quarta-feira, 20 de julho de 2016

Procura-se

Procura-se homem na casa dos trinta. Magro. Muito magro. Cabelo preto curto e escasso. Estatura média. Costuma rondar carros estacionados em ruas mais desertas, para partir os vidros e subtrair todos os elementos de valor que lá encontrar, especialmente dinheiro, computadores ou telemóveis. Com certeza que usará o dinheiro e os bens para poder comprar droga. Neste momento, deverá estar a usar óculos de sol da marca Céline e uma carteira para moedas em forma de ananás debaixo do braço.

Dá-se recompensa. Pelos óculos e pela carteira, claro. Quanto ao homem, levará um chuto no rabo e um par de estalos. Talvez pela ordem inversa. Sim, pela ordem inversa. Por me ter partido o vidro do carro e por me ter roubado os óculos e a carteira das moedas.

Os óculos são estes. Deve ser fácil detetar o homem, imagino que não seja muito comum ver drogados usar este tipo de óculos:

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Aqui vive uma mãe desesperada

O marido mudou de emprego e tem que andar uns meses a viajar em formação, fora do país. E eu, de repente, tive que me tornar um polvo capaz de estar em todo o lado, resolver tudo e apagar todos os incêndios. O meu dia tem sido um vestir e despir de funções. Nos dias em que o trabalho está pior, chega a ser caótico e desesperante. Tem sido mais ou menos assim:

Às 9h sou uma profissional a tentar ser tão competente e ambiciosa como os demais, a cumprir prazos e a manter um ar sério e trabalhador, do alto da minha roupa impecavelmente lavada e passada a ferro e de saltos altos. Às 13h estou em casa de chinelos, semi despida, de mama de fora a dar de mamar, com a Constança a puxar-me o cabelo e a pedir atenção, a empregada a dizer que é preciso comprar toalhetes e abóbora para a sopa. Às 13h30 estou a dar a sopa à Constança (e ao meu cabelo), a falar da Patrulha Pata e a cantar as músicas infantis que me vou lembrando. Às 14h estou de sabrinas, baba do bebé na roupa e cabelo desalinhado no Pingo Doce a comprar toalhetes, abóbora e um chocolate, porque o dia está a ser complicado e preciso dum doce. Às 14h15 estou a dar instruções para o jantar enquanto volto a por os saltos e tento endireitar a roupa amarrotada, já sem grande solução. Às 15h estou a trabalhar e a tentar tirar disfarçadamente um bocado de sopa do cabelo, enquanto marco uma reunião para o dia seguinte e respondo a emails urgentes. Às 20h30 estou em casa outra vez descabelada e de mamas de fora a dar de mamar, enquanto a Constança espalha aleatoriamente todos os bonecos que encontra pela sala e dá um sermão ao coelho de peluche que, pelos vistos, não para de chorar. Às 21h estou a dar o jantar à Constança e a seguir fazer desenhos. Às 22h estou a dar-lhe banho. Às 22h30 estou a dar banho ao bebé. Às 22h45 estou a deitar a Constança. Às 23h estou com o bebé ao colo, que não para de chorar. Será um dente? Tento conversar com ele e dar-lhe a atenção que não consegui dar durante um dia, para tirar este peso da consciência que carrego frequentemente comigo. Às 23h15 estou outra vez a dar-lhe de mamar. Às 23h40 deito-o. E vou jantar. Janto como um pequeno animal faminto. Porque tenho finalmente o meu momento de descanso. Porque não como nada há horas. Porque sinto que mereço. Às 00h30 estou a ver televisão e a pensar "finalmente vou ver aquele episódio que já estou para ver há dias!". Às 00h33 estou a dormir exausta, toda torta no sofá. Às 03:00 estou a acordar com dores no pescoço e vou para a cama. Às 07h30 acordo. Vou à casa-de-banho. Peso-me. "Que gorda! Hoje tenho que conseguir fazer desporto e comer saladas e fruta. Vou começar hoje  finalmente a minha dieta e a ter a vida organizada, que isto assim não pode ser!!".

Às 9h sou uma profissional... e mais um dia igual continua.

Volta, marido.

Ass: Mãe desesperada