quarta-feira, 8 de junho de 2016

Olá, filho mais querido #3

(Podem ler a primeira parte da história aqui e a segunda parte aqui)

Pois então, eram 5h da tarde e eu estava convencidíssima, pelo avançar do meu estado (ie, rutura de bolsa, dilação, eliminação de colo do útero, contrações constantes) e ainda pelo facto de ser um segundo parto que teria o bebé nos braços em coisa de hora ou duas. A juntar a isto a garantia dada por todas as mães que conheço de que os segundos partos são sempre mais fáceis tínhamos uma quase-parturiente relaxada, animada e super otimista. Só que, entretanto, começaram as notícias menos boas. Para começar, a médica de serviço disse-me que o exame para detetar estreptococos (umas bactérias que, pelos vistos, 1 em cada 3 mulheres grávidas tem e que são inofensivas e sem qualquer sintoma associado para a mulher, mas capazes de provocar pneumonia a um recém-nascido, por exemplo - podem ler mais aqui) tinha dado positivo e que, por isso, ia ter que me dar um antibiótico.
- Lembra-se daquele exame que fez e que deu positivo, certo? Vou ter que lhe dar um antibiótico.
- Ok, não há problema, respondi.
Não estava a perceber a cara de preocupada da médica. Um antibiótico? Não são 2 segundos para tomar e já está?
- Pronto... Mas sabe como se processa?
- Não é só tomar o antibiótico?
- Não... Vamos ter que esperar cerca de 3 horas até fazer efeito e podermos avançar com o trabalho de parto.
- Oh...
- É... Por isso, a partir de agora, vou pedir-lhe que relaxe e descanse. Não lhe vamos dar ocitocina, não vamos voltar a fazer qualquer exame [adeus, toque!] e vamos tentar adiar o parto ao máximo, ok? Convém que o antibiótico faça efeito.

E eu fiquei ali a olhar para ele, ao meu lado, também expectante... Tanto tempo? A única coisa boa que retirava dali era, realmente, a parte de acabarem com os diabólicos toques. Mas senti-me a morrer na praia. Estava tudo a ser tão rápido... Estava tudo a ser, até àquele momento, como nos filmes, estava tudo a ser exatamente como eu tinha imaginado o dia do parto ou até melhor - as contrações, o ir a conduzir para o hospital sem nada marcado, os telefonemas para ele "anda! vai nascer!", os telefonemas para os meus pais e irmã, a rutura da bolsa, a adrenalina... De repente, foi como se tivessem pegado num comando e carregado no "pause". Suspenderam o meu filme. Suspenderam o meu filme tão aguardado. E não adiantava tentar carregar no "play" outra vez. Não até ter ordens em contrário.

- E agora?, perguntei-lhe. Nem sequer temos "A Guerra dos Tronos" para ver, como da outra vez.
- Não te preocupes que eu arranjo já aqui algo para nos distrairmos.
Pegou no telemóvel e procurou um vídeo para me mostrar.
Quando demos por ela, estávamos os dois a chorar a rir. Primeiro só nós. Depois os meus pais também, que entretanto chegaram. Depois os meus sogros. A dada altura, já estávamos a ver o vídeo com enfermeiros também. O vídeo que nos pos a todos a chorar a rir foi este e já todos devem, a esta hora, conhecer. Mas posso garantir que foi este vídeo que me fez doer a barriga de rir até doer a barriga a sério das contrações. E posso garantir que foi este vídeo que, até levar a epidural, me fez aguentar as dores que comecei a sentir.

Foram três horas de espera, entre "ais" e "ahahah"s e com uma epidural pelo meio. Três horas de espera que pareceram trinta. E eu ia olhando para o relógio e pensando que, por volta das 20h, logo que o antibiótico fizesse efeito, iam fazer-me novamente exames e perceber que o bebé já estava basicamente com uma perna cá fora.
- Vinte e três de fevereiro. Gostas da data?, perguntei-lhe, a dada altura.
- Gosto... Acho que sim. Mas vou gostar de qualquer data em que o meu filho nasça.
- Vinte e quatro era mais giro, não achas?
- Porquê?
- Porque a Cookie nasceu a doze. Este é o segundo filho. 12x2=24. Vinte e quatro parece-me mais especial.
- Pois, mas vai ser vinte e três. É especial na mesma.

Pois... Não dizem que a mãe é que manda? Nasceu apenas cinco horas depois. Demorou. Custou. Mas o bebé deve ter-me ouvido. Se a mãe prefere o dia vinte e quatro, a vinte e quatro será. As mães mandam sempre. ;)

(... Continua...)

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