sábado, 30 de maio de 2015

O vestido do batizado

Recebi muitas mensagens a perguntar de onde era o vestido que usei no batizado, depois de ter colocado esta fotografia no Facebook do blog.


Por isso, aqui vai: como expliquei aqui, andava há que tempos a espreitar vestidos no site da Asos. A verdade é que já tinha visto primeiro várias marcas (Hoss Intropia, Karen Millen, Ted Baker e outras), mas não tinha adorado nenhum vestido, por isso, a Asos foi mesmo a minha maior aliada na procura. Dentro do site, vi vários, mas acabei por escolher este (que, para surpresa minha, ainda está disponível se alguém o quiser!). Para quem tiver dúvidas quanto ao tamanho, eu comprei o 8, estava indecisa entre o 8 ou o 10, mas assim ficou perfeito - e eu não sou magra.
Não custou os olhos da cara, tal como queria (até porque o dia não era sequer para mim, a rainha da festa era outra!), e superou pela positiva as minhas expectativas, pois ao vivo é muito mais bonito que nas fotografias. O único problema que encontrei foi ser demasiado comprido. De frente não dá para ver, mas o vestido tem um recorte arredondado e atrás acabava quase nos pés (sim, porque não tenho para aí 1,80m como a modelo das fotografias!). Então, optei por mandar cortar um pouco abaixo do joelho, pedindo apenas à costureira para tentar manter o recorte arredondado. Sinceramente, gostei muito mais do vestido como ficou depois, pelo joelho. Fica muito mais elegante, parece menos "saco".

Eu tinha imaginado um vestido em tons claros e este tinha um pormenor engraçado: dependendo da luz, ganhava tons diferentes - mais bege, mais dourado, mais rosa,... Nas fotografias na igreja parece que tenho um vestido dourado, mas na quinta já parece bege ou rosa. As pedras têm muito bom ar ao vivo e assenta lindamente. Fiquei mesmo satisfeita com a compra. Combinei com o cabelo solto, simples, com algumas ondas, umas sandálias que já tinha do ano passado, e não levei clutch nenhuma, porque já tinha a mala da Constança... e a própria Constança, que passou o dia radiante com tanta atenção e mimo, para levar ao colo! :)
Como expliquei no blog, não tenho jeito nenhum para posar, por isso,
concentrem-se no vestido e esqueçam a minha pose tosca, ok? ;)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O susto de Cabo Verde #3

(Primeira parte: aqui; segunda parte: aqui)

E, a arrastar-me, voltei para o hotel. Sabia que o homem podia voltar a qualquer momento, mas não conseguia correr mais que dez metros seguidos. Não tinha forças. Ia olhando para trás, mas felizmente não o vi mais. Por isso, andei a passo rápido e, a meio, dava mini corridas de cinco ou seis passos. A dada altura, vi uma rapariga que vinha a correr na minha direção. Comecei a gesticular e a pedir-lhe por tudo que não continuasse. Eu devia ter um aspeto terrível e assustador, naquele momento, porque ela arregalou muito os olhos e ficou branca, enquanto eu falava. Aproximou-se, tocou-me ao de leve nos ombros, com ar preocupado, e juntou-se a mim no regresso ao hotel. Comecei a cair em mim e a ganhar consciência daquilo que tinha acabado de sobreviver. Ao mesmo tempo, comecei a ter medo de estar com um discurso e um ar de louca, por isso, quando cheguei ao hotel e vi dois polícias junto ao portão que unia a praia ao hotel, tentei descrever-lhes o que tinha acabado de me acontecer com a maior calma que encontrei. Talvez tenha sido até exagerada, a calma que chamei a mim. Mas, mais uma vez, e mesmo com toda a calma que tentei colocar na história, vi olhos a arregalarem, enquanto eu falava, e as mãos a aproximarem-se do meu ombro.
- Está bem?
Claro que não estava bem. Combinámos que eu ia chamar o meu marido e voltava já, para ir com eles, os dois polícias, procurar o tal homem. Enquanto virava costas, apercebi-me que os dois polícias com que tinha acabado de falar já estavam a fazer telefonemas. Como falavam em crioulo entre eles, não percebi o que diziam, mas pelo tom parecia que estavam a chamar reforços. Andei até ao quarto do hotel. E aí, enquanto batia na porta e esperava que me abrisse, as lágrimas vieram em força. E o susto transformou-se em tremores. E o medo começou a tomar conta de mim. Chorei. E solucei. Como uma criança. Não quero pensar na imagem que ele terá tido quando abriu a porta. Pelo que vi ao espelho, cinco minutos depois, não foi uma imagem bonita. Eu estava cheia de areia no cabelo, nas pernas, tinha arranhões no pescoço, nos braços e nas pernas, e o cabelo completamente desalinhado. Ele abraçou-me, enquanto eu soluçava e contava a história, tentou acalmar-me e dizer-me que o pior já tinha passado e que era a heroína dele. Mas eu sentia-me tudo no mundo menos a heroína de alguém. No fim, fomos até à praia juntos.
Fui com a polícia de mota procurar o homem, mas nada. Depois disso, fomos de jeep até à esquadra, em Santa Maria. Mostraram-me imagens de suspeitos (tinham no computador uma pasta chamada "Gatunos 2014"), e chegámos à conclusão que poderia ser um deles. O problema é que, para nós, é difícil distinguir entre os africanos. Explicaram-me que, pela minha descrição, deveria ser senegalês, já que era mais escuro, magro, tinha lábios mais grossos e falava inglês. Foram simpáticos comigo, registaram a queixa e levaram-nos de volta ao hotel. No hotel, o gerente também nos chamou e deu-nos uma palavra de apoio. A verdade é que a praia em que tudo aconteceu já estava a 15 minutos do portão do hotel, por isso, nem me passou pela cabeça culpar o hotel pelo episódio.

Durante o resto do dia, a minha cabeça esteve a mil. Fechava os olhos e via tudo outra vez. Queria chorar, queria gritar, queria ir-me embora,... Mas depois olhava para a Constança e para ele e ganhava força e otimismo.

No dia seguinte, acordei como nova. Acordei decidida a esquecer tudo e a começar do zero. A verdade é que já tinha estado em Cabo Verde em 2008 e tinha achado tudo muito seguro. Não podia entrar em pânico, decidi. Histórias destas acontecem em qualquer parte do mundo. Eu apenas estava no lugar errado na hora errada. E o melhor de tudo é que tinha sobrevivido intacta, apenas sem o telemóvel.
- Nunca vamos contar esta história a ninguém, ok? Não quero que as pessoas se preocupem. Eu estou bem, pedi-lhe.
E decidi que nunca voltaria a falar deste episódio. O resto das férias foi perfeito. Perfeito. É estranho, quando penso nisso. Eu tinha acabado de viver a pior história da minha vida, como é que recuperei tão rápido? Não tenho resposta para isso. Apenas sei que recuperei.

Quando voltei, tinha apagado tudo. Até que, em casa de uns amigos, se começou a falar de histórias dramáticas. Um deles, psicólogo, disse que um dos motivos para não ficarmos traumatizados com um determinado episódio marcante era sentirmos que tínhamos encarado a situação e não tínhamos bloqueado no momento. Dei por mim a pensar: Foi isso!! Na altura, falei tanto, tanto, tanto com o homem, que senti que tinha encarado o problema. Foi isso!

E, também por isso, decidi que tinha que contar o que tinha acontecido. Falar. Encarar os problemas. Agir. Em vez de ignorar que existem. Em vez de bloquear. Apagar. Decidi fazer com este episódio o que fiz na altura: encará-lo. E conto-o, esperando que, contando, possa ajudar alguém que tenha passado por algo traumático também. Conto-o, esperando que, contando, o possa retirar de dentro de mim de vez. Acredito que falar ajuda sempre. E espero, ao ajudar-me a mim, ajudar mais alguém também.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Entretanto, no mundo do desporto...

... Tenho que fazer um pedido à navegação: se ainda não experimentaram uma partida de padel, peguem nos vossos maridos, nas vossas amigas, nos vossos vizinhos, colegas de trabalho, na vossa avó, no porteiro do vosso prédio ou em quem vos apetecer, e.. experimentem! A sério...

Eu joguei ténis uns tempos (e continuo a preferir o ténis, aqui entre nós), mas ultimamente troquei pelo padel e encontro inúmeras vantagens: é um jogo mais rápido, é mais animado por ser a pares, e é mais fácil convencer alguém a jogar, porque... até está na moda (e o ténis nunca teve propriamente um "boom"). Experimentem e depois digam lá se não gostaram. É divertido, faz bem ao corpo e faz bem à alma. Ah e é menos solitário que outros desportos, como a corrida. Dá para rir, dá para transpirar, dá para conviver. São precisos mais motivos?

Ah... e não, não investi em campos de padel nem ando a vender raquetas nos tempos livres! Simplesmente gosto de partilhar quando encontro alguma coisa que gosto.

O homem da minha vida

Alguém dizia, há dias - "Sou uma sortuda por poder dizer que o homem da minha vida é também o amor da minha vida". E a discussão em torno do tema começou. Afinal, o homem da nossa vida pode não ser o amor da nossa vida? Podem ser homens diferentes? E podemos estar apaixonados por alguém que sabemos que não é tudo o que queremos? A mesma pessoa explicava que o homem a quem atribuía as maiores qualidades, o homem que mais admirava e que idealizava como "o tal" felizmente também gostava dela e tinham podido viver uma história de amor juntos. Mas acrescentava que, na opinião dela, em muitos casos, as pessoas se acomodavam a quem tinham ao seu lado em determinada altura da vida, e faziam tudo por gostar daquela pessoa em vez de continuarem a procurar "o tal" (que, nalguns casos, até sabiam perfeitamente quem era). A discussão continuou e, como é normal neste tipo de discussão, ninguém chegou a conclusão nenhuma.

Mas fiquei a pensar se poderá ser realmente assim. Como é que é possível viver uma história de amor com alguém se, conscientemente, atribuímos maiores qualidades e admiramos mais outra pessoa? Como é que é possível projetar uma vida a dois, se, quando fechamos os olhos, é noutra pessoa que pensamos e é essa pessoa que nos dá as tais borboletas na barriga? Como é que é possível viver anos e anos com alguém que se sabe que não é o homem das nossas vidas e que só estamos a gostar uma pequena parte daquilo que somos capazes de gostar? No meu caso, não me podia ter casado se, naquele dia, soubesse que a pessoa que mais admirava, a pessoa com quem mais me apetecia conversar, a "minha pessoa" não era quem estava ali à minha espera no altar. Sei que não há vidas perfeitas e que todos temos, nas relações a dois, que passar pelos altos, mas também pelos baixos. Sempre a dois. Não podemos ser viciados na felicidade contínua, ao ponto de virar costas a alguém no primeiro momento baixo. Mas merecemos ser felizes. E uma vida ao lado de alguém que já não admiramos, a quem já não atribuímos as maiores qualidades do mundo, com quem já não queremos conversar e desabafar no final do dia, de quem já nem saudades temos,... não é vida. Não podemos ser viciados na felicidade contínua, é um facto. Mas cada um de nós merece viver o amor da nossa vida ao lado do "tal". E, se isso não está previsto na Constituição da República Portuguesa, devia passar a estar.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O susto de Cabo Verde #2

(Primeira parte: aqui)

Há momentos que ficam guardados na nossa memória como uma fotografia - completamente estáticos. O momento em que vi, ao longe, um homem a correr na minha direção, foi um desses momentos. Ainda hoje não tenho a certeza se o homem realmente se mexia, ou se se limitou a ficar ali na posição de corrida, a posar para a fotografia, uns bons minutos, até que decidiu aparecer à minha frente, mexendo-se normalmente. O que sei é que tenho essa imagem guardada para sempre: um homem, ao longe, a correr na minha direção, vestido com umas calças desportivas azuis escuras, um polo branco e uns ténis brancos nos pés. Era preto, ombros estreitos, magro e ágil. Num momento estava longe. Reparei nele e pensei que fosse algum empregado do hotel a ir trabalhar. "Coitado, deve ter muito que andar todos os dias. As casas mais próximas ainda são um bocado longe", pensei. Enquanto eu invertia a marcha para regressar ao hotel, já ele estava ali ao meu lado. E então o filme de terror aconteceu.

(Chegados a este ponto, tenho algo muito importante a pedir-vos: se forem sensíveis, não leiam mais. Estou a falar a sério. O que estou prestes a contar vai impressionar e não se lê neste tipo de blog. Não é suposto ler-se em nenhum lado. Se quiserem continuar após estas linhas, avancem por vossa conta e risco, ok? Pois então vamos lá...)

O homem aproximava-se. E aproximava-se. Até que percebi que vinha mesmo na minha direção. "Mas o que é que quer este tipo?", pensei. Algo já não me estava a soar bem. Aquela tensão no ar que antecede os acidentes...
- Fuck?, perguntou-me.
Continuei a caminhar junto ao mar, no sentido do regresso ao hotel, cada vez mais rápido. Ele acompanhou o meu passo, ao meu lado.
- Fuck?, insistiu, desta vez a gesticular com os dois braços estendidos junto ao corpo, para a frente e para trás.
- No! No fuck!, disse-lhe, com o coração já acelerado, e o medo a apoderar-se de mim. Não se via ninguém à volta.
- .. Fuck!...
E foi então que me agarrou. E foi então que me atirou para o chão. E foi então que senti a cara atirada contra a areia, o mar a entrar-me na boca e no nariz, e as mãos geladas dele a agarrarem-me o pescoço com força. Pensei algo como "já fui". As mãos dele eram fortes e a minha garganta arranhava. Não gritei. Ou, pelo menos, a minha memória não tem som. Não esperneei. Quando penso nisso, até me assusto com a calma com que me deixei ficar ali a pensar algo como "já fui". Só que não tinha ido. Nem fui a lado nenhum. Consegui rodar. E, estranhamente, falar. Deu-me para falar. Deu-me para falar muito.
- Está quieto. Não há fuck nada. Eu sou casada, não estou aqui para isso. Mas há muitas mulheres solteiras que querem. Eu é que não posso, ok? Eu não posso.
- Fuck.
- O meu marido mata-te. Não pode ser. Está quieto.
E comecei a tentar agarrar-lhe a mão e a tentar tirá-la do meu pescoço. Na outra mão, tinha o meu telemóvel. Outra das coisas estranhas disto tudo é que nunca perdi a consciência de que tinha o telemóvel na mão e que não o podia molhar. No meio da queda para junto do mar, consegui mantê-lo sempre ao alto, a pensar que não o podia mesmo estragar. A mente humana é muito estranha, não é?
Nisto, pus-me a pé. O homem continuava a tentar agarrar-me e arrancar a parte de baixo do bikini.
- Está quieto. Está quieto. Para! Não pode ser. Procura outra mulher, que eu não posso.
Falei muito. De nada adiantou. Sei que houve pontapés. Sei que me atirou novamente ao chão, de barriga para baixo. Sei que me virei para cima com toda a força que tinha, porque não queria ficar naquela posição tão vulnerável. Sei que me tentou abrir as pernas com as mãos. Sei que nunca na vida fiz tanta força nas coxas. E há outras coisas que sei, porque depois tive as marcas que ficaram no meu corpo para me contar: todas as nódoas negras nos braços, no interior das coxas, nas pernas... Sei que cada vez tinha menos força. Sei que a areia me magoava. Sei que a garganta arranhava cada vez mais. Sei que me beijou a nuca. Ou tentou. Sei que abriu o cinto e já estava a tentar desapertar as calças. Sei que eu já só pensava no pior. Continuei sempre a falar, a falar, a falar. "Não faças isto, olha que há tantas mulheres que querem! E o meu marido vai mesmo matar-te, devias parar agora e ir embora".
- Shhhh!, respondia-me ele. Be calm...

Até que... Lembram-se de ter dito que sabia exatamente as horas que eram, porque tinha o telemóvel na mão? Lembram-se de ter dito que um dos motivos para ter ido andar naquela manhã foi o pensar que assim fazia também algum desporto? Lembram-se de ter dito também que, estranhamente, nunca larguei o telemóvel? Há histórias com hora marcada. A minha história teve hora marcada e aconteceu às 8h15. Mas a minha história também não estava destinada a ser assim. E, de repente, o telemóvel que marcou as horas da minha história, também lhe colocou um fim. Porque há histórias com horas marcadas, mas há histórias que não têm que acontecer. E a minha não tinha que acontecer assim.
Beginning workout, gritou, subitamente, a aplicação Nike+.
O homem saltou. Olhou para o telemóvel, muito atento e com ar assustado.
- Beginning workout.
Arregalou os olhos. E fez-me um ar de súplica e medo: "No police!! No police!!".
Mas o medo é uma semente e já tinha sido plantada e regada na mente daquele homem. E crescia rapidamente. De repente, agarrou-me o telemóvel das mãos, segurou as calças, pôs-se a pé. E desapareceu de vista. Como se nunca ali tivesse estado. Voltei a ver a fotografia que tinha visto antes, mas agora no sentido inverso, com ele em direção às dunas. E eu queria aproveitar aquela sorte e correr em direção ao hotel, pedir auxílio, chamar a polícia, mas não tinha forças nas pernas. Queria gritar por socorro, mas não tinha voz. A garganta arranhava. Tanto... As pernas, os braços, as coxas doíam. E fiquei ali sem forças, a querer chorar e nem a isso conseguir, a arrastar-me lentamente...

(Continua...)

terça-feira, 26 de maio de 2015

O amor está nas pequenas coisas

Há uma tirada clássica nos romances ao estilo Nicholas Sparks. Ambos olham para o céu e, entre as juras de amor que trocam, ele aponta lá para cima, para o caos de estrelas, e oferece-lhe uma.
- Vês aquela estrela? É tua. Sempre que olhares para lá saberás que estou a olhar para ti também.
E isto seria, de facto, extremamente poético e profundo se não fosse só parvo. Mas alguém, que não um astrónomo ou um aspirante a Carl Sagan, decora onde está determinada estrela? Mas alguém pode dar uma estrela que nem sequer é dele, não é de ninguém? E que história é essa de olhar para lá e isso significar que estão a olhar para nós também? A sério? A estrela notifica a outra parte sempre que olharmos? Ah, e se a estrela amanhã morrer? O que acontece a todas as juras de amor, transferem-se para uma estrela mais jovem? Isto é só parvo, a sério...

Há várias tiradas clássicas que, bem analisadas, não significam nada. Como o "és a mulher mais bonita do mundo". Já alguém viu todas as mulheres do mundo para poder tirar esta conclusão? Ou o "nunca ninguém vai gostar tanto de ti como eu gosto". Mas podem fazer-se concursos de amor? E como seriam as provas? Não faz sentido. Estas frases e tantas outras. Como um "estou apaixonado por ti" dito apenas ao fim de dois dias de paixão. Não podem ser ditas. Simplesmente não fazem sentido. Por isso, há dias, quando alguém comentou comigo que abria o Facebook ao longo do dia só para ver a fotografia de alguém e para ver se ela estava online também (mas sem lhe dirigir palavra!), numa sintonia/platonismo dos tempos modernos, fiquei enternecida. Qual estrelas qual quê? Há quem ofereça gestos tão simples mesmo sem nada fazer... Há quem dê silêncios tão cheios de saudades mesmo sem palavras... E silêncios cheios de saudades valem mais que todas as estrelas e outras promessas vãs. Porque pelo menos são mais sentidos. E não sei quanto a vocês, mas eu acredito que seria capaz de trocar todos os diamantes do mundo por um simples "estou apaixonado por ti" que durasse para a vida. (Mas pronto, se puder conciliar ambos também não me importo nada!) O amor demonstra-se (quase) sempre da forma mais simples. Às vezes até num silêncio (como no exemplo extremo que dei)! Mas na maioria das vezes, o amor demonstra-se sem se demonstrar: temos a certeza que ele existe, porque está presente em todas as pequenas coisas que nos rodeiam.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Better than sex?

Fui às compras este fim-de-semana, porque precisava de comprar máscara de pestanas. Entrei na Sephora, que estava com 20% de desconto (é impressão minha ou estas lojas estão com desconto semana sim, semana sim?) e não consegui deixar de me sentir atraída pela publicidade da máscara da Too Faced chamada "Better than sex".  Juro que aquelas letras quase que me cegavam de tão chamativas. Já tinha ouvido falar nesta máscara, mas vê-la ali tão perto e ver ainda o destaque que deram - "número 1 de vendas!!" - não me deixou mais resistir. E não há como negá-lo: aquele nome é bom demais.

Entretanto, hoje já experimentei de manhã. O que posso dizer...?

... Que quem inventou esta máscara não sabe mesmo o que é um bom....

... rímel...

Vou ver se ainda vou a tempo de devolver!

Better than...? Esqueçam...

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O susto de Cabo Verde

Quando voltei de Cabo Verde, tinha um balanço estranho das férias para fazer: por um lado, tinha tido tudo o que mais desejava. Tinha descansado, tinha namorado, tinha passeado, tinha passado tempo de qualidade com a minha filha, tinha comido bem, tinha apanhado sol, tinha conhecido gente interessante... Por outro lado, tinha tido também o maior susto da minha vida. Tentei deixar a segunda parte a "marinar" dentro de mim até realmente perceber o significado que teve para mim e o impacto que poderia ter, de facto, na minha vida futura. A verdade é que, mesmo tendo sido o maior susto que já tive, passados dia e meio já estava bem. Mas queria confirmar se estava realmente bem. Tinha medo de ter ali uma espécie de trauma latente e de, a qualquer momento, tudo regressar e em triplicado até ser assolada com uma crise de choro e gritos. Não aconteceu. Passou um mês e, até ao momento, nada. Assim sendo, penso que ultrapassei realmente tudo e posso-vos contar finalmente o que se passou.

Pois então era segunda-feira, terceiro dia no Sal, e acordei às 7h. Nos dois dias anteriores tinha-me apercebido de três coisas: com a diferença horária (menos duas horas lá), conseguia acordar muito mais cedo que cá; todo o hotel estava preparado para horários mais madrugadoras dos seus hóspedes; e, por fim, tinha-me apercebido também que a partir das 18h00 o vento levantava e não se estava muito bem ao sol. Assim, era segunda-feira, acordei cedo, mas decidi "abraçar" o dia e não negar o meu lado madrugador.
Acorda! Vamos tomar o pequeno-almoço e ir até à praia.
- Hmmmppfgghtffff.
- Vá lá, acorda! Vamos aproveitar o dia.
- Hmmpff... Vai indo tu, que eu depois vou ter contigo.
- De certeza?
- Siim...
Não gosto de fazer coisas sozinha, mas o sol já estava a sorrir para mim lá fora, estava com energia e a confiança de estar num país diferente e exótico, por isso, depois de ficar uns minutos na cama, às voltas para um lado e para o outro, decidi ir. Eram quase oito horas. Saí do quarto e fui directa até à praia, que até era mais perto do quarto que a sala onde se serviam os pequenos-almoços. O pequeno-almoço podia esperar pela companhia deles os dois. Passei pela polícia que guardava o portão de acesso à praia, andei um pouco pela areia para decidir onde me deitar e escolhi uma das mil espreguiçadeiras disponíveis. "Isto assim até dá gosto", pensei, ao reparar que, àquela hora, podia ficar com o melhor lugar. Estendi a toalha, pus protector no corpo e reparei na brisa pouco agradável que tirava a vontade de me deitar ao sol. Olhei para o lado e estava um casal a passear junto ao mar. "Vou fazer o mesmo", pensei. "Quinze minutos para lá, quinze minutos para cá e pelo menos faço algum exercício". E assim fiz. Olhei para o telemóvel. Eram exatamente oito horas. "Perfeito. As oito e quinze volto para trás", disse para mim mesma, sem saber que, a essa hora, só ia desejar nunca ter saído dali da toalha. Tirei o vestido, mantive apenas o bikini no corpo, o telemóvel e as chaves do quarto na mão. Comecei a andar, completamente inocente e contente com a perspectiva de estar a aproveitar o dia e de ter ultrapassado o medo de fazer coisas sozinha. O dia estava a ficar melhor, mais quente e cada vez com menos vento. Tirei fotografias ao mar. Molhei os pés. Tentei tirar selfies, mas o vento e a cara de sono não estavam a proporcionar boas fotografias. Desisti. Continuei a andar. Senti-me grata por aquela experiência. Senti-me feliz por estar ali. Senti-me mesmo felizarda com tudo o que a vida já me deu. Acelerei o passo. Ao longe, com as paragens para molhar o pé e as selfies, a senhora que também caminhava já tinha desaparecido de vista. Olhei para o telemóvel. Eram oito e quinze. "Hora de voltar para trás", disse a mim mesma. 8h15. Não eram 8h14, nem 8h16. Eram 8h15. Porque há histórias que têm mesmo hora certa para acontecer. E a pior história da minha vida aconteceu com hora certa. Às 8h15 desse dia.

(Continua...)

terça-feira, 19 de maio de 2015

O efeito-escadas-rolantes

Gosto de observar os outros.

Lembro-me de ter uns 5 ou 6 anos e perder horas na praia, sentada na areia, a reparar nas pessoas que iam passando. O exercício passava por imaginar uma vida para cada pessoa. Se era casada ou solteira. Feliz ou tremendamente deprimida. Atribuía uma profissão em menos dum minuto. Desenhava toda uma personalidade, sonhos, aspirações... E criava ainda diálogos imaginários entre a pessoa e quem a rodeava. Até hoje tenho a certeza que acertei sempre em cada vida alheia que criei. E esta certeza resultou dum simples facto: nunca ninguém me veio contestar! Cresci com a certeza que "conhecia" qualquer desconhecido apenas pela forma de andar, roupa e expressões corporais. Com certeza que terei errado muitas vezes. Mas o facto de ninguém me ter vindo contradizer deu-me uma segurança imensurável que agora, tantos anos depois, dificilmente será abalada. Adiante...

À medida que fui crescendo, esteve "voyeurismo" foi sendo, contudo, naturalmente controlado e as arestas da minha curiosidade mórbida foram sendo limadas. Ninguém gosta de se sentir observado e a idade dá-nos mais aptidões sociais. Percebemos que não podemos ficar estarrecidos a analisar quem nos rodeia, simplesmente não é considerado "normal". Temos que nos manter ocupados com as nossas vidas, é feio olhar alguém mais que os três segundos socialmente aceites e é impensável ouvir descaradamente as conversas da mesa do lado. No entanto, se a idade me afastou daquela criança com tão fortes aspirações a socióloga, resta ainda um local em que o bichinho regressa. E esse local é... qualquer shopping em que entro.

Retomando o título deste post. Anos de aspirante a socióloga exercidos em shoppings permitiram-me verificar um fenómeno interessante que tem lugar entre os casais, de cada vez que pisam juntos escadas rolantes: a magia do amor. Sim, este nome piroso e digno de música do Tony Carreira é propositado. É que a magia do amor acontece mesmo. Sejam casais juntos há 2 dias, no auge da paixão, ou casais com 30 anos de união e tédio, o amor espreita sempre nas escadas rolantes. E é vê-los, casal após casal, a colocarem juntos o respetivo pé no primeiro degrau e, de seguida, a beijarem-se, a encostarem a cara um ao outro ou a abraçarem-se. Desconfio que as escadas rolantes são obra de algum Cupido que se decidiu tornar Engenheiro. Desconfio mesmo. As escadas rolantes têm magia. Por isso, se a vossa relação estiver a atravessar um momento menos mau, já sabem onde ir. Esqueçam as Maldivas, esqueçam uma lua-de-mel forçada ou qualquer destino paradisíaco. O amor acontece bem mais perto que isso. Acontece no Colombo, no Norteshopping, no shopping que estiver mais à mão. Metam-se num shopping. Tão simples quanto isso. E deixem-se levar pelo efeito-escada-rolante.


*Este post foi originalmente escrito a 28.11.2012. Foi, nada mais, nada menos, que o meu primeiro texto escrito aqui! No entanto, por algum erro que desconheço, não estava publicado. A propósito de uma conversa tida há dias sobre as escadas rolantes, decidi hoje ressuscita-lo, até porque mantém-se sempre atual. E que exercício estranho "ler-nos" passado algum tempo...

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Coração cheio

O fim-de-semana chega ao fim e a sensação é de coração cheio. O batizado/ festa de primeiro aniversário correu melhor do que todas as minhas expectativas e não podia ter pedido mais nada. Continuo a achar que não tenho grande apetência para organizadora de eventos, por isso, deve ter sido a famosa sorte de principiante. Durante esta semana prometo mostrar alguns pormenores. Espero que gostem tanto quanto eu gostei.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

E é já amanhã

A semana passou a voar. Mas o frio na barriga não voou e continua aqui. É já amanhã. O batizado é já amanhã. E eu, que não tenho grande apetência para isto de organizar festas, continuo com medo que falte algo, que as pessoas não se divirtam tanto como eu quero ou que a Constança não tenha o batizado e festa de primeiro aniversário que merece e que lhe quero muito dar. Vamos ver como corre...

Entretanto, tivemos uma boa notícia para nos dar mais confiança de que as coisas vão todas correr bem: o padre que a vai batizar aceitou o padrinho, mesmo sem a autorização do outro padre e o documento assinado pelo bispo. Por isso, vamos ter dois padrinhos não só de coração, mas no papel também. Acho que voltei a acreditar na igreja enquanto instituição :)
O vestido da Constança, pronto a ser usado.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

As palavras que te direi

Mudam de cor os teus olhos. Já te disse que os teus olhos mudam de cor? E sabem olhar com um carinho que não conhecia... Sempre fui alérgica a carinhos. Já te disse que sempre fui alérgica a carinhos? Mas os teus olhos mudam de cor e conseguiram mudar muita coisa em mim também. Os teus olhos mudam de cor e eu mudei neles também. Os teus olhos mudaram-me, só de os olhar, e só queria conseguir explicar-te exatamente como e porquê. Só queria ter as palavras certas para te dar que pudessem estar à altura de tudo isto que me dás. Os teus olhos mudaram-me, a minha vida ganhou mais cor, mas tento escrever as tantas cores que já me deste e não consigo. Tento escrever-te algo à altura de tudo isto que sinto e fico aquém de todos os esforços. É que eu acredito que os amores se explicam. Já te disse que os amores se explicam? Por isso, não vou justificar nada com o destino ou com um vago "é porque tem que ser". Nada tem que ser. Ninguém gosta de alguém só porque sim. Vou continuar a tentar explicar com palavras. Vou tentar juntar todas as palavras que encontrar que tenham tantas cores como as cores dos teus olhos. Vou tentar juntar todas as palavras que me permitam explicar tudo aquilo que mudou desde que te vi. Serão muitas palavras. Mas só assim irás perceber. Acredito que os amores se explicam e quero explicar-te que não tem só a ver com as mil cores dos teus olhos. Tem a ver com as mil palavras que me apetece dizer-te de cada vejo que os vejo. Tem a ver com as mil palavras que ainda não encontrei, mas que estão algures dentro de mim. Perdidas e apaixonadas pelas mil cores que me deste.

(Ontem foi dia 12 de maio. Um ano com mil cores como as cores dos teus olhos. Um ano de ti. Parabéns, filha sonhada.)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O padrinho de coração

Recebemos hoje uma péssima notícia: o padre da freguesia em que vivemos (não o padre que vai batizar, porque a Constança vai ser batizada noutra igreja e por outro padre) não aceitou o padrinho que escolhemos. Motivo? Apesar de ele, o padrinho escolhido, até ter casamento marcado pela igreja em setembro, já vive com a namorada. E fui eu que lhe disse isso, mas de forma totalmente inocente, pois estava a explicar ao padre que estavam ambos a trabalhar no estrangeiro e que vinham cá de propósito para o batizado. O problema foi que, no meio disto tudo, o padre bloqueou e só perguntou:
- Mas vivem lá os dois, é? Juntos?
- ... Sim, vivem lá, mas vão casar cá...
- Vivem juntos sem serem casados?
- ... Hmmm... A verdade é que nunca fui a casa deles, nem sei. Nunca vi... Não sei bem...
Percebi que o padre já não estava a ouvir nada do que eu dizia. Já não adiantava tentar explicar. Tinha ficado parado na parte de viverem os dois noutro país e não havia já volta a dar. Ainda tentei explicar que podiam comprovar que estavam a tratar do casamento, tentei explicar que seria um padrinho exemplar, tentei explicar que era tudo uma questão temporal (daqui a três meses ele está casado...!), mas nada resultou. Nada.

Conclusão: temos só uma madrinha. Ele só pode ser "padrinho de coração". Estou triste. Mesmo triste. Comigo, com a Igreja, com toda a gente que se pode afastar com este tipo de discurso... Pensei que já estávamos numa nova era da Igreja.

sábado, 9 de maio de 2015

Há gostos cheios de amor

- ... Não se deve julgar um livro só pela capa.
- Já disseste isso.
- E não posso repetir?
- Podes... Só que já disseste isso. E, além disso, não concordo muito. A capa também interessa. Uma mulher tem que ser bonita, por exemplo.

É verdade, ela já tinha dito a frase do livro e da capa. Talvez até mais que uma vez. Já tinha dito aquilo. Estava a tornar-se repetitiva. Mas, na verdade, talvez fosse o seu subconsciente a pregar-lhe uma partida e a assumir o quanto adorava que ele visse nela um livro que queria muito ler, independentemente de adorar ou não a capa. Só que ele não era muito de leituras. Ficava-se pelas capas, mesmo. E ela sentia-se um daqueles livros que já foram bestsellers mas que agora estão perdidos nas prateleiras até que a editora se lembre de renovar a capa e, desse novo, renovar o interesse de potenciais leitores também. Modéstias à parte, sentia-se até um livro muito muito bom, com romance, magia, emoção e aventura. E aquele final feliz, ali à espreita? Só que ele não queria mesmo saber de livros nenhuns. Ou neste caso, não parecia querer saber tanto dela como ela gostaria. Ainda assim, despediram-se com carinho.

- Gostei deste dia.
- Também eu. Gosto muito de ti. Até amanhã.

Não se deve julgar um livro só pela capa. Tal como não se deve julgar um coração pelo número de palavras bonitas que diz. É que, se nos aproximássemos daquele pequeno coração, iríamos descobrir, pelo seu bater acelerado, que, naquele "gosto", estava mais amor que em muitas palavras de amor que já foram ditas. Aquele "gosto", atirado numa despedida, rápido e insonso, tinha muito mais amor que muitos "adoro-te" ou "amo-te" que já foram usados. Não, não se deve julgar um livro pela capa. Tal como é impossível julgar, ao longe, um coração pelas palavras que diz.

A organizadora de eventos que (não) há em mim

Falta uma semana para o batizado e eu tenho praticamente tudo por tratar. A ansiedade que nunca me deu enquanto noiva? O nervoso miudinho que nem na semana antes do meu casamento tive? Oh céus... Acho que ficaram ambos estes dois anos e meio a fermentar numa parte oculta de mim e apareceram agora em força para me atormentar. Estou em pânico com medo que falte algo! Fui uma noiva muito tranquila, mas vou ser uma mãe a mil nestes preparativos. A organizadora de eventos que há em mim...? Não existe. Pura e simplesmente não existe.

Assim sendo, este sábado liguei o modo madrugador e vou pôr-me na estrada para decidir velas, conchas, toalhas, arranjos florais para a igreja e quinta, e ainda os sapatos da Constança. A ideia é passar as lojas do Porto a pente fino e ficar com esta parte tratada hoje, de preferência. Sugestões vindas de pais ou não-pais cheios de experiência no tema aceitam-se!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A resposta dos signos

Sou uma sortuda. Há pessoas cultas. Há pessoas muito cultas. Há pessoas que reúnem em si toda a cultura do mundo. E há a minha empregada. Dúvidas, incertezas? Chamem a minha empregada. A minha empregada elevou a palavra "cultura" a um novo nível. Sou uma sortuda por tê-la.

A minha empregada sabe tudo. Tudo. Medicina. Psicologia. Nutrição. Astrologia.... E eu poderia dar mil exemplos de todo esse saber infindável, pois todos os dias sou brindada com ele. No entanto, ultimamente a resposta tem estado, invariavelmente, nos signos. A resposta está sempre nos signos.
- Hoje está um frio de rachar!, comenta.
- Frio de rachar? Mas só estão menos dois graus que ontem, respondo.
- Pois... sabe que eu sou mesmo Capricórnio!
- Ah....
Ou então:
- A Constança é mesmo Touro. Só gosta dos brinquedos bons.
Ou:
- Atchiiiim!
- Está constipada, não está? Pois, os Peixes iam estar com sinusite hoje!

Só que, no outro dia, lançou a bomba. Lançou a bomba que, dentro da limitação do mundo dos signos, obviamente, é possível lançar:
- O trabalho está a correr bem?, perguntou-me, como quem não quer a coisa.
- Está, muito bem.
- Pois. Em 2015 vai ser reconhecida no seu trabalho. Mas há mais...
- Diga.
- Ai... É melhor não dizer. É mau.
- Diga... Não há problema, não acredito nessas coisas.
- Ai.. Não sei se deva.
- Diga lá...
- É que em 2015 vai encontrar o amor.
Dito isto, tapou rapidamente a boca com as duas mãos, como quem diz um pecado. E fugiu. Eu fiquei ali, sozinha. Perdida de riso. Não sei se vou encontrar o amor. Mas encontrei um poço de cultura e saber. E gargalhadas. Isso encontrei. Sem dúvida.

Nunca chove tanto mais de sete minutos seguidos*

- Nunca chove assim tanto mais de sete minutos seguidos.
- ... Como?
- ... Esta chuva intensa? De acordo com um amigo meu, em Portugal nunca chove assim tão intensamente mais de sete minutos seguidos. Por isso, só temos que esperar mais uns minutos...
- Ok.
- ... E, nessa altura, corremos.

Estávamos ali todos parados, dentro do edifício, a observar em silêncio a chuva a cair lá fora, e a tentar perceber quem primeiro ganharia coragem para enfrentar o dilúvio e ficar ensopado na corrida até ao carro. Aquela frase, vinda do nada, acabou por quebrar o gelo. Já não via aquele meu professor há algum tempo e tinha acabado de o reencontrar numa formação. Lembrei-me, naquele momento, porque é que gostava tanto das aulas dele - tinha sempre algo inesperado para dizer. E, mesmo as frases ou pensamentos mais simples, soavam sempre a algo sábio se fossem ditas por ele.

- Já passaram seis minutos, comentei entredentes.
- Um minuto, então, e o temporal acalma.

Sinceramente, não sei bem se a chuva acalmou realmente aos sete minutos ou se fomos nós que ganhámos coragem, embalados por aquela revelação meteorológica. O que sei é que, sete minutos depois, o temporal parecia-nos a todos mais calmo. E sei que, oito minutos depois, já todos estávamos, cada um no seu carro, rumo a casa. Às vezes, é só isto que precisamos - no meio do temporal (seja o temporal de que tipo for), relaxar e deixar que chova sete minutos seguidos. Deixar que chova. Nunca chove tanto mais de sete minutos seguidos. Repetir: nunca chove tanto mais de sete minutos seguidos. E, ao oitavo minuto, tudo será mais fácil de enfrentar e a chuva parecerá mais calma. Digam lá que o meu antigo professor não tem uma veia poética...?

*E repetir, repetir, repetir. Porque há dias em que chove lá fora e em que chove dentro de nós.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Corro, logo existo

Comecei a correr por teimosia. Aos quinze anos descobri que tinha asma e julguei que não estaria talhada para grandes resistências. Durante uns anos, convenci-me que poderia praticar desportos como dançar e jogar ténis, mas teria que esquecer os de resistência, como correr. Até que mudei de médico e o novo alergologista desafiou-me logo, na primeira consulta, com algo do estilo - "Podes chegar onde os outros chegam. Tens é que treinar o dobro, porque os teus pulmões têm, neste momento, metade da resistência. Queres tentar?"

Eu quis. Nunca consegui resistir a um bom desafio. Na primeira vez que corri, no entanto, senti literalmente os pulmões a arderem. Achei que aquilo não fosse para mim. Até que, talvez embalada pelo crescente entusiasmo generalizado que, nos últimos anos, a corrida passou a merecer, dei por mim a insistir. A insistir. A insistir... Até hoje. Sei que continuo a não ser nenhuma atleta. Continuo a ter  tempos modestos e que não me permitem gabar. Faço geralmente entre 5kms a 7kms, não muito mais do que isso, a 11kms/h. Não participo em corridas. Não publico tempos e distâncias. Não tiro fotografias comigo equipada. Continuo a correr apenas para e contra mim. Para manter o equilíbrio. Para desanuviar a cabeça enquanto o corpo cansa, depois de um dia no registo inverso. E continuo a correr pelo menos duas vezes por semana para calar aquela vozinha pessimista que me dizia que não iria conseguir. E para lhe dizer que, como em tudo, "consegues tudo, basta primeiro querer. E depois trabalhar, trabalhar, trabalhar por isso. Um querer trabalhado é um querer conquistado".

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Uma terça-feira igual a tantas outras terças-feiras, mas diferente

É terça-feira. Aquele dia em que domingo já está longe. E em que o reencontro ainda mais longe está. É terça-feira. E, tal como durante anos aconteceu, é novamente uma terça-feira em modo "dia da semana que menos gosto". Já nem me lembrava como a terça-feira tinha este efeito em mim. A casa grande demais. Ou eu demasiado pequena para a preencher, nem sei (porque toda a gente sabe que as casas não crescem, certo?). Cada passo ou gesto meu tão pesados... Tão barulhentos... O silêncio que incomoda... Foram anos assim. Anos em que, perante a solidão que custava, ligava a televisão. Ou escolhia uma música. Ou pegava num livro. Ou no computador. Ou pegava em tudo ao mesmo tempo. Tudo o que me permitisse ocupar a cabeça, controlar os pensamentos e preencher os sons da casa era bem-vindo. As saudades. O problema eram sempre as saudades. Sempre a tentativa (vã) de as matar.

Hoje, mil terças-feiras depois, revivo as saudades que a terça-feira traz. Estamos longe. Felizmente, não por muito tempo desta vez. E, talvez por isso, desta vez, tudo é mais suportável. A casa não está grande demais. Os meus passos não estão mais pesados ou barulhentos. Estou bem? Não. Podia estar muito melhor. Podia estar contigo aqui ao meu lado...

Hoje é terça-feira. E estou sozinha outra vez. Com este aperto no coração que já nem me lembrava. Mas estas saudades são diferentes. Porque estas saudades ainda cheiram a ti. E porque se fechar os olhos ainda te sinto aqui. Estas saudades são novas. Porque trazem consigo a promessa de "desta vez é mais rápido e passageiro". E saudades assim até parecem capazes de nos abraçar. Saudades assim são só um respirar entre um beijo e outro. Saudades assim são más. Mas são melhores que todas as outras saudades que já senti. E é, por isso, uma terça-feira má que é uma terça-feira muito menos má que todas as outras terças-feiras más que já tive.

sábado, 2 de maio de 2015

(Não se) ama alguém que não ouve a mesma canção

Tenho uma teoria: tal como as estações de rádio, também as pessoas emitem em frequências diferentes, têm comprimentos de onda maior ou menor. Sim, as pessoas. Como tal, quando acontece conseguirmos estar, ao mesmo tempo, na mesma frequência que outra pessoa, acontece finalmente conseguirmos ouvir-nos mutuamente e compreender tudo, desde os sons até aos mais rápidos silêncios. Daí a expressão "sintonia" - as pessoas estão finalmente sintonizadas na mesma frequência. Não sou nenhum Einstein nem percebo nada de Física, por isso, desculpem-me se esta teoria tiver falhas graves. Admito que sim. Mas tenho-a aplicado na minha vida e, até ao momento, tem-se revelado bastante útil.

Mas esta teoria não nasceu ontem - começou a ser pensada há muitos e muitos anos. Corria o ano de 2006 ou 2007, já não sei precisar, quando conheci um rapaz que me despertou a atenção. Na altura pensei, de mim para mim, pelas características que ali detetei, que teria potencial para vir a gostar dele. Saímos umas vezes, conversámos imenso e achei que estava perante o início de algo. Até que... fizemos a primeira viagem de carro juntos. E a segunda. E a terceira. "Isto afinal não tem pernas para andar!", constatei rapidamente. Porquê? Simples: não nos entendíamos com as músicas. Ele estava numa de bossanova, apenas, e naquele carro só davam cds naquele registo. Eu estava numa de emoção e adrenalina, e a bossanova constrangia-me completamente e aniquilava de forma abrupta esse sentimento que queria sentir. Ficava nervosa ao fim de três minutos a ouvir só aquilo, como se alguém pegasse no meu coração e tentava abrandar o seu ritmo à força toda. Eu não queria estar num momento bossanova, muito calmo, lento e introspectivo - queria estar num momento de rock alternativo, queria rir-me, falar com intensidade e sentir o coração acelerado. Com ele, a letra da música do Rui Veloso fazia todo o sentido e percebi que nunca poderia amar alguém que não ouvia as minhas canções e - pior ainda - me obrigava a ouvir as dele. Surgiu então a teoria da canção e vaticinei: um futuro namorado teria que ter os meus gostos musicais. Até que uma amiga me mostrou as falhas do meu raciocínio: não era uma questão da música em concreto, mas de sintonia.
- Vocês não estavam sintonizados. Ponto, disse-me ela.
- Pois... como as rádios? Realmente, acho que ele estava mais numa de Antena 1 e eu numa de Antena 3.
E assim nasceu a teoria da frequência.

Retomando esta história, não era portanto uma questão de canções. Eu e ele nunca nós iríamos entender, nunca nos iríamos compreender, porque cada um vivia numa frequência diferente. Eu era mais acelerada (apesar da minha aparente calma), e sedenta de emoções e intensidade. Ele emitia numa frequência mais lenta (apesar de parecer mais acelerado), agia e vivia mais devagar. E nem que ouvíssemos a mesma canção mil vezes seguidas aquilo teria ido ao sítio, porque mesmo a canção igual iria ser sentida de forma diferente pelos dois. Com a minha teoria, percebi que podemos amar alguém alguém que não ouve a mesma canção, mas que dança ao mesmo ritmo que nós, por exemplo. Podemos dar-nos bem com alguém que não gosta dos mesmos filmes, mas que quer ouvir as nossas teorias sobre o desenrolar da Guerra dos Tronos. Podemos querer alguém que até é totalmente oposto de nós, mas depois também vibra com um golo do Benfica. Frequências. Tudo uma questão de frequência. Por isso, Rui Veloso, podes levar a tua teoria da canção para longe (deixa só o anel de rubi, que eu prometo tomar bem conta dele). Pode amar-se alguém que não ouve a mesma canção. Desde que emita na mesma frequência. Porque na mesma frequência, tudo o que dissermos, mesmo que não haja acordo em tudo (ou quase nada), mesmo que se diga praticamente em silêncio, é ouvido e (o mais importante de tudo) compreendido. Porque se está sintonizado. E é tudo muito, muito mais fácil. E intenso.