter que fazer mudanças de vida cansa tanto que sinto que também merecia uma medalha. Nem que fosse de chocolate! (melhor: principalmente de chocolate! Sempre animava a alma...). Até amanhã!

sábado, 28 de setembro de 2013

... Porque eu mereço!

Hoje foi dia de miminhos para todos. Primeiro, foi a vez da Malti ir à tosquia. Ultimamente tinha-me desleixado um bocadinho com ela, e só hoje percebi que já estava em modo cão-vadio, com o pelo cheio de nós, um cheiro pouco apelativo, e umas unhas capazes de fazer ver a muitas unhas de gel tamanho XXL. Achei que ela merecia melhor, por isso, lá peguei nela e levei-a à veterinária do costume. Quando a fui buscar, mal a reconheci: parecia um floco de neve com patinhas e bem cheiroso. Percebi logo, pelo rabinho a dar a dar de alegria, que tinha feito a melhor opção. A minha cadela é mais vaidosa que eu, e notava-se que finalmente se sentia bem na sua pele.
E ainda houve tempo para fazer amigos com um gatinho que por lá andava.

Depois, foi a minha vez. Comentei ao almoço que estava sem creme de dia, sem sérum, sem creme de noite, e sem rímel, e a minha mãe ofereceu-se logo para ir comigo colmatar essa lacuna. Por isso, despedimo-nos dos homens (isto é programa irresistível para uma mulher, mas de pesadelo para um homem) e fomos aproveitar os 20% de desconto que a Sephora está a oferecer. Já disse aqui que sou fã da Clarins, por isso, entrei disparada para a parte das novidades da marca, quando um empregado muito simpático (e com sede de venda, claro, mas eu não me importo nada) veio oferecer ajuda. E lá fui eu mimada. Tão bom! Pediu-me apenas:
- Sente-se aqui. Vamos experimentar os produtos e ver o que é mais indicado para si.
E eu lá acedi, obediente e bem-educada, sem pestanejar. Assim, fechei os olhos e senti-me a ser hidratada, maquilhada, "rímelada", "batonzada",... Abri os olhos, vi-me ao espelho e nem me reconhecia. Novos olhos, agora com o dobro do tamanho, as olheiras tinham ido à sua vida ("adeus, amigas, vão e não voltem!!"), os poros da pele, antes crateras, agora tinham dado lugar a uma pele de porcelana, e até os meus lábios pareciam lábios de gente. Estava uma nova mulher. Ahh, e cheirosa, porque ainda houve tempo para experimentar um perfume novo.

Não me perguntem se acabei a gastar muito dinheiro ou não, porque isso é mudar de assunto. :p Saí de lá a sentir-me nova, recebi mil amostras de tudo e mais alguma coisa, e ainda ouvi dizer que tinha "olhos de boneca". 
- Ah foste roubada! Tanta coisa só para te levar a comprar!! Não vês isso, mulher ingénua??
Ok, e então? Eu ia comprar na mesma, ao menos que seja mimada e tratada como uma cliente especial (mesmo sem ser). Siim, hoje foi um dia de miminhos para todos. Amanhã vou ser pobre, mas feliz.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Gente honesta sofre*

E, ao terceiro dia, recebo uma transferência milionária na minha conta bancária. Ok, não era "milionária-ao-estilo-Cristiano-Ronaldo", mas era "milionária-ao-estilo-de-quem-as-vezes-andava-a-contar-os-euros-ao-fim-do-mês". Recebi aquilo e fiquei a pensar "mas como é que este dinheiro veio parar à minha conta?". Sabia que não fazia sentido ter recebido tanto. Fui falar com a contabilista, sem pensar.
- Boa tarde, recebi uma transferência vossa no valor de X. Não terá sido erro?
- Olá! Deixe-me lá ver... Hmm... Pois, realmente não faz muito sentido ter sido transferido tanto... Mas olhe que é o que está aqui na ordem de transferência. Dê-me um segundo para ligar para a Y.
- Bem, como pode imaginar, eu não fico nada chateada por me terem transferido tanto. Só quero é que me diga se foi erro ou não...
- Pois, parece que não. Mas eu vou tentar decifrar isto e já lhe ligo, está bem?
Fui embora. Não recebi nenhum telefonema. Nem no dia a seguir. Hoje, recebo a chamada fatídica:
- Olá! Tinha razão, transferimos a mais.
- Foi?...
- Sim, fiz aqui uns telefonemas até perceber o que tinha acontecido.
- Oh... Tinha uma ténue esperança que me ligasse a dizer que era mesmo aquele valor, sabe?
- Imagino. Mas ainda bem que foi honesta e nos avisou. Caso contrário, nunca teríamos detetado o erro!!
- Ahh... Que bom saber...

Desliguei. E fiquei a sentir-me um misto de burra com boa pessoa. Mais burra que boa pessoa. Sim - muito muito mais burra...


*Esta foi a minha primeira tentativa de escrever ao abrigo do novo acordo ortográfico. Alguém reparou? ;)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A solidão dos números velhos

Conheci imensa gente esta semana, mas, ironicamente, dei por mim mais calada que nunca... Dei por mim a sorrir e a ouvir, num registo passivo que não costuma muito ser meu. Acho que ando cansada de começar histórias do zero (principalmente no trabalho, pois tenho trabalhado com muita gente diferente nos últimos tempos). Ando cansada de pegar em telas em branco, com infinitas possibilidades, e de ter que as preencher. Vezes e vezes, e outra e outra vez. Lembro-me de mim na primária, a apresentar-me a todos, cheia de vontade de fazer amigos, e pergunto-me para onde é que essa pessoa foi. A verdade é que sinto que o meu círculo de pessoas está praticamente fechado. Adoro as "minhas" pessoas, adoro estar com essas pessoas e saber que me conhecem, que percebem os meus sorrisos, olhares ou silêncios. Adoro que saibam quem sou ser ter que me explicar do zero. Adoro sentir que estamos sintonizados, que as minhas piadas são logo entendidas sem ter explicar. Adoro a ligação criada mesmo por meias palavras. Adoro a sensação de calma e tranquilidade de não ter que fazer conversa, pois todas as palavras são especiais e não obrigatórias.

Estava aqui a pensar nisto tudo, para os meus botões, e tive uma ideia assim para o parvo (ou talvez não parvo de todo, ora pensem lá...): não era tão bom se todos tivéssemos uma mini biografia disponível, tamanho livro de bolso, com um vídeo dos momentos "best of", que pudéssemos facultar aos novos contactos, e, assim, sermos poupados a todas as apresentações e dados biográficos? Devo estar velha... Mas a verdade é que pensei nisso e no jeitaço que havia de me fazer estes dias em que ando mais preguiçosa para fazer conversa e para as apresentações. 
- Prazer! O que eu sou está resumido aqui nesta apresentação. Demora 5minutos. Vejam e depois, se vos apetecer, apareçam ali. Vou estar a tomar um café e a ler o jornal.

Não era perfeito?

Coisas por fazer

Lembrei-me ontem, a ver um programa qualquer na televisão, que há outro ponto que devia juntar à lista que fiz há tempos com "coisas que nunca fiz e que gostava muito de fazer antes de morrer". Esta é simples (tal como as outras, aliás) e acessível, por isso, nem sei como aguentei toda a minha vida a resistir-lhe: andar de patins numa pista de gelo. Há pistas de gelo, por todas as esquinas, mal o tempo arrefece, e eu adoro andar de patins... Como é que nunca juntei as duas?... Para quem já andou: é igual a andar nos outros? Dizem que o pior é a queda, confirmam?

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

E que tal o novo trabalhinho?

O balanço do novo desafio profissional tem sido francamente positivo, mas prefiro ser comedida nas apreciações, já que as primeiras impressões podem sempre ser precipitadas e/ou falíveis... À partida, vou lidar com pessoas novas, aparentemente calmas e descontraídas, o que torna logo tudo mais fácil. Se há pontos menos positivos? Para já, praticamente nenhum, a não ser algo pouco relevante, mas que me cansou bastante no primeiro dia: um colega mais velho ouve bastante mal, pelo que acabei por ficar rouca de tanto de lhe responder ao que ia perguntando. Pior que isso: fomos todos almoçar e, enquanto ele falava comigo baixinho (como é que é possível, sendo surdo? Não sei...), eu tinha que gritar e gesticular-lhe, porque ele dizia que só me ouvia assim. Conclusão: sentia-me a ser praxada, com toda a gente nas mesas ao pé a olhar para mim de lado, enquanto o senhor comentava o que eu dizendo num tom – ele, sim,–  socialmente aceite. Acabei por dar por mim a ler emails imaginários o resto do almoço, só para não ter que gritar mais.

Fora este ponto irrelevante, por cá ando bem, obrigada. Já sei que o trabalho vai começar a aumentar de mansinho, mas estou aqui para dar conta do recado. Numa altura em que tantos se queixam de não ter emprego, só me posso sentir afortunada por o trabalho não parar de chegar… A única coisa que espero é conseguir ter sempre tempo para vir até cá. Sim, isto é de tal modo viciante que me sinto francamente mal se não escrevo. Ah... e obrigada pelas mensagens que me escreveram a desejar boa sorte! Acho que resultaram. :)


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Jogo do gato e do rato

"Ele está há quinze dias sem dizer nada. Digo eu alguma coisa?", perguntava-me ela. E eu não sabia responder. "Não achas mal só me escrever quando lhe interessa?" e eu concordava. Só que não conseguia dar conselhos, porque não conseguia imaginar-me sequer naquela situação. Nunca fui adepta de jogos quando o assunto são pessoas. "Digo agora? Digo depois?" nunca fizeram parte das minhas dúvidas, porque sempre fui transparente. Se queria, dizia. Se não me apetecia ou não tinha saudades, não dizia nada. Se estava chateada, também não era masoquista ao ponto de guardar só para mim - por isso, desabafava com a pessoa em causa. Se tinha alguma dúvida, perguntava. Se gostava, admitia. Se não gostava, não tinha pudores em mostrar também. Sei, no entanto, que muitas mulheres são mestres na arte do gato e do rato, são peritas no toca e foge, e desenvolveram técnicas infalíveis para deixar um homem à espera, na dúvida e, consequentemente, maluco. Eu nunca fui uma delas.

Por isso, neste jogo do "digo eu alguma coisa?", não sou a melhor pessoa do mundo para responder: para mim, a resposta é demasiado simples. Diz se tens saudades e te apetece. Não digas se não gostas da pessoa e não queres fazê-lo perder tempo. Sim, o mundo é mais simples do que a maioria das pessoas quer fazer crer. Ou, pelo menos, eu gostaria que assim fosse. Sempre se vivia num mundo em que as relações dispensariam manuais de instruções.

A crise afecta o amor

Li hoje na capa dum jornal que a média do ordenado líquido no Norte se cifra nos 741€, bem abaixo da média nacional de 803€. A crise não é um mito urbano: ela existe e faz-se sentir nos bolsos dos portugueses (principalmente no Norte, pelos vistos), que se encontram mais leves que nunca. A crise existe e afecta famílias e futuras famílias. Faz repensar o almoço ou o jantar fora a dois. Faz repensar a ida ao cinema. Aquele presente de aniversário que até se gostaria de oferecer. Mas, mais grave que isso: faz repensar casamentos e filhos. Não há dinheiro para o trabalhador, como é que vai haver dinheiro para organizar um casamento ou até ter filhos? Por isso, não me surpreendi com a outra notícia que li hoje na capa de outro jornal: este ano, em Portugal, pelos vistos, houve menos quatro mil nascimentos no primeiro semestre que no mesmo período há um ano atrás. Quatro mil bebés... Quatro mil casais que terão olhado para o seu salário e comentado "ainda não.."? Eu acredito que sim.

A crise afecta o amor. Só espero que haja criatividade suficiente para contornar esta causa-efeito.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Homens, decorem a fórmula mágica

Já lhe disse isto mil vezes, mas ele não decora. Por isso, desisto e digo-vos a vocês, leitores masculinos (ou a a vocês, Leitoras femininas, para mostrarem de forma disfarçada aos vossos respectivos). Já o fiz há dias com outro conselho, mas não me dou por satisfeita. Pode ser que com estas pequenas dicas faça uma mulher feliz algures no mundo. E, só por isso, já terá valido a pena. Então... Eis o que vos quero dizer: queridos homens, quando uma mulher está triste, precisa de apoio. Nem que seja uma palavra de carinho, apenas. Nem que seja um "vai correr tudo bem". Demora dois segundos e poupa-vos dez minutos de desabafo. Quando uma mulher está triste, precisa apenas de saber que são capazes de protegê-las se for preciso. Atenção: não vai chegar a ser preciso, mas mostrem a vossa presença e força. Se quiserem abreviar todo o desabafo, produção lacrimal e soluços, então acrescentem àquela frase um abraço e dois ou três beijos demorados e barulhentos. Têm a minha palavra: não há tristeza que dure. Ou nervosismo. Ou ansiedade. Ou qualquer outro estado de espírito negativo. Homens, apresento-vos a fórmula. Usem-na. Façam uma mulher no mundo mais feliz. E evitem discussões desnecessárias ("não me apoias!", "não me entendes!", "não imaginas o que estou a sentir" ou a clássica "és um insensível, estou aqui a desabafar e nem dizes nada?!"). O que têm que fazer? Agora já sabem: "vai correr tudo bem!" + um abraço + dois ou três beijos. Com sorte, acabam com a choradeira em dois segundos e ainda são recompensados. Não digam que não sou vossa amiga.

Ps: pedi-lhe para guardar uma nota no telemóvel a dizer resumidamente isto. Acho que os mais esquecidos podem usar esse truque também. ;)

A dignidade das horas

Estava a pensar começar às 9h15 esta nova etapa. Comentei com os meus pais:
- A que horas?
- 9. E um quarto.
- Nove e um quarto não são horas. Por que não vais às 9h? Ou às 9h30?
- Porque pensei ir às nove e um quarto. Assim antecipo-me às nove e meia.
- Não, filha. Nove e um quarto não são horas.

Fiquei a aprender. Às 9h o mundo avança para as 9h30. ;)

domingo, 22 de setembro de 2013

Soubeste-me a pouco

Hoje foi dia de nos despedirmos do verão. De nos despedirmos da praia. De nos despedirmos do calor. De nos despedirmos do mar. De nos despedirmos dos bikinis. Das sandálias abertas e havaianas. Do protector solar. Das toalhas de praia. Da areia nos pés, e no carro, e em casa. Do sal na pele e no cabelo. Das faces rosadas do sol. Hoje foi dia de nos despedirmos do verão. Mas, para mim, foi o dia em que me despedi, como já aqui falei, da calma que vinha a viver. Vou começar um novo desafio profissional. E estou aqui nervosa como qualquer criança que prepara a
mochila para ir para a escola iniciar o novo ano. Sinto que vou conhecer a turma nova, os novos colegas e professores. E... aqui entre nós? Não tinha saudades nenhumas, absolutamente nenhumas, disto. É sempre mau ser "o" novo. Crianças e jovens que estão a passar por isto e vão começar a escola nova: estou com vocês! Estou solidária. Com todo o nervoso miudinho que isso implica. Adeus, verão. Soubeste-me a pouco.
Olá, vida nova. Vê se me tratas bem.
Os últimos momentos na praia deste verão.

sábado, 21 de setembro de 2013

Pastilhas elásticas

Hoje fui a uma estação de serviço para
comprar pastilhas elásticas de mentol. "Quais quer, menina?". Ia repetir o pedido. Até que olhei para o lado. E realmente demorei dois minutos a responder. Qual é que queria, afinal? As que prometiam quarenta minutos de hálito fresco? As que me garantiam sensação de brancura? Ou quereria aquelas que branqueavam mesmo? Também poderia optar pela explosão de sabores. E porquê mentol quando poderia escolher tanto fruto exótico? Peguei à sorte numas quaisquer. E vim para casa pensar que era tudo mais simples no mundo das Gorila. Na altura das Gorila podíamos escolher as normais ou as Super Gorila e os sabores eram só três ou quatro. E ninguém queria saber da frescura, mas sim do tamanho das bolas que fazíamos ou dos papelinhos que traziam. E acho que era mais giro assim, sinceramente. Saudades desse tempo. Saudades das Super Gorila amarelas. Sem frescura ou branqueamento. Só infância. E da boa.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Os homens precisam de truques.

Primeiro ouvi falar, mas não associei a nada. "Ovos para eles"? Soou-me estranho, mas às vezes oiço palavras que não foram ditas, percebo mal o que me dizem - ou porque falam baixo, ou a dicção não é a melhor - e pensei que era um desses casos. "Ovos para eles? Não pode ser. Os ovos são para todos. Lá estou eu a ouvir coisas". Lembrei-me até dum episódio, que teve lugar há mil anos atrás, em que fui procurar com uma amiga o restaurante "Toca do Grilo" onde tínhamos um jantar qualquer. Como não havia maneira de encontrarmos, entrámos numa tasca cheia de homens, todos com ar de estarem bastante bem bebidos, faces ruborizadas e a falar entre si bem mais alto do que seria necessário:
- Boa noite.
- Boa noite, meninas.
- Desculpe, mas por acaso não sabe onde fica a Toca do Grilo?
- Toca do Grilo?
- Sim...
- Oh menina, e por que quer uma toca dum grilo?
- É um restaurante.
- Nunca ouvi falar.
- Mas é mesmo aqui lado. Disseram-nos que a Toca do Grilo era nesta rua.
- Não sei. Mas sei que há aqui muitos grilos que queriam era uma toquinha, realmente.
Risos dos restantes machões, em êxtase com a capacidade de trocadilho do líder do gang, que devia ser conhecido por ser tramado para as bocas, e sempre com a piadinha marota debaixo da língua.
- Obrigada, então. Deixe estar. Nós procuramos.
O restaurante chamava-se "Torre Grill"... Não sei se ainda existe, mas tudo isto para dizer que tenho alguns momentos, ainda hoje em dia. São os meus momentos toca-do-grilo. E pensei sinceramente que esta história dos ovos fosse, afinal, mais um momento desses.

Até que, recentemente, voltei a ouvir. E a meio dum jantar:
 - Ovos para eles! Nunca experimentaram? O X experimentou e não quer outra coisa!
- Ovos? Ouvi bem? O-v-o-s?? Mas que é isso? Algum acessório...?
- É para eles terem mais prazer. E "brincarem", percebes?
- Não. Desculpa, mas vais ter que explicar, porque não percebo nada.
Estava ali a ser-me desvendado um novo mundo: o mundo dos brinquedos para homens. Um mundo que desconhecia por completo. Com que então os homens também gostam de truques? Será verdade? Fiquei a pensar nisto. Será este o futuro? Estarei ultrapassada? Entretanto, verifiquei, assustada, que até um site de compras colectivas apresentou, esta semana, o tal produto em promoção, entre ferros de engomar, conjuntos de facas, móveis de sala e robots aspiradores. Estamos já neste nível de banalização?

Quanto a mim, confesso que sempre acreditei que, nesse campo, apenas as mulheres valorizavam as novidades, enquanto que os homens davam mais valor a tudo o que fosse bem feito, claro, mas à moda antiga. Truques, sim, mas dentro dos meios ditos "clássicos", "normais". Estarei, afinal, errada? Estará a sociedade a evoluir num novo sentido? Gostaria muito de ver homens a comentarem. Usem o manto do anonimato a vosso bel-prazer, se se sentirem melhor. Está aí para isso!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Serviço público

Venho, por este meio, informar todos os homens que me lêem do seguinte: todas as vezes que vos perguntamos "o que achas que devo fazer?" queremos ouvir mesmo uma opinião. Se fosse para ouvir "faz o que achares melhor" ou um "não sei, o que achas?", ou ainda "o que quer que decidas está bem por mim", não perguntávamos, ok? Sim, pode não ser sempre (são momentos muiiiiiiitos raros, mais raros que a passagem do cometa Halley por cá), mas às vezes (repito: ÀS VEZES) gostamos de ser... "guiadas" por vocês. Era só isto. Até amanhã, leitores
masculinos. Voltem sempre. E já agora espalhem a palavra, sim?

You're very.... gostoso.

Os últimos dias foram ricos em pérolas em Inglês: primeiro, foi divulgado um vídeo imperdível do nosso querido Manuel Almeida, candidato à Câmara Municipal de Gaia pelo Partido Trabalhista Português (para quem segue o Facebook do blog foi colocado lá há dias), que nos presenteou com alguns momentos de perfeito domínio da língua de Shakespeare. Ah pois é, porque o homem, "o segundo Obama", viveu alguns anos em Inglaterra e não brinca em serviço. Assim, Manuel "Noray" ensina-nos, numa demonstração ousada, em puro e destemido modo ninja, o que é um exímio "corte of melanci real", esse fruto tão tipicamente inglês. Quantas vezes não vimos a Princesa Diana fotografada a comer melanci? Pois... É algo tão característico por lá como o chá das cinco, todos sabemos. Depois, mostra também o seu lado sensível e agradece publicamente à filha a apresentação que esta lhe faz, utilizando fotosgrafias suas - algumas em tronco nu, revelando ao mundo o seu torneado corpo e os seus sensuais peitorais - dizendo-lhe apenas, visivelmente comovido, mas simultaneamente misterioso: "I know you love me, I never forgot to kiss." Manuel Almeida terá o apoio do Instituto de Inglês de Mafamude* na sua candidatura? Se sim, qual será o lema deste, "Never forgot to learn Inglish"?...

Mas a semana ia ainda a meio... Depois disto, fomos presenteados com a entrevista de Sabrina Sato a Justin Timberlake. Também aqui foi revelado um inquestionável domínio da língua inglesa e uma pronúncia nativa irrepreensível, através de frases como "you're very... gostoso!", ou ainda "uáts ióur biguéeeeestji fáaultji?". O Justin, talvez maravilhado com tamanho domínio, sorria e tentava responder. A meio, ia pedindo o apoio da sua tradutora, que talvez lhe fosse traduzindo o Inglês royal da Sabrina para o Inglês-americano. Bem, vejam para perceber...

Ora, com tantos pontapés na gramática Inglesa, questiono-me: será tudo isto, afinal, uma campanha preparada em força contra o nosso Ministro da Educação, Nuno Crato, que recentemente  aprovou um Decreto-Lei terminando com a obrigatoriedade do ensino do Inglês e transferindo a decisão do peso da disciplina para as escolas? Nuno Crato defende-se, dizendo que a questão é uma "autêntica tempestade num copo de água". Não duvido que seja. Só espero que as escolas saibam gerir bem o peso das línguas no ensino, tal como até aqui. "Very gostoso" é ter escolas que oferecem o ensino de línguas, se os alunos assim quiserem. "Very gostoso" é as escolas continuarem a oferecer aulas de Inglês, Francês, Latim, Alemão, Espanhol, todas com qualidade. Isso, sim, será "very gostoso". Escreve-vos alguém que teve todas essas aulas. E que achou... pois claro: "gostoso". ;)


*A autora deste texto pede antecipadamente desculpa a algum Instituto de Inglês eventualmente existente com esse nome e disponibiliza-se a retirar de imediato a menção ao mesmo, se se sentir lesado por este momento de humor. A autora deste texto aproveita para revelar que Mafamude é a freguesia com o seu nome preferido. A autora deste texto está agora cansada de falar de si na terceira pessoa do singular, por isso vai despedir-se dos seus leitores com carinho.

Hoje acordei mais cedo

Hoje acordei antes do despertador. Antes sequer da música do costume tocar, às 8h, já eu estava mais fresca que uma alface. Já eu olhava para o nada, a saborear a sensação. É que o "nada" é, afinal, a calma que tenho vivido nos últimos tempos. A calma no trabalho, na vida pessoal, ausência de grandes stresses, o sentir-me bem e preenchida junto de todos aqueles que gosto, e com tempo para eles. A calma. Soube tão bem...! E fiquei ali deitada a pensar nisto "porque é que, às vezes, somos masoquistas e trocamos, voluntariamente, a calma por uma vida agitada, em constante luta contra o relógio, sem tempo para ninguém? O dinheiro vale isso?". Não sei se vale. Mas sei que é tentador. A vida calma como a conheço vai terminar em breve. E o meu coração reage apertando-se dentro de mim, mostrando-me um certo medo do desconhecido. Por um lado, sinto uma atracção por esta adrenalina que vai regressar. A vida pessoal podia estar completa, mas sentia que podia dar mais em termos profissionais. Por outro lado, era capaz de me habituar a este tipo de vida sem problemas, pois estava mesmo feliz. De qualquer maneira, a decisão está tomada. Os dados estão lançados. Os jogadores estão definidos. As regras estão afinadas. Resta-me jogar.

Sim, hoje acordei antes do despertador. Mas não me levantei. Fiquei ali a saborear esta calma boa, os lençóis que me abraçavam. Fiquei ali despedir-me devagarinho desta fase que vivi. Vou ter saudades. Muitas. Muitas mais do que aquelas que consigo agora imaginar. Acordei antes do despertador. Mas fiquei ali a tentar eternizar o momento - "será que posso ficar aqui para sempre?"...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Angolano

Na minha faculdade havia muitos Angolanos, Cabo-verdianos, Moçambicanos, Guineenses e São-tomenses. Eram os "Lopes", como alguém, num dia de clara iluminação (e alguma patetice?), decidiu baptizá-los, em jeito de trocadilho (porque faziam todos parte dos PALOPs). Não sei se o nome chegou a pegar ou não, mas ainda hoje, quando alguém diz o apelido "Lopes", me lembro desses meus colegas de faculdade. De qualquer maneira, os Lopes ou PALOPs da nossa faculdade não eram marginais - não!, estavam todos totalmente inseridos na comunidade, frequentavam sempre as aulas, misturavam-se com os Portugueses, iam às festas da faculdade, faziam parte da associação, vestiam roupa de marca (ao ponto de uma amiga minha ter ficado várias vezes embaraçada por se sentar nas aulas uma Angolana vestida igual a ela de cima a baixo - pior trauma para uma mulher)... Tanto eles como os Erasmus misturavam-se perfeitamente e nem se distinguiam no meio das aulas, a não ser pela cor de alguns que denunciava a origem mais próxima dos trópicos.

Na minha faculdade havia pessoas de várias origens, estilos e feitios. E chegámos a ver Erasmus a namorarem com Portuguesas. Portugueses a casarem-se com Angolanas. Portuguesas loucas por Cabo-verdianos de corpos definidos. Portugueses a babarem por Moçambicanas de corpos delineados. E por aí fora. Era uma faculdade Benetton, se tivéssemos que escolher uma marca para a resumir. Assim, no final do último ano, foi com naturalidade que recebi o convite para o casamento dum desses amigos. E foi com naturalidade que vi também que o casamento não tinha cor: era o branco do vestido dela, era o preto do fato dele, era o vermelho da sua gravata, era o verde do ramo dela, era o azul das cadeiras, e eram todas as cores em conjunto e mais algumas, tão intensas como o amor deles. Nesse casamento, dançou-se, bebeu-se, e dançou-se mais de tudo um pouco, desde os ritmos africanos ao pimba lusitano.

Hoje em dia, tantos anos passados, continuei a seguir esse meu amigo mas apenas pelas redes sociais, porque regressou a casa no fim do curso. E foi engraçado ver que, mesmo tendo voltado a Angola, continuou a ser tão Português como nós: a beber cerveja à tarde, a ver o futebol,... E levou-me a acreditar, convictamente, durante todos estes anos: "não há diferenças nenhumas, somos mesmo todos iguais, mesmo sendo de outra cor!". Até que reparei com admiração que teve dois pares de gémeos em pouco tempo. Dois pares de gémeos! Não um, mas dois pares! Andei a pensar naquilo, como é que era possível? Não resisti e perguntei-lhe o segredo, em jeito de brincadeira. Resposta dele: "são coisas que nós, os Angolanos, sabemos fazer... Posso tentar ensinar, mas não sei se Português consegue!". E pronto... naquele dia, todas as minhas convicções caíram por terra: Português nunca será Angolano. Angolano nunca será Português. Ou melhor, não nunca, mas até ao dia em que um Português tenha dois pares de gémeos.... Nesse dia, o mundo Benetton ressurgirá das trevas e seremos todos um só. Um só mundo.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A minha vizinha

Quando conheci a minha vizinha, há onze ou doze anos, achei que estava perante uma das mulheres mais bonitas, sexy e com pinta que já tinha conhecido. Passava na rua e todos os vizinhos se curvavam a sorrir, babados e subservientes. Trazia sacos de compras e o porteiro ia a correr, solícito, disponibilizar a sua ajuda, nem que fosse só para carregar uma caixa de tampões. Quando chegava às reuniões de condomínio todos sorriam e acenavam em concordância mal a viam abrir a boca, mesmo antes de ela proferir uma única palavra. A minha vizinha era uma brasa. E simpática como ninguém. Além disso, vestia-se sempre na crista da onda, a par de todas as tendências mais arriscadas, sem medo de ousar e misturar cores e padrões. A minha vizinha era sempre uma lufada de ar fresco. E eu dava por mim a conversar com ela e a tentar decorar os pormenores de maquilhagem ou a forma como tinha conciliado os acessórios para um dia me inspirar.

Entretanto, a minha vizinha, uns dez anos mais velha que eu, casou-se. Casou e adoptou um estilo mais sóbrio. Deixou de passear tanto sozinha na rua, começou a ceder os sacos das compras ao marido e até às reuniões de condomínio começou a falhar. Deixou de ser o ícone da zona, dando lugar ao casal simpático e bem vestido da zona, ao melhor estilo casal Beckham lusitano. A minha vizinha passou então a coordenar as roupas com o marido, com evidente orgulho: ao fim-de-semana adoptavam um estilo descontraído, com ganga e calçado desportivo. No Verão, usavam ambos camisas de linho e chapéus Panamá. Quando tinham festas, vestiam-se ambos de preto. E por aí em diante. Eram um casal muito equilibrado e sempre em sintonia. Só os vizinhos e o porteiro pareciam sentir-se mais sozinhos.

Até que a minha vizinha se divorciou. E algo ali de estranho aconteceu. Comprou um cão musculado a quem deu nome masculino, de um famoso ditador, e passou a andar sempre com ele. Cortou o cabelo bem curto, rapado atrás e com franja à frente. Deixou de se maquilhar. Passou a usar roupas mais largas, num estilo mais negligé. Um dia, vi-a de costas, a entrar no elevador, segui-a e até me assustei quando se virou para mim, e vi que aquele rapazinho subnutrido era ela - estava irreconhecível! Arranjou um namorado musculado também, com ar de porteiro de discoteca. Viveram uma paixão louca. Durante uma semana. E acabaram. Depois disso, colocou velas e espanta-espíritos na varanda, que sibilam quando corre uma brisa. E agora, enquanto escrevo isto, oiço uma música ritmada, com ares de electrónica, cujo volume sobe e sobe e sobe, com uns ritmos estranhíssimos, a vir da sua casa. E quase que a imagino a dançar com o seu canídeo, de olhos fechados, braços a serpentearem no ar, espanta-espíritos a sibilarem, furiosos, na penumbra, à luz dumas velas com cheiro a lavanda. Também imagino a fumar coisas estranhas, mas posso estar só a ser má-língua. De qualquer maneira, espero que recupere. Os meus ouvidos agradecem. O meu armário agradece, pois precisa de inspiração. Os vizinhos agradecem. O porteiro agradece. E tenho a certeza que até o cão agradece. Querida vizinha, tudo vai passar. Qualquer coisa, podes tocar aqui na porta ao lado. Abre-se uma garrafa de vinho e afogam-se essas mágoas todas duma vez, se for preciso... E sem música ou espanta-espíritos!

Vamos fazer um acordo?

Vou fazer um acordo com vocês: se algum de vocês partilhar comigo o segredo para ficar grávida de três meses com uma barriga igual a esta que a Carolina Patrocínio e irmã apresentam, orgulhosas, na foto (em baixo), levanto-me da minha cadeira, abandono a secretária e computador, e saio do trabalho neste exacto momento. De seguida, vou para casa o mais rápido que o meu carro me permitir, e irei fazer os possíveis para, dentro de nove meses, vos apresentar uma mini Pippa ou um mini Pippo. Não prometo que consiga logo à primeira tentativa, mas prometo que insistirei até conseguir.

Agora a sério: isto é humanamente possível?? Estas barrigas existem na natureza humana? Não habitam só na Photoshoplândia e no mundo cirurgicamente-alterado-de-Hollywood? Julgava que sim. E era mais feliz com essa convicção.
As manas parecem dizer-nos, sobranceiramente: "Grávidas de três meses e três mil vezes mais espectaculares
que vocês, suas não-grávidas-gordas-e-balofas!! Muahah!!"
Além disso, aqui entre nós (ler em tom baixo), e a título de cusquice: então a jovem não se tinha casado só há dois meses? Ai marota... E que é isto de planear ser mãe ao mesmo tempo que a irmã? Andas a ler o meu Facebook e inspiraste-te no pacto de que falei, Carolina Maria? Sim, porque também tenho o pacto de engravidar ao mesmo tempo que uma amiga, para nos acompanharmos nessa caminhada. Bem, mas vamos lá ver se hoje me antecipo, graças a vocês e a este acordo. ;)

És um rato ou uma pessoa?

Pergunto-me muitas e muitas vezes isto: "és um rato ou uma pessoa?". Decido-me sempre pela segunda, cheia de força e convicção, e tomo as decisões custem o que custarem. E é esta convicção que me faz, por exemplo, meter-me num avião, mesmo que a viagem vá durar doze horas (e apesar de odiar andar de avião). E, em trabalho, é esta força que me faz aceitar novas propostas se me parecerem irrecusáveis, mesmo que o coração fique apertadinho e a vida pessoal sacrificada. "Sou uma pessoa, não sou um rato!", digo para mim mesma, e decido, avanço. Avanço... ou tento avançar. A verdade é que, por muito que decida, começo sempre a vacilar no momento de comunicar a decisão que tomei, pois, se há conversa que me custa horrores, essa é sempre "a" conversa. A parte do adeus. Da despedida. Do explicar as razões. A parte de saber que estou a magoar ou a desiludir alguém e, mesmo assim, ter que continuar a falar.

Decido-me sempre pela segunda - "sou uma pessoa!" -, tomo as decisões rapidamente, mas depois fico um longo período de tempo a marinar naquilo, a sofrer por antecipação até à conversa. Perco o sono. Fico com o coração acelerado. Repenso a minha decisão. Sinto o sangue a subir-me para a cara, um rubor estranho, de vez em quando. As mãos mais trémulas. Sim, o sofrer por antecipação é o pior. Só que estou apenas a repetir um erro que já cometi: decido, começo a sofrer por saber que vou ter que me despedir, mas vou adiando, adiando até ao limite, em sofrimento, apenas porque não quero magoar o outro. Ontem finalmente tive "a" conversa, mas tive a certeza, ao avançar para a porta, que não era pessoa nenhuma - sou um rato. Uma pessoa teria falado logo, não andava há duas semanas a pesar os prós e os contras, a pensar, a repensar, o sofrer, a adiar... Sou um rato.

A diferença é que, depois de ontem, sou um rato menos sofredor com a despedida, e mais ansioso pelo que aí vem, pelo futuro que escolhi. Decidi bem? Decidi mal? Não irei sacrificar a minha vida pessoal, ao aceitar algo que me vai exigir distância de todos aqueles que gosto, e ainda mais tempo de trabalho? Decidi a pensar um dia nos meus filhos (e num salário melhor, para lhes proporcionar melhor vida), mas não estarei simplesmente a hipotecar a possibilidade de, no futuro, ser boa mãe, ao meter-me em tanto trabalho? Não sei responder. Nunca sabemos se as decisões foram bem tomadas até as tomarmos e lidarmos com as suas consequências. Sei que decidi a pensar num futuro melhor, e numa vida mais folgada. Espero vir a ter tempo para a gozar. Espero vir a ter tempo para ser boa companheira, amante, amiga, filha, irmã, neta, prima, sobrinha, e, daqui a algum tempo, mãe. E foi nesse sentido que decidi assim. Espero que valha a pena o sacrifício. E que, mesmo que seja um rato, venha a ser um rato feliz.

Oficialmente fã

Entretanto, conforme prometido: pormenores do vestido (visto, escolhido e comprado online, sem nunca o ter visto ao vivo) que levei ao casamento. Cheguei à conclusão que devia ter encomendado o tamanho "M" em vez do "S", porque subia um bocado, o malandro - talvez por causa do contacto do forro com os collants (sim, peguei nuns pela primeira vez em meses). De resto, a encomenda correu muito bem, o vestido chegou a minha casa devidamente embalado num plástico com um cartãozinho a agradecer-me, de forma simpática, a preferência, tudo dentro duma caixa toda bonita. E correspondeu exactamente ao que tinha imaginado que seria ao vivo: gostei da textura do tecido, da renda, dos pormenores em couro, o forro era macio, e a cor era tal e qual a que estava apresentada no site. A única surpresa foi o peplum (a renda na cintura) que tinha um pouco mais volume do que imaginava, mas nada de grave. Escolhi os meus brincos pretos preferidos e voltei a pegar nos sapatos da Uterque de que já falei aqui neste post para "descansar" das cores (azul bebé e bege, com pormenores pretos) do vestido. Se fiquei fã das compras de roupa online? Fiquei, sim senhora. A repetir, dem dúvida. Aprendi foi que, de futuro, tenho que ler bem as medidas dos tamanhos para não repetir o erro de comprar um vestido um pouco justo. Quais são os vossos sites de compras preferidos?

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O problema não és tu... Sou eu

Acabar relações. Quem viveu toda a vida sem ter que passar por isso - sem ter que colocar um ponto final numa relação - é, hoje em dia, um caso raro. E, infelizmente, quem nunca desempenhou esse papel terá, no entanto, estado com certeza do outro lado - do lado da pessoa com que terminam. Sim, porque poucas relações são eternas. E dizem os mais cépticos que o amor dura para sempre... enquanto dura. Terminar uma relação não é simples, mas quando é o coração que fala, tudo costuma tornar-se mais fácil e as palavras fluem sem que tenhamos muito que pensar nelas. "Já não sinto saudades tuas como sentia." "Acho que te vejo como amigo." "Apaixonei-me pela X e descobri que sou lésbica." "Temos projectos de vida incompatíveis." Estas e mil uma frases são apenas exemplos de frases que podem ser ditas. Em quase todas a culpa estará na pessoa que termina e não no interlocutor. Em quase todas haverá choro, emoções à flor da pele, palavras ditas com a voz embargada...

E nas relações de trabalho? Como nos devemos despedir? "O problema não são vocês, adoro estar cá, mas não pagam tão bem como no sítio Y". "Acho que aqui não poderei evoluir como gostaria." O que é engraçado é que, também nestes casos, poucas pessoas colocam a culpa no outro. Ninguém se despede dizendo que se sentia escravizado. Que não ganhava nem para comprar peúgas. Que o ambiente era péssimo. Ou que não aprendia nada. Na hora da despedida, todos são perfeitos. A vida que se vivia a dois era idílica e os pássaros cantavam. Mas quis o destino que o amor fosse impossível e terão, fatalmente, que lidar com essa contrariedade e seguir rumos diferentes.

Hoje vou despedir-me dum sítio que adoro. E adoro mesmo, sem exageros. Já estou nostálgica, a recordar cada momento. Por outro lado penso "que disparate, decidi sair porque quero, certo? Decidi aceitar uma proposta melhor. Por que estou tão triste?" Os
finais têm sempre este sabor amargo. Sempre.

domingo, 15 de setembro de 2013

Falta justificada?

Hoje faz um ano que tive um dos dias mais especiais da minha (ainda jovem) vida. E por isso não consegui escrever nada: andei a celebrar. Amanhã volto ao ritmo normal. E o blog também. Vou passar o dia na estrada, por isso espero ter tempo para contar as novidades e mostrar alguns detalhes da festa de ontem e do meu aguardado vestido comprado online (até correu bem, felizmente). Até amanhã e obrigada por estarem desse lado.

sábado, 14 de setembro de 2013

Queres casar comigo?

Hoje a/o Mary casa-se. Ao fim de dez
anos de amor. Com aquela que é a mulher da sua vida. Gosto de histórias assim, com um final feliz. Dá muito para ver? ;)

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Um elogio improvável

A falar com um amigo com que já não falava há muito, diz-me a dada altura ele assim: "tenho que te dizer uma coisa que é mesmo sentida. Uma coisa mesmo sincera." Pedi-lhe então para dizer. Sei que é realmente das pessoa mais transparentes, sinceras e, em simultâneo, mais politicamente incorrectas que já conheci. Já o ouvi dizer das coisas mais nojentas que já alguma vez estes ouvidos ouviram. Tal como já vi o lado mais sensível dele a vir ao de cima. Por isso, um lado de mim queria muito que ele dissesse. O outro lado de mim saiu-me com "diz lá... Mas olha que até tenho MEDO". E ele então desabafou. Recuou até 2005 e a uma viagem que fizemos todos juntos: "sabes aquela viagem que fizemos naquela canoa? No primeiro dia das férias...? Tu tinhas-te magoado - talvez a fazer o buço, não sei -, mas tinhas uma ferida no lábio superior direito. A ferida depois desapareceu, mas no primeiro dia lembro-me que se notava. E estavas mais gordinha nessa altura, acho que até comentaste com elas que estavas com a barriga mais inchada por causa do período. E eu lembro-me de olhar para ti, com o lábio superior meio deformado da ferida, e com alguma barriguinha, e pensar que, apesar de tudo, tinhas mesmo pinta. E pensei 'deve ser desta pinta que a minha mãe fala quando fala de mulheres com pinta, mulheres que até no meio duma pocilga têm qualquer coisa, têm classe...'. É que tu tinhas pinta até no teu pior, sabes?, até no meio daquele barco todo podre."

E babei. O desabafo começou da pior pior possível, comigo a corar cheia de vergonha (e a pensar algo como "Buço? Uma mulher não tem buço, ok? Nunca! Negarei até ao fim! ... Período? Barriga inchada? Aiii v-e-r-g-o-n-h-a, as conversas de mulheres podem ser terríficas"). Começou comigo a morrer de vergonha. Mas aquela sinceridade toda inicial fez-me sentir também a sinceridade da mensagem final. E gosto tanto de elogios assim: honestos, agridoces, que não são lugares-comuns, que não são daquelas frases cliché e vazias que servem para qualquer pessoa,... As melhores frases nem sempre são aquelas que se ouvem nos filmes, às vezes podem ser ditas nestes momentos meio toscos e trapalhões, meio parvos e nojentos, vindas das pessoas mais improváveis, e às vezes e podem até aquecer-nos tanto o coração como uma frase bonita qualquer.

Mary me. Uma pequena história com um grande final feliz.

Começaram ao contrário, com as suas linhas da vida em ziguezagues nervosos e errantes, que teimavam em não se juntar. Os anos passavam, estavam juntos, mas nenhum deles assumia o que realmente sentia. Eram crianças, sedentos de novidade, sensações, sedentos de vida e descobertas. A olhar em frente, para o futuro, e não para o lado, um para o outro. Os anos passavam e nunca mais se decidiam a namorar, algo que seria óbvio e expectável para todos excepto para eles. Até àquele dia, já decorrido um bom par de anos desde que se tinham conhecido. Encontraram-se. Foram para a praia. Passearam. Conversaram. Um sol bom, que os aquecia e inebriava um pouco. Já tinha saudades do olhar dele, pensava ela. Já tinha saudades de me rir com ela, pensava ele. Sentaram-se a ver o mar, mas só se viam um ao outro. Só que, a dada altura, o raio do telemóvel dele começou a tocar e não se calava... Mensagens e mais mensagens. E ele abria cada mensagem, ria às gargalhadas, e respondia. Uma e outra vez.
- Estás muito divertido.
- Desculpa, estava a responder a umas mensagens.
- Não tem mal. Quem é...?..., perguntou-lhe ela em surdina, quase.
- É a Maria. Mary. Eu chamo-lhe Mary.
- Mary?
- Sim, não conheces. É uma amiga minha.
- Amiga?
- Sim... "Amiga"..., disse ele, criando umas aspas imaginárias com os dedos de cada mão.
- Hmmm... E que tal, está a correr bem?
- Muito bem.
- Pelo menos engraçada já vi que é. Além de mim, nunca te tinha visto rir assim com uma mulher. Estás sempre a dizer que sou a única mulher que te faz rir.
- Pois, mas a Mary por acaso também faz. Tem um sentido de humor fora do vulgar.
- Hmm... E como é que ela é?
- Olha, é mais nova 4 anos que eu. É muito gira, cabelo castanho claro comprido, magrinha, tem um estilo descontraído. Usa quase sempre calças de ganga, All Star, uns tops engraçados... É muito querida comigo...
Ela já não estava a ouvir, ela não queria ouvir, mas uma Mary fictícia ia ganhando forma à sua frente, ia crescendo e ficando cada vez mais nítida. Estúpida e incontrolável imaginação fértil que não conseguia estar quietinha.
- Ok. Fico contente por ti.
A boca dela disse aquelas palavras, como se tivesse sido programada para tal. Disse aquilo sem pensar. Contente por ele? Como é que era possível estar contente por ele, se estava tão triste por ela? Tinha-o perdido. Por muito que quisesse alegrar-se por ele, o seu "eu" estava despedaçado. E nenhum ser despedaçado tem força por sentir alegria alheia, por muito que queira. Sentiu que o chão fugia debaixo dela, sentia-se cair para um qualquer abismo. Como é que continuava a vê-lo, sentado ali naquela praia, se ela estava já tão longe, perdida? Além disso... "Mary"? "Maria"! No limite seria a "Maria", como certamente constava da certidão de nascimento. "Maria", se faz favor!! Então ela não tinha alcunhas ou diminutivos ao fim de tanto tempo, e uma tipa qualquer já era carinhosamente apelidada de "Mary" ao fim duma semana? Não podia ser. Despediram-se, ela foi fula, despedaçada para casa. No dia seguinte, voltaram a conversar, mais por ele que por ela, que tinha decidido deixá-lo ser feliz com esse ser anglo-saxónico, enquanto ela seria consumida pela tristeza e solidão sozinha. Ele começou a insistir. Mandava uma mensagem, ligava, combinava programas. Ela não queria confusões, mas lá ia cedendo. Até que um dia, ao fim de muita conversa, não resistiu e perguntou-lhe por ela. Queria saber o que era feito daquela pessoa tão perfeita e divertida, que o fazia rir como ninguém. "Quem?". "Então? A Maria... A tua amiga com aspas". "Maria..??... Ahhh!!" Já não existia, explicou-lhe ele. "De certeza?" Ela queria saber. Não. Um redondo não. Não existia. E ela sorriu. Um sorriso que vem da alma e que, por muito que não chegue à superfície, tem reflexos em todo o corpo. Sorriu com a alma, sorriu com o corpo. Encostou-se para trás, suspirou. Deixou toda a tensão libertar-se, esticou-se. Estava feliz. Assim, ao fim de uns dias, já eles estavam aos beijos e a fazer juras de amor eterno.

Até que um certo dia, muito tempo depois, estavam todos juntos num bar qualquer, quando passou uma miúda igual à Mary imaginária dela. Igualzinha.
- Olha, não é aquela a Maria? É como a descreveste.
- Quem?
- A tua "ex". A Méeeeeerrrrry, disse ela, enrolando a língua em sinal de gozo.
- Ahhhhhhh.
E ele riu E riu. E riu.
- Que foi?
- Nunca percebeste?
- Nunca percebi o quê?
- Nunca percebeste quem era a Mary?
- Não!! Eu conheço, é?
- Conheces!! Está aqui. É o X.
- O quê?!
- Sim, a Mary nunca existiu. Naquele dia o X combinou que ia mandar mensagens para te fazermos ciúmes. Já te conheço tão bem. Sabia que era a única forma de te picar.
- Oh... A sério??
Chamaram o X. "Diz aí quem é a Mary"!. E ele riu. E riu. E riu. E confirmou tudo. A Mary. A Mary que mandava mensagens era afinal um Mary a escrever frases porcas, apenas para o telefone dele tocar naquela tarde. E por isso é que ele se ria tanto. A angelical Mary era afinal um Mary ordinário com desejos perversos e selvagens que o fazia chorar a rir por ter a cara do seu amigo X. A Mary que os tinha juntado era, afinal, um ele. Era um mito. Um mito que serviu para as suas linhas se juntarem e nunca mais se separarem. A Mary em carne e osso nunca existiu, mas as horas que durou a sua criação serviu para que ambos a adorassem até aos dias de hoje. Serviu para que a adorassem quase tanto como se adoram um ao outro, desde aquele dia. A/o "Mary" vai casar-se amanhã. E não poderá alguma vez imaginar que, além do papel que vai assinar amanha, teve já outro papel igualmente importante na vida: juntou estes dois. ;) Juntou-os para sempre.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Quero a tua impressão digital.

Depois da notícia do lançamento dos novos iPhones da nova era pós-Jobs, que incluem um novo sistema de segurança biométrica (desbloqueio através de impressões digitais), gera-se a dúvida: o que virá a seguir? Leitura do globo ocular? Controlo por voz? E, além disso, até onde irão os telemóveis? O Miguel Esteves Cardoso queixava-se ontem aqui do seu estado "aturdido", perante esta notícia e a notícia do novo iPhone dito lowcost. Eu? Sinto-me ultrapassada, já, e o meu mais-novo ainda tem só meio ano, altura em que aderi finalmente à febre (sim, é uma febre... e das colectivas). E sinto-me espiada. Impressões digitais? Dizem que é para proteger dos ladrões, mas a mim parece-me que é mais garantir a privacidade mesmo dentro dos próprios casais. De qualquer maneira, quando vi isto hoje não consegui deixar de rir. E tive que partilhar no Facebook e agora aqui.

O admirável mundo dos adoradores profissionais

Tenho-me cruzado com algumas pessoas que, após muito contacto, decidi baptizar de "adoradores profissionais". São aquelas pessoas (geralmente mulheres) que andam sempre tão felizes, extasiadas, e excitadas com tudo, que se torna quase impossível manter um verdadeiro diálogo. A primeira exemplar deste mundo conheci num casamento. Estávamos cá fora da igreja, à espera dos noivos, e começo a ouvi-la, ao mesmo tempo que acenava a cabeça convictamente, de micro-segundo em micro-segundo:
- A música foi o máximo, não foi? (ler com um tom eufórico e algo agudo)
- Sim, foi fora do vulgar. (nota: isto é totalmente diferente de "máximo". Os noivos escolheram uma banda de crianças que, por ser constituída por cantores tão novos ,teve alguns solos desafinados a meio, e erros de alguns que entravam muito cedo ou tarde,...)
- E a igreja? Tão rústica!!! Adoro!!
- É engraçada, sim. (nota: não adorei. Era pitoresca, sim, mas muito velha e a precisar de restauro)
- Aiiiii, e a noiva?? Liiiiinda, liiiinda de morrer. Amei!!
Sorri, apenas. A noiva tinha dos piores penteados que alguma vez vi, não consegui inventar nenhuma frase politicamente correcta. Ela era simpatíquissima, mas estava muitos níveis à frente no jogo-do-entusiasmo-e-adoração. E eu não conseguia acompanhá-la, ela estava a sorrisos-luz de distância de mim. Chegámos à quinta, ainda tentei beber logo dois gins, mas a euforia não se ganha assim - já deve ser algo genético. E era vê-la a adorar tudo e todos, acenando e sorrindo à sua passagem. Não, nem dez gins me tornariam uma adoradora profissional daquele calibre.

Recentemente conheci outro exemplar dessa espécie. Começámos a falar de viagens, eu própria entusiasmada com o assunto, mas percebi logo que não tinha hipótese no que ao entusiasmo dissesse respeito.
- ... Por isso, sempre quis fazer essa viagem...
- Também eu!! Que máximo!!!
- Aquilo é espectacular, não é? (perguntei eu, já no nível avançado do tal jogo-do-entusiasmo-e-adoração, confesso)
- É o máximo!! Amei!!!
- Toda a gente devia fazer uma viagem assim na vida.
- Pois é!! Pois é!! Também acho. Que máximo!!
- E ontem vi uma grande promoção num site de viagens. Queres ver? Quem nunca fez devia aproveitar, está muito mais barato.
- Ohh adoro!! A sério? Mostra!!
Peguei no telemóvel. O site começou a abrir. Notei que ela procurava o marido com o olhar, distraída do meu telemóvel. De repente lá ligou outra vez o modo-adoração, e olhou para mim, a sorrir, compenetrada:
- Adoro!! Que máa.... aa... xii.... mo.
O site ainda não tinha aberto. A desolação na cara dela, a olhar para o telemóvel. Silêncio... Até que o site lá abriu. E, com o ele, de novo o sorriso rasgado e decidido:
- Ohh... Adoro!!
Desisti. Tudo o que lhe mostrasse ela ia adorar. E sorrir como se fosse o momento mais feliz da vida dela. E acenar em concordância, como se nunca tivesse concordado tanto com algo como até aquele momento. Sorri de volta e esperei que tomasse ela as rédeas da conversa, a partir dali. Estava cansada de ser tão "adorada". Menos, por favor... Será que é humanamente possível ser-se assim 24 horas por dia? A adorar tudo? A sorrir e a acenar a tudo o que nos dizem, como se cada segundo fosse o auge da nossa vida e tivéssemos espasmos incontroláveis de felicidade? Aiii... vou ali odiar alguma coisa e já volto.

Amor de pessoas

Hoje vim o caminho todo para o trabalho atrás dum carro todo podre, branco, a deitar fumo pelo tubo de escape, daqueles que dão saltos a cada metro, e que quando travam dançam para a frente e para trás, como que ao ritmo dum kizomba que só eles ouvem. O carro saltava tanto e deitava tanto fumo que até vinha com medo que, a dado momento, colapsasse, e se desintegrasse, saltando peças e pessoas por toda a estrada. Liguei o pisca para ultrapassar, ansiosa por sair daquele lento compasso, comecei a espreitar a outra faixa, até que reparo em algo: o carro tinha uns dizeres colados, na parte de trás. Uma autêntica mensagem de paz e amor, um "faz aos outros aquilo que gostas que façam a ti", uma espécie de "dá a outra face e sorri". O que dizia?...

... "Do me a favour.... DIE."

Assim, a seco. Sem introduções, sem explicações, sem contextos. Um desejo negro espelhado num carro da cor da paz, branco imaculado. Um desejo puro de morte, num carro que parecia dançar alegremente os ritmos latinos. Ok, podia ter desconfiado que aquele fumo todo era obra demoníaca, mas nem pensei. "Faz-me um favor e morre", pedia-me ele, a mim e a qualquer pessoa que ousasse segui-lo na estrada, de forma macabra. A força para sair dali aumentou. Volto a olhar para a outra faixa, que finalmente estava desimpedida. Começo a ultrapassar. Vem uma mota a toda a velocidade, quase contra mim. Desisto de ultrapassar. Volto para a minha faixa, para o compasso da morte, evitando assim o choque frontal com a mota. Não lhe fiz o favor e mantive-me viva. Alguém que o faça por mim, ok? Hoje não estava mesmo para aí virada. Até porque não podemos fazer tudo o que nos pedem, pois não? De qualquer maneira - uffff - nunca me soube tão bem chegar sã e salva ao trabalho. Até vou trabalhar com outro entusiasmo, hoje. Um amor de pessoas, aquelas que viajavam naquele carro. Um amor.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Onde estavas no 11 de Setembro?

Acho que, por muitos anos que viva (e espero que sejam muuuuuitos), nunca me vou esquecer do "meu" 11 de Setembro de 2001, e hei-de contar a história aos meus filhos e netos todos os anos, qual ancião que descreve pormenorizadamente onde estava no 25 de Abril. Não é que a minha experiência tenha algo de relevante para contar - felizmente não estava lá, nem conhecia ninguém que lá estivesse-, mas acho importante que as gerações futuras não se esqueçam do que aconteceu. Hei-de contar-lhes o meu dia, e como foi marcado por sentimentos contraditórios: primeiro, a calma, a tranquilidade pós-férias de quem esperava o final do mês para as aulas da faculdade. Os pensamentos irrelevantes que me ocupavam - "tenho que telefonar à X a dar os parabéns". O pequeno-almoço tardio na cozinha, lento, pausado, preguiçoso, de quem ainda está a acordar e a praticamente a reaprender todos os movimentos. A televisão ligada nalgum canal português, a ver um programa matinal qualquer, sem, no entanto, nada ver. Até que, subitamente, a emissão é interrompida. Um avião despistou-se contra as Torres Gémeas e as imagens vão-se sucedendo, repetidas, de vários ângulos. O coração a acelerar, acordo completamente, esqueço o pequeno-almoço, o telefone, tudo. Ninguém sabe o que aconteceu, as teorias vão sendo apresentadas. Até que uma imagem nova surge. Um novo avião ou repetição? Não, é um novo avião. A minha mãe entra na cozinha "estás a ver?". Senta-se ao pé de mim e dá-me a mão. Sentimo-nos frágeis. Inseguras. O que está a acontecer? Até os Estados Unidos são atacados? As câmaras mostram pessoas que saltam das Torres Gémeas, em desespero. E fazem zooms até ao limite das suas (e das nossas) capacidades. Ouvem-se telefonemas de pessoas que estão lá dentro, que ligam aos seus familiares, namorados, maridos. Mensagens de voicemail. Declarações de amor. Despedidas emocionadas. Choros, gritos. Desespero. Até que uma Torre cai. E a outra. Ao caírem, as nossas esperanças ruem também. É o fim do mundo como o conhecemos.

Nesse dia, não consegui tirar os olhos da televisão. E quando, um ano e meio depois, fui a Nova Iorque e visitei o Ground Zero, ao mesmo tempo que o Bush apresentava o ultimato a Saddam para abandonar o Iraque ou enfrentar um ataque militar, voltei a sentir-me frágil, insegura, ameaçada, pequenina. O mundo mudou naquele dia. Basta andar de avião para perceber: o controlo, a segurança, os limites impostos,... O mundo mudou. Já passaram 12 anos, mas ainda consigo sentir tudo da mesma forma. Mesmo estando tão longe dos ataques, Nova Iorque sempre simbolizou poder, superioridade, controlo. Naquele dia percebemos, entre mil e uma coisas, que, afinal, nenhuma cidade ou país são intocáveis. Que o fundamentalismo é sempre nefasto. Que o terrorismo pode estar em todo o lado. E, por tudo isso, os meus filhos e netos hão-de ouvir-me falar disto algumas vezes.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os Masterchefs e os Super Cozinheiros

Uma dúvida que tem surgido aqui em casa ao ver as séries de aprendizes de chefs: há mesmo gente espalhada no mundo que cozinha assim - sem ter tido alguma vez na vida aulas de culinária e lições sobre todo o tipo de alimentos -, ou aquilo é parcialmente cortado e, a meio dos episódios, os concorrentes têm umas aulas? Quero acreditar na segunda hipótese. Quero muito... É que só mesmo com mil aulas (!!) é que eu passaria a cozinhar na perfeição vieiras num minuto, a apresentar ovos escalfados no outro, a inventar um prato gourmet com caranguejo a seguir, e a rematar um crème brûlée enquanto o Diabo esfrega o olho. E, mesmo assim, não seria garantido que conseguisse fazer tudo isto sem cortar um dedo ou esquecer-me do sal algures. Sim, eu já tive que ir para o hospital levar pontos no dedo, porque cortei-me a.... abrir um pão com uma faca do Ikea (são super afiadas, fujam). Quero acreditar que estes programas estão todos viciados. Quero acreditar com muita força.

Uma família que apenas queria ser como as outras.

Esta é a história de Cecil Gaines e da sua família. E quem é o Cecil? Sabemos que, desde pequeno, se habitou à ideia de que um homem não pode chorar. Sabemos que se habituou a assistir ao seu mundo ruir à sua volta, sem uma única lágrima no seu rosto, sem um único grito. Sabemos que, desde pequeno, se habituou a não depender dos pais e a ser independente. Sabemos que aprendeu a estar numa sala "como se não existisse". Sabemos que, desde pequeno, se habituou a não emitir opiniões, a ser isento, a não se interessar por política, e a refugiar-se no trabalho. E gostamos dele, torcemos por ele ao longo da história, e rejubilamos com o momento em que é convidado para ser mordomo na Casa Branca. Rejubilamos com cada Presidente que passa por ele. E com a forma como também ele passa por eles, quase sem respirar, discreto, gentil, elegante, delicado e sempre atento. Cecil é preto, sabe que pela sua cor é discriminado nas ruas, nos cafés, na política, nas escolas, mas sente-se afortunado por ter tido um melhor destino que os seus pais, por isso nada questiona.

Esta é a história de Cecil, da sua mulher (uma Oprah surpreendente), e dos seus filhos, que nascem numa boa casa, com boa comida, boas roupas, boas escolas. No entanto, o filho mais velho quer mais. Quer poder ir a um restaurante e sentar-se em qualquer mesa. Quer andar em escolas com brancos. Quer poder andar na rua livremente, sem medos. Quer igualdade de direitos. Quer fazer ouvir a sua voz. Junta-se a Martin Luther King. Quer fazer História.

A dada altura, dividimo-nos: por um lado, temos um pai trabalhador que sempre fez tudo para dar o melhor à família e proporcionar uma vida melhor. Por outro lado, temos uma mulher insatisfeita - mal agradecida? E temos ainda um filho revoltado - mal educado? Estamos de que lado? Do lado do pai, que age "como se não existisse" na sua própria casa? Do lado da mãe, que só quer atenção e amor? Do lado do filho mais velho, que exige o fim da discriminação com base na raça? No final, vemos que nem tudo é preto e branco: o mundo não tem apenas duas cores. E cada um pode ter as mil razões, cada um está em si mesmo certo e errado. E esta família, afinal de contas, só quer ser como todas as outras. E emociona. Muito. Muito mais que a classificação de 6,5 que é dada no Imdb. Muito, muito mais. E vale a pena ver nem que seja pela surpresa de ouvir o nosso grande Rodrigo Leão de fundo, nem que seja para assistir a participações inesperadas (Mariah Carey, Lenny Kravitz, a própria Oprah, entre actores consagrados), e ainda para relembrar um pouco da nossa História tão recente. Sim, porque esta é também a História de todos nós, e de todos os Cecil e família que a ajudaram a construir.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

As mulheres são todas iguais - conselho aos homens

Se há coisa que odeio e sempre odiei são as generalizações. Principalmente se envolvem as mulheres. E, principalmente, se a generalização é utilizada num cenário em que só está o casal: ele e ela sozinhos. Exemplo:
Lá estás tu a queixar-te que não tens roupa! Vocês, mulheres, são todas iguais.
- Porque é que estás a falar no plural? Estás a ter alucinações? É que sou estou cá eu - uma mulher. Singular...
Ou então:
- Quanto tempo demoras a arranjar-te? É que vocês...
- Tens mesmo que ir ao oftalmologista. Andas outra vez a ver-me a dobrar? Olá, só estou eu aqui... Desculpa desiludir-te. Querias festa a três, era?

Odeio o "vocês, mulheres". O plural. O generalizar. Meter tudo no mesmo saco, até porque costuma envolver comentários depreciativos - nunca envolve um elogio geral, como "vocês, mulheres, são pontuais, organizadas, cultas e inteligentes". Quando estou mais irritada, se oiço esta expressão, às vezes sai-me um "sabes que existe outro sexo, não sabes? Se não estás satisfeito com este em geral..." Mas esta resposta mais arisca é de evitar, porque geralmente implica ser dita em rápido e ágil movimento - caso contrário, sofro as consequências, por norma ao nível da anca, que é beliscada.

De qualquer dos modos, há algo que tenho que reconhecer: o que é certo é que quase todas as mulheres que conheço costumam queixar-se do mesmo relativamente ao sexo oposto, quando estão numa relação a longo prazo. Apesar de não gostar de generalizar, há algo que vem sendo comum: quase todas as mulheres confessam sentir falta de gestos de carinho e falta de elogios da parte deles. É verdade ou não? Quase todas confessam que, ao fim de "x" tempo, beijos espontâneos, mimos, surpresas, mensagens queridas, ou um simples "gosto mesmo de ti" começam a escassear. Por isso, apesar de odiar realmente generalizações, gostaria de perceber por que é que, sendo tão conhecedores de todo o sexo feminino em geral, os tais homens-amantes-de-generalizações não melhoram estes pequenos pontos. São dois pontinhos apenas, e com dois pontinhos apenas se escrevem as palavras mulheres mais felizes. Sim, no plural. No geral. Todas no mesmo saco. Porque, se é para generalizar, não o façam só nas críticas, queridos homens. Façam-no também nas nossas sugestões de melhoria e aprendam connosco.

domingo, 8 de setembro de 2013

Língua traiçoeira

Um casal de dois homens chega à esplanada em que estamos sentados.
Trazem consigo um pequeno cão branco amoroso, com ares de floco de neve, e com um lencinho ao pescoço. Não consegui resisti a ir fazer uma festinha, sem sequer olhar para os donos. A dada altura, olho para cima e pergunto, sem pensar dois segundos:
- É um Bichon, não é?
Enquanto ele acenava, senti-me a corar com a triste coincidência. Acrescentei o mais alto que consegui:
- Maltês, Bichon maltês.
Acho que me senti mais irritada que eles pela infeliz semelhança.

sábado, 7 de setembro de 2013

Modo lapa

Hoje a autora deste vosso
blog está em modo lapa - agarrou-se ao Verão com todas as forças e não o quer largar nunca mais. É esse o meu estado: a namorar o sol e o calor enquanto eles não dão lugar ao frio e ao Outono. Bom fim-de-semana!!
(E mulher que se preze tem que tirar fotografia ao pezinho, não é?)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

500.000!

... Como nunca se sabe se sou atingida por um raio a caminho de casa, se sou atropelada por um autocarro a atravessar a estrada, se sou dizimada por um vírus raro gravíssimo... se... se... não quero que o meu último post - aquele que iriam ler no meu funeral, enquanto ouvem música animada (maninha, tu conheces os meus gostos como ninguém, serias o Dj, ok?), comem uns chocolates e bebem uns gins (sim, gostava de algo animado) - seja algo tão negativo e tão pouco representativo daquilo que gosto de acreditar que sou. Por isso, vamos a coisas positiiiiiivas. Pois bem.... Sabem quem chegou às 500.000 visualizações hoje? Sabem? Sabem? Sabem?... Ora pensem lá...

Pois é... chegámos aos 500.000!! Como tenho a reunião agora, não me posso pôr aqui a fazer umas montagens todas giras para ilustrar o momento devidamente, mas imaginem uns balões e uns confettis festivos como pano de fundo duns 500.000 gigantes, brilhantes e saltitantes, sim? E muito obrigada. A cada um de vocês. Não me fizeram rica, não ganhei nenhum par de Louboutins grátis (nem umas Havaianas), uma mala Chanel (nem sequer "Xanel"), não ganhei um vestido de gala (nem de praia), uma noite em nenhum hotel (ou um desconto de 5%), ou um jantar num qualquer restaurante (nem umas entradinhas, naaaada), mas ganhei muitos sorrisos. Muitos. E só por isso já valeu a pena cada disparate que escrevi nestes meses. Obrigada! Do fundo do coração. :)

Acho que virei queixinhas

Temo ter virado queixinhas. Então a história é esta: o Senhor A tem uma cliente. Eu não tenho o contacto da cliente e só a vi uma vez. A cliente queria tirar umas dúvidas comigo. O Senhor A perguntou-se então se esta semana seria oportuno reunirmos os três. Eu disse que sim, que teria todo o gosto. Só que, entretanto, o Senhor A teve que se ausentar para outro país. Pôs-me então em contacto com o Senhor B, seu colega, que me telefonou no início da semana a confirmar se eu poderia ir à reunião hoje de tarde. Confirmei. Continuei a minha vida, depois de ter marcado a reunião na minha agenda. Hoje, o Senhor B liga-me esbaforido, às 8h da manhã, a perguntar se confirmei com a cliente a reunião, porque a cliente não sabia de nada e - supostamente! - eu teria ficado incumbida de a contactar (grande mentira). Acto contínuo, o Senhor A começa a enviar-me emails do outro lado do mundo a perguntar o que se passava, porque a cliente lhe tinha telefonado para saber se sempre havia reunião esta semana. Tratei de obter o email da cliente e reparar a confusão - já está, problema resolvido. Mas fiquei melindrada, confesso. E não fiquei bem comigo mesma enquanto não respondi ao Senhor A a explicar que houve uma falha na comunicação face ao elevado número de pessoas envolvidas, blábláblá. Podia ter omitido a parte final, e dito apenas que estava resolvido, mas detesto que outros tentem atirar a culpa para quem está à volta, em vez de se concentrarem logo em resolver o problema. Detesto que inventem "suposições" sem fundamento. Se podia ter ficado simplesmente calada? Podia. Mas apeteceu-me ser queixinhas/justiceira/o-que-queiram-chamar. Não gosto do papel nem me identifico sequer com ele, mas trata-se de trabalho e a última coisa que alguém quer é passar por incompetente, certo? Trabalhei muitos anos com uma pessoa que dizia sempre "Perante um problema, primeiro é encontrar a solução. Só muiiito depois se pode tentar procurar os culpados" e lembro-me deste ensinamento quase todos os dias.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tu, que chegas sempre atrasado

Olá,
Chegas constantemente atrasado ao emprego? Chegavas esbaforido a meio dos exames na faculdade? No liceu, tinhas que pedinchar todos os dias aos professores para te tirarem a falta, já que chegavas sempre já muito depois do segundo toque? Fizeste com que os teus amigos começassem a marcar contigo duas horas mais cedo que o combinado entre eles? És homem e puseste a tua mulher à tua espera à porta da igreja, no dia do vosso casamento? És mulher e chegas atrasada à esteticista, cabeleireira, etc, a ponto de já não te atenderem em nenhum lado por marcação? Dás os parabéns aos amigos três dias depois? Pagas a renda uma semana mais tarde? Esqueces-te de entregar a Declaração de IRS? Já deixaste namorada/o e amigos à espera no cinema, tendo só chegado quando o filme já ia a meio? Desesperas tudo e todos com os teus sucessivos e incorrigíveis atrasos?
Se sim, este texto é para ti. Sim, tu aí! Estás farto que te chamem mal-educado, que se zanguem contigo constantemente?
Então guarda este texto, imprime e esfrega na cara da próxima pessoa que se zangar com os teus atrasos.
Tu não és atrasado, tu padeces duma grave doença chamada atraso crónico. E tens a minha permissão para dar dois estalos a quem não acreditar nesta tua justificação. Imprime também este textinho que aqui reenvio e mostra-lhes tudo.
És doente. E com a doença não se brinca.


E agora tenho que ir, que estou atrasada para o ginásio.

As mulheres querem ser protegidas

Hoje namoram e são felizes. No entanto, antes de tudo começar, lembro-me de a minha amiga estar a contar-nos por que começava a sentir-se apaixonada por ele. Só que não bastava um simples "porque sim!" - ela queria que percebêssemos exactamente o porquê. E lembro-me que um dos motivos apresentados era o facto de ele ser tão atencioso e cavalheiro com ela.
- Já não estava habituada a isto: o abrir-me a porta, o deixar-me passar à frente dele... Até no carro me abre a porta para sair, acreditam? É tão atencioso comigo...
Na altura gozámos com ela, dizendo algo como: 
- E vais escolher alguém só porque te abre a porta? E se daqui a dois meses já não abre? Acabas tudo?
Mas o amor não se explica. E aquela não era, definitivamente, "a" razão que a tinha levado a apaixonar-se. Aquela era, isso sim, apenas mais uma das justificações racionais que queria apresentar a si e às amigas para explicar tamanho amor que sentia. Como se tivesse que existir um "gosto dele porque", de forma a merecer total e absoluta aprovação. Não tinha. Para nós, bastava que ele gostasse dela também e que a tratasse bem. Não precisávamos de porquês.

No entanto, lembro-me muitas vezes do pormenor da porta e do gesto de cavalheirismo que a conquistou. Não sei se ainda hoje ele lhe abre a porta, mas penso muitas vezes nesta história. Porque sei que, no fundo, todas nós, mulheres, por muito independentes, ambiciosas e seguras que sejamos, gostamos de ser protegidas, apreciamos um gesto de cavalheirismo. Gostamos de ter um braço forte que nos agarre e diga "estás comigo, vai tudo correr bem". Gostamos de sentir que, se tudo desabar, aquela pessoa está ali e é capaz de lutar contra tudo e todos para nos salvar. Gostamos que nos abram uma porta, de vez em quando. Que nos perguntem se estamos bem, ou se precisamos de alguma coisa. Não sempre, porque isso faz-nos sentir inferiorizadas e frágeis. Por vezes, temos que ganhar um braço de ferro, para nos sentirmos igualmente fortes. Por vezes, na praia, temos que conseguir atirá-los à areia, com uma rasteira traiçoeira, e depois enchê-los de beijos, para nos sentirmos ágeis e invencíveis. Por vezes, temos que conseguir ganhar uma corrida de 100 metros, para nos sentirmos rápidas. Por vezes, temos que ganhar o Trivial, para nos sentirmos cultas. Muitas vezes, temos também que ganhar no SingStar, para nos sentirmos afinadas e com sentido de ritmo. Por vezes, vamos pagar o jantar, para nos sentirmos independentes. Muitas vezes, ao fazemos amor, vamos ficar por cima, para nos sentirmos dominadoras. Mas sei também que nós, mulheres, depois de nos sentirmos fortes no braço de ferro, ágeis e invencíveis nas rasteiras, rápidas na corrida, cultas no Trivial, afinadas no SingStar, independentes com o cartão Multibanco, e até dominadoras na intimidade... gostamos de ceder a cadeira do poder. E gostamos de vê-los vencer cada um dos anteriores desafios. Gostamos de os ver serem mais fortes, mais ágeis, ganharem um ou outro jogo, pagar-nos o jantar e agarrar-nos com destreza e convicção. Gostamos que nos sussurrem "passa" ao chegar a uma porta, e que nos abracem se temos medo ou estamos tristes.

Sim, gostamos de ser protegidas. Gostamos de cavalheiros. Podemos não gostar a toooooda a hora, mas de vez em quando sabe tãooo bem... E não me venham com histórias...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Vamos todos "peregrinar"?

Diz que o Papa Francisco concede benção e indulgência* plenária à 120.ª peregrinação à Nossa Senhora da Penha, em Guimarães, que tem lugar no próximo Domingo, dia 8, a partir das 8h. A missa, por sua vez, terá lugar às 11h. Os responsáveis comparam a distinção papal a uma "medalha de ouro olímpica" nas olimpíadas das peregrinações, por isso, comecei logo a fazer contas à vida e às horas para ver se conseguia estar em Guimarães pronta a fazer-me a pé à estrada tão cedo. Concluí, com alguma pena, que dificilmente conseguiria ir. No entanto, há boas notícias para quem vive longe, para quem não tem forma de ir, ou ainda para quem, simplesmente, tem preguiça de acordar tão cedo ou andar tanto. E quais são essas boas notícias? É que, pelos vistos, o Papa é realmente bonzinho e decidiu que ninguém teria desculpa para não ouvir a missa. Assim, a tal "indulgência é estendida a quem assista à missa pela televisão ou via rádio", contam os responsáveis. Quanto a mim, vou já tratar de tentar descobrir onde é que posso ver/ouvir a missa. Não brinquem comigo: quero o meu lugar no Céu, como qualquer pessoa. E agora ai de quem me impeça a entrada lá, quando chegar a minha vez - hei-de mostrar, com orgulho, algum comprovativo de que assisti à missa. Depois, se conseguir, arranjo forma de vir cá contar se funcionou, ok?

*Não se sintam mal se porventura não souberem o que é a indulgência. Eu também não sabia, aqui entre nós... ;) Fui pesquisar, depois de ler a notícia. Imaginei que fosse o "perdão do pecado", mas pelos vistos não é bem assim... Podem perceber tudo aqui.

Ideias de presentes de aniversário para ele

Para a semana o meu menino faz anos. E a dificuldade ao comprar presentes para outra pessoa, ao fim de alguns anos, é que começamos a ficar sem ideias. Já demos quase tudo o que podíamos dar, já atendemos às necessidades mais materiais, já fizemos surpresas mais fofinhas, já perdemos a cabeça, já fomos mais poupados... A verdade é que, para este ano, tratei de tudo com tempo, por isso o presente "material" já está comprado (basicamente fui pelo simples e comprei-lhe algo que sei que quer muiiiito há muiiito tempo). Só que agora queria preparar algo que fosse mais "cutchi-cutchi". Andei a pesquisar internet fora, e, mesmo que ainda não tenha decidido o que vou fazer, deixo-vos aqui algumas sugestões que me parecem bastante originais, dentro de toda a variedade que fui encontrando. Partilho com vocês, na esperança que façam o mesmo comigo, caso tenham alguma ideia para-lá-de-fofinha, ok? ;) Tentem lembrar-se da surpresa que mais gostaram de fazer ou receber e contem-me tudo. Acho que temos todos a ganhar com esta troca de ideias. Ora então aqui vai o que encontrei:
Encher o quarto de balões de hélio, sendo que cada balão "transporta" uma fotografia. Bonito, hãn?
E baratinho.
Vários cupões para serem utilizados pelo aniversariante, com a descrição da oferta por trás. Exemplos: "o teu jantar preferido", "uma massagem", "pequeno-almoço na cama", e por aí fora. Basta usar a imaginação e serem criativos. Mais uma vez, baratinho baratinho.
Um bolo de aniversário bastante original. Podem usar qualquer outra bebida. Basicamente estamos a chamar-lhe bêbedo, mas duma forma meiguinha, por isso não há problema. 
Caixas de vinho personalizadas (com vinhos à escolha), para festejar qualquer data especial. Eles sugerem que se comemore os aniversários de casamento, mas dá para todas as datas. Encontrei aqui.
Para quem já tem quase tudo (ou é simplesmente egocêntrico, mas esta parte convém que não lhe digam),
uma réplica em miniatura é capaz de ser uma ideia engraçada. Podem juntar-se à réplica e fazer o casal,
ou até caricaturizar. Descobri aqui.
Fotos dos dois recortadas de forma a dar os nomes. Isto já é nível romântico avançado. Confesso que não sei se já cheguei lá, mas podem espreitar aqui. Também têm lá umas molduras em vidro, mas acho hediondas. Fujam.
Se o sonho dele é conduzir um Fórmula 1 (no caso do meu "homem", sei que fazia dele a pessoa mais feliz do mundo
se lhe oferecesse isto), já é possível e podem comprar-lhe aqui. Custa "apenas" €2.500.
Se estiverem mãos largas, já agora podem comprar-me uma viagem também, sim? Obrigada. ;)
Um mapa mundo de colar na parede onde podem ir colocando os pins nas cidades que já visitaram
e as que ainda querem muito visitar. Adorei. Encontrei aqui e aqui (mais baratinho). Há também esta
versão mais clássica e esta engraçada versão para pintar.
Um presente original: um pêndulo que dá respostas personalizadas às questões colocadas. A ideia é ir para a secretária e servir para ajudar no trabalho, mas podem dar outra finalidade qualquer... aqui
É um clássico nos filmes americanos. Tem uma certa pinta e permite beber com mais estilo mais cinematográfico. Pode ter ainda uma mensagem personalizada. Descobri aqui
Também dentro do personalizado, há possibilidade de escrever o nome dele no frasco deste perfume.
É no próprio site da Ralph Lauren que podem encomendar.