terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Final de ano tão mau só pode significar ano novo perfeito

Depois do azar com a viagem a Amesterdão (que nunca aconteceu, mas que tive que pagar), depois do carro, e como o azar é cigano e vem sempre com outros iguais a ele atrás, claro que tinha que continuar com os azares. Uns atrás dos outros. Primeiro, passei a Véspera de Natal com febre e o dia de Natal com arrepios e dores em todo o corpo. Mas não foi só isso: tinha um trabalho para entregar na sexta e tive que trabalhar no próprio dia de Natal. Que bom, não é? Pois, só que também não foi só isso. Depois de ter feito noitada a trabalhar, sexta madruguei, fui trabalhar, imprimi tudo e percebi que não havia correios disponíveis. Teria que ir ao aeroporto. Assim, fui ao site ver o horário e li que, em dias úteis, os CTT do aeroporto fechavam às 21h, e nos fins-de-semana e feriados às 17h. Ainda tentei ligar para lá a confirmar o horário, mas não atenderam. Às 19h30 acabei o resto do trabalho, fui ao aeroporto enviar aquilo e.... qual não foi o meu espanto quando vejo que... OS CTT ESTAVAM FECHADOS. Entrei em pânico. Voltei para o escritório. Toca a mandar o trabalho por email. E fui tentar mandar por fax também, por via das dúvidas. Conclusão? O fax decidiu medir forças comigo. Nunca dava entregue. Até às 23h. E enquanto isso, em casa, ele à minha espera com a bebé para jantarmos. Eu sem lanchar, praticamente sem dormir, ainda com febre, com vontade de partir a porcaria do fax aos pontapés, que nunca me tinha falhado, mas que quando eu mais precisava decidiu fazer greve. Fui embora pior que estragada. Nem me lembro se depois jantei. O que me deixou menos preocupada foi perceber que a Constança não estava com febre como eu. Até... ONTEM. Ontem, coitadinha, a meio da noite começou a ficar cheia de febre. E eu com os coração na mão.

No meio disto tudo só tento convencer-me que tudo vai melhorar. E que um final de ano tão, mas tão mau só pode significar um Ano Novo perfeito. Mal isto tudo melhore, venho cá contar-vos tudo sobre o Natal propriamente dito. Espero que o vosso Natal tenha sido bem menos atribulado que o meu!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mas o que é que me deu?

Não sei o que se passa comigo, mas desconfio que foi por andar a gozar com a Maria Helena (a taróloga, nutricionista e tudo e mais alguma coisa) no Facebook do blog. Só pode ter sido isso. Depois do azar de Amesterdão - e porque um azar nunca vem só -, hoje fiquei sem chaves do carro. Ia a sair de casa quando me lembrei que tinha deixado as chaves do meu carro no carro dele, ontem à noite. Como ele já tinha saído de casa há meia hora, já estava a quilómetros de distância e não podia voltar para trás. De modo que tive que chamar um táxi e vir trabalhar. Ao almoço devo voltar a chamar um táxi para ir a casa almoçar. E depois para voltar. Este dia vai-me sair barato, vai.

Maria Helena, nunca mais gozo com o teu programa! Entretanto, vou aguardar os momentos de romance que prometeste hoje para mim e para todos os nativos do signo Peixes (aqui), vou fazer por dormir oito horas esta noite e manter a energia em alta (tudo ao mesmo tempo ou alternadamente?) e aguardo ainda ansiosamente que me atribuam mais poder no trabalho. Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay....

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A receita que mudou a minha vida. Ou os serões.

Se tivesse que associar o final da minha infância/ início da adolescência a um filme, esse filme seria qualquer um da Guerra das Estrelas. Se tivesse que associar a um cheiro, seria ao cheiro das pipocas acabadas de fazer. O ritual repetia-se: o meu primo ia até lá a casa, pegávamos nas cassetes que tínhamos, escolhíamos o filme que íamos ver, fechávamos um pouco as persianas para a sala ficar mais escura, e íamos fazer pipocas, tudo para dar uns ares de cinema. Sim, porque cinema tinha que ter sempre pipocas! E a receita era sempre a mesma: pegávamos num tacho, colocávamos óleo no fundo, levávamos ao lume, púnhamos o milho em cima e, quando estivesse quente, começávamos a ouvir as pipocas a estalar e a tampa do tacho a saltar. No fim, uns quinze minutos depois, pegávamos num saco de açúcar, atirávamos uma boa dose para cima das pipocas e lá íamos ver o filme.

Foram, portanto, anos e anos e anos a levantar a tampa do tacho a medo, com medo de levar com uma pipoca assassina no olho, para ver se as pipocas já estavam prontas. Foram anos e anos a apanhar algumas pipocas esturricadas e tachos queimados no fundo. Foram anos e anos de tachos para lavar no fim, cozinhas sujas e a ter que ouvir a minha mãe queixar-se da confusão que tinha feito na cozinha. Em adulta, deixei praticamente de fazer pipocas em casa por causa da trabalheira que dava.

Até que, no outro dia, a nutricionista do ginásio partilhou comigo meia dúzia de receitas e esta, em particular, mudou a minha vida e fez-me ir buscar este hábito antigo e tão bom da infância. Ok, podem achar exagerado uma receita conseguir mudar a vida de alguém, mas acreditem que esta em particular, se não mudou a minha vida, mudou os meus serões! Numa altura em que não conseguimos ir ao cinema, por termos uma bebé em casa, mas em que continuamos a adorar ver filmes e séries, esta receita tem sido a nossa melhor amiga. Começámos a rever Seinfeld há duas semanas e, não raras vezes, temos vindo a dar por nós a colocá-la em prática. Se são gulosos como eu, mas meteram na cabeça que ainda têm salvação e ainda hão-de ser saudáveis (como quem?... como eu), se gostam de pipocas e de um bom serão de cinema em casa (eu, eu, eu!), se gostam de receitas rápidas e sem sujar nada (eu), aqui está a receita que também pode salvar os vossos serões. Sem sujar tachos e sem fazer estragos na linha. Depois digam lá se gostaram:

- Colocar o milho para pipocas num recipiente de vidro e deitar um pouco de água no fundo.

- Acrescentar à água alguns temperos a gosto, para aromatizar. (exemplo: cravinho, canela, raspas de laranja para experimentar. Também podem experimentar pimenta caiena, erva-doce, anis ou outras ervas secas a gosto.)

- Tapar o recipiente com película aderente e fazer furinhos com um garfo.

- Colocar no microondas na potência máxima e aguardar que os grãos estourem.

- No fim, voltar a polvilhar as pipocas com os temperos já utilizados.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

E que tal Amesterdão?...

...Não aconteceu... Ainda não me apeteceu vir aqui falar nisso, mas em resumo foi isto: não conseguimos ir. Uma sucessão de acontecimentos, desde percebermos que (por puro esquecimento) não tínhamos cartão de cidadão ou passaporte da bebé ainda tratado, até concluirmos que, em cima da hora, não tínhamos com quem deixá-la, até passarmos a ter, mas, ao mesmo tempo, ter-me aparecido trabalho como se não houvesse amanhã, enfim... Foi todo um conjunto de contratempos que me fizeram baixar os braços e dizer "ok, fica para a próxima". Ainda não estava preparada para deixar a bebé sozinha tantos dias, acho eu, porque o trabalho só por si resolvia-se... Pelo meio, enviei email ao Hotel, que me respondeu dizendo que iam tentar não cobrar nada. Na segunda, qual não foi o meu espanto quando vi que, afinal, tinham cobrado e os dias todos. Agora estou nesse ponto: pobre, não-viajada e em contactos com o Banco a ver como posso reaver o dinheiro. É que não foi pouco...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Esta angústia

Às vezes ela aparece e começa a roer cá dentro, até ficar a doer a barriga. Rói, e rói, e rói. É esta angústia, uma angústia de não estar a viver tudo o que devia. Uma angústia que rói e não se cala, e me diz "devias aproveitar mais, estás a desperdiçar a tua vida, devias fazer algo relevante, estás a viver só a 1%, tens tantos sonhos e estão a ficar todos pelo caminho". E quando a angústia chega, geralmente vem com ela a mesma certeza: que tenho que voltar às aulas de piano (porque é que a angústia tem esta obsessão com o piano? já não toco há quase quinze anos), tenho de voltar ao desenho, às pinturas (também já não pego em papel e lápis ou aguarelas há mil anos, mas a angústia tem memória de elefante), tenho de voltar a fazer um desporto que não seja só correr, tenho de viajar, tenho de sair urgentemente das quatro paredes em que a minha vida se processa, tenho de ver a luz do dia, o sol, o mar, escrever, viver, aproveitar cada segundo. Há uns anos, gostava de poesia (entretanto cansei-me, não sei bem porquê). E cheguei a pegar nos meus poemas preferidos e fazer deles música. Música mediana, cantada e tocada de forma mediana, mas que muito me entreteve e fez feliz. Um deles, o "Quase" de Mário de Sá-Carneiro dizia (ou cantava) isto, a dada altura: "...e mãos de herói, sem fé, acobardadas, puseram grades sobre os precipícios...". Nestes dias de angústia é isto que sinto: que toda a minha vida está cercada de grades de segurança que me impedem de correr riscos, mas ao mesmo tempo de viver. E que ando neste "quase" permanente, neste quase-viver, neste quase-fazer. Sou feliz, mas quero que a minha filha tenha orgulho em mim e não cresça a ver a mãe um ser cinzento que sai de casa às 9h e volta às 21h, sempre cheia de papéis debaixo do braço e a olhar para o vazio a pensar no que tem agendado para o dia seguinte. Quero que a minha filha veja em mim um exemplo de alguém realizado e feliz, alguém inspirador que a faça inspirar-se também a ser a melhor versão possível dela. Esta angústia rói. Mas às vezes é necessária para decidirmos pegar novamente no que nos faz feliz e dedicarmo-nos a isso. A angústia rói, mas é ela que nos faz mexer. E não nos deixar acomodar à rotina dos dias, a sermos hoje igual a ontem e a amanhã.

Amanhã pode estar tudo igual. Mas hoje decidi tirar o "quase" da equação e sair destas quatro paredes para ir ver o sol. Sair mais cedo. E sentir um pouco o sol que está lá fora. Amanhã podem voltar a por as grades. Mas agora, com licença, deixem-me saltar daqui.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

É já amanhã

Amanhã rumamos os três para Amesterdão. Ainda não sei se faço bem, mas decidi levar mesmo a bebé. Não conseguia ficar quatro dias sem ela. Ainda é demasiado cedo. Dicas sobre a cidade e dicas sobre viajar com bebés aceitam-se!

A polémica sobre o dar de mamar em público

Ontem publiquei esta notícia no Facebook do blog, longe de imaginar que seria tão comentada e que levaria a tantas opiniões diferentes.

Basicamente, Louise Burns, uma jovem mãe de 35 anos e com três filhos, estava a amamentar a sua bebé mais nova, de 12 semanas, num "luxuoso hotel de Londres", quando o empregado lhe veio pedir o favor de se cobrir com um guardanapo de pano. A justificação foi que poderia ofender alguém presente no hotel. A mãe diz que se sentiu humilhada, incomodada, teve vontade de chorar e quis levantar-se para ir embora. Colocou fotografias no Twitter a explicar o sucedido e acrescentou que ninguém devia fazer alguém sentir-se dessa maneira, porque as mães já se sentem pressionadas a dar de mamar e que, no caso dela, era até a primeira vez que estava a conseguir fazê-lo sem problemas. Na sua conta do Twitter recebeu comentários como: "Se não gostas do que eu (como mãe) estou a fazer, não olhes. É uma atitude de 1920". Entretanto, o hotel pediu desculpas e disse que até apoia a amamentação.

Ora, eu tenho a impressão que, neste tipo de notícias, se misturam sempre vários temas. Em primeiro lugar: as mães afinal sentem-se pressionadas a dar de mamar? Acredito que sim, nas primeiras semanas do bebé, mas acredito também que a corrente oposta está em notório crescimento, incentivando-se a independência da mãe e o recurso ao leite em pó desde muito cedo. Assim, apesar de a Organização Mundial de Saúde aconselhar a amamentação exclusiva do bebé até aos seis meses, e a amamentação parcial até aos dois anos, tenho ideia que vivemos num país em que poucas mães cumprem esta recomendação, até porque, na maioria das vezes, têm que começar a trabalhar antes dos seis meses. Olhem à vossa volta: quantas mães conhecem que levaram à letra aquela diretiva e deram de mamar até aos dois anos? Parece-me que houve uma inversão na mentalidade e que hoje se encara como "estranha" quem continua a dar de mamar após uma certa idade (ouve-se muito dizer "o filho já tem dentes e ela dá de mamar, que horror!"). Concluindo, acho que pode haver uma pressão inicial - a sociedade tende a considerar melhor mãe quem dá de mamar no primeiro mês ou dois, é verdade-, mas depois essa pressão dilui-se, chegando ao ponto oposto de se considerar contra natura quem continua a dar de mamar após os seis meses.

Em segundo lugar, vem então a questão que se levanta nesta notícia: dar de mamar obriga a alguma discrição? E é aqui que julgo que as opiniões divergem mais. Eu considero que sim. Sei que muita gente discorda de mim neste ponto. Mas passo a explicar. Para mim, sendo a amamentação indiscutivelmente um gesto bonito, que deve ser incentivado (nomeadamente pelas entidades empregadoras), e natural, é, no entanto, também um gesto íntimo, um gesto que deve ser apenas da mãe e do filho. Praticamente ninguém, muito menos gente estranha, deve participar/ assistir ao momento. Já dei de mamar em público, tive que dar, mas optei sempre por me/nos cobrir com um pano para preservar esse momento e resguardar-nos. Os outros vão achar repugnante ou nojento? Julgo que não, mas não é isso que está em causa. Vão ver a mama da mulher como algo sensual? Também julgo que não. Mas, para mim, o que está em causa é simplesmente uma confusão entre o que é natural - e a amamentação é algo natural - e aquilo que deve ser imposto a terceiros. Nenhum terceiro tem que ser obrigado a assistir a esse momento, que é exclusivamente meu e da minha filha. Se estiver em casa, é uma coisa. Quem lá está, se lá está, é porque já é alguém próximo. Na rua? Nos hotéis? Nos restaurantes? Aí, defendo a discrição, e porquê? Pensando no outro lado, ninguém tem que estar a almoçar e a ver a mulher ao lado a tirar as mamas para fora e a dá-las ao filho. Ora, os beijos são naturais e ninguém gosta de ver casais aos linguados no meio da rua, pois não? E são sinal de amor! Sei que pode parecer um exemplo descabido, mas no fundo é como dar de mamar: é um gesto de amor, deve ser incentivado, mas qual é o mal de se pedir que seja feito com algum recato? Há pessoas mais conservadoras. E tal como temos que respeitar as mães e os bebés, também podemos respeitar as tais pessoas mais conservadoras, pedindo-se alguma discrição no momento em que a mãe retira o soutien e começa a dar de mamar ao filho. Não vejo nisso algum tipo de humilhação. Pelo menos eu, que sempre o fiz, nunca me senti humilhada. Senti-me, isso sim, resguardada no momento a dois com a minha bebé.

PS: Vendo as fotografias que a visada da notícia colocou, parece-me que realmente já estava a ser discreta, não se vê nada com a camisola. Mas pode haver pessoas com outras religiões e culturas que considerem um atentado ao pudor, mesmo assim. Como dizia alguém na página do facebook, e muito bem, importa sempre lembrar que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Para quem vê "House of Cards" (e para quem fuma)

Tenho visto a série House of Cards. E cheguei a uma conclusão (irrelevante para o mundo, mas que quero partilhar na mesma): gostava de gostar de fumar. Passo a explicar. Não fumo. Odeio cheiro a tabaco. Odeio o fumo e toda a neblina que se cria nos sítios em que se fuma. Odeio o vício e a forma como os fumadores se reduzem perante a dependência do tabaco. Não fumo nem hei-de fumar. Mas, se fumasse, gostaria que fosse como, nesta série, o casal principal faz todos os dias à noite (depois de engendrarem os mais maquiavélicos planos): seria um cigarro fumado a dois, um cigarro partilhado, ambos encostados no parapeito na janela, fumando à vez, enquanto conversam. Se fumasse, seria assim, "um pensativo cigarro", como dizia o nosso Eça de Queirós. Gosto do conceito do casal a conversar, no final do dia, a partilhar aquele prazer, aquele pequeno vício, com estilo e descontração. Quem não fuma, nunca terá exatamente esse momento, pois não?... Não é por acaso que nunca um Eça de Queirós escreveu ou nenhum argumentista fez séries em que as personagens principais bebem um "pensativo sumo de laranja", cheios de estilo, no final do dia, ou comem uma "pensativa tablete de chocolate" com todo o glamour. As personagens principais de livros, séries ou filmes bebem álcool ou fumam, no final do dia. Nunca vou passar de uma personagem secundária, está visto.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

BoyHood - ou as mulheres bonitas demais

Tinha um amigo que era apaixonado por uma amiga nossa em comum (entretanto lembrei-me que até já contei essa história aqui). A nossa amiga em comum, verdade seja dita, era (é) uma das mulheres mais bonitas que conheço. Cara muito simétrica, olhos separados um do outro com a distância correta, muito grandes e expressivos, pele impecável, dentes de anúncio, sorriso rasgado, pele de porcelana, cabelos fortes e brilhantes, alta, magra, sempre muito bem vestida e com uma voz muito suave. O meu amigo era completamente apaixonado por ela e estava sempre a repetir o perfeita que ela era. Foi apaixonado por ela muito e muito tempo. Até que um dia me disse que tinha conhecido outra rapariga e que tinha começado a namorar. Tivemos um diálogo parecido com este:
- Então não eras apaixonado pela...?
- Era. Ela é perfeita.
- Pois.. e nem sequer fazes nada quanto a isso? Vais deixá-la escapar?
- Vou. Ela é perfeita, é uma mulher lindíssima, mas nunca conseguiria namorar com ela. Cansava-me. Prefiro mulheres menos perfeitas. Há mais surpresa. Não cansam tanto.

Quando, no sábado, comecei a ver o novo filme do Richard Linklater, "Boyhood", comecei a ver com a expectativa de estar prestes a ver um dos melhores filmes dos últimos anos. Não só é ele o realizador de uma das minhas trilogias preferidas - os "Antes" -, como também a ideia por trás da história e todas as críticas que já tinha lido elevavam as minhas expectativas para os píncaros. Sim, estava certamente perante uma obra-prima, com uma ideia nunca antes vista de gravar cenas durante 12 anos para os atores acompanharem verdadeiramente o crescimento das suas personagens na ficção. No entanto, quarenta minutos depois de começar a ver a obra-prima, já eu dormia enquanto os anos da história (e os longos minutos do filme) passavam. Continuei a ver o filme no dia a seguir. Vi até ao fim, mas tive que me esforçar por não adormecer outra vez. Eu sei que tenho uma filha que não me deixa dormir e que pode ter sido isso a justificar o meu desinteresse pelo filme, mas não consigo deixar de comparar o filme à mulher perfeita do meu amigo. O filme é um espetáculo visual. É mesmo. Ver os anos da história a passarem, e os atores a mudarem também, é de mestre. Sem dúvida. Mas é só isso. O filme é uma mulher bonita, simétrica e esteticamente perfeita mas desinteressante, no sentido em que a ideia por trás dele é tão boa, que nem parece ter havido grande esforço extra para tornar a história profunda. Algo do estilo "a ideia é boa que nem temos que nos esforçar".

A ideia é realmente ótima, mas a história não tem profundidade, não nos desperta emoções, não nos faz rir ou chorar, não mexe connosco. Gostamos de olhar. É maravilhoso ver, de quinze em quinze minutos, as personagens a tornarem-se mais velhas e assistir ao crescimentos dos atores. É maravilhoso sentir que somos espectadores convidados da vida alheia e que podemos acelerar o tempo alheio, como se fôssemos pequenos deuses. Mas é só isso. Não mais. Os diálogos não são tão complexos como seria de esperar. A música não é tão boa como podia ser. Mesmo os atores parecem estar só a meio gás. Sim, o filme é maravilho. Mas, tal como a seguir o meu amigo escolheu a mais feia, também nós vamos preferir outros filmes, porque, mesmo com mil defeitos, têm mais interesse e piada. No caso do filme, continuo a preferir os "Antes", com todas as suas imperfeições. Pelo menos, fizeram-me sonhar. Este filme apenas me deu sono (o que também permite sonhar, mas não, não é a mesma coisa)...

Somos todos feitos de hormonas

Hoje está tudo igual a ontem e, no entanto, acordei bem-disposta e otimista - como acordo sempre, aliás. Não costumo recorrer a citações, mas gosto muito duma frase que atribuem a Churchill: "Sou um otimista. Não me adianta muito ser outra coisa". Basicamente isto resume a minha maneira de estar: acredito sempre que vai correr tudo bem, não tenho grandes angústias e raros temas me tiram o sono. Sou uma otimista. À exceção dos dias em que sou atacada pelas malandras das hormonas. Torno-me outra pessoa. Completamente. E o pior é que tenho noção disso, mas não consigo deixar de me sentir assim. E nesses dias compreendo as pessoas pessimistas e mais tristes. Compreendo mesmo. Somos mesmo feitos de hormonas, não é? A tristeza e a nostalgia repentinas, a necessidade de mimo. Um turbilhão de sentimentos a aparecerem de 28 em 28 dias, sensivelmente. Não tinha saudades nenhumas disto (quando estamos a amamentar, os ciclos passam-nos ao lado). E imagino que seja estranho para um homem compreender estes dias - "Então ontem estavas bem e hoje já estás insatisfeita com tudo?". Mas também eles funcionam à base de hormonas, seja quando veem um jogo de futebol e se exaltam, seja quando conduzem, seja quando veem uma mini-saia... Afinal de contas, somos todos hormonas, mas as nossas pedem atenção e as deles reclamam por necessidade de se afirmar, certo? Menos mal... Que se afirmem dando-nos atenção. Sempre se torna um mundo melhor e mais equilibrado. ;)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Os dias NÃO

Há dias maus. Há dias em que estamos mais cansados. Dias em que estamos ensonados. Dias em que estamos mais sensíveis. Dias em que estamos mais irritados. Dias em que estamos mais esfomeados. Dias em que estamos mais mimados. Dias em que estamos mais tristes. Hoje estou um bocado de tudo, com destaque para o último ponto: uma tristeza gigante e ainda por cima insustentável. Já dei por mim a olhar para tudo objetivamente e a pensar "está tudo igual a ontem, porque é que ontem isso era ótimo e hoje já não chega?". Hoje acordei assim: mais sensível, com vontade de ouvir só músicas lamechas e afundar a minha própria tristeza em bolachas, e chocolate, e mimo, e séries, e mimo.
...
O que me leva a concluir, que, um ano e meio depois, parece que algo chamado "TPM" me veio visitar outra vez. Não tinha saudades nenhumas disto.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Este país não é para cardíacos

Um ex Primeiro-Ministro preso preventivamente.
Um Diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras detido.
Um Presidente do Instituto de Registos e Notariado idem.
E agora temos um ex Presidente da República, com 89 anos, e que já foi apanhado a 199kms/hora (aqui a notícia), ainda que conduzido pelo seu motorista, a gritar a plenos pulmões a quem o quiser ouvir, que foi visitar José Sócrates à prisão em Évora (terá ido também a 199kms/hora) e que todo o Partido Socialista "está contra esta bandalheira", e que se trata tudo de um caso político "orquestrado por malandros" (aqui). Malandros os juízes, os procuradores e toda a Justiça, certo? Esses são os malandros, que atuam sem escrúpulos contra os outros, inocentes e pobres vítimas. Ok...

Mas está tudo doido? Nem na Casa dos Segredos há tanta emoção. Será que estamos a precisar duma Voz ou duma Teresa Guilherme para por ordem nisto? Aliás... acabou de me ocorrer uma ideia: que tal colocá-los a todos na Casa dos Segredos para os podermos vigiar 24 horas por dia? Pomos umas miúdas giras em bikini para animar as coisas, uns livros de Filosofia e Autobiografias políticas, uns vistos dourados, uns chineses, e até uma pista de karting para o motorista do Mário Soares e do José Sócrates se entreterem. Temos programa de sucesso? A Endemol que leia isto...

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Mas querem ver...

... Que afinal ninguém gosta de lenços/ capas? Ninguém? Nem as mulheres sequer? Não há um mísero defensor dos mesmos que possa vir aqui alinhar a favor deste manifesto?

De qualquer maneira, afastando agora o assunto "capas", como dizia alguém no Facebook do blog, não são precisas muitas conjugações, originalidade ou complicações para agradar a um homem. Basta usar roupas coladinhas ao corpo.... essas roupas até podem ser péssimas, mas basta serem justas para estar tudo bem. Bem justinhas. Está tudo muito bem.

B-Á-S-I-C-O-S.

Anos de investimento em roupa, a aprimorar os gostos, a espreitar marcas, desfiles e as it-girls para isto.

Básicos.

Não percebo os homens

Estão a ver este lenço/ capa da Zara? (aqui)
É lindo, certo? Estava eu, há dias, a experimentá-lo, em frente ao espelho da loja, a apreciá-lo nos vários ângulos, cada vez mais convencida que era macio, prático, que adorava as cores e que ia mesmo comprá-lo... Ao meu lado, ele olhava-me em silêncio. Pensei que vivíamos um momento de sintonia. Arrisquei:
- É, não é...? (..."lindo", dizia eu nas entrelinhas)
- É.
Mais um momento de silenciosa sintonia. Eu já estava convencida: ia mesmo comprá-lo.
Até que ele decidiu acrescentar:
- É... parece mesmo um cobertor. Não sei em que momento é que as mulheres passaram a achar que usar isso lhes ficava bem.

Ao fim de tantos anos e ainda não o percebo. Acabei por não comprar, mas ainda hei-de voltar à loja. E vou usá-lo muitas e muitas vezes. Gostos não se discutem. Está certo. Mas educam-se. Quero acreditar que sim.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Não tenho uma profissão com glamour

Hoje, à hora de almoço, fui fazer uma massagem. Uma das que recebi no voucher e cuja história contei aqui. E, enquanto, as minhas costas eram completamente massacradas (quem me mandou dizer que não estava a doer e que podia fazer com mais força?), dei por mim a pensar num tema relevante para o mundo e que me parece que ninguém está a dar a atenção devida: "o que contará um massagista à cara-metade no final do dia?". Falará do tipo de costas que tocou? Dos tipos de pele, mais ou menos macias? Descreverá o tipo de pessoas que massajou, mais ou menos sensíveis? De qualquer maneira, é algo que qualquer pessoa, tenha a formação profissional que tiver, compreenderá, certo? Pois... Uma decoradora igual. Um professor. Um jornalista. Até um arquiteto ou um engenheiro, imagino eu... São profissões que, mesmo que sejam complexas, passam por atividades relativamente fáceis de explicar e "palpáveis". Eu? Eu chego a casa, no final do dia, e sinto que tudo o que conto é chinês. Tento descomplicar. Tento contar de forma interessante. Tento contar só os pormenores que me parecem engraçados. Mas percebo sempre que continua a compreender o que faço tanto como os chineses nos compreendem nos restaurantes.

Ora, como perto de onde trabalho há um consultório dum psiquiatra, criei uma espécie de alter ego que uso quando estou sem vontade de falar do meu dia: sou uma rececionista muito ocupada e dedicada ao trabalho.
- Então como é que foi o teu dia?
- Ai nem digas nada! Hoje o Doutor teve um paciente que veio sem marcação no fim do dia e esteve lá mais duma hora. Já está em tratamento há três anos, mas agora teve uma recaída. Nem parecia o mesmo, estava mesmo perturbado! Tive pena do Doutor!
ou
- Estive a ligar para uns pacientes que não pagaram ainda. Isto está complicado, o Doutor facilita os pagamentos, porque já os conhece há muitos anos, mas eles depois não pagam e eu é que me chateio.

A verdade é que o meu alter ego tem um quotidiano bem mais fácil de explicar que o meu. Um dia destes crio outro alter ego relações públicas. E depois outro jornalista de famosos. E hei-de ter mil e uma histórias interessantes e cheias de glamour para contar no final do dia.

A minha família é cigana

Ontem tivemos jantar de família em casa. A dada altura, fui ao quarto buscar qualquer coisa que lá tinha deixado e, quando voltava para a sala de jantar, reparei no barulho ensurdecedor que ali estava. Parei à porta. Olhei lá para dentro e estava a Constança aos gritos e risinhos histéricos "báaaa!!" enquanto o meu pai a chamava e ria, a minha irmã dava gargalhadas e a chamava também, na televisão alguém falava sobre algum assunto a que ninguém dava importância, e a minha mãe perguntava qualquer coisa, recebendo duas ou três respostas em simultâneo. Olhei lá para dentro e tentei ver e ouvir aquilo tudo pelos olhos da minha filha: numa casa que costuma ser relativamente calma, só com os pais (que até falam baixo), ter, de repente, tanta gente, e a falar alto e ao mesmo tempo, devia ser estranho. E cansativo, pensei. É que parecia uma família de ciganos: não sendo muitos, pareciam multiplicar-se, faladores, barulhentos e sempre em movimento! Pensei "esta noite ninguém a vai acalmar!" e voltei para o jantar. Eu estou habituada à minha família e à intensidade dela, mas pensei que para a bebé seria cansativo tanta animação.

Escusado será dizer que me enganei redondamente. Pela primeira vez em duas semanas a minha filha adormeceu a horas decentes. Festa. Esta miúda quer é festa e animação, está explicado. Mas realmente só tem a quem sair.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

E saudades de estar grávida?

Já me perguntaram mais de uma vez: "E saudades de estar grávida? Não tens?". Não tenho. Não tenho mesmo. Adorei estar grávida. Adorei cada sensação nova. Cada pontapé. Adorei sentir que estava sempre acompanhada dia e noite, que tinha alguém a crescer dentro de mim e cujo coração batia em sintonia com o meu. Mas foi, em simultâneo (e ironicamente), uma das fases mais solitárias da minha vida. Tive que passar os nove meses a trabalhar longe de tudo e de todos. Com horários loucos. Com viagens, e viagens, e viagens. Com muitos almoços e jantares sozinha, só eu, a Malti e aquela bebé que estava separada por nós por uma ténue cortina de líquido amniótico e pele. Com viagens ao supermercado sozinha, a trazer garrafões e pacotes de leite a passo rápido, com o casaco a disfarçar a barriga, para não virem logo dez pessoas a oferecer ajuda - eu não queria ajuda, estava cheia de genica e força, obrigada! Sim, eu estava cheia de genica, e força, e otimismo e calma, mas sempre vi a gravidez como um meio para atingir um fim: a minha bebé. Adorei estar grávida, mas cada dia era passado apenas na expectativa de conhecer a minha bebé desejada. Para mim estar grávida foi como um 23 de dezembro: estamos felizes, mas queremos é o NATAL, certo?

Por isso, não, não tenho saudades. Quero muito voltar a engravidar (daqui a uns anos, não para já). Quero muito voltar a ter uma gravidez santa como tive. Mas olho para trás e só penso que, numa próxima gravidez, quero viver tudo de outra forma. Sim, tudo se arranja. Tudo é possível. Eu sobrevivi a uma gravidez assim, maluca e cheia de trabalho, e maioritariamente sozinha. Muitas mulheres sobrevivem. Mas agora que vejo tudo à distância, vejo que só há uma explicação: o que tem que ser tem muita força. Só consegui, porque teve mesmo que ser assim. Tive que ser forte. Tive que tornar-me forte. E tenho orgulho do que consegui fazer. Mas nunca, nunca mais quero ter que passar pelo mesmo. E não desejo o mesmo a nenhuma grávida: a gravidez é para viverem com os vossos maridos e namorados. Se não puderem, saibam que se sobrevive. Eu sobrevivi. Mas para a próxima façam por mudar e vivam a fase mais bonita da vossa vida junto de quem é vos é mais especial. É assim que quero viver a próxima: com todo o mimo, carinho e atenção a que uma grávida tem direito. E tenho a certeza que, aí sim, ficarei com saudades de estar grávida.

Onde estavas na madrugada de 22 de novembro?

...A acalmar a fera, que continuava a chorar como gente grande.

Sexta-feira, uma e meia da manhã, e eu já estava com olheiras até ao chão.
Já tinha experimentado todo o meu repertório de músicas infantis, tinha feito uma breve incursão ao fado (Amália, espero que não estejas a dar voltas na campa por minha causa!), às músicas que me lembrava da catequese, e acabei, como sempre, a inventar músicas e letras sobre os mais variados temas. Sim, chega uma hora em que vale tudo!
Já tinha experimentado embalá-la.
Já tinha experimentado dar mais e mais leite ("terás fome?").
Já tinha experimentado trocar de fralda e de roupa ("estarás incomodada com alguma coisa?").
Já tinha experimentado deitá-la na cama e deixá-la ficar até adormecer ("vou educar-te, minha menina! isto não é só mimo!!").
Já tinha experimentado tirá-la da cama e dar mimo, em modo completamente bipolar ("coitadinha, pronto, anda cá, não estava a falar a sério").
Já tinha experimentado conversar com ela de forma adulta e explicar-lhe porque é que não era razoável continuar acordada, com toda a argumentação possível e imaginária.
Já tinha experimentado cantar mais.
E tinha voltado a apelar-lhe à razão ("não achas que já devias dormir? é tarde e tens seis meses apenas... não são horas de estar acordada. guarda essa vontade para quando fores adolescente e quiseres sair à noite. ou para quando fores adulta e tiveres prazos no trabalho para cumprir...")
Estava K.O.!

Até que liguei a televisão e comecei a assistir às notícias: "José Sócrates detido". "Como???".
Não queria acreditar. E ali fiquei a ouvir as notícias. E a acreditar que, afinal, não vivemos num país em que a chico-espertice vinga sempre. A acreditar que, afinal, não vivemos num país em que o excesso de formalismo se sobrepõe sempre ao que está materialmente errado. A semana passada foi histórica. Digam o que disserem, tenham todos os processos ("golden visa", Sócrates, etc) o desfecho que tiverem, e tendo sempre presente a presunção de inocência, a verdade é que nunca mais nada será como dantes.

A semana passada foi histórica. E a madrugada de 22 de novembro foi apenas o culminar de uma nova era. Não se trata só de ser quem é, de se gostar ou não da pessoa em causa. Mas trata-se, sendo quem é e quem foi, de tudo o que isso significa: 1- Ninguém está (realmente) acima da lei; 2- A justiça pode ser praticamente invisível, pode ser lenta e pode ser demasiado formalista. Mas trabalha. E não dorme; 3- O crime não pode compensar. Seja praticado por quem for.

Fiquei colada à televisão, calma e expectante, a tentar perceber tudo o que estava a acontecer. Escusado será dizer que olhei para baixo e vi que a fera estava adormecida. Adormeceu em dois minutos.

Onde é que eu estava na madrugada de 22 de novembro? Em casa, com o meu animal feroz adormecido nos braços, numa perfeita analogia com o que estava a acontecer lá fora.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O Linkedin é o novo Hi5

Tenho uma dúvida (além de saber como é que consigo por a louca da minha filha a dormir antes das 4h da manhã, mas não vos quero maçar mais com isso): quando é que o Linkedin se tornou no novo Hi5? Sim, Hi5. É que nem se tornou Facebook, tornou-se mesmo no velhinho e nostálgico Hi5!

Passo a explicar: primeiro, é possível, no Linkedin, ver quem andou a espreitar o nosso perfil. Lembram-se de essa funcionalidade existir no Hi5? Íamos "cuscar" alguém, essa pessoa sabia que tinha sido "cuscada" e, às vezes, até era assim que começava uma bela história de amor. Ou apenas um engate. Mas começava qualquer coisa. Pois no Linkedin também é possível saber quem nos foi sorrateiramente ver. Mais: não só é possível saber quem nos viu, como essa informação é-nos impingida via email. Semanal ou bissemanalmente recebemos algo do estilo: "Olá! Estas são as pessoas que te andaram a espreitar esta semana" e o email é ilustrado com os sorridentes e sorrateiros curiosos. Assim, ficamos a saber que a namorada do teu ex está muito preocupada com o teu percurso profissional; ficamos a saber que aquele teu colega do 6.º ano, que pouco falava nas aulas, ainda se lembra de ti; ficamos a saber que os jogadores de futebol de determinado clube se preocupam também em expandir a sua rede de contactos profissionais; e ficamos também a saber que o carteiro que te costuma dar os avisos de receção para assinar também andou à tua procura (sim, leram bem). Isto é ou não é igualzinho ao que tínhamos no defunto (a Internet o tenha em paz!) Hi5?

Em segundo lugar, há o tema "definições de privacidade", que muito deixam a desejar, tal como no longínquo Hi5. Aqui, toda a gente pode ver toda a gente e ficar a saber, basicamente, o que toda a gente andou a fazer desde que nasceu, desde qual foi a creche, qual foi o infantário, se tocou violino ou ferrinhos, se fala Mandarim ou Russo, se domina o Excel ou o PowerPoint,... No fundo, é até um Hi5 mais requintado, em que, em vez das músicas ou dos filmes preferidos, se apresentam os mais variados "skills" (sim, sempre em inglês) numa espécie de Cinderella moderna, que já não se limita a limpar o chão e a passar a ferro - também faz o curso de formação para formadores à noite.

Por fim, outra funcionalidade do Linkedin que parece trazer de volta o Hi5 são as mensagens e até os "gostos" - "o não-sei-das-quantas-que-nunca-te-viu-mais-gorda-mas-que-é-teu-contacto-no-Linkedin gostou que tivesses celebrado 5 anos no teu emprego!". O Hi5 era uma introdução ao engate virtual, digamos assim. Pela primeira vez, homens e mulheres eram colocados em frente a um computador e podiam ver fotografias públicas uns dos outros, escrever no mural uns dos outros, etc. Como introdução ao engate que era, a coisa acabou a descontrolar-se um bocado, tornando-se praticamente um safari virtual, onde se tentava caçar a melhor presa ou ser caçado. Depois veio o mais contido Facebook, que, de certa forma, se situa no nível intermédio de engate virtual, e o safari foi controlado. Agora o Linkedin parece-me a mim que também peca por ser a primeira rede social profissional. Mais uma vez, estamos ainda no nível de introdução ao "networking", pelo que as coisas começam novamente a descontrolar-se. Primeiro, só se adicionavam pessoas da mesma área profissional. Depois, começou a adicionar-se um pouco de tudo e a mandar-se mensagem privada a disponibilizar os serviços (profissionais, claro). Ao mesmo tempo, os recrutadores estão por todo o lado e são mais que as mães, sempre a mandar mensagens e a pedir o número de telefone "para conversar sobre uma nova oportunidade profissional". Sim, o Linkedin está a tornar-se o novo safari virtual: nalguns casos, a caça até é realmente pelo melhor profissional (e, nesse aspeto, bendito seja, tem realmente esse mérito!), mas noutros casos, a verdade é que a profissão já se tornou completamente secundária ou, pelo menos, apenas serve para conferir algum "pedigree" à presa.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

E a loucura continua

Esta noite tudo se repetiu: os gritinhos, os risos, os pontapés no ar, o contorcer-se toda, o choro depois,... Até quase às cinco da manhã. Eu estava desesperada e fiz tudo o que vem nos manuais. Sim, fiz literalmente tudo o que vem nos manuais, porque tenho dois livros só sobre o sono dos bebés e ia lendo enquanto a tentava adormecer. Parecia tortura de sono. Lá acabou por adormecer nem sei como. Eu, algures entre as 23h e as 5h, cheguei a dar dois berros, tal era o desespero, e acabei por adormecer também exausta. Exausta como se tivesse passado um camião por cima de mim. Hoje estou com o coração na garganta, a bater loucamente, o estômago parece apertado e até tremo. É tortura. A sério. Tortura do pior que há. Por isso, se quiserem alugar uma bebé louca para enlouquecer os vossos piores inimigos, falem comigo. Podemos chegar a um acordo simpático. Entre as 23h e as 5h da manhã, é toda vossa.

Hoje de manhã, depois da noite que tivemos, dormi até ao limite do tempo, sempre a carregar no despertador para adiar. Lá saltei finalmente da cama, despachei-me o mais que pude, e saí de casa sem tomar o pequeno-almoço - algo que só faço mesmo quando estou atrasada. Passei então num cafezinho simpático onde passo às vezes, para ver se comprava uma sandes de fiambre. Fui barrada à porta:
- Saia, menina, saia.
- Desculpe?
- Menina, não pode entrar.
- Que se passa?
- Estamos a realizar um simulacro.
E é isto. Já não bastou a minha noite ser um terramoto de choros e gritos, ainda me havia de calhar o único café que conheço que faz simulacros. Às nove da manhã. Este dia só pode realmente melhorar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Saiu-me uma filha louca

A Cookie é uma bebé mesmo bonita. Pele de porcelana, que apetece tocar e fazer festinhas. Um cheirinho que apetece snifar a toda a hora. Uma boquinha que parece um coração. Uns olhos que parecem dois peixinhos rasgados, cheios de pestaninhas muito enroladas, e que são a coisa mais meiga do mundo. Um sorriso que me derrete. Desde há duas ou três semanas que diz "babá", "papá", continua sem esquecer o "ruiii" e há dias até lhe saiu um "ouáa" que tive a certeza que seria um "olá". O "mamã" está mais difícil, mas perdoo-lhe. Parece-me realmente mais difícil de pronunciar. A Cookie é uma bebé linda. Sou suspeita, sou mãe e, por muito que diga "aii, se fosse feia, admitia", continuo e continuarei a ser sempre suspeita. Eu sei. Vocês sabem. Mas a minha filha é também louca. E mesmo mãe, mesmo suspeita, sei-o e tenho que o admitir. É completamente louca. Para o bom e para o mau. Ri-se muito, pede brincadeira, tem que estar constantemente a ser estimulada com conversa, brinquedos e canções ou entedia-se facilmente e dá gritinhos. Isto de dia até engraçado. Mas quando é meia-noite... Uma da manhã... Quando são duas... Três.... É de loucos! Ontem, eram três e meia da manhã e ela continuava a rir-se, a espernear, a agarrar-me o cabelo, a contorcer-se e a tentar pôr-se a pé, com o corpo completamente duro como uma pedra. Repito: às três e meia da manhã! Desde as onze que estava assim. Estávamos a ficar loucos. Deitava-a na cama e gritava, estendia os braços como a pedir colo, chorava, deitava lágrimas que era uma coisa de partir o coração. Tentava ignorar. Continuava naquele filme. Tentava cantar-lhe. Contar histórias. Pegava nela. Embalava-a. Dava outra vez de mamar para ver se seria fome. Nada! Parecia possuída pelo diabo! Só queria festa. Nós íamo-nos revezando, mas já estávamos a ficar sem paciência para tanta agitação. A dada altura, ele pega nela, com cara de poucos amigos e diz-me, todo mal-disposto "Neste momento, preferia que ela fosse mais feia desde que fosse mais calma também! Juro: é realmente bonita, mas trocava parte da beleza dela por isso, para me deixar dormir!". Eu ia começar a acenar que sim, que sim, que também trocava, também já estava por tudo. Nisto, ela olha para um e para outro, dá o riso mais rasgado de sempre - juro que é a pessoa desdentada com o sorriso mais bonito que conheço -, com aqueles olhos que parecem dois peixinhos, cheios de pestanas enroladinhas, e sai-lhe um "babá!" que soou a coisinha mais querida de sempre, e que, no meio de todo aquele sono e stress acumulado, me soou a "papá" e "mamã" tudo junto.

Corrigi muito rapidamente, a olhar para cima, não fosse o nosso pedido já estar a ser processado, algures lá em cima: "Não trocamos nada, pois não? Queremos que continue a ser assim louca. Queremos, não queremos?". Fazem-se pedidos muito estranhos às três e meia da manhã.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ideias de presentes para a melhor amiga

Como o prometido é devido, aqui estão algumas ideias de presentes originais para a melhor amiga. Espero que gostem! Quanto a mim, adoraria receber qualquer um deles...

1. Um bloco de notas ou uma agenda personalizada. Ando apaixonada pelas da Smythson e têm a vantagem de dar para escrever o que quisermos na capa, com a cor que mais gostarmos até "x" caracteres. Se preferirem as Moleskine, no site da marca também dá para fazer algo semelhante, mas ainda não me aventurei. Alguns exemplos de blocos de notas da Smythson já pré-definidos:

"Make it happen". Porque é o que desejamos para as nossas amigas, certo? Desejamos que concretizem os sonhos.
E vamos estar sempre por perto para ajudar. Podem encontrar aqui.

"Busy Bee", para aquelas amigas que não param um segundo e estão sempre envolvidas em mil projetos em simultâneo.
Encontrei aqui.
 2. Uma capa também personalizável, mas com as iniciais da vossa amiga, bem quentinha, na moda e gira que se farta. E ainda por cima muito inspirada na capa da Burberry por que andei a suspirar aqui há tempos. Sim, porque quem não pode caçar com cão, pega no gato e vai na mesma à caça, não é? São lindas lindas. E agora a marca tem também chapéus personalizáveis, para quem quiser impedir irmãos ou namorados de roubarem o chapéu, com o pretexto de que é unissexo. Aqui está a publicidade à capa:

3. Um livro de viagens com uma dedicatória a dizer algo como "para ires escolhendo a nossa próxima viagem". Adorei estes do New York Times com ideias para viagens com a duração de 36 horas, inspirados na rubrica com o mesmo nome. Tanto adorei que vou encomendar para mim também. :)

(Continua....)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Ideias de presentes

Tenho reparado que, mês após mês, um dos posts mais lidos aqui no blog continua a ser este que fiz há mais de um ano com ideias de presentes para os namorados, maridos ou para aqueles amigos especiais que queremos surpreender. Como sei que eu própria vou tendo cada vez mais dificuldade em ter ideias novas e vibrantes, e acabo também a pesquisar constantemente, por essa internet fora, por presentes originais e que não sejam mais do mesmo, e como o Natal se aproxima, estou a preparar alguns posts com ideias de presentes que vou apontando e que me parecem adequadas para pais, mães, irmãos, amigos ou para aquela pessoa especial. Nada de coisas caras e que custem os olhos da cara - até porque os olhos da cara dão sempre jeito para ver a reação de quem recebe -, mas sim ideias supostamente originais e, de preferência, com algum significado. Espero que gostem!

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Fora com os pelos

Queridos amigos! Lembram-se dum certo post, escrito no belíssimo ano de 2013, em pleno verão, em que vos pedia ajuda para encontrar um novo sítio onde fazer depilação definitiva, mas daquela realmente definitiva? Pois bem... Nessa altura, tive muitas respostas e emails de pessoas simpáticas e fofinhas que se disponibilizaram logo a ajudar-me nesta luta desigual contra os malvados dos pelos (obrigada!!). E eu li tudo. E dei graças por ter uns leitores tão espetaculares. E decidi então começar imediatamente a minha luta... não fosse a vida dar muitas voltas e eu descobrir, pouco depois, que estava grávida. Pois é... E grávida não pode andar a levar com laser.

Assim sendo, tive que adiar o meu desejo por um ano e decidi retomar agora a luta, já que no inverno não apanho sol e é a altura ideal para se fazer depilação a laser. A minha dermatologista tinha-me aconselhado especificamente o Laser "Alexandrite" e lembrava-me de ter lido opiniões muito positivas sobre os resultados do mesmo, nomeadamente no blog da Maçã - que falou muito bem deste sítio em particular. Assim, como é no Porto que tenho andado novamente, foi aqui que decidi ir há duas semanas e aproveitar a promoção. É muito cedo para dizer se há resultados. É muito cedo para contar que esta (peluda) história teve final feliz. Mas como gostei muito do atendimento e encontrei um sítio que me parece de confiança - e que até está com promoções -, aproveito para partilhar com vocês esta descoberta. Eles não fazem ideia quem eu sou ou que tenho um blog, fui lá como feliz anónima e sem qualquer "patrocínio", por isso, é uma opinião totalmente desinteressada e isenta. Se forem, espero apenas que gostem também! E que seja um investimento realmente definitivo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Não é legionella, mas parece

Comecei eu: uns espirros primeiro, dores de cabeça depois, até que vieram também as dores de garganta e muita tosse. Para piorar tudo, uns arrepios de frio a dar também um ar da sua graça e umas tonturas do mais incómodo possível, que me fizeram ver tudo a andar à roda como se estivesse com a maior ressaca do mundo. Depois, foi a vez da Cookie começar a espirrar, a tossir e a resmungar como se estivesse doentinha também. Por fim, a ama ficou com os mesmos sintomas e acabámos por ter que deixar a bebé com os avós durante uns dias, para a ama melhorar. Não sei o que se passa por estes lados... Não vivemos em Vila Franca de Xira, por isso, não deve ser Legionella. Mas que é uma bicheza qualquer e forte, lá isso é!

Assim, nos últimos dias andei a tentar fazer como mandam as regras dos nossos avós - um "abafa-te, abifa-te e avinha-te" versão "mantas no sofá, sopas de legumes e chazinhos". E já estamos melhores, finalmente... Quanto à bebé, o kit luta-contra-o-frio-e-bichezas foi este, que é tão fofinho, tão fofinho ao toque que só me apetecia que fizessem camisolas iguais para o meu tamanho (juro que é tão fofinho que parece resultar do cruzamento entre uma ovelha e um algodão doce!):

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Quem quer uma cinturinha de vespa?

...Todas as mulheres deste planeta, acho eu. Exceto quando estamos grávidas, claro.

Aqui estão os tais alimentos que alegadamente ajudam a reduzir o perímetro abdominal. Se tiverem outros alimentos para acrescentar, se souberem receitas ou até conheçam exercícios milagrosos para ajudar nesta luta, partilhem, por favor! É que entretanto passaram seis meses desde que fui mãe e começo a perder o direito a beneficiar do estatuto de "recém-mamã". Acabaram-se as desculpas para passear alegremente uma barriga gelatinosa e com mais quatro centímetros que antes! Não prometo acabar com o meu vício em doces, mas prometo tentar investir mais nestes alimentos.

 Ora vamos a eles:
-Chá verde,
-Sementes de linhaça,
-Flocos de aveia,
-Peixe rico em ómega 3 (atum, salmão, cavala, sardinha, arenque),
-Vegetais do grupo das brássicas (brócolos, couve flor, repolho, couve de bruxelas, nabo, agrião, rabanete e rúcula).

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Olá, o meu nome é Pippa, e sou viciada

"Acho que não há motivos específicos. Tudo serve como desculpa. Só que há pelo menos uma desculpa diária. Tenho trabalho até tarde e estou debaixo de prazos e stress? Serve como incentivo. Estou feliz? Serve para comemorar. O dia correu mal? É para me animar. O dia correu melhor que nunca? Então venha o prémio. O filme está a ser ótimo? Então serve para acompanhar. Tenho sono? É a desculpa perfeita para me acordar. Estou cansada? Serve para dar energia. Sim, todos os dias há uma desculpa. Todos os dias tenho necessidade de comer algo doce, seja um chocolate, um gelado, um bolo ou bolachas."

Ontem, no ginásio, a queixar-me ao professor que tenho mais 4 centímetros de cintura que há um ano, tudo por ter sido mãe, ele, muito pouco convencido com a minha desculpa, começou a perguntar-me pela minha alimentação. Queria perceber se eu fazia alguma coisa para reduzir o perímetro abdominal, para além de me queixar tanto e de mal colocar os pés lá no ginásio (ainda não comecei a cumprir o treino que me preparou). Quando lhe expliquei que, nos últimos dez, quinze anos, não devo ter passado mais de um dia sem comer um doce, seja ele qual for, estava a ver que ia ser expulsa dali. É uma doença. Só pode ser. A parte menos má é que disse que me ia enviar uma lista de alimentos que ajudam a reduzir o tal malfadado perímetro abdominal, e outros alimentos que são totalmente proibidos. Temo o que lá vá encontrar... Não haverá clínicas de desintoxicação para viciados em doces?

sábado, 1 de novembro de 2014

Come a papa

Afinal, ser queixinhas compensa. Há dias escrevia eu aqui que tenho um homem demasiado prático e pouco romântico. Entre nós há alguns hábitos de cada um que são opostos entre si, e em que raramente estamos em sintonia. Como viram, as massagens ou rituais de beleza são um deles: eu, como qualquer mulher que se preze, adorava poder meter-me numa maca a receber massagens dia sim, dia não. Ele odeia massagens, sabe-se lá porquê. Eu adoro o pequeno-almoço e, se pudesse, todos os dias tinha um daqueles pequenos-almoços que se veem nas telenovelas, com uma mesa cheia de iguarias. Ele dispensa bem o pequeno-almoço e diz que acorda sempre sem fome. De qualquer maneira, tal como a água mole, de tanto bater em pedra dura, a acabou por furar, eu também devo ter furado aquela cabecinha, como uma picareta, de tanto insistir que o pequeno-almoço é "a refeição mais importante do dia" ou "não há nada como acordar ao fim-de-semana e sentarmo-nos a comer calmamente, e mi-mi-mi..."

Há dias experimentei as famosas papas de aveia, inspirada essencialmente na Catarina Beato, que tem o blog mais inspirador que conheço. Mas a verdade é que ficaram feias que doía. Moles, pegajosas, primeiro. Sólidas depois, quando as deixei repousar. Mostrei-lhe, comi-as e nem ousei fotografar. Hoje, tinha uma surpresa quando acordei: um pequeno-almoço na varanda. E daqueles dignos de rainha! Mas o que mais me surpreendeu foi isto que aqui mostro: as tais papas de aveia, que estavam totalmente au point, com pera abacate a acompanhar, receita da Catarina. Juro que ele devia cozinhar sempre em minha vez, pois nasceu para isto. E hei-de elogiar os cozinhados dele até que a voz me doa (ou simplesmente até que ele se atire aos tachos). Hoje o dia começou exatamente como costumo idealizar: sol, varanda, e os dois a começarmos o dia juntos, calmamente a conversar, enquanto a Cookie, ao nosso lado, esperneava no ar e se ria sozinha, e a Malti se espreguiçava ao sol, qual lagarto... Ah e o cheirinho a papas com canela, que recomendo vivamente!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Tenho um homem demasiado prático

Calhou-me na rifa um homem prático, demasiado prático. Depois de eu ter andado meses a insinuar descaradamente que queria uma massagem, em modo crescente – “ai, está-me a doer aqui… aiii, as minhas costas… aiii que me sabia tão bem uma massagem… aiii que me sabia tão bem se alguém me desse umas massagens… ai que me sabia taaaão bem se, no próximo sábado, alguém marcasse uma massagem para os dois… ohh podias ser fofinho e marcar uma massagem!!” –, há dias, ele lá se deve ter fartado de me ouvir, e deu-me um voucher para quatro massagens de uma hora cada. Só para mim. A marcar quando eu quisesse.
- Um voucher?
- Sim. Assim quando te der jeito ligas, marcas e vais lá.
- Oh… Mas a ideia era irmos os dois. A ideia era ser um programa para os dois...
- Pois, mas quem anda com dores eras tu. Eu ando bem das costas, não me queixo. Porque é que havia de marcar também para mim?

Enfim. Não sei se ria com o sentido prático, se lhe bata por ser tão pouco romântico.

domingo, 26 de outubro de 2014

E, ao 162o dia, tudo se desmoronou

O dia até tinha amanhecido promissor. Foi um dia que acordou soalheiro e quente, nada previsível num outubro já adiantado. Um dia daqueles que gritava felicidade. Entre gritos de alegria e pontapés no ar que não davam sinais de irem abrandar vindos da habitante da caminha de grades ali ao lado, decidi pegar na Cookie, mesmo sendo para aí 7 da manhã, e deitá-la na nossa cama. Ali, deitada junto a nós, radiante com a novidade, decidiu surpreender-nos com um espectáculo de viragens para a esquerda, viragens para a direita, pés na boca, pernas no ar, viragens para a esquerda, mais flexões, pontapés aéreos, mais viragens… Eu, deliciada com tal espectáculo, peguei no telemóvel e tirei todas as fotografias que consegui, e todos os vídeos que o espaço do telemóvel me permitiram fazer. Que belo início de dia! Depois daquilo tudo ainda me custou mais pegar nela e devolvê-la à caminha, ir tomar banho e enfrentar o dia de trabalho que tinha pela frente. Tinha que ser… Despedi-me dela, fui trabalhar e passei o dia a mostrar os vídeos e as fotografias, qual mãe babada. Eu sei que gritar e espernear não demonstra propriamente uma inteligência acima da média, mas o que querem? Deve ser algo que nos está nos genes, em estado adormecido, e que é despoletado com a gravidez. E a mesma coisa se passa com o por os pés na boca. Até um macaquinho recém-nascido deve fazer, mas fico estupidamente feliz sempre que vejo a minha filha a repetir essa proeza. :) Passei, assim, o dia completamente babada e bem-disposta.

Só que à noite… À noite o caso mudou de figura. Voltados do trabalho, pusemo-la no sofá, ao nosso lado, na parte da chaise longue (que é bastante larga e comprida), e virámos costas dois segundos, para ir aumentar a temperatura do fogão, onde estava o jantar a ser preparado. Dois segundos. Dois! Dois segundos que foram suficientes para ouvirmos um estrondo. E depois um grito. De dor. De susto. De desespero. Corri para o sofá. Estava estendida no chão, ao lado do sofá, de barriga para cima, vermelha, aos gritos. Sem pensar, agarrei nela e encostei-a a mim. Saí dali, não sei porquê. Fui para o quarto, a tremer, com ela ao colo, no meu peito. Chorava, chorava, chorava muito. E eu a chorar também, a pensar que estava partida. E a tentar apertá-la com força a ver se lhe colava todas as peças. A apertá-la contra mim. Fiquei completamente sem pensar, naquele momento. A minha bebé estava magoada e eu queria consertá-la. Até que ele se aproximou de nós e me disse, calmamente:
- Deixa-me vê-la. Tem calma. Os bebés são de borracha, praticamente. Estão preparados para tudo. Deixa-me vê-la.
E eu a agarrar, a agarrar. Não, eu ia consertá-la. Eu tinha que a consertar. Naquele momento bloqueei e só pensava que nunca mais a iria largar. Até que lá cedi.
- Não tem nada. Foi só um susto.
Mas não era “só” um susto. Eu tinha-a visto estendida no chão, desamparada, aos gritos, a cabeça tão exposta, pele contra a madeira. Eu tinha-a visto assim. E não a tinha conseguido proteger. Voltei a agarrá-la. E continuei ali bloqueada, mais em choque que a própria bebé, que entretanto já se ria, no meu colo apertado... E ainda bem que os opostos se atraem. E ainda bem que os opostos por vezes até se casam e têm filhos, porque naquele momento, entre a pessoa supostamente calma (ali, desesperada) e o supostamente enérgico (ali, mais calmo que nunca), algum equilíbrio se encontrou. E o meu desespero foi balanceado pelo sangue frio dele. Sim, ainda bem que às vezes somos tão opostos assim ao ponto de nos completarmos tão... completamente. E a conclusão foi que nada se partiu. Nada de grave aconteceu. Foi um susto. Ao 162.º dia. Um susto dos grandes. Mas o que é verdade é que todos os bebés caem. E voltam a levantar-se. Dói. Mas dói mais para nós, acho que a dor é essencialmente nossa. A minha filha, ao 162.º dia caiu. E levantou-se. E ao 163.º dia amanheceu novamente feliz. Cheia de risos. E pontapés aéreos. E rodagens para a esquerda. E para a direita. Ao 162.º tudo se desmoronou. Mas que tudo se resolva sempre assim tão rápido...

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O maravilhoso mundo do peso

Como voltei ao ginásio, ontem foi dia da avaliação física. Estava com medo do que ia encontrar, porque olho para o espelho e ainda não me reconheço: a barriga ganha dobras se me dobro, o rabo está mais flácido, as coxas e braços mais largos, a anca mais generosa... É como se o meu antigo Eu tivesse sido engolido por uma massa gelatinosa que teima em não me devolver. Pois então estava eu a explicar ao professor o estado em que se encontrava o meu corpo, quando este me pediu para subir à balança. Lá fui, esperando o pior. Só que... não foi pior nenhum! Estou mais leve dois quilos e meio que há um ano. 2,5kgs a menos! A comer chocolates e bolachas diariamente. A não fazer desporto praticamente nenhum (umas corridas esporádicas, apenas). A ter uma vida mais sedentária que nunca. Fiquei chocada a olhar para a balança, sem querer acreditar... Só que, a seguir, o professor pegou na fita métrica e começou a medir-me. Começou então a triste realidade a dar sinais de vida: mais 2cms aqui, mais 3cms ali, mais 4cms acolá...

Conclusão: estou mais leve, sim, mas também muito mais rechonchudinha. O peso é realmente um número sem o significado que lhe atribuímos! O meu índice de massa muscular está pior que nunca e é nesse que me vou concentrar. Plano para os próximos tempos? Ganhar massa muscular. Não irei tanto focar-me nas corridas, mas mais nas máquinas. É uma seca, mas o professor garantiu-me resultados. Vamos lá ver... Não gosto muito de máquinas, mas vou ter que confiar na palavra do professor. Vou dando notícias deste admirável mundo novo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Tenho em mim todos os sonhos do mundo (em formato Word)

A propósito do Euromilhões e do prémio milionário que estava em jogo ontem (e continua a estar, pelos vistos), comentavam os meus colegas os planos de vida que projetavam caso ganhassem o primeiro prémio. Uns eram perentórios - "não venho mais trabalhar!" -, outros defendiam que iam continuar a fazer uns trabalhos pontuais. Prometiam-se ainda casas e carros para os amigos, contas bancárias recheados para a família, viagens à volta do mundo... E eu fiquei ali a pensar, como fico sempre quando se fala em dinheiro com tantos algarismos, e cheguei a uma conclusão: não tenho um plano concreto, deve ser por isso que o primeiro prémio nunca me saiu. Não tenho um plano. Um grande sonho para concretizar. Logo, não seria justo receber tanto dinheiro, certo? Vai daí, decidi que vou criar um plano. Sim, vou escrever, tintim por tintim, tudo aquilo que quero fazer caso um dia me torne milionária. Vou enumerar os beneficiários. E respetivos prémios. E porquês. Vou criar rotas de viagens de sonho. Vou escolher experiências que gostaria de viver. Bens de consumo. Obras que gostaria de concretizar. Tudo organizado, em formato Word, para quem-quer-que-seja-que-decide-atribuir-o-Euromilhões ver e saber que o prémio fica bem entregue. Um plano. Se tiver um plano, se tiver uma lista de sonhos, é justo que me saia o prémio, não? Vou partilhando com vocês parte da lista. O que fariam vocês com tanto dinheiro?

As pequenas coisas

Há muitos muitos anos, era uma tarde qualquer, dum dia qualquer, e ele disse-me, a seguir a um almoço igual a todos os outros, a mim, jovem adolescente: "Gostas? Se gostas, podes ficar com ele, é para ti". E eu olhei e pensei algo do estilo"gosto mais ou menos, mas é dado, por isso acho que quero", acenei que sim e fiquei com a medalha. "É para usares num colar", acrescentou. Era uma medalha oval, com uma cara duma jovem mulher desenhada. Por trás, tinha um ano - 1984 - e eu fiquei triste por não ser o meu ano de nascimento. Nem o dele. Nem o de ninguém que me lembrasse. A cara da jovem mulher também não era parecida comigo. "Afinal esta medalha não me diz nada", disse para mim mesma. Naquela tarde qualquer, daquele dia qualquer, a seguir àquele almoço igual a todos os outros. E levei a medalha no bolso embora, sem lhe dar grande valor.

Hoje, no final do dia, sozinha no carro, a respirar de alívio pelo fim de mais um dia afogada em trabalho, a sentir-me angustiada e cheia de sentimentos de culpa por não ser uma mãe mais presente, a maldizer a minha vida (não temos todos dias assim?), olhei para baixo e vi algo a brilhar, escondido. Estiquei a mão. Era a medalha. "A" medalha. Nas últimas mudanças de casa deve ter caído ali. "A" medalha. A medalha que o meu avô me deu. Talvez um ano antes de morrer. Deu-me sem motivo nenhum. Apenas porque sim. E deve ter sido dos últimos presentes que me deu. Não era Natal. Não era Páscoa. Não eram os meus anos. Era uma tarde qualquer. Dum dia qualquer. Mas o meu avô era assim: de dias sem datas. De presentes sem porquês. De histórias às vezes sem fim. De expressões em latim. De enigmas. De adivinhas e charadas. De regras. De horários. De piadas. E hoje, tantos e tantos anos desde aquele dia qualquer, recebi um mimo de quem tenho tantas saudades. E olhei para a medalha como que pela primeira vez. E adorei aquela medalha como nunca tinha adorado, com toda a adoração que ela merecia. Mais juros de mora. Até ficarmos quites: eu e a medalha. E apertei-a. Com muita força. Não era uma mão, mas foi como se fosse. Não veio acompanhada de expressões em latim, enigmas, adivinhas, charadas e piadas, mas foi como se fosse. E o final do dia... Dum dia qualquer. Ficou melhor. Muito melhor. As pequenas coisas. Está tudo nas pequenas coisas.

sábado, 18 de outubro de 2014

Como uma criança numa loja de doces

Ando com défice de compras. Muito! Acho que nunca estive tanto tempo sem entrar em lojas. Mas saio quase sempre depois das 20h do trabalho. A hora de almoço só dá para almoçar e matar saudades da minha bebezinha. À noite, igual: janto e mato saudades. Nunca tenho vontade de me meter num shopping - já basta ter que ir ao Pingo Doce ou ao Continente fazer compras para casa. No meio disto tudo, o meu armário nunca esteve tanto tempo sem ser atualizado. Até deve estar a estranhar. Parece que o mito era real: depois se sermos mães, gastamos mais com os filhos que connosco. Só que não é por opção! No meu caso, é mesmo por falta de tempo. Nos tempos livres, vou espreitando os sites e vou-me babando à frente do computador ou do telemóvel. Vou escolhendo as minhas peças preferidas e decidindo o que vou comprar. Só que esse dia - o dia em que compro as tais peças preferidas - nunca chega. No meio disso tudo, quem agradece é a minha conta bancária, que está mais composta. E o homem da casa, que tem mais espaço no armário. Mas até tenho medo do dia em que volte a entrar numa loja... Sim, vou ser como uma criança gulosa a entrar numa loja de doces! E acho que primeiro vou atacar as calças de pele pretas skinny da Zara, que andam debaixo de olho, depois dois vestidos também de lá, depois uma capa que ando a namorar, depois vou à French Connection buscar um vestido lindo por que me apaixonei, depois... Bem, agarrem-me.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Carro 1 - Eu 0

Ando com vontade de mudar de carro. O meu carro tem 9 (!!) anos já, e é de apenas três portas, por isso, não dá o maior jeito do mundo para colocar e tirar o ovo atrás, mesmo com o Isofix. Sempre o adorei, até porque gasta pouco e anda relativamente bem, foi meu companheiro de muitas e muitas viagens e foi também o ouvido atento de muitas e muitas cantorias e conversas. Sim, fomos muito felizes juntos. Só que agora... agora ando com uma vontade enorme de trocar para um carro com cinco portas, mais novo e, de preferência, mais alto.

Sim, ando com vontade de mudar de carro, mas até hoje ainda não tinha dito isto a ninguém. Andava simplesmente a pensar para os meus botões neste assunto. Pois não é que o raio do carro deve ter sentido o meu desprendimento ou as minhas dúvidas e resolveu vingar-se, qual marido enciumado? Primeiro, resolveu fazer birra e ficar sem bateria à porta do meu trabalho, para minha grande vergonha. Fiquei parada no meio da rua, sem poder avançar ou recuar, a cortar completamente o trânsito e vermelha como um tomate. Depois, resolveu auto-mutilar-se para me chamar a atenção. Ao estacionar, eu, que sempre estacionei relativamente bem (modéstia à parte), bati pela primeira vez na vida com o retrovisor numa parede. Agora até tenho medo de entrar no carro. Tenho medo que se tranque comigo lá dentro, para me fazer refletir. Tenho medo que se atire drasticamente comigo para o rio, qual Romeu e Julieta. Já lhe disse que o problema não é ele, sou eu. Sou eu que preciso de mais espaço. Já lhe expliquei que fomos muito felizes juntos e que está na hora de ele ser feliz com outra pessoa que lhe dê o devido valor. Mas ele anda nitidamente revoltado. Sinto uma tensão enorme no ar sempre que entro nele. Se não der mais notícias, já sabem o que aconteceu. Just saying...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A mãe quer socializar

Depois da tentativa frustrada de ir ao cinema ver o "Gone Girl"/ "Em parte incerta" (que, como contei aqui, não consegui ver até ao fim), estou a concentrar todas as minhas forças na próxima semana. Comprei bilhetes para ir ver os "Future Islands" e espero mesmo conseguir ir vê-los. E já agora ficar até ao fim. A verdade é que várias músicas marcaram os nove meses da minha gravidez, mas a "Seasons (Waiting on you)" deles foi uma das que marcou, não só o final da gravidez, mas até o próprio dia do parto. Lembro-me de ouvir aquele refrão e senti-lo como meu. Lembro-me de sentir que o ritmo e a emoção da música eram as minhas: eu estava ansiosa por conhecer aquele pequeno ser que habitava dentro de mim, e parecia estar à espera desde sempre. E, no próprio dia do parto, ouvir uma música quase tão emotiva como eu própria me sentia, ajudou-me a acalmar, como se fosse um bálsamo musical. O resto da letra pode nem ter nada a ver com o dia, mas hei-de sempre ouvir aquele emocionado "I've waiting on you" como um desabafo que, a dada altura, também foi meu. E, para a semana, espero estar lá a cantar e a reviver os nove meses de espera. Há músicas que marcam. Esta será sempre uma delas. E, se for duma banda que até parece valer a pena, melhor.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Como ganhar vontade de matar alguém em cinco minutos

A propósito duma certa série muito boa que andava a ver (que não vos vou dizer qual é, para não vos fazer o mesmo, mas que julgo que já aqui falei), comentava eu com um familiar:
- Estou ansiosa por ver os novos episódios da nova temporada!
- Já acabaste de ver a anterior?
- Não. Guardei os três últimos episódios, para poder ver o fim da temporada anterior e o início da nova tudo seguido, sem esperas nem interrupções de meses.
- Ok. Mas também não perdeste nada.
- Pois, como ainda não vi, não sei. Estive meses a guardar estes episódios para ver agora. Custou a espera, mas assim vai ser mais giro.
- Ok, mas não perdeste mesmo nada. No fim ele morre.

E pronto… Não vou dizer qual era a série, só vos digo que quem ficou com ganas de matar alguém fui eu!

domingo, 12 de outubro de 2014

Balanço dos últimos dias

Os últimos dias foram caóticos: trabalho, muito trabalho e falta de tempo até para almoçar, só deu mesmo para respirar e pouco mais. No fim de tudo, consegui ir dar finalmente dar um corte ao cabelo, já que não ia ao cabeleireiro desde  abril ou maio, nem sei bem... Fui lá com a ideia de acertar o cabelo e manter o comprimento. Mas lembram-se do que aconteceu o ano passado? Repetiu-se. O meu cabeleireiro deve ter uma paixão platónica pela Alexa Chung, porque voltou a fazer-me o mesmo corte de há um ano pelos ombros e franja escadeada, sendo que desta vez acrescentou nuances mais claras.
- Não está muito curto?, pensei em voz alta.
- Tu aguentas este corte, respondeu-me, de forma segura. Seja o que isso quer dizer...
E agora ando aqui a espreitar de vez em quando o meu reflexo no espelho a decidir se o meu cabeleireiro é afinal um génio e adoro o meu cabelo novo, ou se me pôs apenas com ar de parva. Ainda não decidi...

Entretanto, foi ainda dia de pedir aos meus pais que ficassem com a bebé para podermos ir os dois ao cinema. Assim, lá fomos nós ver o "Em parte incerta", cheios de curiosidade face às críticas positivas que temos ouvido. Chegámos, pedimos mega balde de pipocas e sentámo-nos, ansiosos por uma sessão de cinema como não tínhamos há meses e meses. O que achei do filme e do fim?... Não sei dizer. Os meus pais ligaram-me uma hora depois do filme começar a dizer que a bebé não parava de gritar. Acabámos por deixar o filme a meio e ir para casa. Quando chegámos, olhou para nós com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas e suspirou profundamente, como que de alívio. Não sabemos o que aconteceu, porque ela é uma bebé bem-disposta e dá-se bem com toda a gente. Ainda por cima está habituada a estar com os meus pais e nunca estranha nada. Os meus pais são muito meiguinhos com ela e não mereciam tanto choro. De qualquer maneira, fiquei a pensar: será que começa a sentir saudades nossas? Talvez... Ou talvez tenha apenas lido o que escrevi a semana passada, na primeira noite fora, e quis mostrar-me que as saudades eram recíprocas. Vou apostar nesta hipótese.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Vantagens de ter um filho

Hoje de manhã, a conversar com uma pessoa que me dizia que, por ter 37 anos, já não podia ser mãe, dei por mim a enumerar-lhe algumas vantagens muito muito práticas de ter um filho, que com vocês partilho. Quanto à parte do amor que se sente e toda a parte sentimental, julgo que está mais que assente e interiorizada por todos, por isso, passemos à parte do dia-a-dia:

1. Ter um filho ao colo ou no carrinho permite-nos ter prioridade nas filas de supermercado, nos serviços públicos e até nos parques de diversões. E quem não gosta de poder ser atendido mais rápido?

2. Ter um filho permite-nos estacionar nos lugares próprios, nos shoppings, que são sempre lugares bem perto das escadas rolantes, o que nos permite poupar tempo no estacionamento e na viagem a pé.

3. Ter um filho serve de desculpa para praticamente tudo. Podemos chegar tarde ao trabalho, sair mais cedo, faltar, aparecer mal vestidos ("foi o meu filho! Sujou-me a roupa que trazia antes") atrasar-nos no cumprimento de algum prazo ou faltar a algum evento. A culpa é do filho! Nem é preciso explicar muito mais. Ninguém se atreve a contestar.

4. Ter um filho confere algum estatuto. Podemos sempre acabar uma discussão em que o interlocutor é um não-pai, dizendo "Quando fores pai vais perceber!". E não interessa se se está a discutir o aquecimento global, uma nomeação da Casa dos Segredos, as eleições do Brasil ou as próximas tendências do mundo da moda... Esta resposta serve para sustentar qualquer posição dum pai perante um não-pai.

5. Ter um filho evita para todo o sempre o massacre da pergunta "Então para quando um bebé?". Esta parece óbvia, mas só quem passou por isso sabe o alívio que representa nunca mais ter que ouvir esta pergunta.

6. Ter um filho dá sempre tema de conversa em qualquer lado. Não há mais momentos de silêncio desagradável, nem sequer nos elevadores. "Sabem o que é o que meu filho disse hoje?..." e nenhum silêncio constrangedor aguentará.

Fico a aguardar os vossos contributos para aumentar esta lista.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Então e a primeira noite longe?

A fotografia (com cabeça, claro) foi tirada no final da primeira noite longe e enviada aos dois com a mensagem de boa noite. As tecnologias permitem-nos sentir mais perto de quem está do outro lado. Podemos partilhar fotografias em tempo real. Podemos ligar em FaceTime e ver o que o outro está a fazer, mesmo estando a mil quilómetros. As tecnologias encurtam distâncias, é um facto. Mas... o longe continua a ser sempre longe. E nenhuma tecnologia me permitiu dar um beijinho de boa noite à minha filha e adormece-la junto a mim. Por isso, mesmo com toda a tecnologia existente, a minha primeira noite fora sem a bebé foi... terrível.

Já desconfiava, mas as piores previsões confirmaram-se. Desconfio que há algo, depois de se ter um bebé, que muda dentro de nós. Não é só emocional, é físico. Há algo visceral que muda e temo que nunca mais nada vá ser igual. Criei uma vida dentro de mim durante nove meses. Em maio, essa vida ganhou autonomia. Mas, pelos vistos, só aparentemente. Cortaram o cordão umbilical, mas algo ficou. Será que é apenas feitio meu? Será apenas a minha maneira de ser? O que sei é que, quatro meses e meio depois, tinha uma ténue esperança que passar 24 horas longe da minha bebé pudesse ser relativamente fácil. Mas não foi. Nada. Estava longe, mas pensava nela a todo o momento. Falei nela sempre que pude. Fiz tudo o que vem no Manual das Mães Chatas. Mostrei fotos. Mandei mil mensagens para casa ("estás a tratá-la bem??") e recebi respostas à altura ("não, estou há duas horas a bater-lhe com uma vassoura!"). Liguei dez mil vezes. E fui dormir a sentir-me tão sozinha como há muito não acontecia. Deitei-me e tentei não pensar em nada. Só queria adormecer, para o tempo passar mais rápido. Acordei às seis da manhã com uma angústia estranha e nova. Era um tipo de saudades que ainda não conhecia. Quando pude vir embora, meti-me no carro e percorri novamente os quilómetros que me separavam de casa o mais rápido que consegui (a rezar para não apanhar multas no caminho).

Quando voltei a entrar em casa, apenas 24 horas depois de ter saído, parecia que tinha passado uma semana. Passei à frente os beijinhos e perguntei logo pela bebé, tamanha era a ansiedade. Pelos vistos estava no quarto, na caminha. Estava animada e tinha dormido bem. Tinha bebido do biberão sem se queixar. Esperava um cenário mais dramático, mas pelos vistos, a minha filha estava divertida como se nada se tivesse passado. Aproximei-me, com o coração aos saltos. Espreitei por cima das grades. Estava acordada. Cumprimentei-a com um "olá" que me saiu mais estridente e agudo do que queria. Sorriu, a olhar para mim. Rasgou o olhar, com os olhos cheios de brilho. E começou a dar pontapés no ar, em sinal de excitação. Houve umas lagrimitas que quiseram aparecer. Só que não foram dela... Portou-se melhor que eu. Sim, a primeira noite longe foi má. Muito má. Mas para mim. A minha bebé estava feliz como sempre. Sorridente. Aparentemente sem tantas saudades como a mãe chata. Desconfio que estas coisas são sempre piores para nós que para eles. E ainda bem. Que seja sempre assim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O príncipe encantado troca fraldas nos tempos livres

Já se falava nas MILFs, essas mães boazonas que, mesmo com a maternidade, não descuram a forma física, e continuam a fazer suspirar muito homem e a parar o trânsito à sua passagem. Há quem diga que a maternidade opera milagres e que muitas mulheres se tornam ainda mais irresistíveis depois de terem um filho. Ou dois. Ou três. Mas... e a paternidade, conseguirá ter o mesmo efeitos nos homens? A paternidade tornará os homens (ainda) mais irresistíveis? Pelos vistos, a resposta é um redondo SIM. E foi partindo desse pressuposto que alguém resolveu agora (ou terá sido há algum tempo e eu é que andava distraída?) pegar aquele conceito e adaptá-lo ao masculino, criando, assim, os DILFs. Em português, será algo como "Pais com que não me importava de dar umas cambalhotas". E, pelos vistos, serão muitas as mulheres com queda para este tipo de ginástica.

Mas há mais. Pelos vistos, não são só umas cambalhotas que as mulheres desejam dar com estes pais. Pelos vistos, estes pais despertam nas mulheres não só o desejo físico, mas também o desejo de viver uma história de amor. Pelos vistos, estes pais despertam nas mulheres o desejo de romance, de viver a dois uma história de encantar, de viver um amor a sério, como aqueles que existem nos livros. Estes pais são, afinal, tudo aquilo que uma mulher quer. Estes pais são "os príncipes das mães". Quem é o diz é a Sofia Anjos, não sou eu. Mostraram-me este artigo e eu, que já gostava dos textos desta jovem mãe escritora, passei a gostar ainda mais, já que descobri que também eu, mãe recente a viver com um pai recente, vivo afinal com um desses exemplares do príncipe encantado adaptado aos tempos modernos. Que bela notícia para começar o dia!

"DILF é a sigla para Dads I’d like to fuck. Na verdade, pais bonitos, com a barriga no lugar e aquele ar de quem está ocupadíssimo. Homens que se tornam pais e andam por aí a passear com bebés ao colo e a empurrar carrinhos com crianças amorosas. A cuidar delas, atentos, ternurentos. São papás que provocam torcicolos, portanto. Um "fazia-te isto e aquilo" no deserto materno. (…) os DILFS são o prolongamento do príncipe encantado, voilá! As mulheres acreditam mesmo nos contos de fadas ou filmes cor-de-rosa cujas histórias terminam num final feliz com o príncipe a casar-se. E depois? Depois ninguém leu mais nenhum capítulo que mostrasse o príncipe a mudar fraldas. (…) Note-se que gostar de olhar para um DILF é biológico. Ver um homem a cuidar de um bebé ou criança é, biologicamente, irresistível. Portanto, vivam os DILFS que habitam os nossos lares e os lares alheios. Não tanto por partilharem as tarefas domésticas e cuidados com as crianças mas mais porque nos lavam as vistas. E se há mito em que uma mamã precisa de acreditar eternamente é no príncipe encantado."

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Natal é quando uma mulher quiser...

... Fosse assim tão simples e, por mim, o Natal era já hoje.
... Fosse assim tão simples e, por mim, podia receber já esta capa linda linda e personalizável.

(E sei que está um dia quente de Verão, mas o meu instinto consumista acordou hoje em força e não quer saber se são estão 40 graus à sombra...)




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Sou filhodependente

No próximo fim-de-semana vou ser forçada, por motivos profissionais, a dormir longe da minha bebé. Vou ter que ficar num sítio muito giro, é verdade, e com direito a jantar num restaurante que também promete ser ótimo. Mas já ando tão, mas tão angustiada… Vai ser a primeira vez que vou estar tantas horas longe dela. E não queria ser assim. Queria ser forte e independente. Queria confiar que ela fica bem mesmo sem mim. Queria conseguir divertir-me na mesma, longe dela. Mas tornei-me uma mãe filhodependente. Tornei-me uma mãe que liga hora sim, hora não para casa, para a ama, durante a semana, para saber se ela está bem. “Está bem-disposta? Dormiu? Acha que tem fome? Tirei leite de manhã e guardei no frigorífico, viu? Fez cocó?”. Não haverá muito para dizer, mas a ama vai assentindo e respondendo a tudo, dia após dia. A Cookie não escreveu propriamente uma tese de mestrado durante uma manhã. Não correu uma maratona. Não construiu uma casa de três andares com Legos. Os dias dela resumem-se, basicamente, a dormir, descobrir as mãos, mudas de fraldas, tomar leite, babar-se, meter os dedos à boca, rir, chorar, balbuciar uns sons, descobrir novamente as mãos, tocar nos pés (a nova brincadeira), puxar cabelos ou meter coisas à boca como se fosse comer o mundo todo em dois minutos. No entanto, fico maravilhada sempre que oiço um “Sim, está bem-disposta.” Ou “sim, já lhe mudei a fralda novamente”. A minha filha tem a vida mais desinteressante que pode existir. Tem quatro meses de vida, não se pode exigir mais, certo? E, no entanto, não consigo deixar de me deslumbrar de cada vez que, ao chegar a casa, a vejo olhar para as mãos, mais uma vez. Não consigo deixar de me deslumbrar de cada vez que oiço um “rrrrrrrruuuu!!” ou “áaaah” ou “brrrrrr!!”. Não consigo deixar de me deslumbrar quando a oiço dar gargalhadas. Gargalhadas de bebé, esse som feito por anjos. Sim, neste momento, trocava qualquer jantar no melhor restaurante do mundo, trocava qualquer noite no melhor hotel do mundo, só para poder ficar a vê-la. Mais uma vez. E mais uma vez. Sou filhodependente. É oficial.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Qual é o teu partido?

Num fim-de-semana dominado pela política e pelas eleições primárias no Partido Socialista, demos ontem por nós a aproveitar o sono da bebé para discutirmos, em plena viagem de carro, a posição de cada um em diferentes áreas da sociedade e a sua conformidade (ou não) com os princípios do Partido em que costumamos votar.
- Apoio ao desemprego: qual é a tua posição?
- Pensões?
- Aborto?
- Criação de empresas?
- Privatizações...?
Os quilómetros iam passando e nem dávamos por ela. O nosso carro tinha-se transformado numa mini Assembleia da República versão perguntas e respostas rápidas. Foi uma conversa interessante, até porque decorreu sem "googlanços" pelo meio. E foi enriquecedor o exercício de nos (re)conhecermos um ao outro. Hoje, por curiosidade, andei a pesquisar na internet as declarações de princípios dos principais Partidos portugueses para confirmar as ideias que já tínhamos e os argumentos que utilizámos.

No entanto, ocorreu-me que muita gente pode não ter tão presente estas diferenças entre os Partidos ou pode, pura e simplesmente, não saber bem onde se enquadra... Para estes últimos (e mesmo para quem sabe, mas quer confirmar, como eu), encontrei este teste que deve ajudar a dissipar quaisquer dúvidas. Eu já fiz, e a verdade é que o resultado coincidiu com aquele que costuma ser o meu voto. Experimentem! Sei que ainda falta até às próximas eleições, mas mal não fará, certo?...

Os gatos e as vertigens

"Apesar dos seus 18 anos, Jó (João Jesus) é já um rapaz desencantado com a vida. Proveniente de uma família disfuncional, criado com pouco afecto e compreensão, acabou por se deixar influenciar pelas piores companhias do bairro. Rosa (Maria do Céu Guerra), com 73 anos, é uma mulher frágil e bondosa que se debate com a incapacidade de lidar com o recente falecimento de Joaquim (Nicolau Breyner), com quem partilhou quase toda a existência. Quando, depois de uma discussão particularmente violenta, Jó é expulso de casa pelo pai, refugia-se no terraço de Rosa, onde decide passar a noite. Na manhã seguinte, a velha senhora descobre o rapaz e decide acolhê-lo em sua casa. Entre os dois nasce uma enorme cumplicidade que, apesar de incompreendida por todos, se torna a cada dia mais forte e verdadeira… Com realização de António-Pedro Vasconcelos ("Jaime"), uma história incomum sobre o amor e a amizade entre dois seres que, contra todas as probabilidades, se completam nas suas diferenças." (aqui)

Ainda não vi o filme, mas parece ter todos os ingredientes para me conquistar: duas pessoas sozinhas e incompreendidas que se encontram, e se completam e compreendem apesar das suas idades, origens e histórias de vida completamente diferentes. Além do mais, o próprio nome ("Os gatos não têm vertigens") é tão sugestivo... Parece levar-nos de imediato para o universo do Murakami, onde o fantástico e o real se misturam sempre de forma deliciosa. Depois confirmo se o filme é tão bom como fazia crer.

sábado, 27 de setembro de 2014

Viral

Levar com gelo na cabeça. Mudar a fotografia de perfil no facebook para um fundo cor-de-rosa. Partilhar fotografias em bebé. Enumerar livros preferidos. Estes são apenas alguns exemplos de movimentos virais que apareceram nos últimos tempos. As pessoas querem fazer parte do coletivo. Querem ser solidárias. Querem partilhar estados de alma. Querem ser uma peça do puzzle gigante que é o grupo de amigos. As pessoas querem fazer do coletivo, sim. Mas parece-me que querem, essencialmente, sentir que estão a fazer a mudança e que podem ajudar os outros. Basta dizer-lhes como. Só espero que quem ganhe com isto seja quem realmente precisa. E espero ainda mais que quem realmente precisa saiba aproveitar rapidamente esta onda. Antes que passe. Antes que tudo deixe de ser viral. E as pessoas regressem para o seu individual, cansadas de tantos movimentos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Mulheres felizes, filhos e maridos felizes

Voltei ao ginásio. Depois dumas corridas na rua, umas vezes mais motivadas que outras, mas sempre curtas, decidi que tinha mesmo era que voltar ao ginásio, porque lá é que poderia ser feliz (e magra, já agora). Atualizei a playlist, vesti a minha melhor roupa de desporto (também não tenho muitas...) e lá fui eu. Cheguei ao ginásio, escolhi o tapete em função do que estava a dar em cada televisão e comecei a corrida a ver uma série qualquer de investigação criminal (é impressão minha ou há mais de mil?). Estava com vontade de correr horas seguidas. Se consegui, isso é outra história, mas que a vontade estava lá, isso estava. Já não me lembrava de correr tanto. Posso quase jurar que nunca tinha corrido tanto, quer em termos de tempo quer em distância percorrida. Ali estava eu, no final dum dia de trabalho, a transpirar, a cansar-me, sozinha com as minhas músicas, sem baba de bebé no ombro, sem umas mini mãos a puxarem-me o cabelo, sem fraldas para mudar, sem estar preocupada com choros ou com a próxima hora de dar de mamar, pois tinha deixado um biberão preparado em casa... Ali estava eu, não enquanto mãe, não enquanto mulher de alguém, não enquanto profissional, mas eu enquanto.... eu. Apenas eu. Sozinha, a correr. Como não acontecia há algum tempo. Até que fui interrompida por um instrutor.
- Tudo bem? A corrida está a correr bem?
- Sim, respondi, ofegante, enquanto corria.
- Muito bem. Costuma correr? Está a fazer um bom tempo.
- Houve uma altura em que costumava correr, mas estive muito tempo parada.
- A sério? Quanto tempo?
- Tive uma bebé. Deixei de correr a meio da gravidez...
- A sério? Teve uma bebé há muito? É que está ótima, parabéns! Ninguém diria.
- Hmmm... Foi há.... pouco. Foi mesmo há pouco tempo.

Foi há quatro meses. Há quatro meses! Já não é assim tão pouco. Mentirosa. Tornei-me mentirosa. Mas... soube tão bem! A minha barriga de gelatina sorriu. E eu sorri também. Depois disso, fui para casa. Voltar a ser mulher. E mãe. Enchi de beijos pai e filha. Voltei às brincadeiras. E com as baterias totalmente recarregadas. Sim, tenho a certeza que somos melhores mães se continuarmos a ser, antes de tudo, mulheres felizes e realizadas.