quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O perigo de ter uma filha que começa a imitar tudo

A Constança começou ultimamente a imitar, além das palavras que consegue repetir, alguns gestos, posturas e movimentos nossos. Assim, se pusermos a dar música, já abana a anca com moderada destreza; se dissermos "shiu!", já leva o dedo em riste aos lábios; quando dizemos "não", abana com o dedo, etc. Só que, nos últimos dias, apanhou mais alguns gestos nossos que me apanharam completamente desprevenida.

Ontem, o meu pai estava a falar com ela e a dizer algo como "quando fores mais crescidinha, venho buscar-te e vais passar os fins-de-semana com os avós". Olho para ela, está ela a tapar os ouvidos, com ar de sofrimento. Ignorei, enquanto tentava conter o riso, e tirei-lhe as mãos das orelhas. O meu pai continuou o discurso. O mesmo gesto a tapar os ouvidos. Não conseguimos evitar as gargalhadas.

Mas ainda houve pior. Estava eu depois a comentar, na esplanada do restaurante, que alguém na mesa ao lado não parava de fumar, quando olho para baixo e está ela, aquele micro ser, com um ar muito indignado a fazer o mesmo que eu - a imitar o movimento de fumar! Fiquei com dores de barriga de rir.

De forma que agora, além de termos que ter cuidados redobrados com a linguagem, também temos que ter atenção aos gestos que fazemos. E esta miúda ainda só tem um ano e três meses. Imagino que isto vá sempre piorar. Estou tramada...

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Pequenas guerras na cama

Sempre tivemos uma pequena guerra cá em casa. Em discussão estava o ler ou não ler um livro na cama, antes de dormir. Eu sou totalmente a favor - habituei-me a ler na cama desde que me lembro de saber ler, relaxa-me, transporta-me para outro mundo e sempre foi um dos meus rituais preferidos do dia. Ele encontra-se do lado oposto da guerra - diz que a cama serve é para dormir (ok, e talvez para outras coisas, mas não envolvem livros!), não gosta de ter a luz do candeeiro acesa, faz-lhe confusão tanta luz antes de dormir e não é tão amigo da leitura como eu sou, ficando satisfeito por ler apenas em 2 minutos as notícias no iPad. Como é que temos resolvido esta guerra? A verdade em que nem sei bem responder. Não sei explicar ao certo como é que sobrevivemos, mas terá sido por força de cedências de parte a parte: hoje estás cansado, não leio; hoje estás a ver as notícias no iPad, vou ler mais um capítulo; e assim alternadamente. Quando ele ficava com sono e a luz começava a incomodá-lo, cheguei a ir para a sala acabar determinado livro, porque não conseguia parar de ler naquele momento. Sem discussões. Cedências, portanto. Mas esta guerra teve altos e baixos. Teve vitórias e derrotas. Vencidos e vencedores. Teve o dia em que recebi uma mini lanterna com uma mola para encaixar nos livros (presente duma amiga atenta aos meus dramas familiares) e achei, durante um período de tempo, que o mundo (dos livros na cama) era meu. Só que a abençoada lanterna acabou "comida" pela Malti. Agora que penso nisto a esta distância já não tenho a certeza se terá sido completamente acidental, mas foi assim que o período "lanterna" terminou. Teve ainda a altura em que o convenci a começar a ler também, todas as noites, e chegámos até a ler juntos, cada um o seu livro. Durou pouco. Teve a altura em que decidimos ambos ver filmes ou séries na cama em vez de lermos. Também terminou. E ultimamente eu fazia um esforço para ler mais durante o dia e não ler na cama. Cedências, cedências...
Até que hoje li esta notícia e sinto que a minha guerra ganhou um novo fôlego, com clara probabilidade para mim de a vencer. Só tenho que imprimir umas vinte cópias desta notícia em tamanho A3 e, de seguida, espalhá-las pela cama. Acho que vai acabar por ler quando for dormir. E quem sabe se o convenço a aderir à leitura noturna... Segundo este estudo, 6 minutos de leitura noturna reduzem o stress em 68%, além de esvaziarem a mente e prepararem o corpo para dormir. Além disso, quem lê bastante demonstra melhor memória, melhores habilidades mentais, entre outras inúmeras qualidades. É preciso mais argumentos? Parece-me que esta guerra está claramente ganha. ;)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O perigo de ter uma filha a começar a falar

A Constança tornou-se, nos últimos meses, além duma mini corredora de maratonas, uma palradora nata. Aos "papá", "papa" e"olá" constantes, foi acrescentando palavras como "mamã" (finalmente!!!), "sim", "não", "avô", "avó", "umqué" (com um acenar de cabeça, que deve significar "não quero"), "dá" e palavras um pouco irrelevantes para o dia-a-dia como "avião", "uva", "papel". Ao mesmo tempo, aprendeu palavras constrangedoras como "xixi" e "cocó" (que adora dizer bem alto quando alguém vai à casa-de-banho) e ainda "pipi" (que significa "passarinho", e costuma ser acompanhado de um apontar para o céu, a mostrar o pássaro em questão).

O problema é que, no meio disto tudo, começámos a puxar mais e mais por ela. E a dada altura talvez tenhamos puxado demais. Este fim-de-semana, a minha mãe começou a tentar ensinar-lhe, entre palavras como "mão", "pé", "um", "dois", "três", etc, a palavra "stop". Não me perguntem porquê. Estávamos todos à mesa.
- Quantos anos tens?
-...
- Um! Diz "ummm".
- Um!
- Quantos anos tens?
- Um!! (dedo ao alto)
- Muito bem! (risos)
- E stop? Consegues? Diz "stop"! Sssss-tooop!
- P#t@! (muito baixinho, a medo)
Silêncio.
- P$t@@!! (bem alto)
A minha mãe ficou paralisada e vermelha, a olhar para mim.
- Eu não lhe ensinei isto!

Sim, o problema de ter uma filha a começar a falar é que começam a sair estas pérolas quando menos esperamos. Escusado será dizer que ainda se ouviram mais umas destas ao longo do fim-de-semana. E a ironia é que esta palavra em concreto acabou por ser ensinada por uma pessoa que nunca disse um palavrão na vida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O LOL morreu?

Já não era sem tempo. Juro que esperei anos e anos por este dia. E finalmente chegou: de acordo com as mais recentes pesquisas levados a cabo junto das redes sociais, o "lol" está em desuso, encontrando-se o "haha" a recuperar o terreno que foi (com muita pena minha) perdendo. Podem saber mais aqui.

E eu sei que já expliquei mais que uma vez aqui no blog a minha aversão à expressão e que posso estar a ser repetitiva, mas nunca me parece demais repetir os argumentos em assunto de tão elevada importância.

Apresento aqui os meus argumentos a favor do movimento "Anti-Lol". Junte-se a mim quem vier por bem:
1 - O "lol" soa mal. Sim, experimentem dizer "lol" em voz alta. Tem um som ridículo, parece que estamos a enrolar a língua duma forma errada, duma forma que não é suposto o músculo da língua ser usado.
2- O "lol" é, na maioria das vezes, mal aplicado. De facto, significa "rir às gargalhadas alto e bom som", o que nem sempre é aplicável, porque há piadas que não merecem uma gargalhada, mas somente um sorriso. E às vezes nem um sorriso, quanto mais um "estou a rebolar a rir"/"lol".
3- O "lol" é utilizado, na maioria das vezes, como uma bengala de linguagem, quase como uma vírgula ou um ponto final e já não com o sentido de "ri-me imenso com aquilo que acabaste de dizer".
4- O "lol" encontra-se atualmente desvirtuado, porque é também utilizado como ironia - "ele disse isso? lol", significando somente que a pessoa em causa discorda, duvida, acha ridículo ou estúpido.
5- O "lol" torna os discursos mais redutores e pouco variados, pois quem o utilizada acaba a repetir a expressão demasiadas vezes, em vez de comentar com palavras e sentido de humor momentos que considera engraçados.
6- O "lol"é estúpido. Ok, este argumento é fraco, vale o que vale, mas o que querem que diga? Lol.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O dia imaginado

Imaginei tanto, tanto o dia que, quando chegou, senti que já não precisava dele. Refiro-me a passar um dia sozinha. Refiro-me a ter um dia só para mim, para descansar e fazer o que me desse na real gana. Imaginei-me numa praia, a apanhar sol e a ler. Imaginei-me a nadar em águas calmas e mornas, imaginei-me numa esplanada a beber um gin. Imaginei-me no silêncio, sem horários, sem sopas ou papas para dar, sem fraldas para trocar e sem choros ou apelos de fundo. Imaginei-me assim, muitas vezes ao longo do último ano, sem crianças, num dia de descanso só meu.

O dia finalmente aconteceu ontem. Ou melhor, podia ter acontecido ontem. O pai estava para fora e a Constança tinha ficado um bocadinho com os avós. Vi-me estendida na areia. O sol a tocar-me na cara. O livro "Dentro do segredo" ali ao lado, a piscar-me o olho, à espera que acabasse de ler os relatos sobre a viagem à Coreia do Norte do José Luís Peixoto (recomendo vivamente!). O mar a chamar por mim. O relógio e o telemóvel guardados, na mala, sem intenção de pegar neles tão cedo. Estive assim cerca de uma hora, hora e meia. Acho que até fiquei com um ligeiro bronze desse tempo. Descansei. E gostei muito. Mas o que é que me aconteceu depois? Comecei a ligar aos meus pais. Eu, que tinha acabado de deixar a minha filha com os avós, para uma tarde só de avós e netinha. Quis saber se estava bem. Se já lhe tinham dado a sopa. Se ela tinha chorado muito sem mim. Se lhe tinham trocado a roupa. Se, se, se. Uma chata do pior. Desliguei. Voltei a tentar aproveitar o momento só para mim. Mais uma hora. Talvez nem tanto. Talvez esteja a ser otimista. Foi muito menos. Voltei aos telefonemas. E acabei a assumir o pior: queria ir ter com eles. Não queria mais estar sozinha. Ou com amigos. Queria estar com a minha bebé. Sou uma fraca. Sou uma fraca. Sou uma fraca. Imaginei tanto o dia e, quando ele finalmente chegou, vacilei. Hei-de melhorar numa futura oportunidade.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Hoje vi um antigo amor

Hoje vi alguém de quem já gostei muito, há cerca de mil anos atrás, mais coisa menos coisa. E alguém que, com o passar dos anos, deixou de ter importância tal ao ponto de, atualmente, ser praticamente igual vê-lo a ele ou a um funcionário das Finanças. Quase zero. Um carinho no máximo. Uma amizade, se formos muito abrangentes no conceito de amizade. É triste, não é? Senti-me uma pessoa fria, mas a verdade é esta: senti zero. (Às tantas tornei-me mesmo numa pessoa fria. Que bom, sempre quis ser uma pessoa fria.)

Para onde vai este amor todo que já sentimos e desapareceu? Vagueia, triste e órfão amor, até se transformar em nuvens e chorar sobre nós? Recicla-se dentro de nós e é depois reutilizado, gasto e usado amor, nas novas paixões? Prefiro a primeira hipótese. Não gosto de pensar que ando a usar amor reciclado. Gosto de pensar que aquilo que sinto, atualmente, a cada dia, é novo, é virgem e está a ser estreado. Gosto de sentir que aquilo que sinto está a ser sentido pela primeira vez. E gosto de pensar que serei capaz de me apaixonar assim continuamente, como se cada dia fosse um começo, cada conversa fosse surpreendente, e cada beijo soubesse a primeiro, mesmo que tenha 90 anos e continue a dedicar todos os dias o meu coração velhinho à mesma pessoa.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Bipolaridades

Garanto-vos que não sou bipolar. Mas a verdade é que, ultimamente, me ando a sentir um bocado aos altos e baixos. Tanto ando eufórica e otimista, como me deixo levar pelos episódios menos felizes. A morte da Malti também não contribuiu para a alegria constante, eu sei e repito-o para mim mesma, para me sentir mais "normal". E a tristeza também que ser vivida com a calma necessária, para não deixar marcas, repito igualmente para mim mesma. A verdade é que andei durante uma semana a tentar sorrir e aproveitar as férias, a tentar ver o lado positivo de tudo, e a seguir tinha um telefonema da veterinária com más notícias que me tirava praticamente o chão debaixo de mim. Chorei muito. Desesperei muito. Era só um cão, dirão alguns. Pois era, era só um cão, mas foi também a minha primeira, a minha única, a minha fiel cadelinha que adorava e levava para todo o lado. E custa sempre separarmo-nos daqueles (mesmo que tenham quatro patas) que gostamos. Depois desse dia, tenho tentado "auto-animar-me". Olhar outra vez para o lado bom de tudo. Costumo ser boa nesse jogo. Correção: costumo ser muito boa (posso deixar as modéstias para o lado, certo?). Mas costumava ser algo muito muito natural em mim, que fazia sem esforço. Este exercício de tentar estar eufórica e otimista é difícil. É mais difícil quando - lá está - até então era natural e fazíamos sem pensar.

Garanto-vos que não sou bipolar. Mas, enquanto escrevo este texto, passei dum nó na garganta gigante a um estado de calma e tranquilidade. Às vezes bastam pequenas coisas, como um telefonema, para trazer outra vez um sorriso. Às vezes bastam pequenas coisas para nos reiniciar no tal jogo de sermos otimistas de forma natural.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O bikini chegou

Falasse eu mais cedo e tenho para mim que o bikini também teria chegado antes! Não é que, minutos depois de publicar o post anterior, a campainha de casa tocou e o carteiro deixou (finalmente!) a encomenda desejada?
- Chegou uma encomenda para si, escreveu-me por SMS a minha empregada.
Pelo que, mal pude, fui a correr a casa. Fiquei impressionada: dentro do típico envelope acastanhado dos CTT, um elegante saco hermético personalizado com o logo da marca e, dentro, bem dobrado, o bikini. Experimentei em frente ao espelho e fiquei satisfeita: assenta praticamente como imaginava, não fosse ali na zona das mamas, que podia ter um decote mais decotado e bonitinho.
Tivessem sido mais rápidos (quase 2 semanas e sempre a adiar...?) e era menina para vos vir falar muito bem da marca.

Duas semanas à espera de um bikini...

Encomendei há duas semanas um bikini duma marca portuguesa que só vende através da sua página do Facebook e do Instagram. Escolhi o modelo, troquei email para confirmar que tinham o meu tamanho, a cor pretendida, pedi o NIB, transferi o dinheiro, enviei o comprovativo de pagamento e facultei os meus dados e morada. Disseram que demoravam 2 a 3 dias úteis. Isto há duas semanas! Fui para o Algarve de férias e bikini nem vê-lo. Como tive que interromper as férias com a doença e internamento da Malti nem pensei mais nisso do bikini. Mas irritou-me profundamente regressar a casa e ver que continuaram sem mandar nada, mesmo depois de ter enviado email a insistir. Na quinta-feira passada disseram que ia receber no dia seguinte, sexta-feira. Nada. Ontem também nada. Hoje ainda nada. Já enviei email a repetir que ainda não recebi. Começo a perder a paciência. Então vão-me enviar o bikini quando? No inverno? Estou aqui a conter-me para não dizer o nome da marca, mas se continuarem sem mandar, tenho que fazer algo...
(Inspira... Expira...)
Já alguém teve uma experiência semelhante?

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

(Pausa para respirar e falar de banalidades)

Este ano, decidi que iria trabalhar em agosto. Os preços dos hotéis sobem sempre nesta altura, há mais confusão, trânsito, mais gente em todo o lado e, para piorar, nem sempre o tempo está melhor nesta altura que em julho ou setembro.
Estava segura que tinha tomado a melhor decisão quando marquei uma semana em julho e duas em setembro.
O pior é que também acaba por ser estranho "remar contra a maré". Ligue para onde ligar, as pessoas responsáveis estão de férias e não consigo resolver nada.
Os corredores estão mais vazios.
O telefone mal toca.
Há um silêncio tão estranho que o trabalho nem parece o mesmo.
Faltam as conversas, faltam as pessoas a preencher os lugares para onde quer que olhe.
Para já, estou a estranhar esta calma toda e a perceber ainda se foi boa ideia ou não.
Deixarei que a produtividade desta semana decida por mim.

A minha fiel companheira morreu

Durante anos e anos sonhei ter um cão, mas os meus pais pesavam os prós e os contras e a resposta que me davam era sempre a mesma: "Não". E eu argumentava, e trazia mais prós à colação, e argumentava e argumentava. A resposta mantinha-se a mesma: "Não". E insistia: "Mas eu tomo conta dele! Eu passeio-o. Eu levo-o ao veterinário. Eu educo. Eu apanho os cocós". Era indiferente: "Não. Não. Não". Já não me lembro das explicações todas, mas lembro-me das principais: não, porque dava muito trabalho, não, porque gastava-se muito dinheiro com veterinários quando adoeciam e ainda não, porque doía muito quando morriam. Doía muito quando morriam. Nunca percebi bem esta. Não morre toda a gente? E é por isso que vamos ignorar laços e viver sozinhos? Não...

Quando me tornei independente e ganhei alguma estabilidade profissional (e emocional, porque acabaram por se alinhar ambas), percebi que estava na hora: eu ia ter um cão. A raça já estava mais ou menos definida: queria uma raça de tamanho médio, com personalidade, com energia, com independência e capacidade de se adaptar a uma família, a muita gente e a bebés. Sim, porque se tinha 28 anos e estava a pensar em ter um cão, tinha que pensar a longo prazo e na família que havia de vir um dia. Adorava os fox terrier de pelo de arame e, quanto mais lia sobre a raça e as características, mais percebia que se iria adaptar na perfeição à minha vida. Pesquisei criadores, fui à zona de Aveiro visitar aquele que, pelas pesquisas, me pareceu melhor, e apaixonei-me logo pelo casal de cães e pelos cachorrinhos recém-nascidos que o criador tinha. O criador era uma pessoa apaixonada pela raça, pela música e pela vida, por isso, facilmente me cativou. Fiquei horas a beber cada palavra e a convencer-me do que não precisava de "convencimento". Passado uma semana voltei para escolher o cachorrinho que iria levar, depois de levarem as vacinas e fazerem dois meses. Já só havia duas cadelinhas. Eu tinha pensado inicialmente num cão e não numa cadela (principalmente por causa do cio), mas mudei de ideias num segundo, quando as vi. Faltava escolher. Uma estava a olhar para mim, muito fixamente, e eu fui ter com ela e fazer-lhe uma festinha, enquanto ela abanava a cauda, de alegria. Até que o criador me deu uma dica:
- Deve ser a cadela a escolhê-la. Geralmente é assim que se faz... Não se mexa e veja qual a escolhe.
E eu fiquei ali quieta. Um pouco nervosa. A ver se alguma me escolhia. Nisto, enquanto uma delas descansava com ar tranquilo, a outra que cumprimentei inicialmente começou, com ar de traquina, a comer flores dum vaso. O criador deu um berro e tentou afastá-la do vaso. A malandra comeu na mesma as flores, de olhos fechados, enquanto ouvia o berro e, em dois segundos, fugiu. Foi a correr até um canto. Ficou ali quieta, a mastigar. Passados uns segundos, começou a tossir. E a vomitar as flores todas. E eu ria-me, com aquela rebeldia. E enquanto me ria, a outra acordou e veio, lentamente, ter comigo.
- Parece que já a escolheram.
Olhei para baixo. Vi aqueles olhos meigos a analisarem-me e a pedir mimo. E quase cedia.
- Desculpe, mas eu já escolhi aquela.
Eu não sou pessoa de decisão rápida, mas quando gosto, gosto mesmo. Ali não tive dúvidas.

Até hoje, sinto que, ao contrário do que seria suposto, fui, portanto, eu que a escolhi e não ela a mim. Mas nunca me importei. Sei que escolhi bem. Sempre soube.

Voltei para casa para tratar de toda a logística: ração, ossos, brinquedos, caminha, trela, coleira,... E, quando fui buscá-la, uns dias depois, sentia-me mais feliz que nunca. Era um sonho de criança a realizar-se. Naquele dia, não foi uma jovem mulher de 28 anos buscar um cão, mas uma criança de 6 anos que realizou o seu sonho. Na viagem de regresso, tinha o coração aos saltos. Não consegui resistir, peguei na cadelinha e trouxe-a ao colo. Vim a falar com ela a viagem toda, a falar sobre mim, a explicar que ia trata-la bem e que íamos ser muito felizes juntas. Era setembro. Estava calor. Respirava-se final de férias e ainda a calma e o otimismo dos reinícios. E eu sabia que o meu reinício de vida não podia ser melhor. E não me enganei.

(Continua...)