quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Começou a maratona dos Óscares

Depois do "Boyhood", foi a vez de vermos o "Birdman". Dois filmes totalmente diferentes, mas dois filmes igualmente originais na forma de narrar a história. Um filme sobre a família e os dramas familiares, o outro filme mais centrado numa única personagem e nos seus fantasmas. Um filme que dura doze anos reais. O outro filme que dura mais que 90 minutos, mas em que o cenário nunca se move. Ambos os filmes a partirem de ideias brilhantes. Ambos a conseguirem despertar em mim uma vontade enorme de regressar ao cinema. No entanto, se, quanto ao primeiro, achei que houve uma ótima ideia totalmente desperdiçada (e eu adorava o Linklater, por isso, ainda mais desiludida fiquei!) que resultou num filme pretensioso e sem história ou profundidade, no segundo caso, a concretização conseguiu encher-me as medidas. Fui a única dos dois: ele adormeceu a meio, devo dizer. Mas eu senti que estava realmente a viver um momento único de cinema. Adorei a prestação do Michael Keaton, num registo completamente louco e com uma entrega total ao papel. Adorei o papel do Edward Norton também num registo mais decadente (se bem que aqueles abdominais não estavam nada decadentes, não...). Achei sobrevalorizada a nomeação da Emma Stone. Adorei o pormenor do baterista, sempre a tocar, até se confundir com o próprio filme, a dada altura. O efeito visual impactante das asas. O cenário, sempre em rotação. A parte do Riggan, personagem interpretada pelo Michael Keaton, a passear no meio da multidão. E o fim. Já não via um fim tão original há muito. Que belo fim! Lembrei-me dos tempos do Magnólia, em que se faziam filmes loucos que nos marcavam. Este marcou certamente. Se é um filme de que toda a gente vai gostar? Não sei. Pela minha amostra, diria que a probabilidade de gostarem é apenas de 50%. Mas serão uns 50% que irão sair do cinema intrigados, a pensar no filme e com vontade de falar nele. Como eu. Serão uns 50% felizes.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

No meu chuveiro

Não acontece com toda a gente?
O chuveiro tem a melhor acústica: faz-nos parecer afinados (mesmo que a música nem pareça a mesma cantada por nós), com a melhor dicção (mesmo que para os outros o nosso inglês soe a mandarim), e capazes de colocar um Coliseu em delírio.
O chuveiro é ainda terapêutico: para mim, pelo menos, serve para organizar o dia, lembrar-me de assuntos pendentes e tomar decisões. Também é local de inspiração e ideias.
No entanto, ultimamente, o chuveiro tem sido mais que isso: tem sido o meu spa caseiro. Ontem, depois de uma passagem muito rápida pelo ginásio, para cansar o corpo após um fim-de-semana tão cansativo e exigente em frente ao computador, meti-me no chuveiro e senti-me nas nuvens. Ali, ninguém nos chama. Ninguém nos faz perguntas. Ninguém nos pergunta por prazos. Ninguém nos pede para mudar fraldas ou fazer sopas para a bebé. No chuveiro, somos só nós, as nossas músicas, a água a cair e a inspiração a chegar.

Sim, quem não tem cão (neste caso, tempo para spas, massagens ou simplesmente DORMIR), caça com gato! Depois só tenho é que ter coragem de olhar para a conta da água...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Coisa estranha, isto de ser filha

O meu pai é uma pessoa muito intensa.

Pensei muito antes de escolher a palavra que o descrevesse melhor, mas acho que esta assenta como uma luva: "intenso". O meu pai é intenso. Com tudo o que tem de bom. Muito bom. E com tudo o que tem de... menos bom.

O meu pai é tão intenso que dizer as coisas uma vez não chega. Gosta de as dizer outra vez. E outra vez, não vá eu não ter ouvido da primeira. Da segunda. Ou da terceira vez.
- Não te esqueças de levar o carro à revisão!
- É verdade: tens que levar o carro à revisão, vê se te lembras.
- Já levaste o carro à revisão?
- .....
- Chega! Já sei...
(E protesto)

O meu pai é tão intenso que gosta de repetir o meu nome, quando fala comigo. Repete muito e eu sinto que o meu nome se gasta quando é tão repetido. E agora repete também o nome da minha filha.
- Constança?
- Constança!
- Constaaança.
- ....
- Ela não te vai responder. Não sei se reparaste, mas ainda não fala.
(E protesto)

O meu pai é tão intenso que quer organizar os meus fins-de-semana. Assim, preferencialmente, os meus fins-de-semana incluirão sempre uma noite em casa dos meus pais. Ou um jantar. Ou um almoço. Ou tudo. Sim, de preferência, tudo: jantar, dormir, almoçar, jantar, dormir outra vez.
- Têm planos para sábado? Podiam vir cá a casa jantar.
- O que fazem domingo? Não querem ir lá almoçar?
- No próximo fim-de-semana venham até cá...
- ...
(E protesto)

O meu pai é intenso. E muito presente. Gesticula. Toca-me nos braços enquanto fala. E toca-me outra vez, quando acha que estou distraída. (E eu protesto) Se estamos a andar e a conversar, para nos momentos mais altos da conversa. (E eu protesto) Quer saber de tudo sobre mim. Falamos todos os dias desde sempre. Mesmo depois de, aos 18 anos, eu ter saído de casa para ir para a faculdade, e ter ido viver sozinha. Falamos todos os dias, com a intensidade do meu pai e com os meus protestos.

Há dias, no entanto, em casa, estávamos os três no chão a brincar, olhei para o lado e vi tudo repetido. Vi-o a pegar em mim ao colo. Vi-o a rir-se com ar derretido, a olhar para mim como sempre olhava, quando era mais nova. A rir-se com ar derretido e sem sequer disfarçar. Vi aquele olhar de amor, de amor tão puro, sem "mas", sem "se"s. Vi aquele sentimento de proteção. Vi aquela intensidade que só um pai sente por um filho. Olhei para ali e vi-me, na minha filha. Olhei para ali e, nele, vi o meu pai. Vi-nos a nós. E fiquei esmagada pelo sentimento de culpa.

E pedi-lhe desculpa por todas as vezes que protestei. E pedi-lhe desculpa por, no meio de tantas palavras a mais, eu dizer sempre tantas palavras a menos. Pedi-lhe tanta desculpa. Mas, como sempre, não pedi desculpa ao telefone. Nem ao vivo. Pedi desculpa dentro de mim, onde vivem este 32 anos de memórias, de pai e filha. E agora, como a escrever ninguém olha para nós e nos vê o sentimento de culpa a encher-nos os olhos, peço desculpa por palavras. Escrevo o que não digo. E onde sei que não vai ler. Coisa estranha, isto de ser filha. Tanto para gostar e tão pouco para dizer.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Marido fora...

... Loucura na casa? Festas com muitos copos e música? Noitadas? Compras non-stop? Cabeleireiro? Ginásio? Manicura? Massagens? Jantarada com as amigas?

... Qual quê! Estamos as duas (e a Malti a assistir) a encaixar cubos numa caixa. A por um pinguim a tocar de cada vez que lhe batemos nas orelhas. A ver bonecos psicadélicos na televisão. A espreitar o nosso reflexo no espelho de dez em dez minutos. E a rir-nos de cada vez que o fazemos. Marido fora, loucura na casa! (só que não)

(Aviso à navegação: Se entraste hoje neste blog pela primeira vez e estás a ler isto, tem lá calma. Não enveredei pelas drogas. Estou a descrever as brincadeiras que tenho com a minha filha de oito meses. ;))

Basta-me ser a Média Mulher

Ser boa amante. Saber apimentar a relação. Usar lingerie bonita e a condizer. Ter a depilação em dia. Manter o corpo magro e tonificado. Fazer surpresas porque sim. Dizer "amo-te". Marcar fins-de-semanas românticos. Sorrir. Contar o dia de forma animada. Rir atirando a cabeça para trás e mostrando a dentição Pepsodent, enquanto o cabelo com as madeixas em dia, brilhante, hidratado e bem cortado salta em câmara lenta. Vestir bem. Conhecer as músicas que passam na rádio. Agarrar a cara-metade para dançar, porque sim. Beijar de forma apaixonada. Partilhar segredos e sonhos.

Ser boa dona de casa. Saber fazer cozinhados ainda melhor que a mãezinha dele. Preparar o pequeno-almoço e colocar-lhe ainda algo no bolso do casaco algo para trincar a meio da manhã. Ter a casa sempre impecável. Perceber de decoração. Escolher almofadas para o sofá a condizer com as cortinas. Comprar loiça na Vista Alegre. Ter sempre talheres de prata e copos para cada tipo de bebida. Colocar sempre a mesa como se a seguir a Caras nos fosse fotografar. Saber receber visitas e saber fazer entradas, e entradinhas, e sobremesas divinais. Ter sempre velas aromáticas espalhadas pela casa. Ser organizada e ter sempre uma ementa organizada para a semana, as compras em dia e as faturas guardadas num dossiê. Saber gerir o orçamento familiar como um contabilista.

Ser boa mãe. Ler os livros de todos os pediatras e ter sempre uma opinião fundamentada sobre cada tema, seja ele hora de dormir, vantagens de usar chupeta ou ainda a "ansiedade da separação" que começa a despontar nas crianças por volta dos seis meses. Saber todas as músicas infantis de cor. Não ter dores nas costas e estimular constantemente os primeiros passos da criança. Contar histórias à noite. Sorrir muito e conversar. Colocar sempre ao bebé roupa bonita e a condizer. Golas, muitas golas, laços e folhinhos. Tirar fotografias. Muitas e com a máquina fotográfica. Organizar álbuns por datas, muitos álbuns e marcar sessões fotográficas. Muitas sessões, em que todos ficamos bem. Andar na natação para bebés, nas massagens para bebés e ir aos concertos para bebés.

Ser boa amiga. Estar sempre por perto. E com um sorriso nos lábios. Ter tempo. Ter disponibilidade. Telefonar constantemente. Marcar almoços nos sítios da moda. E jantares. Comprar presentes porque sim. Porque "isto tinha a tua cara!". Acompanhar ao ginásio. E à aula de pilates. E ao curso de costura. Ir às compras, porque aquela loja tem saldos ótimos.

Este fim-de-semana agarrei-me ao computador e coloquei todas estas facetas de ser mulher em standby. Trabalhei praticamente o fim-de-semana todo. Fui só a mulher trabalhadora e cinzenta, sem piada nenhuma. Fui só a mulher sem valor acrescentado para o marido, filha, amigas e família. E o peso na consciência que ficou no fim? E a sensação que ficou de ter falhado em todos os outros pontos? E a sensação de que falhei enquanto Mulher? É que já nem quero ser a Super Mulher. Não vale a pena, desisti dessa luta. Fica o título para quem merecer e quiser lutar por ele. Eu já só participo na Liga das Mulheres Médias. Não quero ser Super Mulher. Basta-me ser uma Média Mulher. É que é tão difícil ser tudo, e ser tudo bem... Desculpem o desabafo. Mas o blog às vezes também serve de "caixa dos desabafos".

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O jajão

Há dias liguei a televisão e estavam a discutir, na Casa dos Segredos (ou Desafio Final, ou lá como se chama agora aquilo), algo que para mim era chinês: "jajão". "Ai, porque eu não é só jajão, fiquei triste", "pois, eu também não alinho no jajão", "....jajão", "...jajão...". E se, primeiro, percebi que estavam a falar do João, depois lá percebi que estavam a falar de... mentiras! Sim, pelos vistos, "jajão" significa "mentira". Lá pesquisei, por esse maravilhoso mundo da internet fora, e percebi que se trata de um termo com origens angolanas. Mas o pior veio depois. Apercebi-me que tooooooodos lá dentro conheciam o termo. Apercebi-me também, com quem conversei depois sobre isto, que todos conheciam o termo por causa desta música. E apercebi-me, com muita pena minha, que ando completamente a leste desta nova onda de músicas deste estilo. Completamente a leste!

Agora digam-me, por favor, pessoas lindas e maravilhosas que me leem: onde é que passa este tipo de música? É que oiço rádio o dia todo e nunca ouvi. Como é que isto me passou ao lado este tempo todo? Um dia destes ainda vou dar por mim numa festa, com toda a gente a dançar e conhecedora das músicas, e eu completamente perdida, como quem aterrou no ano errado. Vou dar por mim como os nossos pais se dariam nas nossas festas, portanto. E não quero ser já uma dos "pais", "esses velhos a leste de tudo". Não estou ainda preparada. Não estou.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dos fins-de-semana bons

O fim-de-semana passado teve, a dada altura, todos os ingredientes para correr mal, muito mal: por imprevistos de última hora, uns amigos nossos que se iam juntar a nós, viram-se impossibilitados de o fazer e demos por nós, de repente, em plena A1, a mais de 100 kms de casa e sem planos nenhuns, nem ideias quanto a destinos. Como íamos ficar em casa desses amigos, ficámos sem nada programado dum momento para o outro. Continuamos? Voltamos para trás e regressamos a casa? Foi então que me lembrei - "e as aldeias do xisto? Podíamos dar um saltinho a essa zona!". A verdade é que sempre tive curiosidade de conhecer as famosas aldeias. E pensava, na minha inocência, que eram duas ou três aldeias, muito alinhadas lado-a-lado e a ocupar uma reduzida área. Quando percebi, a pesquisar na internet, que afinal eram VINTE E SETE, espalhadas entre Coimbra e Castelo Branco, engoli em seco. Mas nem isso me demoveu. A escolha acabou por ser fácil: escolhemos uma das primeiras que apareceu no Google e que, por acaso, era também a mais próxima de nós e tinha estadia e refeição com desconto num desses sites próprios de descontos coletivos (€55 com dormida, jantar e pequeno-almoço para dois. Nada mau, pois não?).

Assim, lá rumámos para a bela da aldeia de Gondramaz. E que bela descoberta! A casa ("Pátio do Xisto") era acolhedora, enorme, com três quartos, cozinha equipada, jantar com salamandra, pátio, e ficámos lá só os três. À noite, no restaurante, fomos recebidos pela D. Lúcia que nos serviu uma chanfana, o prato local. Nunca tinha comido e fiquei fã (ok, fiquei menos fã quando soube que era feita de cabra velha, mas aí já estava de barriga cheia e satisfeita da vida). Depois, provámos ainda um bolo de dióspiro (também nunca tinha comido) e ficámos à conversa umas boas horas com a D. Lúcia e com outros casais ali presentes hospedados noutras casas. Não é incrível como parece que, nos lugares mais calmos, o tempo parece ser mais gentil e abrandar? No fim, a percorrer as ruas da aldeia, ainda procurámos a raposa que, pelos vistos, ali vive e foi praticamente adotada pelos locais. Infelizmente não a chegámos a ver. No dia a seguir, acordámos com as galinhas (ok, eram 9h30, mas ao domingo parece muuuuito cedo) e fomos tomar o pequeno-almoço a que tínhamos direito, virados para a encosta.

Foi ali que nos disseram que devíamos visitar o Parque Biológico da Serra da Lousã. Descreveram-nos aquilo basicamente como sendo "giro", por isso, como não tínhamos planos alternativos, lá fomos, mas sem grandes expectativas. Eu confesso que estava a contar com meia dúzia de bicharocos espalhados por pouco mais de 10m2. Mais uma vez enganei-me e muito: tem 33.000m2 (!!) com ursos pardos, lobos, raposas, gamos, veados, linces e muitos muitos mais. Andámos 2 horas e sempre a passo ligeiro, sem demasiadas contemplações (mais porque a Constança pesa muito, e ia pendurada no marsúpio). E gostei ainda especialmente deste projeto que li no panfleto que nos deram à entrada. No fim, queria muito andar a cavalo no picadeiro (dá para andar a €2), para matar as saudades, mas o instrutor já tinha ido embora quando lá fui comprar o bilhete. Por isso, acabámos a fazer o quê? A comer. Onde? No Museu da Chanfana. A cabra velha parecia perseguir-nos. O fim-de-semana acabou por ser bom. Muito muito bom. E deixo aqui praticamente todo o roteiro que fizemos, caso o programa interesse alguém. Quanto a mim, regressei a casa mais feliz. Com a sensação de ter estado três ou quatro dias fora em vez de dois. E a sensação boa de ter aproveitado realmente o fim-de-semana, coisa que raramente acontece...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Coisas que gostava de fazer antes de morrer

Fiz, há mais de um ano, uma lista aqui no blog com coisas que nunca fiz e que gostava de fazer antes de morrer. Faziam parte da lista coisas simples como andar de elétrico, patinar no gelo e jogar paintball (eu disse que era tudo simples). Este fim-de-semana lembrei-me de algo básico também e que nunca consegui fazer. Não sei se nunca consegui por algum tipo de deficiência de que padeço, mas nunca fui bem sucedida naquelas imagens todas desfocadas em que temos que olhar fixamente para um ponto e em que, de repente, começamos a ver a 3D. Sabem quais são, certo? Nunca consegui. Devo ter realmente um tipo de deficiência qualquer, porque já me esforcei mesmo muito (mais do que devia admitir, até) para ver o raio das imagens 3D e só consegui ver um borrão de tinta e muita, muita frustração. É que é horrível não conseguir ver nada mais que uma página estúpida, mesmo depois de trocar e destrocar os olhos, enquanto todos à minha volta descrevem imagens belas e celestiais que ali aparecem. Mais alguém padece deste problema?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Afinal somos todos Charlie?

Não sou jornalista, mas sempre admirei a coragem de quem se deslocava a cenários de guerra, quem tratava temas controversos e de quem dava o nome e/ou a cara a expor a verdade, mesmo que polémica. Não sou jornalista nem sei se teria os ingredientes para o ser, nomeadamente a tal coragem de quem não se importa de correr riscos em nome da notícia. Confesso que também não acompanhava muito o jornal satírico francês Charlie Hebdo. Sei que eram sempre capas polémicas, sei que às vezes via uma ou outra e pensava "ei lá, pisaram um bocado o risco!" (como a capa com o Michael Jackson versão esqueleto e a legenda "finalmente branco!" ou a capa com o Maomé a dizer que é duro ser amado por idiotas - podem ver algumas aqui), mas sei também que os jornais satíricos são especialistas nisso mesmo - em brincar com todos os temas da atualidade, incluindo os mais sérios. Chama-se a isto liberdade de expressão, não é? Sou católica e não adoro que gozem com a minha religião, mas se for uma piada inteligente posso até rir-me também. O mesmo se passa com as minhas convicções políticas, com a minha inclinação futebolística ou até com o meu país ou cidade. Se o humor for inteligente, venha ele, para me rir também. Se for um humor menos inteligente, posso não rir-me, posso até ficar desagradada, mas nada que me tire do sério. No caso dos ataques terroristas em Paris, foi basicamente isto que aconteceu. Ora, o jornal terá ultrapassado os limites do humor? Não teve piada absolutamente nenhuma? O jornal foi até despropositado? Tudo interpretações, tudo subjetivo. O que não é de todo subjetivo é que o que aconteceu ali ultrapassou todos os limites do bem senso e do respeito pelo próximo. É indiscutível - e se não é, devia ser - que as palavras devem ser combatidas com palavras. O verbo deve ser respondido com o verbo. E não com armas. Não com sangue. Não com a vida de alguém. Não sou jornalista, mas ontem, mais que nunca, admirei todos os que escolheram essa profissão. Admirei e admiro todos aqueles que escrevem em nome da verdade e admiro todos aqueles que vivem da liberdade de expressão. Há algo que nos une nas nossas profissões - as palavras -, mas há algo maior que nos separa - a tal coragem que não tenho. Hoje, as minhas palavras estão com eles. E espero que mantenham para sempre a tal coragem que têm e que tornam este mundo um mundo melhor.

Comer de forma emocional

Para 2015 tentei ter planos realistas e deixar de sonhar, entre outros sonhos irrealistas que sempre mantive, com uma magreza que nunca consegui atingir, com uma frequência de desporto que há mil anos que não consigo manter, e com uma vida saudável que nunca consegui realmente concretizar. No fundo, decidi aceitar que não sou perfeita, que se pesar 60 ou 62 kgs é bom na mesma, e que se comer um doce por dia e não praticar desporto tão assiduamente como gostaria não tem mal, o que importa é que me sinta bem comigo mesma, e blábláblá. Ironicamente, voltei a pesar-me depois destas resoluções todas e noto que tenho vindo a emagrecer de forma contínua desde maio. Não pesava tão pouco há muitos anos. Ironicamente também, voltei a conseguir correr assiduamente. E até não me tenho cansado muito. Ironicamente ando também com menos desejos de gulodice. Será que vou inverter completamente os ensinamentos de livros como "O Segredo", que diziam basicamente "somos o que pensamos e projetamos ser"? É que, desde que me assumi como gordinha feliz e com barriguinha da gravidez, comecei a ter menos fome e a ver a barriga a ficar ainda melhor que antes. Não sei o que se passa. Mas tenho a sensação que, no fundo, isto é tudo resultado de ter finalmente todos os lados da minha vida enquadrados, quase como se todos os astros finalmente se tivessem alinhado - tenho a família e o trabalho perto um do outro, como sempre sonhei. E lembro-me agora que a Dra. Mariana me dizia, quando lá andava nas consultas, que iria ser difícil emagrecer mais, porque eu comia de forma emocional. Agora percebo. Eu comia, porque me sentia vazia. Era um vazio dentro de mim que tentava preencher com doces, e salgados, e tudo o que apanhasse à frente, na esperança de ver o vazio desaparecer. Mas o vazio era, afinal, outro. Era um vazio que só agora foi preenchido. Era um vazio de amor, e de carinho, e de ter alguém em casa à minha espera no final do dia. Não sou psicóloga, mas quer-me parecer que não seria de todo mal pensado aliar a nutrição à psicologia neste tipo de casos (e há tantos, não há?). É que, olhando para trás, parece-me que as palavras da Dra. Mariana fazem agora todo o sentido: eu comia basicamente de forma emocional. E por muito que, racionalmente, soubesse o que estava certo e errado, no momento de fazer o jantar, por exemplo, acabava sempre a comer asneiras. Comer de forma emocional é tramado. Para a balança, mas, essencialmente, para a cabeça. E parece-me que é preciso primeiro arrumar a cabeça. E depois disso o estômago será mais facilmente re-educado também.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Um pequeno passo para a Humanidade...

... Entretanto, esqueci-me de contar aqui que a minha excelentíssima filha aprendeu, na passada segunda-feira, uma nova habilidade. A minha mãe bem me tinha avisado antes - "pode parecer insignificante, mas vais ficar emocionada quando acontecer, vais ver". E, como sempre, teve toda a razão. A minha mãe não é pessoa de estar sempre a atirar ao ar certezas e de afirmações, por isso, já sei que, sempre que afirma qualquer coisa, seja o que for, vai acertar totalmente. Verificou-se novamente.

Pois então estava eu a fazer algo que faço dez vezes ao dia - mudar fraldas e roupas -, quando comentei com a Constança, a cantarolar: "Já estás limpinha!!". Não foi a primeira vez que disse algo do estilo. Nem foi a primeira vez que cantarolei naquele tom. Dou por mim a cantarolar todas as frases, quando estou com ela, e a dar gritinhos de emoção por tudo e por nada. Tudo é motivo para "muito bem!!!" ou para batermos palminhas de contentamento quando estamos com um bebé, já repararam? Devem ter algo neles (serão aqueles olhos pestanudos em forma de peixinhos? será o cheirinho irresistível que emanam?) que nos faz ficar assim, não sei.

Tudo estava a ser igual a sempre, portanto. Um dia igual a todos os outros. Gestos repetidos. E o "já estás limpinha!!", cantarolado. Só que, desta vez, tive direito a... aplausos! Aplausos. Aplausos que não paravam. Muitos, muitos. Tantas palmas. E eu ali parada, emocionada, com o coração a mil, a garganta apertada. Palmas. Apenas palmas. Até os macacos sabem bater palmas! E, no entanto, para mim, foi todo um turbilhão de emoções. Como a primeira vez que disse "babá!". Até os macacos batem palmas. Até os macacos batem palmas - tive que repetir isto para mim mesma para conseguir desligar o "excitódromo". E, no entanto, por muito que dissesse a mim mesma, tive a certeza, naquele momento, que a minha filha era a sétima maravilha do mundo. O exponente máximo dos bebés. A certeza que o céu existe. Ouvi harpas celestiais. Enfim... Devem mesmo ser aqueles olhos pestanudos em forma de peixinhos que nos emburrecem e tornam ridículos. Ou aquele cheirinho irresistível que lhes sai dos poros e nos deixa atordoados. A minha filha bateu palmas. E eu voltei para o trabalho bem mais feliz e atordoada que quando dei o primeiro beijo, há dezassete anos atrás, a levitar e a sentir que os pés não tocavam no chão.

(não) há romance no ar

Depois do desastre que não foi o fim-de-semana em Amesterdão, ando a pensar em marcar um fim-de-semana nalgum lado. Sabem aquela vontade louca de sair, de fazer alguma coisa? Fui atacada e a vontade não me larga. Talvez seja por ser início do ano. Talvez seja por ter medo que, agora que vivemos 200% dedicados a ser pais, o romance desapareça das nossas vidas. Tanto me repetiram isso - "com um bebé em casa, a relação entre o casal sai sempre prejudicada!" - que tenho medo que seja realmente verdade. Talvez seja simplesmente por gostar de viajar. Talvez seja por tudo. Mas fui atacada por esta vontade louca de ir passar um fim-de-semana a alguma cidade europeia, de conhecer novas ruas, de visitar monumentos e museus com a euforia da primeira vez, de dar as mãos, e de respirar ar novo.

Alguma cidade que aconselhem para visitar em janeiro em dois dias apenas?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Cuidado: este post é feito de nuvens e algodão doce

No que toca a roupas da minha filha, sou uma mãe assumidamente vaidosa. Mas a verdade é que não sabia muito bem qual seria a minha "identidade" nesse campo até ser mãe e a começar a vestir. Antes disso, não sabia se iria gostar mais de a ver com roupa descontraída ou com lacinhos. Não sabia se iria preferir vesti-la com tons neutros ou com cor-de-rosa. Não sabia se me iria perder nas compras ou se me iria controlar estoicamente e comprar apenas o estritamente necessário. Até que a minha filha nasceu. E sucumbi completamente ao mundo da roupa para bebés. Rapidamente percebi que gostava mais de a ver com roupas muito femininas, gostava mais de a ver com muito cor-de-rosa, ou, em alternativa, com branco, verde água e materiais delicados. E percebi também que, na hora de escolher o que comprar, a qualidade e o conforto tinham que ser prioridade. Para mim, qualquer coisa serve: sou mulher, se tiver que usar uma camisa de material mais duro, umas botas que pressionem um bocado o calcanhar ou umas calças mais apertadas em nome da moda e porque até estavam em saldo e eram giras, aguento. Eu e qualquer mulher (quem nunca comprou algo um bocado desconfortável, só porque estava a um preço irresistível?). Mas a minha filha, não. É pequenina, tem uma pele muito sensível, passa o dia deitada, sentada, ao nosso colo ou a rebolar no chão, não fazia sentido vestir-lhe roupa no dia-a-dia que não fosse essencialmente prática e confortável (além de bonita, claro!). Assim, tem mil vestidos com folhos, golas e lacinhos, tem camisas de mil feitios e tamanhos de gola, tem meias para usar pelo joelho, mas no dia-a-dia opto por vestir-lhe essencialmente babygrows fofinhos, de boa qualidade e confortáveis.

Foi, portanto, nesta procura pela minha própria identidade enquanto mãe-novata-a-vestir-a-filha-bebé (e que a quer com todas estas características que descrevi), que dei de caras com a Anjo Kids. Primeiro, conquistaram-me pelos conjuntos de babygrows + peúgas + gorro + manta 100% caxemira a condizer, que, tudo junto, me pareceram capazes de tornar qualquer bebé digno de catálogo e simplesmente a coisa mais fofinha deste mundo. Depois, conquistaram-me pela qualidade. Além de serem a coisa mais fofinha deste mundo, são conjuntos macios ao toque, são práticos, quentinhos e duram, e duram, e duram. Os maiores elogios à roupa da Constança que recebi não foram quando a vesti com lindos cueiros, camisas de gola e meias pelo joelho - os maiores "ohhhhh!!" que ouvi foram, isso sim, quando a vesti "à bebé", com o babygrow cor-de-rosa, peúgas e mantinha igual. Quem diria que o conforto e a qualidade podiam ser bonitos também?

Entretanto, a prova que gostei tanto deste conjunto foi esta (devia ter vergonha de contar, mas azar): andei feita louca à procura de camisolas 100% caxemira para mim também. Fiquei rendida. Também queria experimentar o que era, para mim, nuvens e algodão doce transformados em roupa. E encontrei. Na Zara. E até da mesma cor. E em cinza claro. E em muitas outras cores. São mais caras que as camisolas de outros materiais, mas valem a pena. Se apanharem em saldos, não deixem fugir, recomendo! Entretanto, se passarem por mãe e filha pirosas a condizer, mas com o ar mais feliz do mundo por estarem ambas vestidas de nuvens e algodão doce, já sabem quem são. Somos nós. Mas podem ser vocês também se quiserem. As mães têm a Zara sempre à mão. Os bebés têm a Anjo Kids. E tenho para mim que o nome não é pura coincidência: parece mesmo roupa divinal, juro! (Entretanto vou ver se encontro alguma fotografia para mostrar)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Resoluções de Ano Novo

Há dois anos atrás, era este blog recém-nascido, partilhava eu aqui estas resoluções. 2012 tinha sido um bom ano, foi o ano em que me casei e em que fizemos a nossa viagem de sonho, e queria que 2013 fosse um ano marcado essencialmente pelo sucesso profissional (já agora, com tese de mestrado concluída - o que não aconteceu ainda, porque suspendi, mas há-de acontecer - e com um salário cada vez maior), queria que 2013 fosse um ano mais saudável e dedicado ao desporto, à família, aos amigos e ao romance. Queria chegar a 2014 com 55 kgs (acabei grávida, por isso, muito longe da meta), com tempo dedicado aos hobbies antigos (só aconteceu no que toca ao blog, pois retomei apenas a escrita), às leituras (mas não consegui ler tanto quanto gostaria), aos jantares de amigos (este ponto acho que consegui por em prática)... Mas 2013 acabou por ser um ano de mudanças, em que comecei um novo emprego que exigiu muito de mim e me afastou de quem mais gostava, 2013 foi o ano em que engravidei, em que senti que finalmente deixei de ser menina e me tornei Mulher, 2013 foi o ano em que me atirei de cabeça na minha profissão e sei que, se algum dia tiver sucesso naquilo que faço, foi principalmente graças a 2013. 2014 foi o ano em que a tal Mulher continuou a dedicar-se ao trabalho, mesmo que sozinha e longe da família, e comecei finalmente a ver alguns frutos do trabalho. Consegui mudar novamente para perto de quem mais gosto e a fazer o que gosto, finalmente passou a ser possível conciliar os dois elementos na mesma equação. Construí a família que tanto queria - e todos juntos, o mais importante. Em 2014 tive uma filha e voltei para casa. Por isso, 2014 vai ser um número que hei-de repetir para sempre e com um sorriso na cara: sim, 2014 foi "o" ano. O dia do casamento é o dia mais feliz dum casal, não há dúvida. Mas o dia do nascimento dum filho é o dia mais emocionante, porque além de se celebrar o amor, é o dia em que conhecemos alguém muito muito esperado que vai ser parte da família para todo o sempre. É o dia em que choramos, e rimos, e em que todo o nosso corpo se transforma e nunca mais somos os mesmos. Há dias, a ver o Seinfeld, este dizia "Once a man has children, for the rest of his life his attitude is: "The hell with the world, I can make my own people!" e não consegui parar de rir com o tão verdadeira que essa frase é. No fundo, acho que é isso que todos os pais sentem: consigo criar as minhas próprias pessoas, consigo criar gente. E deve ser isso que nos dá uma ligeira arrogância, ali misturada com todo aquele novo amor, mesmo que não queiramos admitir, já pensaram nisso?

Assim, desde que criei este blog muita coisa mudou. Não sei se se aperceberam disso, mas comecei a escrever cheia de sonhos, cheia de desejos, cheia de dúvidas: queria tudo, queria o mundo e mais ainda. Queria ser magra, e atlética, e culta, e viajada, queria romance, queria estar com a família, queria estar com os amigos, queria ser saudável e ao mesmo tempo investir na carreira. Queria tudo. Para 2015 quero menos. Muito menos. Talvez porque me sinto mais completa que nunca. Não me vou martirizar se não comer uma salada todos os dias. A verdade é que estou mais magra desde que deixei de me preocupar tanto com a balança, não é irónico? Estou mais magra que estava em 2012, quando comecei a escrever aqui, obcecada com o peso. Não me vou martirizar se não fizer desporto 3 vezes por semana. Hei-de ir ao ginásio sempre que conseguir e pronto. Não me vou martirizar também se não conseguir viajar tanto quanto queria. O dinheiro não estica, há que aceitar isso. Não me vou martirizar se não ler um livro por mês. Para 2015 quero menos. Quero amor, essencialmente. Mas amor expressado, partilhado, vivido. Quero ter tempo para gostar de quem gosto. Gostar com qualidade e sem estar sempre a olhar para o relógio. Gostar sem pressas e sem me estar a martirizar com coisas menos importantes. Em 2015 quero perder menos tempo com o supérfluo e ligar mais ao que interessa. Quero conseguir desligar a televisão e não perder tempo com tanto lixo televisivo a que ficamos presos e que nos impede de conversar. Em 2015 quero conhecer melhor as pessoas que me rodeiam. Quero ouvir mais e estar mais presente. Em 2015 quero conseguir pousar o telemóvel e não olhar para ele às refeições. Nem quando estou com outras pessoas. Os telemóveis foram criados para nos aproximar, mas no geral só nos afastam. Em 2015 quero conseguir saborear melhor as refeições. Em 2015 quero organizar melhor o tempo. Deitar-me mais cedo. Sentir mais a cidade. Em 2015 quero menos roupa, menos sapatos, menos casacos. Em 2015 quero mais amor. Saúde. E um emprego em que me continue a sentir realizada. O resto há-de resolver-se também.

Feliz 2015 a todos os que estão desse lado também. Com tudo o que vos enche o coração.