terça-feira, 28 de outubro de 2014

Tenho um homem demasiado prático

Calhou-me na rifa um homem prático, demasiado prático. Depois de eu ter andado meses a insinuar descaradamente que queria uma massagem, em modo crescente – “ai, está-me a doer aqui… aiii, as minhas costas… aiii que me sabia tão bem uma massagem… aiii que me sabia tão bem se alguém me desse umas massagens… ai que me sabia taaaão bem se, no próximo sábado, alguém marcasse uma massagem para os dois… ohh podias ser fofinho e marcar uma massagem!!” –, há dias, ele lá se deve ter fartado de me ouvir, e deu-me um voucher para quatro massagens de uma hora cada. Só para mim. A marcar quando eu quisesse.
- Um voucher?
- Sim. Assim quando te der jeito ligas, marcas e vais lá.
- Oh… Mas a ideia era irmos os dois. A ideia era ser um programa para os dois...
- Pois, mas quem anda com dores eras tu. Eu ando bem das costas, não me queixo. Porque é que havia de marcar também para mim?

Enfim. Não sei se ria com o sentido prático, se lhe bata por ser tão pouco romântico.

domingo, 26 de outubro de 2014

E, ao 162o dia, tudo se desmoronou

O dia até tinha amanhecido promissor. Foi um dia que acordou soalheiro e quente, nada previsível num outubro já adiantado. Um dia daqueles que gritava felicidade. Entre gritos de alegria e pontapés no ar que não davam sinais de irem abrandar vindos da habitante da caminha de grades ali ao lado, decidi pegar na Cookie, mesmo sendo para aí 7 da manhã, e deitá-la na nossa cama. Ali, deitada junto a nós, radiante com a novidade, decidiu surpreender-nos com um espectáculo de viragens para a esquerda, viragens para a direita, pés na boca, pernas no ar, viragens para a esquerda, mais flexões, pontapés aéreos, mais viragens… Eu, deliciada com tal espectáculo, peguei no telemóvel e tirei todas as fotografias que consegui, e todos os vídeos que o espaço do telemóvel me permitiram fazer. Que belo início de dia! Depois daquilo tudo ainda me custou mais pegar nela e devolvê-la à caminha, ir tomar banho e enfrentar o dia de trabalho que tinha pela frente. Tinha que ser… Despedi-me dela, fui trabalhar e passei o dia a mostrar os vídeos e as fotografias, qual mãe babada. Eu sei que gritar e espernear não demonstra propriamente uma inteligência acima da média, mas o que querem? Deve ser algo que nos está nos genes, em estado adormecido, e que é despoletado com a gravidez. E a mesma coisa se passa com o por os pés na boca. Até um macaquinho recém-nascido deve fazer, mas fico estupidamente feliz sempre que vejo a minha filha a repetir essa proeza. :) Passei, assim, o dia completamente babada e bem-disposta.

Só que à noite… À noite o caso mudou de figura. Voltados do trabalho, pusemo-la no sofá, ao nosso lado, na parte da chaise longue (que é bastante larga e comprida), e virámos costas dois segundos, para ir aumentar a temperatura do fogão, onde estava o jantar a ser preparado. Dois segundos. Dois! Dois segundos que foram suficientes para ouvirmos um estrondo. E depois um grito. De dor. De susto. De desespero. Corri para o sofá. Estava estendida no chão, ao lado do sofá, de barriga para cima, vermelha, aos gritos. Sem pensar, agarrei nela e encostei-a a mim. Saí dali, não sei porquê. Fui para o quarto, a tremer, com ela ao colo, no meu peito. Chorava, chorava, chorava muito. E eu a chorar também, a pensar que estava partida. E a tentar apertá-la com força a ver se lhe colava todas as peças. A apertá-la contra mim. Fiquei completamente sem pensar, naquele momento. A minha bebé estava magoada e eu queria consertá-la. Até que ele se aproximou de nós e me disse, calmamente:
- Deixa-me vê-la. Tem calma. Os bebés são de borracha, praticamente. Estão preparados para tudo. Deixa-me vê-la.
E eu a agarrar, a agarrar. Não, eu ia consertá-la. Eu tinha que a consertar. Naquele momento bloqueei e só pensava que nunca mais a iria largar. Até que lá cedi.
- Não tem nada. Foi só um susto.
Mas não era “só” um susto. Eu tinha-a visto estendida no chão, desamparada, aos gritos, a cabeça tão exposta, pele contra a madeira. Eu tinha-a visto assim. E não a tinha conseguido proteger. Voltei a agarrá-la. E continuei ali bloqueada, mais em choque que a própria bebé, que entretanto já se ria, no meu colo apertado... E ainda bem que os opostos se atraem. E ainda bem que os opostos por vezes até se casam e têm filhos, porque naquele momento, entre a pessoa supostamente calma (ali, desesperada) e o supostamente enérgico (ali, mais calmo que nunca), algum equilíbrio se encontrou. E o meu desespero foi balanceado pelo sangue frio dele. Sim, ainda bem que às vezes somos tão opostos assim ao ponto de nos completarmos tão... completamente. E a conclusão foi que nada se partiu. Nada de grave aconteceu. Foi um susto. Ao 162.º dia. Um susto dos grandes. Mas o que é verdade é que todos os bebés caem. E voltam a levantar-se. Dói. Mas dói mais para nós, acho que a dor é essencialmente nossa. A minha filha, ao 162.º dia caiu. E levantou-se. E ao 163.º dia amanheceu novamente feliz. Cheia de risos. E pontapés aéreos. E rodagens para a esquerda. E para a direita. Ao 162.º tudo se desmoronou. Mas que tudo se resolva sempre assim tão rápido...

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O maravilhoso mundo do peso

Como voltei ao ginásio, ontem foi dia da avaliação física. Estava com medo do que ia encontrar, porque olho para o espelho e ainda não me reconheço: a barriga ganha dobras se me dobro, o rabo está mais flácido, as coxas e braços mais largos, a anca mais generosa... É como se o meu antigo Eu tivesse sido engolido por uma massa gelatinosa que teima em não me devolver. Pois então estava eu a explicar ao professor o estado em que se encontrava o meu corpo, quando este me pediu para subir à balança. Lá fui, esperando o pior. Só que... não foi pior nenhum! Estou mais leve dois quilos e meio que há um ano. 2,5kgs a menos! A comer chocolates e bolachas diariamente. A não fazer desporto praticamente nenhum (umas corridas esporádicas, apenas). A ter uma vida mais sedentária que nunca. Fiquei chocada a olhar para a balança, sem querer acreditar... Só que, a seguir, o professor pegou na fita métrica e começou a medir-me. Começou então a triste realidade a dar sinais de vida: mais 2cms aqui, mais 3cms ali, mais 4cms acolá...

Conclusão: estou mais leve, sim, mas também muito mais rechonchudinha. O peso é realmente um número sem o significado que lhe atribuímos! O meu índice de massa muscular está pior que nunca e é nesse que me vou concentrar. Plano para os próximos tempos? Ganhar massa muscular. Não irei tanto focar-me nas corridas, mas mais nas máquinas. É uma seca, mas o professor garantiu-me resultados. Vamos lá ver... Não gosto muito de máquinas, mas vou ter que confiar na palavra do professor. Vou dando notícias deste admirável mundo novo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Tenho em mim todos os sonhos do mundo (em formato Word)

A propósito do Euromilhões e do prémio milionário que estava em jogo ontem (e continua a estar, pelos vistos), comentavam os meus colegas os planos de vida que projetavam caso ganhassem o primeiro prémio. Uns eram perentórios - "não venho mais trabalhar!" -, outros defendiam que iam continuar a fazer uns trabalhos pontuais. Prometiam-se ainda casas e carros para os amigos, contas bancárias recheados para a família, viagens à volta do mundo... E eu fiquei ali a pensar, como fico sempre quando se fala em dinheiro com tantos algarismos, e cheguei a uma conclusão: não tenho um plano concreto, deve ser por isso que o primeiro prémio nunca me saiu. Não tenho um plano. Um grande sonho para concretizar. Logo, não seria justo receber tanto dinheiro, certo? Vai daí, decidi que vou criar um plano. Sim, vou escrever, tintim por tintim, tudo aquilo que quero fazer caso um dia me torne milionária. Vou enumerar os beneficiários. E respetivos prémios. E porquês. Vou criar rotas de viagens de sonho. Vou escolher experiências que gostaria de viver. Bens de consumo. Obras que gostaria de concretizar. Tudo organizado, em formato Word, para quem-quer-que-seja-que-decide-atribuir-o-Euromilhões ver e saber que o prémio fica bem entregue. Um plano. Se tiver um plano, se tiver uma lista de sonhos, é justo que me saia o prémio, não? Vou partilhando com vocês parte da lista. O que fariam vocês com tanto dinheiro?

As pequenas coisas

Há muitos muitos anos, era uma tarde qualquer, dum dia qualquer, e ele disse-me, a seguir a um almoço igual a todos os outros, a mim, jovem adolescente: "Gostas? Se gostas, podes ficar com ele, é para ti". E eu olhei e pensei algo do estilo"gosto mais ou menos, mas é dado, por isso acho que quero", acenei que sim e fiquei com a medalha. "É para usares num colar", acrescentou. Era uma medalha oval, com uma cara duma jovem mulher desenhada. Por trás, tinha um ano - 1984 - e eu fiquei triste por não ser o meu ano de nascimento. Nem o dele. Nem o de ninguém que me lembrasse. A cara da jovem mulher também não era parecida comigo. "Afinal esta medalha não me diz nada", disse para mim mesma. Naquela tarde qualquer, daquele dia qualquer, a seguir àquele almoço igual a todos os outros. E levei a medalha no bolso embora, sem lhe dar grande valor.

Hoje, no final do dia, sozinha no carro, a respirar de alívio pelo fim de mais um dia afogada em trabalho, a sentir-me angustiada e cheia de sentimentos de culpa por não ser uma mãe mais presente, a maldizer a minha vida (não temos todos dias assim?), olhei para baixo e vi algo a brilhar, escondido. Estiquei a mão. Era a medalha. "A" medalha. Nas últimas mudanças de casa deve ter caído ali. "A" medalha. A medalha que o meu avô me deu. Talvez um ano antes de morrer. Deu-me sem motivo nenhum. Apenas porque sim. E deve ter sido dos últimos presentes que me deu. Não era Natal. Não era Páscoa. Não eram os meus anos. Era uma tarde qualquer. Dum dia qualquer. Mas o meu avô era assim: de dias sem datas. De presentes sem porquês. De histórias às vezes sem fim. De expressões em latim. De enigmas. De adivinhas e charadas. De regras. De horários. De piadas. E hoje, tantos e tantos anos desde aquele dia qualquer, recebi um mimo de quem tenho tantas saudades. E olhei para a medalha como que pela primeira vez. E adorei aquela medalha como nunca tinha adorado, com toda a adoração que ela merecia. Mais juros de mora. Até ficarmos quites: eu e a medalha. E apertei-a. Com muita força. Não era uma mão, mas foi como se fosse. Não veio acompanhada de expressões em latim, enigmas, adivinhas, charadas e piadas, mas foi como se fosse. E o final do dia... Dum dia qualquer. Ficou melhor. Muito melhor. As pequenas coisas. Está tudo nas pequenas coisas.

sábado, 18 de outubro de 2014

Como uma criança numa loja de doces

Ando com défice de compras. Muito! Acho que nunca estive tanto tempo sem entrar em lojas. Mas saio quase sempre depois das 20h do trabalho. A hora de almoço só dá para almoçar e matar saudades da minha bebezinha. À noite, igual: janto e mato saudades. Nunca tenho vontade de me meter num shopping - já basta ter que ir ao Pingo Doce ou ao Continente fazer compras para casa. No meio disto tudo, o meu armário nunca esteve tanto tempo sem ser atualizado. Até deve estar a estranhar. Parece que o mito era real: depois se sermos mães, gastamos mais com os filhos que connosco. Só que não é por opção! No meu caso, é mesmo por falta de tempo. Nos tempos livres, vou espreitando os sites e vou-me babando à frente do computador ou do telemóvel. Vou escolhendo as minhas peças preferidas e decidindo o que vou comprar. Só que esse dia - o dia em que compro as tais peças preferidas - nunca chega. No meio disso tudo, quem agradece é a minha conta bancária, que está mais composta. E o homem da casa, que tem mais espaço no armário. Mas até tenho medo do dia em que volte a entrar numa loja... Sim, vou ser como uma criança gulosa a entrar numa loja de doces! E acho que primeiro vou atacar as calças de pele pretas skinny da Zara, que andam debaixo de olho, depois dois vestidos também de lá, depois uma capa que ando a namorar, depois vou à French Connection buscar um vestido lindo por que me apaixonei, depois... Bem, agarrem-me.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Carro 1 - Eu 0

Ando com vontade de mudar de carro. O meu carro tem 9 (!!) anos já, e é de apenas três portas, por isso, não dá o maior jeito do mundo para colocar e tirar o ovo atrás, mesmo com o Isofix. Sempre o adorei, até porque gasta pouco e anda relativamente bem, foi meu companheiro de muitas e muitas viagens e foi também o ouvido atento de muitas e muitas cantorias e conversas. Sim, fomos muito felizes juntos. Só que agora... agora ando com uma vontade enorme de trocar para um carro com cinco portas, mais novo e, de preferência, mais alto.

Sim, ando com vontade de mudar de carro, mas até hoje ainda não tinha dito isto a ninguém. Andava simplesmente a pensar para os meus botões neste assunto. Pois não é que o raio do carro deve ter sentido o meu desprendimento ou as minhas dúvidas e resolveu vingar-se, qual marido enciumado? Primeiro, resolveu fazer birra e ficar sem bateria à porta do meu trabalho, para minha grande vergonha. Fiquei parada no meio da rua, sem poder avançar ou recuar, a cortar completamente o trânsito e vermelha como um tomate. Depois, resolveu auto-mutilar-se para me chamar a atenção. Ao estacionar, eu, que sempre estacionei relativamente bem (modéstia à parte), bati pela primeira vez na vida com o retrovisor numa parede. Agora até tenho medo de entrar no carro. Tenho medo que se tranque comigo lá dentro, para me fazer refletir. Tenho medo que se atire drasticamente comigo para o rio, qual Romeu e Julieta. Já lhe disse que o problema não é ele, sou eu. Sou eu que preciso de mais espaço. Já lhe expliquei que fomos muito felizes juntos e que está na hora de ele ser feliz com outra pessoa que lhe dê o devido valor. Mas ele anda nitidamente revoltado. Sinto uma tensão enorme no ar sempre que entro nele. Se não der mais notícias, já sabem o que aconteceu. Just saying...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A mãe quer socializar

Depois da tentativa frustrada de ir ao cinema ver o "Gone Girl"/ "Em parte incerta" (que, como contei aqui, não consegui ver até ao fim), estou a concentrar todas as minhas forças na próxima semana. Comprei bilhetes para ir ver os "Future Islands" e espero mesmo conseguir ir vê-los. E já agora ficar até ao fim. A verdade é que várias músicas marcaram os nove meses da minha gravidez, mas a "Seasons (Waiting on you)" deles foi uma das que marcou, não só o final da gravidez, mas até o próprio dia do parto. Lembro-me de ouvir aquele refrão e senti-lo como meu. Lembro-me de sentir que o ritmo e a emoção da música eram as minhas: eu estava ansiosa por conhecer aquele pequeno ser que habitava dentro de mim, e parecia estar à espera desde sempre. E, no próprio dia do parto, ouvir uma música quase tão emotiva como eu própria me sentia, ajudou-me a acalmar, como se fosse um bálsamo musical. O resto da letra pode nem ter nada a ver com o dia, mas hei-de sempre ouvir aquele emocionado "I've waiting on you" como um desabafo que, a dada altura, também foi meu. E, para a semana, espero estar lá a cantar e a reviver os nove meses de espera. Há músicas que marcam. Esta será sempre uma delas. E, se for duma banda que até parece valer a pena, melhor.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Como ganhar vontade de matar alguém em cinco minutos

A propósito duma certa série muito boa que andava a ver (que não vos vou dizer qual é, para não vos fazer o mesmo, mas que julgo que já aqui falei), comentava eu com um familiar:
- Estou ansiosa por ver os novos episódios da nova temporada!
- Já acabaste de ver a anterior?
- Não. Guardei os três últimos episódios, para poder ver o fim da temporada anterior e o início da nova tudo seguido, sem esperas nem interrupções de meses.
- Ok. Mas também não perdeste nada.
- Pois, como ainda não vi, não sei. Estive meses a guardar estes episódios para ver agora. Custou a espera, mas assim vai ser mais giro.
- Ok, mas não perdeste mesmo nada. No fim ele morre.

E pronto… Não vou dizer qual era a série, só vos digo que quem ficou com ganas de matar alguém fui eu!

domingo, 12 de outubro de 2014

Balanço dos últimos dias

Os últimos dias foram caóticos: trabalho, muito trabalho e falta de tempo até para almoçar, só deu mesmo para respirar e pouco mais. No fim de tudo, consegui ir dar finalmente dar um corte ao cabelo, já que não ia ao cabeleireiro desde  abril ou maio, nem sei bem... Fui lá com a ideia de acertar o cabelo e manter o comprimento. Mas lembram-se do que aconteceu o ano passado? Repetiu-se. O meu cabeleireiro deve ter uma paixão platónica pela Alexa Chung, porque voltou a fazer-me o mesmo corte de há um ano pelos ombros e franja escadeada, sendo que desta vez acrescentou nuances mais claras.
- Não está muito curto?, pensei em voz alta.
- Tu aguentas este corte, respondeu-me, de forma segura. Seja o que isso quer dizer...
E agora ando aqui a espreitar de vez em quando o meu reflexo no espelho a decidir se o meu cabeleireiro é afinal um génio e adoro o meu cabelo novo, ou se me pôs apenas com ar de parva. Ainda não decidi...

Entretanto, foi ainda dia de pedir aos meus pais que ficassem com a bebé para podermos ir os dois ao cinema. Assim, lá fomos nós ver o "Em parte incerta", cheios de curiosidade face às críticas positivas que temos ouvido. Chegámos, pedimos mega balde de pipocas e sentámo-nos, ansiosos por uma sessão de cinema como não tínhamos há meses e meses. O que achei do filme e do fim?... Não sei dizer. Os meus pais ligaram-me uma hora depois do filme começar a dizer que a bebé não parava de gritar. Acabámos por deixar o filme a meio e ir para casa. Quando chegámos, olhou para nós com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas e suspirou profundamente, como que de alívio. Não sabemos o que aconteceu, porque ela é uma bebé bem-disposta e dá-se bem com toda a gente. Ainda por cima está habituada a estar com os meus pais e nunca estranha nada. Os meus pais são muito meiguinhos com ela e não mereciam tanto choro. De qualquer maneira, fiquei a pensar: será que começa a sentir saudades nossas? Talvez... Ou talvez tenha apenas lido o que escrevi a semana passada, na primeira noite fora, e quis mostrar-me que as saudades eram recíprocas. Vou apostar nesta hipótese.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Vantagens de ter um filho

Hoje de manhã, a conversar com uma pessoa que me dizia que, por ter 37 anos, já não podia ser mãe, dei por mim a enumerar-lhe algumas vantagens muito muito práticas de ter um filho, que com vocês partilho. Quanto à parte do amor que se sente e toda a parte sentimental, julgo que está mais que assente e interiorizada por todos, por isso, passemos à parte do dia-a-dia:

1. Ter um filho ao colo ou no carrinho permite-nos ter prioridade nas filas de supermercado, nos serviços públicos e até nos parques de diversões. E quem não gosta de poder ser atendido mais rápido?

2. Ter um filho permite-nos estacionar nos lugares próprios, nos shoppings, que são sempre lugares bem perto das escadas rolantes, o que nos permite poupar tempo no estacionamento e na viagem a pé.

3. Ter um filho serve de desculpa para praticamente tudo. Podemos chegar tarde ao trabalho, sair mais cedo, faltar, aparecer mal vestidos ("foi o meu filho! Sujou-me a roupa que trazia antes") atrasar-nos no cumprimento de algum prazo ou faltar a algum evento. A culpa é do filho! Nem é preciso explicar muito mais. Ninguém se atreve a contestar.

4. Ter um filho confere algum estatuto. Podemos sempre acabar uma discussão em que o interlocutor é um não-pai, dizendo "Quando fores pai vais perceber!". E não interessa se se está a discutir o aquecimento global, uma nomeação da Casa dos Segredos, as eleições do Brasil ou as próximas tendências do mundo da moda... Esta resposta serve para sustentar qualquer posição dum pai perante um não-pai.

5. Ter um filho evita para todo o sempre o massacre da pergunta "Então para quando um bebé?". Esta parece óbvia, mas só quem passou por isso sabe o alívio que representa nunca mais ter que ouvir esta pergunta.

6. Ter um filho dá sempre tema de conversa em qualquer lado. Não há mais momentos de silêncio desagradável, nem sequer nos elevadores. "Sabem o que é o que meu filho disse hoje?..." e nenhum silêncio constrangedor aguentará.

Fico a aguardar os vossos contributos para aumentar esta lista.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Então e a primeira noite longe?

A fotografia (com cabeça, claro) foi tirada no final da primeira noite longe e enviada aos dois com a mensagem de boa noite. As tecnologias permitem-nos sentir mais perto de quem está do outro lado. Podemos partilhar fotografias em tempo real. Podemos ligar em FaceTime e ver o que o outro está a fazer, mesmo estando a mil quilómetros. As tecnologias encurtam distâncias, é um facto. Mas... o longe continua a ser sempre longe. E nenhuma tecnologia me permitiu dar um beijinho de boa noite à minha filha e adormece-la junto a mim. Por isso, mesmo com toda a tecnologia existente, a minha primeira noite fora sem a bebé foi... terrível.

Já desconfiava, mas as piores previsões confirmaram-se. Desconfio que há algo, depois de se ter um bebé, que muda dentro de nós. Não é só emocional, é físico. Há algo visceral que muda e temo que nunca mais nada vá ser igual. Criei uma vida dentro de mim durante nove meses. Em maio, essa vida ganhou autonomia. Mas, pelos vistos, só aparentemente. Cortaram o cordão umbilical, mas algo ficou. Será que é apenas feitio meu? Será apenas a minha maneira de ser? O que sei é que, quatro meses e meio depois, tinha uma ténue esperança que passar 24 horas longe da minha bebé pudesse ser relativamente fácil. Mas não foi. Nada. Estava longe, mas pensava nela a todo o momento. Falei nela sempre que pude. Fiz tudo o que vem no Manual das Mães Chatas. Mostrei fotos. Mandei mil mensagens para casa ("estás a tratá-la bem??") e recebi respostas à altura ("não, estou há duas horas a bater-lhe com uma vassoura!"). Liguei dez mil vezes. E fui dormir a sentir-me tão sozinha como há muito não acontecia. Deitei-me e tentei não pensar em nada. Só queria adormecer, para o tempo passar mais rápido. Acordei às seis da manhã com uma angústia estranha e nova. Era um tipo de saudades que ainda não conhecia. Quando pude vir embora, meti-me no carro e percorri novamente os quilómetros que me separavam de casa o mais rápido que consegui (a rezar para não apanhar multas no caminho).

Quando voltei a entrar em casa, apenas 24 horas depois de ter saído, parecia que tinha passado uma semana. Passei à frente os beijinhos e perguntei logo pela bebé, tamanha era a ansiedade. Pelos vistos estava no quarto, na caminha. Estava animada e tinha dormido bem. Tinha bebido do biberão sem se queixar. Esperava um cenário mais dramático, mas pelos vistos, a minha filha estava divertida como se nada se tivesse passado. Aproximei-me, com o coração aos saltos. Espreitei por cima das grades. Estava acordada. Cumprimentei-a com um "olá" que me saiu mais estridente e agudo do que queria. Sorriu, a olhar para mim. Rasgou o olhar, com os olhos cheios de brilho. E começou a dar pontapés no ar, em sinal de excitação. Houve umas lagrimitas que quiseram aparecer. Só que não foram dela... Portou-se melhor que eu. Sim, a primeira noite longe foi má. Muito má. Mas para mim. A minha bebé estava feliz como sempre. Sorridente. Aparentemente sem tantas saudades como a mãe chata. Desconfio que estas coisas são sempre piores para nós que para eles. E ainda bem. Que seja sempre assim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O príncipe encantado troca fraldas nos tempos livres

Já se falava nas MILFs, essas mães boazonas que, mesmo com a maternidade, não descuram a forma física, e continuam a fazer suspirar muito homem e a parar o trânsito à sua passagem. Há quem diga que a maternidade opera milagres e que muitas mulheres se tornam ainda mais irresistíveis depois de terem um filho. Ou dois. Ou três. Mas... e a paternidade, conseguirá ter o mesmo efeitos nos homens? A paternidade tornará os homens (ainda) mais irresistíveis? Pelos vistos, a resposta é um redondo SIM. E foi partindo desse pressuposto que alguém resolveu agora (ou terá sido há algum tempo e eu é que andava distraída?) pegar aquele conceito e adaptá-lo ao masculino, criando, assim, os DILFs. Em português, será algo como "Pais com que não me importava de dar umas cambalhotas". E, pelos vistos, serão muitas as mulheres com queda para este tipo de ginástica.

Mas há mais. Pelos vistos, não são só umas cambalhotas que as mulheres desejam dar com estes pais. Pelos vistos, estes pais despertam nas mulheres não só o desejo físico, mas também o desejo de viver uma história de amor. Pelos vistos, estes pais despertam nas mulheres o desejo de romance, de viver a dois uma história de encantar, de viver um amor a sério, como aqueles que existem nos livros. Estes pais são, afinal, tudo aquilo que uma mulher quer. Estes pais são "os príncipes das mães". Quem é o diz é a Sofia Anjos, não sou eu. Mostraram-me este artigo e eu, que já gostava dos textos desta jovem mãe escritora, passei a gostar ainda mais, já que descobri que também eu, mãe recente a viver com um pai recente, vivo afinal com um desses exemplares do príncipe encantado adaptado aos tempos modernos. Que bela notícia para começar o dia!

"DILF é a sigla para Dads I’d like to fuck. Na verdade, pais bonitos, com a barriga no lugar e aquele ar de quem está ocupadíssimo. Homens que se tornam pais e andam por aí a passear com bebés ao colo e a empurrar carrinhos com crianças amorosas. A cuidar delas, atentos, ternurentos. São papás que provocam torcicolos, portanto. Um "fazia-te isto e aquilo" no deserto materno. (…) os DILFS são o prolongamento do príncipe encantado, voilá! As mulheres acreditam mesmo nos contos de fadas ou filmes cor-de-rosa cujas histórias terminam num final feliz com o príncipe a casar-se. E depois? Depois ninguém leu mais nenhum capítulo que mostrasse o príncipe a mudar fraldas. (…) Note-se que gostar de olhar para um DILF é biológico. Ver um homem a cuidar de um bebé ou criança é, biologicamente, irresistível. Portanto, vivam os DILFS que habitam os nossos lares e os lares alheios. Não tanto por partilharem as tarefas domésticas e cuidados com as crianças mas mais porque nos lavam as vistas. E se há mito em que uma mamã precisa de acreditar eternamente é no príncipe encantado."

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Natal é quando uma mulher quiser...

... Fosse assim tão simples e, por mim, o Natal era já hoje.
... Fosse assim tão simples e, por mim, podia receber já esta capa linda linda e personalizável.

(E sei que está um dia quente de Verão, mas o meu instinto consumista acordou hoje em força e não quer saber se são estão 40 graus à sombra...)




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Sou filhodependente

No próximo fim-de-semana vou ser forçada, por motivos profissionais, a dormir longe da minha bebé. Vou ter que ficar num sítio muito giro, é verdade, e com direito a jantar num restaurante que também promete ser ótimo. Mas já ando tão, mas tão angustiada… Vai ser a primeira vez que vou estar tantas horas longe dela. E não queria ser assim. Queria ser forte e independente. Queria confiar que ela fica bem mesmo sem mim. Queria conseguir divertir-me na mesma, longe dela. Mas tornei-me uma mãe filhodependente. Tornei-me uma mãe que liga hora sim, hora não para casa, para a ama, durante a semana, para saber se ela está bem. “Está bem-disposta? Dormiu? Acha que tem fome? Tirei leite de manhã e guardei no frigorífico, viu? Fez cocó?”. Não haverá muito para dizer, mas a ama vai assentindo e respondendo a tudo, dia após dia. A Cookie não escreveu propriamente uma tese de mestrado durante uma manhã. Não correu uma maratona. Não construiu uma casa de três andares com Legos. Os dias dela resumem-se, basicamente, a dormir, descobrir as mãos, mudas de fraldas, tomar leite, babar-se, meter os dedos à boca, rir, chorar, balbuciar uns sons, descobrir novamente as mãos, tocar nos pés (a nova brincadeira), puxar cabelos ou meter coisas à boca como se fosse comer o mundo todo em dois minutos. No entanto, fico maravilhada sempre que oiço um “Sim, está bem-disposta.” Ou “sim, já lhe mudei a fralda novamente”. A minha filha tem a vida mais desinteressante que pode existir. Tem quatro meses de vida, não se pode exigir mais, certo? E, no entanto, não consigo deixar de me deslumbrar de cada vez que, ao chegar a casa, a vejo olhar para as mãos, mais uma vez. Não consigo deixar de me deslumbrar de cada vez que oiço um “rrrrrrrruuuu!!” ou “áaaah” ou “brrrrrr!!”. Não consigo deixar de me deslumbrar quando a oiço dar gargalhadas. Gargalhadas de bebé, esse som feito por anjos. Sim, neste momento, trocava qualquer jantar no melhor restaurante do mundo, trocava qualquer noite no melhor hotel do mundo, só para poder ficar a vê-la. Mais uma vez. E mais uma vez. Sou filhodependente. É oficial.