quarta-feira, 30 de março de 2016

Estas coisas só me acontecem a mim?

Às vezes sinto que atraio estas histórias... Juro! Aqueles momentos bizarros que vemos nas comédias de domingo à tarde e que pensamos que só acontecem nos filmes? Pois podem começar a enumerá-los e perceberão que todos esses filmes foram (infelizmente!) baseados na minha vida.

Hoje tive mais um desses momentos bizarros. Ia levar o bebé a uma consulta e, por isso, saí a correr de casa carregada com a mala dele, a minha, o ovo e ele lá dentro, as chaves de casa e as chaves do carro. Cheguei ao carro, atirei a minha mala para o banco da frente, atirei a mala dele para o banco de trás e comecei a encaixar o ovo atrás. Como estava com as chaves todas a chocalhar de forma irritante no bolso do casaco, peguei nelas e atirei-as para o banco do condutor, sem pensar. Continuei a encaixar o ovo no carro enquanto o bebé choramingava (choraminga sempre nos primeiros momentos em que fica preso no ovo) e, quando terminei a operação, fechei rapidamente a porta e dirigi-me para o lugar do condutor. Tentei abrir a porta.... só que... só que...

OH NÃO!! O carro tinha acabado de se fechar por dentro. O MEU PIOR PESADELO TINHA ACONTECIDO. Fiquei em pânico. Aquela treta de manter a calma e o sangue frio, respirar fundo e tal? Para esquecer. Olhei para dentro e vê-lo a chorar destruiu por completo qualquer tentativa de me manter tranquila. Comecei a olhar à volta à procura de um paralelo solto no chão ou algo duro capaz de partir um vidro. Nada. Onde estão os objetos cortantes quando precisamos deles? Passou um senhor. Fui a correr, sem pensar direito, a pedir-lhe ajuda para partir um vidro do carro (pensando agora à distância, talvez não tenha sido a melhor abordagem ao tema). Disse-me que tinha que ir "fazer ali uma coisa" e que já voltava (que estranho, não é?). Voltei para o carro, com os olhos cheios de lágrimas, a tremer por ver o bebé a chorar, preso dentro do carro e sem poder fazer nada. Lembrei-me que estava no carro da minha mãe e que, por isso, talvez fosse mais sensato avisá-la que ia partir o vidro da porta do carro dela. Por isso, antes de partir para a violência, liguei-lhe a contar a história, a soluçar, e fui direta ao assunto:
- Vou partir o vidro, ok? Depois pago!
- ...
- Ok?
- ... Porque é que não abres a porta com a chaves suplente? O teu pai vai agora levar-tas aí. Aguenta uns minutos...

De modo que, minutos depois, estava o carro a ser aberto com as outras chaves, sem vidros partidos, o bebé (que entretanto tinha adormecido e estava com ar tranquilo e sereno) a sair, o meu pai a piscar-me o olho, como quem diz que os pais sabem sempre resolver tudo, e eu a recompor-me do susto. Realmente concluo com tristeza que todo o sangue frio que julgava ter é coisa do passado - transformei-me naquelas pessoas que, ao mínimo susto, entram logo em colapso e deixam de raciocinar direito. E concluo que realmente os pais são sempre insuperáveis.

Ah... o outro homem a quem pedi ajuda? O mais incrível que, enquanto estava eu, chorosa, a agradecer pela enésima vez ao meu pai, passou pelo carro e abordou-nos:
- Então, menina, resolveu? Olhe que eu até despachei os meus recados para a vir ajudar!
Há esperança no mundo para todos aqueles que precisam de ajuda para partir vidros dos carros. Pelo menos isso! ;)

terça-feira, 29 de março de 2016

A minha galeria de imagens do telemóvel

Há uns anos, se alguém pegasse no meu telemóvel e começasse a ver as minhas fotografias, começava logo a ficar com os calores e a fazer de tudo para interromper o mais rápido possível aquele momento de invasão de privacidade. Eram selfies (que na altura ainda não se chamavam selfies, mas já o eram). Eram fotografias mais provocadoras a aproveitar um dia em que a auto-estima até estava mais em cima. Eram fotografias na noite. Fotografias de festas. Fotografias de momentos mais alcoolizados. Em bikini. Em lugares paradisíacos. Com amigos. Ultra-românticas. Havia de tudo, com um elemento comum: o telefone era meu, a figura central das fotografias era eu, em mim e uma poses diferentes, o que me deixava reticente a olhares estranhos.

Agora? Agora, tenho dado por mim a dar o meu telemóvel desbloqueado a qualquer pessoa com um desprendimento tal que até me assusto. A verdade é que só tenho praticamente fotografias dos bebés, de cenários familiares e/ou das minhas duas gravidezes. A maior nudez que se pode ver é a dos meus filhos. A minha maior exposição são as fotografias tiradas pela minha PT para mostrar a evolução da minha barriga flácida e da diástase abdominal. As selfies são agora da Constança, quando me apanha o telemóvel. Fotos atrevidas? Uma grávida de bikini a exibir a barriguinha também não deve contar.

Sim, neste momento iria proporcionar zero momentos de entretenimento a qualquer ladrãozeco que resolvesse roubar-me as fotografias. Neste momento, não tenho dúvidas que até os sites da Santa Casa da Misericórdia ou da StandVirtual têm conteúdos mais atrevidos e provocantes que o meu telefone.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Uma questão de peso

Apesar de ter feito exercício durante toda a gravidez (fui e estou a ser acompanhada por uma professora especializada em acompanhamento a grávidas e a recém-mamãs), a verdade é que não sou nenhuma Carolina Patrocínio e ganhei quase 14 kgs nesta gravidez. Consigo ser disciplinada no desporto, mas não sou consigo ter a mesma disciplina no que como, por isso, neste momento tenho 8 kgs (!!) que me separam do peso com que mais gosto de me ver: 58. É muito quilo para abater e muita banha da barriga para fazer desaparecer. Mas agora que a minha professora já me analisou os músculos da barriga e já adaptou os treinos abdominais à diástase de um dedo que me foi detetada, não me restam grandes desculpas para não fazer abdominais (adaptados) e queimar as gordinhas todas.

De qualquer maneira, mesmo com desporto, não sei se vou conseguir voltar a atingir aquele número. Fiquei mais pessimista depois de, há dias, estar a falar com uma amiga que também está grávida do segundo filho e que me dizia, depois de comparar muitas mães:

- Depois do segundo filho? Não tenhas ilusões! Recuperar a antiga cintura só é possível com lipoaspiração ou abdominoplastia! Podes ser disciplinada e passar fome, mas acredita que a cintura antiga não se recupera nem assim - só mesmo com cirurgia.

Fiquei com um misto de sensações: por um lado, parte de mim, a parte que devora doces todos os dias, sentiu-se derrotada - "vou ser um paralelepípedo para sempre! adeus, corpo de pera!". Se não me controlo a comer, como é que posso esperar milagres? Por outro lado, a outra parte de mim, a que adora desafios e que me fez estar a mexer o rabo menos de um mês após o parto, ficou com vontade de provar que não é bem assim - é possível recuperar-se a antiga silhueta depois do segundo filho só com exercício e boa alimentação!

Eu sei que o peso é muito relativo e que não devia estar apenas focada nos 58 kgs. Sei que o importante é sermos saudáveis e olhar mais para os índices de massa gorda e magra, por exemplo. Mas neste momento é esse objetivo que tenho em mente: 58. Porque é mais fácil focar-me num número. Sim, quero muito recuperar os 58 kgs que já tive (parece que foi noutra vida), de preferência com a cintura que tinha antes. Espero conseguir chegar lá com os exercícios que tenho feito, mas vou tentar também controlar aquilo que como. Tenho a teoria das consultas de nutrição que tenho, falta-me a força de vontade. Vou partilhando com vocês esta jornada. Sei que assumir publicamente os objetivos ajuda-nos a manter o foco, por isso, decidi hoje escrever este post, com a antecipada promessa de ir atualizando, quer consiga quer não. A vergonha na cara de não conseguir deverá dar algum incentivo extra!

Que a Força (de vontade) esteja comigo! ;)

quarta-feira, 23 de março de 2016

34!

Sábado festejei mais um aniversário. Desta vez, o estar fechada em casa há algum tempo (ou seria a ocitocina ainda a fazer efeito?) deve ter mexido com o meu cérebro, porque... pela primeira vez em muuuuitos anos, tive vontade de festejar o aniversário em casa, sem restaurantes envolvidos e sem saídas. Pior: tive vontade de me armar em doceira e experimentar receitas de bolos. Eu, que nunca fui muito de cozinha, comecei assim o meu dia de anos a abrir e a fechar o forno, a bater claras em castelo e a decorar bolos, qual Nigella Lawson (sim, em versão cheiinha, pois ainda tenho muitos kgs que ganhei na gravidez para abater - falarei sobre isso noutro post). Os meus pais ainda insistiram em trazer eles a sobremesa (compreendo-os!), mas não quis saber. Já tinha as formas, as receitas, os ingredientes preparados e até boleiras e decorações compradas... nada me iria impedir. No pior dos cenários, terminaria o meu dia a comer tudo sozinha. Terminaria o dia com mais 10 kgs, mas com a gula saciada por uns tempos.

Eram 6h da manhã quando finalmente terminei tudo e me fui deitar. No frigorífico havia gelatinas e mousse de chocolate. Nas boleiras a estrear, um bolo de côco e um de frutos vermelhos recheado. Tinham bom ar. Estariam bons? Controlei-me para não provar nada. Estava cansada, mas com a sensação de dever cumprido. A casa estava calma e silenciosa - tudo a dormir a dormir em simultâneo é cenário raro, nos últimos tempos. Lá fora, o horizonte começava a ficar mais claro. Inspirei e senti no ar algo que não sentia há muito. Seria o silêncio? A calma? Demorei um pouco, mas lá percebi o que era. Era algo ainda mais antigo... Cheirava à minha infância. Infância. Até aos meus 12, 13 anos, o dia de aniversário começava sempre com cheiro a bolos a saírem do forno, com gelatinas, mousse e mil doces espalhados pela sala. Convidava-se sempre toda a família e festejava-se em casa. Com a chegada da fase da estupidez adolescência, comecei a preferir comemorar os anos bem longe dos pais, perto dos amigos. O cheirinho a bolos fez, por isso, com que viajasse no tempo até essa altura.

Os aniversários da minha infância tinham este cheirinho a bolo a sair do forno. Tinham os avós. Bisavós. Tios. Primos. Barulho. E casa cheia. Aos 34 anos, não voltei a ter casa cheia. Mas voltei a ter por perto algumas das pessoas mais importantes da minha vida. Aos 34 anos não tive uma festa de arromba. Não jantei no melhor restaurante da cidade. Festejei com olheiras. E com uns kgs a mais, pois ainda não recuperei a forma. Festejei cansada, das noites mal dormidas, a acordar de 3 em 3 horas. Mas festejei com cheirinho à minha infância. Aos 34 anos, senti-me um bocadinho a ser criança outra vez. A criança que fui. E as crianças que estão a crescer junto a mim. Estou mais velha, mas ironicamente senti-me mais jovem outra vez. Venham mais anos assim (ok, sem a parte do cansaço e dos kgs)!!

Ahh... quanto aos doces, acho que fiquei aprovada. Pelo menos ninguém se queixou nem houve relatos de indisposições.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Olá, filho mais querido #2

(Podem ler a primeira parte da história aqui)

Foi, por isso, com um andar desastrado de pinguim (o andar que a emoção, juntamente com as calças ensopadas e os pés e sapatos molhados, permitiu) e os olhos a lacrimejar que entrei finalmente no serviço de obstetrícia. Como desta vez não foi nada planeado, não tinha a minha médica à minha espera e as caras com que me ia cruzando eram todas novas. Não conhecia ninguém! Toda a equipa que me acompanhou no parto da Constança não estava de serviço às terças, pelo que tive que me entregar nas mãos de enfermeiros e médicos desconhecidos. Naquele momento, no entanto, nada disso me estava a preocupar. Tinha decidido que, desta vez, não iria provocar o parto e iria ter o bebé da forma mais natural possível, respeitando os "timings" do bebé e do corpo, por isso, estava apenas a ter o resultado da minha decisão. Apareceu uma médica que me levou para um gabinete. Fez-me as perguntas da praxe - quantas semanas tem? sintomas? foi acompanhada aqui no hospital durante a gravidez e com quem? etc - e pediu-me para me despir. Ia começar a parte de que tinha menos saudades - o chamado "toque". Era preciso ver se já tinha alguma dilatação e se o colo já tinha sido eliminado. Deitei-me na marquesa, contraída e já a antecipar o desconforto do exame.
- Relaxe, por favor. Ainda por cima já passou por isto, não já?
(Eu só pensava - já passei, sim! Por isso é que não consigo relaxar! Dispenso ter uma desconhecida a meter-me os dedos no pipi, ok?! - mas não disse nada e esforcei-me por parecer descontraída a relaxadíssima, como se estivesse num picnic.)

- Ok, já está com 4 dedos de dilatação. E parte do colo eliminado. Parece-me bem encaminhado. E teve rutura parcial da bolsa, certo?
- Sim, tive agora mesmo, antes de entrar. Mas qquilo tudo foi só parte da bolsa?
- Foi... Não foi rutura total. Foi só um bocadinho.
(Fiquei a tentar imaginar como seria se tivesse rompido tudo)
- Entretanto, vamos ver o bebé?
- Vamos!
(Tentei disfarçar a emoção, que era um misto de alívio por o "toque" ter terminado com a alegria por ir ver o meu bebé.)
- Ora bem... Já lhe disseram que o bebé é muito grande, certo?
- Grande? Por acaso disseram o contrário... Estava no percentual 30... Só a semana passada é que disseram que, afinal, podia ter mais de 3,500kgs.
- Pois, mas olhe que tem mesmo. É um bebé muito grande.

Nesta altura, eu não tinha percebido que o facto de ser realmente grande poderia dificultar o parto. Estava convencida que era um erro e que, afinal, não seria assim tão grande. A minha mãe entretanto ligou-me e comentei isto com ela - "acho que o bebé é muito grande. A médica disse que tinha mais de 3,500kgs." Resposta querida da minha mãe - "Mas tu comeste assim tanto?!". Obrigada, mamã!

Fui fazer o CTG (máquina para medir as contrações) no gabinete em frente. Descalça, para não estar a pegar nos saltos, que naquele momento me pareceram totalmente despropositados e nada práticos. Fui logo apanhada.
- De quem são estes sapatos?, ouvi perguntarem alto e bom som no corredor.
- São meus...., respondi, muito baixinho.
A enfermeira veio ao gabinete em que eu estava, com os sapatos na mão.
- Estes. Estes não são seus, pois não?
- ... São...
- Tão altos?
- ... Sim...
- Consegue andar com eles no fim da gravidez?
- ... Consigo...
Entretanto, tinha mais caras à volta (outras grávidas, enfermeiras e duas médicas), qual comissão de avaliação do calçado das grávidas, a olhar para os sapatos e para mim em silêncio. Ninguém disse nada. Mas senti que tinha sido reprovada a minha avaliação.
- São confortáveis, tentei alegar em minha defesa.
- Hmmm...

(Conselho a todas as grávidas em final do tempo: ter sempre um par de sapatos confortáveis por perto, não vá entrarem em trabalho de parto a qualquer momento!)

As contrações eram fortes e constantes, por isso, não havia mesmo dúvidas... Nesse momento, eu ainda estava convencida que o segundo parto era sempre muito mais fácil que o primeiro, por isso, não havia grávida mais otimista e relaxada que eu. Olhei para o relógio - 5 da tarde? Lá para as 7h já devemos ter criança.

Não tínhamos. Cada trabalho de parto é diferente e único, sempre me disse a minha médica. É impossível prever como cada parto se irá desenrolar. E confirmou-se. Tive uma experiência completamente diferente da primeira. E o bebé não iria sequer nascer nesse dia ainda... Mas já lá vamos... Uma parte da história de cada vez.

... Continua...






terça-feira, 15 de março de 2016

Os primeiros dias a quatro

Entretanto, os primeiros dias a quatro têm sido muito mais calmos do que imaginava. Arrisco-me até a dizer que têm sido muito mais simples que quando a Constança nasceu. Não sei se é a capacidade de relativizar, que agora existe e antes era simplesmente inexistente - antes, tudo servia para stressar, desde o choro à falta de choro, desde o cordão umbilical ou a queda do cordão, desde o mamar muito ou o não querer mamar, etc, etc. Não sei se é o facto de agora termos também que nos focar num bebé maior, que precisa de tanta ou mais atenção que o recém-nascido. Não sei se é o facto de agora termos decidido vir logo para casa, só os quatro, e podermos fazer os nossos horários à vontade - da outra vez fomos para casa dos meus pais e, apesar de termos muita ajuda, também tínhamos sempre mais gente em casa. O que é certo é que estamos os dois muito mais tranquilos desta vez. Claro que também ajuda o bebé ser um amor e literalmente só comer e dormir, parando apenas para nos olhar uns minutos, com ar muito atento.

Conseguimos já sair os quatro de casa para passearmos e a prova foi superada. Naturalmente demora mais a por e a tirar tudo do carro, mas a Constança já nos acompanha a pé, por isso, a "maquinaria" de passeio continua a mesma, com a diferença que o carro deu lugar à alcofa. Conseguimos sentar-nos para tomar um café e apanhar um bocado de sol, por isso, senti-me logo, ao fim de uns dias, "eu" outra vez (lembro-me que, há quase dois anos, essa sensação demorou a chegar... durante muito tempo, não me sentia ainda "eu", mas alguém estranho que estava a viver a minha vida no meu lugar).

Conseguimos já ver filmes do princípio ao fim, almoçar e jantar fora, já voltei à manicura para arranjar as unhas, consegui dar uma volta na Zara e, no meio disto tudo, já tenho também vontade de retomar os exercícios que deixei apenas 3 dias antes do bebé nascer. As coisas voltaram rapidamente à normalidade, desta vez, e acho que tudo se resume ao facto de ser o segundo. Sim, já passámos por isto (e há pouco tempo) e isso permite-nos - palavra chave! - relativizar tudo e relaxar muito mais.

Há quase dois anos, lembro-me que me sentia exausta, com as horas trocadas, e sentia que os primeiros dias se resumiam a trocar fraldas e a dar de mamar. Lembro-me da crise de choro que tive, uns dias após o parto, do cansaço, de tudo. Lembro-me da crise existencial que tive - "sou mãe! a minha filha vai depender para sempre só de mim! e agora?". Desta vez? Não sei se é por ter a Constança a dar-me uma dose de realidade a toda a hora, com toda atenção que exige, mas... a verdade é que sinto-me mais "viva" e com mais força para tudo.

O segredo? Não sei... talvez o facto de saber que tudo é possível, porque já passei por isso. Talvez o facto de já saber que o corpo volta ao sítio, que a barriga há-de encolher e a pele esticar (pode demorar, mais há-de acontecer!), que as noites vão normalizar e a que tudo se vai encaixar... talvez seja isso que me dá mais força desta vez. Ou então, simplesmente as hormonas tenham sido mais meiguinhas comigo desta vez. Às tantas é simplesmente isso! ;)

segunda-feira, 14 de março de 2016

Olá, filho mais querido

-Andas muito caladinha... O que se passa?

Eu sei que devem andar a pensar o que é feito de mim. Passo a explicar: andava eu a trabalhar com o mesmo ritmo de sempre, a treinar duas vezes por semana com a minha querida professora especialista em grávidas e recém-mamãs (até tinha corrido dois dias antes!) e a fazer a minha vidinha normalmente, quando, nesse dia, ao almoço, senti algo estranho... Umas contrações com dores bastante chatas. Como, quando estava grávida da Constança, tive um falso alarme antes do verdadeiro trabalho de parto, desta vez não liguei muito. Apenas comentei com ele, enquanto almoçávamos:
- Estou com algumas dores...
- Queres ir ao hospital?
- Acho que não vale a pena... Vou só se isto continuar.
- Ok. Mas vou trabalhar na mesma agora de tarde ou queres que fique contigo?
- Não, vai, vai trabalhar! Eu também vou. Assim nem me lembro das dores. Se depois piorar ligo-te e dou um saltinho ao hospital.
- Pronto, mas vê lá... Liga-me logo logo!

Voltei para o trabalho. Pelo sim, pelo não, tirei umas fotografias ao restaurante ("nunca se sabe se é mesmo hoje", pensei), ao rio, que estava com uma luz bonita, à cidade... e tirei ainda umas selfies pirosas ("nunca se sabe se é hoje, se for, depois mostro ao meu filho como estava no dia em que nasceu"). No fundo, tinha naturalmente esperança que o trabalho de parto estivesse a começar, mas o meu lado mais realista mandava-me acalmar e prosseguir com a vida normal.

Uns minutos mais tarde, sentada na minha secretária a ler emails e a estudar assuntos pendentes, o meu corpo, no entanto, ia-me pedindo para abrandar. As dores iam e vinham e eram tão fortes como dores menstruais - digamos que de intensidade 3 ou 4, numa escala de 0 a 10 -, mas já não me conseguia concentrar bem no que estava a fazer. Mandei mensagem à minha médica a dizer que estava com algumas dores e a perguntar o que devia fazer.
- Sente o bebé? Se as contrações começarem a tornar-se constantes, deverá ir ao hospital.

Estava perdido o meu dia - já não ia conseguir concentrar-me mais. Se sentia o bebé? Não fazia ideia! No meio das contrações, já não sabia o que sentia mais. O bebé estaria bem? Será que estava em sofrimento e que eu estava a ser egoísta ao armar-me em forte? Comecei a matutar naquilo. Liguei ao meu chefe.
- Já viste aquele email que te mandei? Podes estar presente na reunião?
- Posso, posso. Mas estava a ligar-lhe também por outro motivo.
- Então?
- Estou com algumas dores. Vou ao hospital ver se está tudo bem, ok? Levo o computador. Se estiver tudo bem, depois termino o trabalho em casa.
- Claro!! Vai lá. Depois diz alguma coisa.

Avisei alguns colegas que ia sair, mas que "não devia ser nada". A verdade é que tinha sempre um lado pessimista a dizer-me "não faças grandes filmes, porque quando estavas grávida da Constança também foste uma vez ao hospital e não era nada!". Fui para o carro. Olhei para baixo, para os meus saltos altos, e desejei ter levado outro calçado nesse dia, algo mais prático e "maternal". Viria a confirmar mais tarde que tinha escolhido o pior calçado possível! A viagem para o hospital ainda demorou uns 15 minutos, pelo que deu para ligar ao meu marido, aos meus pais, à minha irmã e ainda  para mandar mensagem às amigas, enquanto ouvia a música que dava na rádio. A meio da viagem, no meio das dores, ainda apanhei um susto no trânsito e dei por mim a pensar que, se morresse num acidente, a capa do JN já me estava destinada - "mãe a dar à luz morre em acidente". Abanei a cabeça - "que estupidez!" - e mudei a estação de rádio para ouvir uma música mais animada. Cheguei ao hospital. Estacionei nas urgências. Por sorte, tinha um lugar para grávidas vazio mesmo à porta. Escondi a mala com o computador no chão do carro. Saí do carro, entrei nas urgências e foi com alguma (muita!!) vergonha que, do alto dos meus saltos de 10 cms e mala ao ombro, informei as meninas da receção que pensava estar em trabalho de parto.

Deram-me uma pulseira com os meus dados, encaminharam-me para a obstetrícia e lá fui eu, ansiosa. Quando cheguei à parte da obstetrícia, decidi ir à casa de banho antes de entrar. Sentia-me a transpirar e precisava de dois segundos de calma antes dos exames todos, precisava de me refrescar e olhar ao espelho. Saí da casa de banho a sentir-me melhor. Só que.... "páaaaaas"!!! De repente, as pernas ficaram molhadas e quentes, e as calças ensopadas.

"As águas!! Rebentaram-me as águas!!".

Só que não foi só a bolsa de água que rompeu. Os meus olhos encheram-se de lágrimas e desatei num pranto tal que tive que me encostar à primeira parede que encontrei. Peguei no telefone. Liguei-lhe, mas nem conseguia falar de tão emocionada que estava.
- Estou a chegar, estou a chegar! Espera por mim!, dizia-me ele.

Um médico passou por mim. A ver-me a chorar assim, deve ter achado que algo de mal se passava:
- Está tudo bem?
- Está!! Desculpe! (sniiiiif) É que estou tão feliz. Estou mesmo feliz. (sniiiif) Rebentaram as águas. E eu nunca tinha sentido isto. E tinha sonhado tanto com isto... (sniiif) Estou mesmo feliz.

O médico desapareceu. Talvez tenha pensado em encaminhar-me para a psiquiatria. Mas cocktail de ocitocina com a emoção de entrar em trabalho de parto espontâneo deu naquilo... Eu estava tão emocionada e feliz que nem me conseguia articular direito.

O que acontecia dali a umas horas?
Esta imagem.
Dali a umas horas, tinha no colo o bebé mais querido, perfeito, adorável, sorridente (chamem-lhe espasmos musculares involuntários, não quero saber, para mim eram sorrisos!) que podia desejar, e com duas covinhas irresistíveis.
Dali a umas horas, descobria que, ao contrário dos meus piores pesadelos, era possível amar o segundo filho com a mesma força, intensidade e sentimento de novidade com que se amou o primeiro filho.
Dali a umas horas, deitava-me, agoniada em dores, com soro a entrar-me no braço, com todos os músculos do corpo doridos (principalmente dos braços), a testa ainda a latejar e um cansaço tal que me sentia atropelada por um camião. Mas deitava-me tão feliz, tão feliz, tão feliz. Tinha acabado de me despedir da filha, que estava radiante, e tinha ido para casa com os avós. E tinha acabado de conhecer o meu.... filho. :)
Conto todos os demais pormenores da história nos posts seguintes, porque lembro-me que gostaram muito da história do parto da Constança e não quero que falte nada. :)

Até já!