segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O dia imaginado

Imaginei tanto, tanto o dia que, quando chegou, senti que já não precisava dele. Refiro-me a passar um dia sozinha. Refiro-me a ter um dia só para mim, para descansar e fazer o que me desse na real gana. Imaginei-me numa praia, a apanhar sol e a ler. Imaginei-me a nadar em águas calmas e mornas, imaginei-me numa esplanada a beber um gin. Imaginei-me no silêncio, sem horários, sem sopas ou papas para dar, sem fraldas para trocar e sem choros ou apelos de fundo. Imaginei-me assim, muitas vezes ao longo do último ano, sem crianças, num dia de descanso só meu.

O dia finalmente aconteceu ontem. Ou melhor, podia ter acontecido ontem. O pai estava para fora e a Constança tinha ficado um bocadinho com os avós. Vi-me estendida na areia. O sol a tocar-me na cara. O livro "Dentro do segredo" ali ao lado, a piscar-me o olho, à espera que acabasse de ler os relatos sobre a viagem à Coreia do Norte do José Luís Peixoto (recomendo vivamente!). O mar a chamar por mim. O relógio e o telemóvel guardados, na mala, sem intenção de pegar neles tão cedo. Estive assim cerca de uma hora, hora e meia. Acho que até fiquei com um ligeiro bronze desse tempo. Descansei. E gostei muito. Mas o que é que me aconteceu depois? Comecei a ligar aos meus pais. Eu, que tinha acabado de deixar a minha filha com os avós, para uma tarde só de avós e netinha. Quis saber se estava bem. Se já lhe tinham dado a sopa. Se ela tinha chorado muito sem mim. Se lhe tinham trocado a roupa. Se, se, se. Uma chata do pior. Desliguei. Voltei a tentar aproveitar o momento só para mim. Mais uma hora. Talvez nem tanto. Talvez esteja a ser otimista. Foi muito menos. Voltei aos telefonemas. E acabei a assumir o pior: queria ir ter com eles. Não queria mais estar sozinha. Ou com amigos. Queria estar com a minha bebé. Sou uma fraca. Sou uma fraca. Sou uma fraca. Imaginei tanto o dia e, quando ele finalmente chegou, vacilei. Hei-de melhorar numa futura oportunidade.

2 comentários:

  1. És uma fracota pois. :) É difícil mas é possível.
    Hoje consolei-me a ler 100 páginas do "Cornos" de Joe Hill e a apanhar um belo bronze enquanto a minha filha ficou com a minha querida sogra (viva muitos e felizes anos).

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  2. Ah também sonho com esse dia =) mas eu sou uma serie freak ahahaha acho que também não me aguentava muito na praia sozinha (e adoro praia) mas sozinha... not so much. MAs se me apanhasse em casa era para tirar a barriga de miséria =)

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