terça-feira, 28 de junho de 2016

Aquilo que ninguém te disse sobre a amamentação

Ninguém te avisou que, quando estás a amamentar, o tamanho da copa varia durante o dia. E vais ter tamanhos para todos os gostos, ao longo de 24 horas.

Problemas? Vários.

Pode acontecer ires trabalhar com um soutien antigo, que está(va) mesmo à medida, mas, a meio do dia, teres mamas, descontroladas, a saltar por todos os lados.

Pode acontecer pegares naquele top que compraste há dois anos, ainda no tempo em que tinhas tantas mamas como o teu pai, e que não era nada decotado, e saíres de casa a sentires-te recatada. Mas, à tarde, pode acontecer o mesmo top recatado tornar-se demasiado decotado para o teu trabalho formal ao ponto de teres que te encher de casacos em pleno verão para evitar olhares libidinosos. Sim, tu. Tu que achavas que isso seria impossível acontecer sem uma faca e uma anestesia geral previamente envolvidas.

E isto até pode parecer muito bonito, como um milagroso silicone dos pobres, certo? Pois... Mas a verdade é outra! É que ninguém te avisou que, se não fores a correr alimentar a tua cria, qual Cinderela-do-leite, as pobres coitadas vão continuar a crescer sem parar até te doerem e te causarem calor, de forma insuportável.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Sou mãe dum Fernando Mendes em potência

O meu filho bebé mais querido alimenta-se única e exclusivamente do leitinho da sua adorada mãe-leiteira. Bebe o leitinho da sua mãe como bebia a sua irmã. A fórmula é a mesma: bebe de 3 em 3 horas, mais coisa menos coisa, e até já aguenta a noite inteira a dormir, ou seja, cerca de 7 horas. Isto, partindo do princípio que não escapa a meio da noite para atacar o frigorífico à socapa e partindo do princípio que ninguém lhe anda a dar papas Cerelac às escondidas.

No entanto... O meu filho bebé mais querido... está gordo. E digo "gordo", sem rodeios, porque não está cheiinho, não está fofinho, não está queridinho. Não: está gordo mesmo. Tem duplo queixo, umas bochechas enormes, pregas nos braços e nas pernas, e uma barriga de fazer inveja a qualquer concorrente do Biggest Loser. Eu estava em negação até ontem. Tirava-lhe fotografias de cima, para minimizar o duplo queixo. Concentrava-me apenas no sorriso lindo e doce que tem quando olhava para ele. Colocava as roupas de lado, quando não serviam mais, dizendo a mim mesma: "está grande". Sorria, quando pegava nele, pesado como chumbo, e repetia "é duro, até parece musculado".

Ontem, no entanto, vesti-o com um body branco de golas, em tecido fininho, e uns calções azuis, encostei-o a uma almofada, sorridente, e babei-me a olhar para ele, mais uma vez. Até que o pai se vira para ele, depois para mim, e diz, às gargalhadas:
- Ahaha, parece o Fernando Mendes!

Saí da minha bolha de negação. Se o próprio pai já lhe chama Fernando Mendes já não dá para negar mais.

Agora digam-me, por favor, mães fit e com bebés fit: como é que se emagrece um bebé que só bebe leite materno?

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Os diferentes tipos de utilizadores de Facebook

Já me disseram mais que uma vez que o meu perfil no Facebook é uma seca. Fotografias não atualizadas, ao estilo "já viram como eu era em... 1946?". Poucos comentários. Raras atualizações de estado. Enfim. Um tédio. Só faltam as bolas de pó rolarem mural fora e ouvir-se o vento a soprar, furioso, por entre as publicações quase nulas. No fundo, sou o típico utilizador fantasma, que anda ali só-a-ver-o-que-se-passa e a mandar timidamente umas opiniões ou comentários nos posts dos outros.

Imagino que, em termos de alvo de engates, isso me torne pouco apetecível, mas... e então? De qualquer maneira, tenho reparado que é possível agrupar os utilizadores de Facebook por categorias, conforme o tipo de publicações que partilham e o número de vezes que alteram a fotografia de perfil. Vejam lá se concordam. Se se lembrarem de outros, partilhem por favor, para acrescentar:

1. O utilizador fantasma
Este utilizador tem uma fotografia que não atualiza desde que criou o Facebook, há coisa de 7 anos atrás. Basicamente, não tem paciência para escolher outra e parece-lhe uma perda de tempo estar a mudar a fotografia se até não mudou tanto assim desde então. Não partilha fotografias, não altera o estado e também não escreve nada no próprio mural. Quase nos esquecíamos que existia não fosse ir comentando uma fotografia dum amigo ou doutro e ir também fazendo um ou outro "like" no estado dos outros.

2. O utilizador voyeur
voyeur está de bem com a sua vida, mas não tem interesse em partilhá-la com ninguém. Basicamente, o que ele quer fazer no Facebook é ver o que se passa com a vida dos outros. É um cusco dos tempos modernos. Estão a ver aquelas senhoras nas aldeias que conversavam com as vizinhas sobre a Rosa e a Lurdes enquanto estendiam a roupa no estendal? Estes são a versão 2016. Os voyeurs comentam tudo. Às vezes até são incendiários e gostam de ir atirar lenha em fogueiras/posts alheios. Excitam-se com a vida dos outros e adoram que haja tanta partilha. Alheia. Porque partilha deles raramente há.

3. O utilizador exibicionista
Este utilizador está nos antípodas do anterior. Não quer saber da vida dos outros, porque está demasiado absorvido na sua. Mais concretamente, no seu almoço baixo em calorias e rico em cor, que estava ótimo e tem que fotografar e partilhar. No seu outfit, que também merece ser partilhado. No seu novo corte de cabelo, um bob que está um must e que deve ser já mostrado ao mundo sob pena de entretanto se tornar outdated. E a cor das unhas. E as sandálias/pumps/espradilles novas. E a aula de pilates. E a selfie com a vizinha. Os exibicionistas adoram a sua vida. Adoram tanto que aceitam partilhá-la com todo o mundo. No fundo, é um favor que nos fazem. Já que não pudemos ir àquela festa, àquele restaurante ou àquele encontro, pelo menos temos a sorte de participar à distância, a comer umas migalhinhas em forma de fotografias que o utilizador exibicionista nos dá.

4. O utilizador propaganda
O propaganda usa o Facebook para se auto-promover. Participou num workshop de metodologia chinesa no tratamento de cutículas? Partilha-se o diploma. Esteve presente no almoço de jovens empresários da Rechousa? Partilha-se a fotografia de grupo. Escreveu um artigo no Jornal Voz de Arganil? Toca a mostrar um retrato orgulhoso do recorte do jornal. Deu uma aula sobre coaching para entrepreneurs no contexto global (convém ter algum nome em inglês para dar um ar de maior importância). Partilha-se já. O propaganda só não partilha quando vai à casa-de-banho porque a casa-de-banho tem pouca rede e não consegue ligar-se ao Facebook de lá. No fundo, tem a esperança que algum CEO ou CFO importante repare nele e o contrate. Até lá, continua apenas a fazer a delícia dos utilizadores fantasmas e voyeurs.

5. O utilizador inseguro
O inseguro não se sente 100% bem na sua pele, mas aspira a ser como o exibicionista. Só que nunca sabe bem que foto o favorece mais, por isso, muda de foto de perfil todos os dias, preferencialmente no horário nobre, ou seja, por volta das 9h da noite. O inseguro mede a sua beleza e amor pelos likes das fotos. Às vezes apaga uma foto se o número de likes não lhe está a agradar. Geralmente tenta justificar as fotos escolhidas com legendas profundas, como "smile is the prettiest thing you can wear" ou citações em inglês que encontra no google. Às vezes nem repara que, nessa ânsia de justificar simplesmente o querer partilhar uma fotografia em que se sente bonzão/boazona, acaba a citar o Paulo Coelho... em inglês. Este utilizador é geralmente solteiro e muda para utilizador fantasma quando encontra o amor. Reparamos que encontrou o amor quando passa uma semana sem que a fotografia de perfil seja atualizada no horário nobre ou sem que haja publicação de pensamentos profundos. Em inglês.

6. O utilizador engatatão
O engatatão tem como perfil uma fotografia que representa o auge da sua juventude. Tinha 24 anos, era agosto, tinha apanhado 30 dias de sol seguidos, estava de férias e alguém lhe tirou uma fotografia em que aparece moreno, cheio de cabelo e sorridente. A fotografia recebeu muitos elogios na altura. Só que, depois disso, o moreno saiu, o branco esquálido voltou, o cabelo começou aos poucos a ser menos farto e, com o trabalho a aumentar, aquelas tardes descontraídas e sorridentes começaram a escassear. Por isso, apesar de já ter atualmente mais 20 kgs e menos 2 kgs de cabelo, é aquela foto (ou outras semelhantes, tiradas na mesma altura) que vai resgatando do baú das memórias quando quer engatar. Adora usar o chat do Facebook e tem sempre elogios na ponta da língua. Ou, neste caso, nos dedos.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Segurem-me que eu vou espiralizar o mundo

Recebi, no meu aniversário, um presente engraçado: um espiralizador. Um quê?, perguntam-me vocês. Um espiralizador? O que é isso? Ok, ok. Es-pi-ra-li-za-dor. De espiral. Um espiralizador é, basicamente, um utensílio de cozinha que permite cortar alimentos em forma de espiral. Ahhh!, dizem vocês agora, espero. Ainda assim, por via das dúvidas, mostro um exemplo:

Pois bem, recebi um espiralizador no meu aniversário. E se, primeiro, não lhe dei grande importância (confesso que há sempre aquele primeiro pensamento - "utensílios de cozinha?") e o deixei ficar quietinho na respetiva caixa, depois li este artigo e fiquei com a pulga atrás da orelha. Aqui estavam compiladas receitas supostamente saudáveis, com ótimo aspeto e em que se utilizava o quê? Lá está... um espiralizador! Pois eu, que tinha acabado de fazer 34 anos e que tinha também tomado pela enésima vez a resolução de ser magra e saudável, tinha ali a resposta para os meus males: pratos saborosos, com poucas calorias e com a possibilidade de utilizar o brinquedo novo. Meti logo mãos à obra e decidi fazer não uma, mas sim duas receitas logo duma vez: a salada de spiralli de beterraba com requeijão e nozes, como entrada, e o esparguete de curgete à bolonhesa como prato principal. Fui às compras. E, nesse mesmo dia, saiu isto:

Eu não sou um ás na cozinha. Na verdade, raramente faço pratos que fiquem bem nas fotos. Mas estes dois foram tão fáceis de fazer e souberam-me tão bem que tive que partilhar. Acho que encontrei aqui um nicho da cozinha em que posso ser boa: a espiralizar alimentos. Mas isso não é cozinhar, poderão dizer vocês! É, é, digo eu. É cozinhar de outra forma.

Posto isto, declaro iniciada a missão de espiralizar o mundo. Curgetes, batata doce, cenoura, beterrabas, fujam! Vou espiralizar o que me aparecer pela frente. E se, pelo caminho, emagrecer, melhor ainda.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Socorro, a minha filha vai para a Casa dos Segredos

A Constança, como qualquer menina de dois anos, adora o Canal Panda. E dentro do Canal Panda, adora o Panda propriamente dito, mas também adora o bando de amigos-animais que ele tem, todos com nomes interessantíssimos como Micas, Pintas, Kincas, Riscas, Cricas... Ok, este último acho que inventei. Adiante. A Constança adora o Panda, mas também não diz que não a uma sessão de cinema com o Ruca, a Abelha Maia, o Bing ou a Patrulha Pata. E o que é engraçado é que os pedidos vão mudando consoante o estado de espírito. Um dia é:
- Mamã! Pata!
- Patrulha Pata?
- Sim! Pata!
Mas no outro dia, se eu tento antecipar-me e sugerir a Patrulha Pata, já não serve:
- Não!! Bing!
- Não queres a Patrulha Pata? E o Panda?
- Não! Bing. Põe Bing.
E lá ponho o Bing. Bing esse que, passado dois minutos já cansa e é trocado, sem dó nem piedade, pelo Panda e os amiguitos todos:
- Pandaaa! Panda... Põe! (sim, porque as crianças têm o dom de estar sempre com a maior pressa e urgência, como se tivessem uma reunião importantíssima dali a 20 minutos e não houvesse tempo a perder, nem para pedir por favor e recorrer a essas delicadezas de quem está cheio de tempo).

Sim, a Constança é feliz com muitos programas do Panda. E é capaz de ver o mesmo episódio, se estiver para aí virada, 5 ou mais vezes seguidas. Ao ponto de eu já saber de cor algumas falas entre o Professor Ruben, a Dra. Marta e a Joana (os outros amigos são todos mudos), coisa de que não me orgulho.

De qualquer dos modos, a Constança não aceita qualquer programa. E não aceita ao ponto de ficar um pouco agressiva se insistimos com alternativas. Geralmente mostra o desagrado de forma sintética, com um perentório "Não!". Acabou de fazer dois anos, não é propriamente a rainha da dialética e da argumentação, como poderão imaginar. Só que, no outro dia, para além do "não", quis justificar a sua escolha, nitidamente a tentar aumentar os seus recursos verbais. O pior é que se inspirou, não nas palavras bonitas e eruditas que a mãe lhe tenta ensinar, mas sim nas palavras rudes que ouve o pai utilizar em dia de jogos de futebol:
- Queres ver a Masha e o Urso? Também é giro!
- Não!
- Oh... Não queres ver a Masha? Porquê?
- Não! A Masha é put@.
- Desculpa...?! A Masha é quê?
- Put@! A Masha put@!!

De maneira que meti a viola no saco e pus rapidamente no Panda. Ao mesmo tempo, tomei logo ali duas importantes resoluções de vida: não voltar a tocar no sensível tema da Masha (não enquanto tiver este episódio fresco na memória) e retirar os filhos de casa em dias de jogo. Isto sob pena de, daqui a uns anos, ser a feliz progenitora de dois filhos concorrentes da Casa dos Segredos 18, lado a lado com o Kevim, filho da Bernardina.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A saloia

A saloia é uma mulher que não desenvolveu as suas aptidões sociais.
A saloia vive para os afazeres da casa e para os seus.
A saloia acorda com o nascer do sol e deita-se quando aquele se põe.
A saloia dá de comer à família e o seu habitat natural é na cozinha.
A saloia tem que tratar da casa.
A saloia fala da comida, das compras que tem que fazer, das horas das refeições e da casa.
A saloia não consegue desenvolver temas de conversa para além disso.
A saloia também não consegue manter uma conversa por muito tempo.
A saloia tem sempre sono, muito sono.
A saloia tenta lutar contra isso, tenta ler, tenta ouvir música, tenta ver filmes, tenta ir a festas.
À saloia só lhe resta tentar, porque por enquanto tem sono. E tem filhos para criar. E trabalho para apresentar.
A saloia sou eu.

Sou uma saloia. E descobri isto ontem, quando comentava com uma amiga que tenho sentido, de ano para o ano, que o cansaço do trabalho, acumulado com o cansaço dos filhos, me tem tirado todas as capacidades comunicativas e a capacidade de socializar com outras pessoas. Em resposta ao meu desabafo, ela primeiro disse-me que sentia o mesmo. Senti-me compreendida. Expliquei-lhe que tive um casamento há dias e que me sentia tão cansada, depois de noites sem dormir, que as conversas à mesa me passaram todas ao lado, enquanto eu assistia apática aos diálogos, como um simples espectador numa partida de ténis. Não trouxe temas ou opiniões inteligentes para a mesa, não acrescentei piadas espirituosas, não abrilhantei conversas nenhumas. Nada. Só me limitei a tentar acompanhar o que se dizia e a conter os bocejos. Ter dois bebés em casa é dose. E trabalhar durante o dia não melhora nada e suga-nos a energia. A minha amiga ainda não tem filhos, mas disse que me compreendia.

Depois, citou-me de forma livremente traduzida para português a passagem dum livro ["El tiempo entre costuras", de María Dueñas, que aborda a guerra civil espanhola e, a dada altura, a passagem pelo nosso país], em que basicamente me chamou de saloia. Sou uma saloia. Confiram lá se o meu desabafo sobre as minhas inaptidões sociais no casamento não coincide exatamente com a descrição destas portuguesas (penso que, mesmo sendo em espanhol, se percebe bem):

"La conversación entre los hombres se mantuvo a lo largo de casi dos horas, pero, a medida que ésta se agitaba, la reunión de mujeres iba decayendo. Cada vez que percibía que la negociación se enroscaba en algún punto sin aportar nada nuevo, volvía a concentrarme en sus esposas, pero las mujeres portuguesas hacía rato que se habían desentendido de mí y de mis esfuerzos por mantenerlas entretenidas, y daban ya cabezadas incapaces de contener el sueño. En su crudo día a día rural, probablemente se acostaran al caer el sol y se levantaran al alba para dar de comer a los animales y atender las faenas del campo y la cocina; aquel trasnoche cargado de vino, bombones y opulencia superaba con mucho lo que podían soportar."

Próximo objetivo de vida: reaprender a socializar.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Olá, filho mais querido #3

(Podem ler a primeira parte da história aqui e a segunda parte aqui)

Pois então, eram 5h da tarde e eu estava convencidíssima, pelo avançar do meu estado (ie, rutura de bolsa, dilação, eliminação de colo do útero, contrações constantes) e ainda pelo facto de ser um segundo parto que teria o bebé nos braços em coisa de hora ou duas. A juntar a isto a garantia dada por todas as mães que conheço de que os segundos partos são sempre mais fáceis tínhamos uma quase-parturiente relaxada, animada e super otimista. Só que, entretanto, começaram as notícias menos boas. Para começar, a médica de serviço disse-me que o exame para detetar estreptococos (umas bactérias que, pelos vistos, 1 em cada 3 mulheres grávidas tem e que são inofensivas e sem qualquer sintoma associado para a mulher, mas capazes de provocar pneumonia a um recém-nascido, por exemplo - podem ler mais aqui) tinha dado positivo e que, por isso, ia ter que me dar um antibiótico.
- Lembra-se daquele exame que fez e que deu positivo, certo? Vou ter que lhe dar um antibiótico.
- Ok, não há problema, respondi.
Não estava a perceber a cara de preocupada da médica. Um antibiótico? Não são 2 segundos para tomar e já está?
- Pronto... Mas sabe como se processa?
- Não é só tomar o antibiótico?
- Não... Vamos ter que esperar cerca de 3 horas até fazer efeito e podermos avançar com o trabalho de parto.
- Oh...
- É... Por isso, a partir de agora, vou pedir-lhe que relaxe e descanse. Não lhe vamos dar ocitocina, não vamos voltar a fazer qualquer exame [adeus, toque!] e vamos tentar adiar o parto ao máximo, ok? Convém que o antibiótico faça efeito.

E eu fiquei ali a olhar para ele, ao meu lado, também expectante... Tanto tempo? A única coisa boa que retirava dali era, realmente, a parte de acabarem com os diabólicos toques. Mas senti-me a morrer na praia. Estava tudo a ser tão rápido... Estava tudo a ser, até àquele momento, como nos filmes, estava tudo a ser exatamente como eu tinha imaginado o dia do parto ou até melhor - as contrações, o ir a conduzir para o hospital sem nada marcado, os telefonemas para ele "anda! vai nascer!", os telefonemas para os meus pais e irmã, a rutura da bolsa, a adrenalina... De repente, foi como se tivessem pegado num comando e carregado no "pause". Suspenderam o meu filme. Suspenderam o meu filme tão aguardado. E não adiantava tentar carregar no "play" outra vez. Não até ter ordens em contrário.

- E agora?, perguntei-lhe. Nem sequer temos "A Guerra dos Tronos" para ver, como da outra vez.
- Não te preocupes que eu arranjo já aqui algo para nos distrairmos.
Pegou no telemóvel e procurou um vídeo para me mostrar.
Quando demos por ela, estávamos os dois a chorar a rir. Primeiro só nós. Depois os meus pais também, que entretanto chegaram. Depois os meus sogros. A dada altura, já estávamos a ver o vídeo com enfermeiros também. O vídeo que nos pos a todos a chorar a rir foi este e já todos devem, a esta hora, conhecer. Mas posso garantir que foi este vídeo que me fez doer a barriga de rir até doer a barriga a sério das contrações. E posso garantir que foi este vídeo que, até levar a epidural, me fez aguentar as dores que comecei a sentir.

Foram três horas de espera, entre "ais" e "ahahah"s e com uma epidural pelo meio. Três horas de espera que pareceram trinta. E eu ia olhando para o relógio e pensando que, por volta das 20h, logo que o antibiótico fizesse efeito, iam fazer-me novamente exames e perceber que o bebé já estava basicamente com uma perna cá fora.
- Vinte e três de fevereiro. Gostas da data?, perguntei-lhe, a dada altura.
- Gosto... Acho que sim. Mas vou gostar de qualquer data em que o meu filho nasça.
- Vinte e quatro era mais giro, não achas?
- Porquê?
- Porque a Cookie nasceu a doze. Este é o segundo filho. 12x2=24. Vinte e quatro parece-me mais especial.
- Pois, mas vai ser vinte e três. É especial na mesma.

Pois... Não dizem que a mãe é que manda? Nasceu apenas cinco horas depois. Demorou. Custou. Mas o bebé deve ter-me ouvido. Se a mãe prefere o dia vinte e quatro, a vinte e quatro será. As mães mandam sempre. ;)

(... Continua...)

terça-feira, 7 de junho de 2016

O batizado do bebé

Entretanto, o dia chegou. Como o batizado da Constança correu bem, optámos por, basicamente, repetir a fórmula. A igreja foi a mesma, a quinta foi a mesma, a lista de convidados foi a mesma, o fotógrafo foi o mesmo, o catering foi o mesmo, enfim... percebem a ideia! Infelizmente, o catering não estava disponível no sábado que queríamos e, por isso, acabámos por mudar o dia para domingo. Custou-nos um bocado tomar a decisão, porque sabíamos que corríamos o risco de ter muitos convidados a sair mais cedo por ser domingo e, além disso, eu sabia que muitas mulheres iriam ficar bem mais limitadas no que toca a arranjar cabeleireiro e maquilhagem. De qualquer dos modos, decidimos na mesma arriscar e esperar que corresse tudo pelo melhor. Como pequeno acerto - e de forma a que desse para aproveitar mais o dia -, antecipámos a missa para as 11h.

Assim, às 8h (!!) e a morrer de sono, já eu estava no salão do meu cabeleireiro pronta para ser penteada e maquilhada (e a sonhar com um café). Claro que o salão não abre ao domingo, mas lá os convenci a abrirem uma exceção (pagando mais, claro, que pela minha cara laroca já não vou longe, minha gente :P).

Desta vez, como o bebé tinha apenas 3 meses, conseguimos fazer algo com que os avós há muito sonhavam e que não conseguimos fazer da outra vez: usar o vestido de família, o mesmo vestido que tem vindo a ser usado em batizados de geração em geração e que já na 5a geração! Assim que receba as fotografias do fotógrafo mostro aqui, porque o vestido é realmente muito bonito, mas não consegui tirar nem uma fotografia ao longo do dia - ou estava com a Constança ao colo ou com o Francisquinho. Correu tudo bem e o S. Pedro até ajudou, mas continuo a achar que os sábados são sempre os dias mais adequados para estas festas. Talvez para o próximo batizado! (#not)

De todo o modo, eu sei que vocês querem menos conversa e ver mas é o vestido escolhido e alguns pormenores da festa, por isso, para já digo-vos qual foi o vestido. Claro que eu ainda tenho uns quilos para perder e uma barriguinha bem mais saliente do que queria, por isso o vestido não ficou exatamente como na modelo. Basicamente imaginem, para já, este vestido numa pessoa com menos 10cms de pernas, mais 20 cms de perímetro na zona da cintura e mais 10 quilos. Prazer, sou eu. Ah... e mandei subir um pouco a bainha, porque achei comprido para mim. Quanto aos sapatos escolhidos também foram estes, por coincidência. Entrei na Aldo, vi-os, adorei e depois em casa reparei que eram os sapatos utilizados na foto. Gostei deles, mas se fosse hoje levava sandálias compensadas - ficamos altas na mesma, mas com menos pressão na planta do pé.

Lembram-se do vestido do outro post? Aqui está ele.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sou adulta

Pago a conta da água. Controlo também o prazo da conta do gás, para não deixar passar. Pago a conta da internet e da televisão. Sou adulta. Tenho telemóvel. Que paguei também. E cujos dados que utilizo continuo a pagar. Pago a minha casa. (Minha? Em parte.) Pago o meu carro. (Meu? Quase, ainda estou a pagar.) Pago as compras que faço para casa. Pago a minha roupa. Pago as consultas do médico. E pago os seguros também. Pago todos os impostos. Sou adulta. E agora até pago as coisas do meus filhos também.

Para mim, a transição entre o ser criança e o adulta deu-se quando apareceu a primeira conta para pagar. Não tenho dúvidas. Não foi quando o primeiro salário apareceu, como muitos dizem. Não. Porque esse salário devo-o ter gasto em roupa e outras futilidades. Nem foi quando o segundo salário veio. Continuava a ser criança, sem grandes responsabilidades. Apenas com mais dinheiro. Para mim, o ser adulta veio com a primeira conta. Com o início das responsabilidades. Tornei-me adulta. E não adorei, devo confessar. Mas aprendi. Aprendi a fazer contas à vida. Aprendi a importância do poupar. Aprendi a importância de ser ambiciosa. De querer ganhar mais. Querer chegar mais longe na vida. Porque há contas para pagar! Aprendi a querer estabilidade, segurança. Casa, carro, férias e contas pagas. Ser adulto obriga-nos a fazer muitas contas e a trabalhar muito. E nem sempre nos deixa com tempo para sermos só e apenas aquilo que todos somos, bem lá no fundo - eternas crianças. Crianças vestidas de adultas.

Sim, quando tiramos as contas e os nossos empregos fica mais fácil ver o que está ali em baixo - crianças. Crianças que cresceram e vestiram a roupa dos seus pais. Crianças que cresceram e foram trabalhar. Crianças que cresceram e ganharam responsabilidade. Crianças que cresceram, mas que, se se esforçarem, percebem que nunca perderam a capacidade de se admirar e de se espantar com o mundo. Este dia é para todos nós. Para não nos esquecermos de ser crianças. Não todos os dias. Porque há contas para pagar. Mas de vez em quando. Saint-Exupéry dizia que todas as pessoas grandes já foram crianças. Eu acredito que continuam a ser, debaixo destas roupas e contas das pessoas grandes. Feliz dia!