quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A perfeição cansa

Passaram-se anos.
Sentavam-se lado a lado nas aulas. Trocavam sorrisos discretos perante qualquer piada do professor.
Caminhavam juntos até à porta da sala, no final das aulas. Por vezes, caminhavam também juntos até ao carro.
Até que começaram a ter imensas dúvidas com a matéria. Cada vez era mais difícil! E tinham que conversar muito até as dúvidas se dispersarem.
Mas as malditas das dúvidas podiam ser atenuadas, mas teimavam em aparecer novamente. Tinham mesmo que conversar tanto, tanto...
Um dia aperceberam-se que as dúvidas não eram totalmente exterminadas, porque falavam de tudo menos da matéria. Mas nunca o admitiram em voz alta. Falavam das férias, da família, da infância de cada um, dos hobbies. E as histórias iam dando lugar a novas histórias. Começavam a falar a meio da tarde e, quando se apercebiam, já tinha passado a hora de jantar.
"É noite, já reparaste?", e sorriam. O tempo assim voava tanto!
Sentavam-se, portanto, lado a lado nas aulas. E, quando ele estava atento, ela distraía-se com os braços dele. E com a pele morena. Com as costas largas. O olhar ia vagueando. E os pensamentos também. Perdia-se com aquelas linhas definidas que espreitavam debaixo das camisas dele. "Concentra-te. Concentra-te. Estás nas aulas, por amor de Deus. Não estás num filme erótico, nem ele se vai despir. Ganha juízo", repetia para si mesma. "Hmmm.... Mas aposto que ele tem um six-pack perfeito... Não, concentra-te. Concentra-te."
E quando ela se concentrava e desatava a tirar apontamentos desenfreadamente, era a vez de ele se perder com o perfume dela. Com aquela voz a sussurrar que ela fazia. Com o sorriso maroto que lhe saía de vez em quando.
Um dia, tantas eram as dúvidas que tiveram que ir até casa dela estudar.
- Trrrim.
- Entra.
- Trouxe os exames do ano passado. Já os fiz, posso mostrar-te a minha resolução.
- Óptimo. Não admira que sejas o melhor aluno.
- Ohh não sou nada. Se estudares tens as mesmas notas que eu.
- Só gostava de saber como é que ainda tens tempo para praticar desporto de competição.
- É uma questão de me organizar.
- E ainda consegues sair e descansar?
- Claro... e estar com a família. Surfar. Viajar.
"És tão perfeito. Essa cara... Um corpo perfeito. Aluno aplicado. Sempre impecável, educado. Nem pareces real. Meu Deus!!", pensava. Sim, ele punha-a muito religiosa.
Falaram horas e horas e horas. Ela já nem se conseguia concentrar.
"Beija-me, beija-me, beija-me", pensava.
Ele continuava a falar.
Agarra-me e cala-te. Já." - ela não parava de dar ordens telepáticas.
Mas não se beijaram nesse dia. Nem no outro. Passaram dois meses. Ela já trepava paredes. Até que, um dia, ele também não aguentou mais:
- Gosto de ti. Posso beijar-te?
- Não perguntes. Faz o que queres!!!, disse ela a sorrir.
Ele fez.
- Posso beijar o teu pescoço? Com licença, perguntou com gentileza e educação. É bom assim?
Ela ficou quieta. Não se deu o "click!". Não ficou arrepiada. N-a-d-a. Não sentiu nada.
- Olha, temos que estudar.
Há perfeições que só funcionam em pensamentos. E sem ela o conseguir explicar, aqueles meses de amor louco platónico tinham sido suficientes. A realidade nunca iria ultrapassar a perfeição dos seus pensamentos.
Além disso, aquela educação ao vivo afinal cansava-a. Ai, se ele soubesse como era tão melhor nos sonhos dela!

O meu órgão/ instrumento de tortura*

Uma das minhas resoluções para 2013 era retomar alguns dos meus hobbies antigos, como a música.
Só que às vezes estamos cheios de força na passagem de ano, todos nostálgicos com o ano que acabou, e cheios de boas intenções, mas não conseguimos evitar que o entusiasmo depois se esmoreça. Engolimos as uvas passas cheios de garra, enquanto ouvimos as doze badaladas, gritamos bem alto o novo ano, abraçamos as pessoas que nos rodeiam e acreditamos mesmo: "vai ser um grande ano!!". Até que, no dia seguinte, tudo está igual. Old habits die hard e novos hábitos custam a nascer, pelos vistos.
No entanto, lembrei-me no último fim-de-semana, quando fui a casa dos meus pais, que não tinha mais desculpas. A casa tinha estado em obras de remodelação, andaram armados em "Querido, mudei a casa" e, por isso, a minha guitarra e o órgão tinham desaparecido para lugar incerto. Mas agora, com o fim das obras, descobri que o órgão tinha emigrado para o escritório e que a guitarra andava a espreitar timidamente por trás da secretária.
Ia eu ao escritório, muito contente, procurar uns livros e eis que me deparo com algumas das minhas resoluções para 2013 ali especadas a desafiar-me. Primeiro ainda desviei o olhar, mas já era tarde demais: tinha havido confronto visual e eles sabiam que eu sabia.
Sentei-me. Abri o órgão. Tantos anos depois, o reencontro...
A verdade é que sempre quis um piano, até porque passei rapidamente das aulas de órgão para piano, mas nunca o cheguei a receber. E o órgão sempre foi dando para ir treinando umas músicas fora da aulas na academia.
Comecei a tocar.
Naquele momento, senti que tinha novamente 17 anos e estava a tocar para um auditório cheio de gente em delírio.
Naquele momento, senti-me um verdadeiro Chopin e dei por mim a tocar nocturnos de forma irrepreensível.
Naquele momento, ouvi também uma voz:
- Filhaa, não tens que ir? Está a ficar tarde.
Era a voz da realidade. Enquanto eu ouvia Chopin, os meus pais deviam ouvir aqueles putos de 10 anos a treinar o Dó-Ré-Mi com a flauta.
Enquanto eu estava perdida do mundo, agarrada àquela melodia que saía dos meus dedos, os meus pais deviam estar perdidos de tão surdos, a tapar os ouvidos.
- A sério, olha que está a ficar tarde. É melhor ires.
Tenho mesmo que treinar. E arranjar um estúdio com paredes à prova de som, já agora.
Os meus pais devem estar, neste momento, a cavar um buraco para esconder novamente o órgão e eu nunca mais lhe poder pôr os dedos em cima.


*Porque é que me soa ordinário de cada vez que repito "órgão"? Há uns anos juro que nunca me soava mal. É por estas e por outras que tenho mesmo que comprar é um P-I-A-N-O!!! ;)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Mulheres bonitas e a foto do CV

Li ontem no facebook da 100manias um estudo interessante, que conclui que as mulheres bonitas devem optar por não enviar fotografia no curriculum vitae ('CV'). E isto porque apenas 12% das pessoas inquiridas, para efeitos do estudo, reagiu de forma positiva a um CV feminino com foto. De acordo com o mesmo, se uma mulher inclui foto, será vista como alguém que se esforçou demasiado para agradar, ou que simplesmente não é tão séria quanto as restantes candidatas.
A discussão é interessante e parece-me pertinente. De facto, tenho estado a discutir com alguns colegas as vantagens e desvantagens de se enviar CVs com foto e ainda não tínhamos chegado a nenhuma conclusão.
De acordo com alguns colegas meus, o percurso académico e profissional deve falar por nós e tem que ser mais forte que o aspecto físico. Para outros, trata-se de um aproximar do candidato ao potencial empregador. Colocando-se no papel de empregador, entendem que ganhariam uma maior empatia com o candidato se conhecessem logo o sorriso ou o olhar por detrás das letras. Entendem ainda que a foto funciona como um cartão de visita, um primeiro impacto, ou uma espécie de pré-entrevista. Mais que simpatizar com a pessoa que ali se apresenta, mais do que a considerar bonita ou feia, trata-se de encurtar distâncias e, de uma forma subtil, tratar das primeiras impressões.
O estudo serviu também para me lembrar dum episódio relativamente recente da minha vida. Usei aparelho dentário fixo durante menos dum ano. Antes de usar fartaram-se de gozar comigo: "com esta idade?", "vais usar elásticos cor-de-rosa?", "achas que precisas?"... Não tive praticamente palavras de apoio, - mas a palavra da dentista chegava-me e ela compreendeu-me sempre. Queria basicamente disfarçar os dentes de coelho que sabia que tinha e que mais ninguém admitia ver, por simpatia. De qualquer das formas, certo dia andava a actualizar o meu CV e lembrei-me de actualizar tudo. Tudo, incluindo a foto: assumi com orgulho o aspecto que tinha e pus uma foto com o meu novo sorriso metálico, meio desengonçado. A minha irmã ria-se:
- Vais enviar assim?
- Vou. Assim sou vista como competente e simpática. Vão pensar que não ligo ao aspecto físico, mas sim à carreira.
E não é que dias depois me pediram para enviar o CV, porque precisavam duma pessoa com o meu perfil? E não é que me ligaram a marcar reunião no próprio dia? E não é que me apresentaram logo proposta no fim da reunião? Pode ter sido coincidência, posso ter apanhado um louco com fetiches por aparelhos e cenas metálicas, mas esta contratação foi única na minha vida. Já tinha tido CVs sem resposta, reuniões sem mais feedback, emails que nunca foram respondidos...
Conclusão: vou passar a seguir o conselho do estudo (ie, não mandar foto, partindo do princípio ,cheio de confiança, que sou gira) ou, em alternativa, retomar as minhas adoradas fotos do período metálico da minha vida.
Estou sexy, não estou?

A pessoa mais sincera do mundo

A minha avó sempre foi das pessoas mais sinceras que conheci. No entanto, sempre foi tão optimista, tão alegre e positiva que mesmo a sua frase mais sincera nunca era polémica ou capaz de magoar alguém.
A minha avó sempre gostou de toda a gente, podia apenas comentar que determinada pessoa se vestia pior ou era mais gordinha (sempre teve um sentido estético super apurado), mas concentrava-se no lado positivo de cada pessoa que conhecia. Era, aliás, comum ouvi-la distribuir elogios ou palavras carinhosas.
Por isso, sempre que lhe pedia alguma opinião sabia que, mesmo que esta não fosse a melhor, me ia ser apresentada de forma suave, e que, se quisesse criticar algo, iria fazê-lo de forma construtiva. Isto até há uns meses... A verdade é que desde que teve o AVC, há uns meses, a sua personalidade ficou ligeiramente alterada. Este diálogo que a seguir reproduzo é um exemplo disso.
- Que tal a empregada nova, avó? É simpática?
- Simpática? Parece uma bruxa.
- Uma bruxa? O que é que tem de mal?
- Tudo. Não aprecio nada nela, nada.
(mudando de assunto) - Pronto, se é assim, não vale a pena falar nisso. Depois explicas-me melhor. Vamos concentrar-nos agora neste jantar. Estamos aqui todos juntos à mesa. É tão bom, não é?
- Nem por isso.
- Nem por isso? Então porquê?
- É que fala um aqui. Depois fala outro ali. Só vejo bocas a falar.
- Então era melhor estares sozinha em tua casa?
- Era, sim.
- Era melhor estares sozinha em casa, a falar para as paredes?
- Sim.
(risos. Que bofetada de luva branca. Apesar de tudo, acreditamos que a necessidade de solidão é algo temporário e acreditamos que não sente realmente isto. Rimo-nos, porque acreditamos que continua a mesma pessoa e que apenas a confusão de pensamentos a faz sentir-se perdida. Rimo-nos, porque sabemos que rapidamente a teremos de volta. Sem bruxas, sem demasiadas bocas a falar e sem preferir falar para as paredes. Tenho saudades tuas, avó.)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Homens que saibam cantar*

Estava a ler hoje esta notícia sobre a música que o Justin bebé Bieber escreveu sobre a ex-namorada.
Nunca segui a carreira deste imberbe cantor, mas o que me leva a escrever sobre ele é que sempre achei que um homem que fosse afinado e tivesse noção de ritmo e melodia teria logo parte da sua vida afectiva facilitada.
Há alguma mulher que resista a um declaração de amor cantada? Não sei se falo em nome da maioria das mulheres, mas confesso que, se há coisa a que sei que dificilmente resistiria, seria a uma música dedicada a mim (com uma letra lisonjeira, já agora). Sou um coração mole.
Talvez por isso mesmo, uma das coisas que me fez reparar nele foi exactamente a voz. Lembro-me de estarmos vários num carro e começar a ouvir uma voz que não me parecia da rádio. Afinei os ouvidos e percebi a origem daquela voz confiante. Percebi naquele momento que não me importava de ouvi-la mais vezes. ;)
De qualquer maneira, não concordam comigo?
Acho que um dos maiores turn-offs é um homem que começa a cantar e, em vez de uma voz grave e segura, se sai com umas notas agudas, fora do tom, e nos faz lembrar a Kim Carnes em vez do Elvis, só para dar um exemplo.

*E claro que, quem diz mulher diz homem - aposto que uma mulher que cante igual ao Elvis também não seja a coisa mais excitante à face da Terra.

A solidão das redes sociais

De acordo com o estudo 'Inveja no Facebook: uma ameaça escondida à satisfação com a vida dos utilizadores', divulgado por duas universidades alemãs (e que conheci aqui), esta "rede social está infestada de inveja, solidão e angústia".
Sem ter lido o estudo na íntegra, mas apenas as suas conclusões, confirmou-se, no entanto, aquilo que eu (e com certeza muitos de vocês) tantas vezes já pensámos: o Facebook é uma rede povoada de gente que nunca é menos que i) gira, ii) bem sucedida, iii) apaixonada, iv) viajada, v) culta, ou vi) feliz.
Se não, vejamos:
i) gente gira - ninguém escolhe as piores fotografias. São fotografias escolhidas a dedo, em que todos têm menos uns quilos graças ao ângulo escolhido, ninguém tem acne, cabelo oleoso ou menos de 1,70m. Além disso, todos estão bronzeados e com uma dentição perfeita! Claro que há excepções e surpresas ao vivo, mas penso que realmente não passam disso mesmo - excepções. E talvez por isso fico sempre com "mixed feelings" quando me dizem que sou mais gira ao vivo - penso sempre "então sou uma fraude a escolher fotografias!!"
ii) bem sucedida - "finalmente em Xangai para apresentar a conferência XPTO"; "livro publicado!"; "tese concluída com 20!"; "fui promovido!". E enquanto isso, os outros que lêem olham para o vencimento no fim do mês e sentem-se mais deprimidos que nunca, ou vão trabalhar com menos motivação, pensando, acomodados, que nunca hão-de sair da cepa torta.
iii) apaixonada - é comum vermos grandes declarações de amor no mural. Fotografias românticas, beijos apaixonados, declarações públicas de amor... "és o homem da minha vida. E tu a mulher da minha. Vou amar-te para sempre. Eu também. Eu vou amar-te mais. Não, eu vou amar-te ainda mais." Enquanto isto, os restantes vomitam sentem, de repente, que o seu amor não é nada comparado com aquelas juras de paixão eterna. E os solteiros cortam os pulsos.
iv) viajada - todos os dias descubro que alguém fez uma viagem de sonho. Das duas, uma: ou eu tenho 'azar' com os amigos ou é, de facto, verdade e são todos accionistas de alguma agência de viagens. Os meus amigos, se juntassem todas as suas viagens, já tinham dado 10.000 voltas ao mundo, para não exagerar! E estas viagens passam pelo Brasil, Haiti, Irlanda, Austrália, Peru, Indonésia, Timor ou Suécia, só para citar alguns exemplos. E uma pessoa sente-se sempre, perante isto, reduzida à sua pequena mobilidade geográfica.
v) culta - quer seja músicas, quer seja filmes, notícias, fotografias ou correntes, há sempre quem esteja a par de tudo. Esta é, para mim, a faceta mais interessante e útil do Facebook, confesso. No entanto, é normal que, por vezes, alguns se sintam 'a leste' de tudo, porque os comentários vão passando vertiginosamente e nem todos conseguem acompanhar a velocidade a que as informações saem.
vi) feliz - por fim, à excepção dos desabafos comuns sobre a chuva ou a Segunda-feira, todos estão num estado de felicidade permanente. Todos sorriem. Todos têm amigos. Todos adoraram o jantar que tiveram. A noite foi a melhor de sempre. Todos se adoram. E o mundo é, de repente, um lugar idílico onde apenas nós não conseguimos entrar.
Como já disse aqui uma vez, não fazem parte de mim sentimentos como a inveja, e tenho a sorte de ter um núcleo de pessoas que me rodeia e que nunca me permitirá sentir sozinha. Mas compreendo que, por tudo aquilo que aqui foi dito, haja muita gente que sinta alguma inveja, solidão ou angústia ao entrar no Facebook. E isto é a prova que, por mais amigos virtuais que tenhamos, nunca nada vai substituir a força e o calor duma amizade ao vivo e a cores.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Tenho uma genética abençoada"

Quantas vezes não ouvimos isto dito pelas modelos e actrizes com os corpos mais esculturais do planeta?
Mulheres lindíssimas, com dois metros de pernas, corpos sem ponta de celulite ou estrias, magras e tonificadas. E respondem quase todas isto, quando entrevistadas:
- Qual é o seu segredo? Que dietas faz?
- Tenho a sorte de ter uma boa genética. Como o que quero e nunca engordo. Adoro um bom hamburguer com batatas fritas!
Sempre que leio isto fico deprimida.
Como o que quero e não foi por isso que me tornei num anjo da Victoria's Secret.
Como o que quero e nunca fui magra.
Mas pelo menos já tenho quem culpar: os meus pais. Sim, porque pelos vistos a culpa é da genética e não do que comemos. ;)

Pessoas indecisas

Se há coisa que me irrita solenemente são as pessoas indecisas ou sem opiniões definidas.
E lembrei-me disto hoje, porque assisti a um casal ao meu lado a discutir durante dez minutos o local de almoço - cada um queria agradar ao outro e nenhum se queria impor. Cansam-me os diálogos deste estilo:
- Onde te apetece almoçar?
- Por mim, é igual. Onde quiseres.
- Marco férias neste hotel?
- Pode ser.
- Este filme ou este?
- Tanto faz.
- Gostas mais deste vestido ou deste?
- São diferentes. Gosto dos dois.
E irrita-me, porque eu própria sinto que fico afectada pela indecisão e torno-me incapaz de decidir grande coisa quando estou junto de pessoas assim. Parece que a incapacidade alheia de opinar me afecta, qual vírus super contagioso. Decido melhor no meio de um debate, entre trocas de ideias. E sei que para muita gente este tipo de pessoa é o ideal, porque podem decidir a seu bel-prazer, mas eu prefiro e sempre preferi pessoas com personalidades fortes, capacidade de decidir, ou até um bocado mandonas.
Prefiro discutir opiniões ou sítios para almoçar a ter que impor tudo o que quero. Para isso uma pessoa andava sozinha, não era?

O Impossível

Ou o conflito "Loiros vs Morenos".

Vi, neste fim-de-semana, o filme "The Impossible". E vi-o não tanto pelos Óscares - confesso -, mas mais porque os nomes Ewan Mcgregor e Naomi Watts funcionam, para mim, como selo de qualidade e são, por si só, suficientes para me levar ao cinema. Quanto à história, confesso que me fazia lembrar o "Hereafter", do Eastwood, e não estava muito convencida quanto a assistir novamente a dramas que envolvessem tsunamis. Vivo demasiado os filmes, principalmente quando são baseados em histórias verídicas, e já sabia que ia ser uma choradeira pegada. No entanto, a curiosidade falou mais alto.
Ora, a primeira coisa que me fez confusão foi perceber que o filme era patrocinado pela Comunidad Valenciana, se não me engano. Admito que não fiz devidamente o trabalho de casa e apenas sabia que o filme era sobre uma família que sobreviveu ao tsunami que destruiu a costa tailandesa em 2004. Uma vez que os actores eram loiros, presumi que fosse uma família americana. Daí o meu espanto com aquele patrocínio.
Os nomes das personagens também não me levantaram suspeitas ao longo do filme: a família era com certeza americana, com uma Maria e um Henry loiros de olhos azuis e inglês carregado, e os seus filhos Lucas, Simon e Thomas.
Apenas no final do filme, com um breve resumo da história real, percebi que a família em que o filme se baseia é.... espanhola!
Pensei, de mim para mim: "hmm... se foram buscar uns loiros, são com certeza uma família de morenos atarracados com sobrancelhas fartas e demasiados pêlos faciais". mas eis que me deparo com estas imagens:
A família original.
Bem giros, hãan? Agora expliquem-me lá porque é que houve necessidade de contratar actores de raça ariana. Não haveria lá por Hollywood bons actores morenos disponíveis? Confesso que, enquanto feliz proprietária de cabelo castanho e tez morena, fiquei irritada em nome de todos os meus semelhantes. Quer dizer que, se um dia, a vida de um de nós for adaptada ao cinema, vamos ter sempre um loiro de olhos azuis com pronúncia british a representar-nos? Sinto-me injustiçada. Muito injustiçada. E com vontade de trazer já a debate um naipe de bons actores morenos (bons nos dois sentidos, entenda-se).
A família representada no filme.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A Ana Pedro

Tenho uns amigos que estão à espera dum bebé.
Ela está grávida e a cegonha deverá chegar em Abril.
O nome já foi escolhido: Ana Pedro.
No entanto - soubemos hoje - a Ana Pedro poderá não chegar a constar da Conservatória do Registo Civil enquanto tal. A Ana Pedro poderá não vir a ser chamada por esse nome. O nome Ana Pedro poderá não vir a tornar-se realidade para além deste post.
"Mas porquê?", perguntam vocês, sempre atentos.
Eu explico: é que andámos as duas a pesquisar, por curiosidade, a lista dos nomes admitidos e não admitidos em Portugal e a Ana Pedro não consta da lista. Em princípio não haverá problema e a Conservadora não colocará entraves, se não, a minha amiga pode vir a ter que optar por nomes como:
- Zuleica
- Solôngia
- Marisila
- Lutgalda
- Joscelina
- Cinderela
- Afra.
Uff, assim sim. Se a minha amiga não puder dar aquele nome tão exótico (ela é muito excêntrica), pelo menos tem estes nomes simples e tradicionais à sua disposição.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Sugadores de felicidade

Uma vez conheci uma rapariga que era tão triste, tão triste, tão triste, que cada vez que entrava no mesmo espaço que eu, aspirava toda a minha felicidade.
Era um autêntico buraco negro humano.
Lembro-me em particular duma passagem de ano: estávamos todos a dançar, a curtir a música, felizes por estarmos todos juntos.
De repente, ela olhou para mim com aquele olhar mais triste que o mundo já conheceu.
Parou tudo. Sentia que a música tinha tinha deixado de se ouvir, o meu corpo deixou de saber dançar e ficou rígido. Até o riso que tinha desenhado na cara se sentiu desconfortável e se 'desconstruiu'.  Sabem quando sentem que não conseguem rir e que o maxilar não sai do sítio nem os lábios respondem? Fiquei igual. Era tarde demais. Já não restava gota de felicidade no meu corpo.
Foi a passagem de ano mais sombria que já tive.
Há uns tempos revi-a. Estava com um sorriso tão rasgado que mal a reconheci.
- Estás diferente! O que te aconteceu?
- Fiz dieta! Perdi quase 10 kgs. Fui àquele médico muito conhecido, o ...
- Boa! Estás óptima! A sério. Gosto muito.
- Perdi muita massa gorda. Estava a precisar.
E sorriu novamente.
Foi aí que percebi: não perdeu massa gorda. Perdeu a felicidade dos outros, que estava ali acumulada, e devolveu-a finalmente aos devidos proprietários. 10 kgs de felicidade roubada.
E sei disto, porque naquele momento devolveu-me a minha parte. E vim para casa a sorrir também.

Cuidado: conteúdo para adultos

NOTA: Aquilo de que me apetece falar hoje não é próprio para menores de 18. Por isso, se tens menos, passa à frente, por favor. Ou pelo menos deixa-me acreditar que o fizeste...

Ora bem, tenho um casal de amigos (sim, são sempre amigos) que teve recentemente a primeira desavença na sua vida 'íntima'.
Queriam apimentar as coisas, ela tinha a mania que era muito à frente, e então puseram-se a ver filmes juntos. Filmes para adultos, portanto.
Não era a primeira vez que o faziam, mas foi a primeira vez que ele perguntou:
- De que filmes gostas? Diz aí nomes?
- Desculpa?
- Nomes de filmes... actrizes... sei lá, o que quiseres.
- Mas eu não faço ideia. O que vi foi contigo ou então pequenos clips. Nunca vi filmes do princípio ao fim...
- Mas actores sabes!
- Hmmm... não... Escolhe tu.
- Ok. Vamos ver este. Ela a actriz mais conhecida, vais adorá-la.
E foi aí que o desentendimento começou.
- Esta? ahah Que boca tão mal feita. O cirurgião estava chateado ao encher-lhe os lábios. Ficou com biquinho de pato. E o nariz?? Parece o Michael Jackson! .... E a música? Isto é a sério? Agora põe-se Evanescence a dar nos filmes de f%#$?
- Hmmm.. sim. Agora são mais assim.
- Ahahah E que luz é esta? ahah Isto é a gozar, não é?
- Cala-te! Já chega. Vou dormir. Estragaste tudo.
E ela ligou-me: "fogo, ele queria excitar-me com aquilo? excitava-me mais ver a gabriela!! aquilo era um homem e uma mulher no acto, sem histórias, sem um antes, sem um porquê. e eu queria perceber como é que tudo começou, como é que se beijaram, como é que ele lhe tirou a roupa. para ver aquilo vejo o bbc vida selvagem. era demasiado grotesco, percebes?? até os sons dela eram irreais... conclusão: estávamos os dois cheios de vontade e perdemos os dois. nada para ninguém!"
Os homens vivem tantas vezes a leste do mundo das mulheres.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O segredo mais bem guardado

Numa festa, ao telefone com a mãe:
- Filha, como é que estão as pessoas? Bem parecidas?
- Sim... but I'm the best. Definitely the best.
Ela era confiante e altiva.
- Trabalhas nalguma empresa?
- Honey, a minha empresa sou eu mesma. Não encontro entidade patronal melhor.
As pessoas viam-na como alguém bem sucedida, confiante e com ares de 'femme fatale'.
Um dia conheceu um rapaz que parecia perfeito, apresentado por amigos comuns. Conversaram e trocaram os números de telemóvel. Constou-lhe que ele adorava cavalos. Era muito trabalhador. Tinha uma quinta e adorava a família. Combinaram jantar.
- Queres que fale sobre mim? Muito bem. Sou uma workaholic, para começar. Não sei se consegues lidar com isso. Adoro montar. (risos) Montar é, de facto, a minha paixão. Seja no picadeiro ou no meio das palhas, numa quinta. (risos)
Ele estava a achar piada ao discurso tão 'matchy-matchy', claro. Ela falava de forma segura e cheia de atitude. Parecia saber exactamente o que queria. E enquanto falava, o vinho da garrafa ia desaparecendo, a uma velocidade vertiginosa.
- Não me lembrava que eras tão giro. Ainda és melhor do que a imagem que tinha. Levava-te já para casa e algemava-te. (risos) Desculpa, já bebi demais. Geralmente adopto a versão bibliotecária durante o dia. Saia justa, óculos, camisa branca justinha. Gostas?
Ele estava a gostar, claro. Foram para casa dela. E o 'amor' aconteceu.
No dia seguinte, o telemóvel não tocou com mensagens ou chamadas dele. Ela esperou. Esperou. Escreveu-lhe. Sem resposta. E então aí ela chorou. E chorou. E chorou. Tinha estudado a fundo aquele dossier. Os gostos dele. Hobbies. Tudo. E sabia que tinha tido uma performance "definitely the best".
- Como é que eu sou na cama? Estratosférica!, comentava com quem abordava o assunto.
Mas agora apenas a desilusão era estratosférica.
Não é por acaso que dizem que as mulheres confiantes e altivas são as mais inseguras.
Porque, na maior parte das vezes, essa confiança é apenas a caixa-forte dum segredo muito bem guardado: querem simplesmente encontrar o amor.
Por ironia, no dia seguinte, o rapaz comentava com o amigo em comum que estava a precisar de arranjar namorada.
- Não gostaste da noite de ontem?
- Claro, mas a gaja só me queria levar para a cama! Não quer assentar, como eu.
E à noite também ele chorou. Sentia-se sozinho.
O amor é irónico.

Portuguese Viagra!

Ontem tive que rumar novamente para o Sul do nosso país, mais concretamente para Faro e depois Albufeira. Foi um dia passado em viagem e o pior é que chegou ao fim e percebi que perdi horas de sono e, afinal, nem tinha sido preciso.
Estava cansada, com umas olheiras até ao umbigo e morta de sono.
Até que vi este homem e ganhei o dia.
Não, não era o Brad Pitt ou o Clive Owen.
Era um Inglês em busca de novas emoções em Portugal. Viu a palavra "Viagra" e foi a correr à loja.
Para mal dos seus pecados, as estantes estavam vazias. Não fiquei para confirmar, mas ia jurar que depois de a fotografia ser tirada terá perguntado à menina da loja: "não há mais caixas?!"
Nota ainda para o super convicto "muchas gracías!!" com carregadíssima pronúncia americana que ouvi um grupo de americanos proclamar depois de pagar a conta, num restaurante. Aprendam Português!!!!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Informático D. Juan nas horas vagas

Ele era informático numa grande empresa.
Lidava com códigos que ninguém percebe.
Passava horas em frente a máquinas.
E sentia-se sozinho: queria falar português e sentir o calor humano.
Vai daí, decidiu que ia usar a sua profissão a seu favor. Esqueceu a linguagem binária e quis aprender a língua do amor. Virou costas às linhas rectas dos computadores e piscou o olho a umas curvas femininas.
Começou a escrever emails românticos a todas as novatas que por ali passavam.
"Olá! Antes de mais, bem-vinda. Fica com o meu email caso precises de ajuda informática".
Elas agradeciam de forma educada e sintética.
"De nada! Sabes que podes contar comigo. Não só para problemas informáticos, mas para o que precisares. És muita gira, pá. Olha, toma lá o meu telemóvel: xxx. E o meu facebook: yyy"
Elas deixavam de responder, incomodadas.
"Então, estás chateada comigo? Só queria mostrar que podes contar comigo. Só para amizade, não me estava a atirar a ti. Respeito-te."
E insistia:
"Não respondes? Está tudo bem?"
"Estou a ficar preocupado. Tens vindo trabalhar? Não me digas que ficaste doente. Eu por acaso fracturei o perónio a jogar futebol. Andei mesmo mal. Até faltei ao trabalho, como deves ter reparado. beijinho com carinho."
"Hello???"
Ele devia ter aprendido que, ao contrário do que acontece com os computadores, com as mulheres não há "delete", "refresh" ou "restart". E que com investidas daquelas, o mais provável era continuar a falar para o boneco. Ou, neste caso, para o computador.

Do anonimato

Quando comecei este blog, há quase dois meses, pensei que seria um espaço 100% anónimo, de reflexão e terapia. Quase um diário só meu. Estava decidida a não contar nem às pessoas mais próximas que andava para aqui a dissertar tanto disparate junto.
Depois, à medida que ia escrevendo, tinha vontade de dizer "olha, falei sobre ti, espero que gostes", porque o que é certo é que parte daquilo que sou devo às pessoas que conheço, às pessoas que gosto, que admiro e com quem me dou. Talvez daí venha a necessidade de escrever sobre quem me rodeia. Porque ao rodearem-me, acabam por construir, comigo, a minha vida.
Ontem contei a outra amiga que tinha este espaço e senti-me mais leve. Comecei a pensar que faria mais sentido as pessoas mais próximas lerem-me, uma vez que já partilho o que penso com desconhecidos.
Por isso, à família e amigos que passarem cá e lerem isto: um beijinho e obrigada! Espero que vejam um bocadinho de vocês em cada palavra. Porque a verdade é que me ajudam a escrever cada letra, inspirando-me. ;)
Aos restantes, obrigada por me lerem mesmo sem fazerem a mais pálida ideia de quem sou.
Hoje acordei com muito vontade de agradecer ao mundo, como podem perceber.
(roubei-te esta imagem, V. não resisti)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nunca mais lanço pragas

Corria o ano de dois mil e qualquer coisa.
Aqui a moura não tinha férias em Agosto, porque tinha começado a trabalhar há pouco tempo. Andava feliz com o meu trabalho, mas desolada a observar os raios de Sol a atravessarem as minhas masmorras profissionais e a gozarem com o meu computador. Foi um período conturbado: evitava olhar as pessoas bronzeadas de frente, desviava o olhar de vestidos curtos, havaianas e ganhei uma aversão a toalhas de praia. Não ganhei um torcicolo por puro golpe de sorte.
Esse foi também um período de ginástica com o tempo: tentava alongar os fins-de-semana ao máximo e encurtar os dias de semana. Ao sábado de manhã ia a correr para a praia praticamente antes do sol nascer ("já há luz, vês? já há luz!") e só me arrancavam novamente da praia no domingo por volta da meia-noite, para evitar que eu fosse arrastada pelos lixeiros, que limpavam o areal.
Foi neste cenário idílico que a bomba caiu:
- Vou para o Algarve quinze dias, ok? Sabes que tenho lá casa, é de aproveitar...
- Desculpa, falaste comigo? Só ouvi a parte da casa. De resto não ouvi nada. muaah muaah muaah (beijos)
- Páraa... Ouviste muito bem...
- Não ouvi nada. Não disseste nada. Não quero ouvir.
- Vou para o Algarve... Podias pedir uns dias e passar lá um fim-de-semana prolongado... Mas agora repete lá esses beijos...?
Eu fingi que não ouvi. Andei dias assim. Em pura negação.
Até que chegou o dia. E lá o vi partir. "Naquela estrada", como diz a música.
Nesse momento, reparei que o meu subconsciente mandou uma praga qualquer. Tentei impedi-lo, mas não consegui evitar. Eu sou boa pessoa, mas o meu subconsciente às vezes prega-me partidas. Já estava a praga lançada. O telemóvel tocou umas horas depois.
- Tive um acidente.
- Oh...
- Não foi grave. Está tudo bem.
- F%#$&$#. (o meu subconsciente a pensar, porque eu não digo palavrões). Foi da praga que lancei por teres ido para aí!
- Oh.
- A sério! Desculpa!!!
Nunca mais lanço pragas. Nem deliberadas, nem inconscientes. Acreditem.

A minha senhoria #2

Houve uma altura em que percebi que, por muito culta e interessante que fosse, a minha senhoria tinha um problema: algumas perdas de memória.
- Adoro cães. Tive um malamute, quando vivia ali no Restelo. Já lhe disse que vivi no Restelo?
- Sim, já... julgo que sim. ("pelo menos 10 vezes!!!", acrescentava, para mim própria)
- Ai o malamute era tão despachado. Tão esperto. E muito guloso!! Uma vez, servi o jantar e fui chamar o meu filho. O corredor que ligava a sala aos quartos não era muito comprido. Dei dois passos e chamei-o. Ele estava no quarto. Quando regressei à sala, já não tinha comida na travessa. Pensei que me tivesse enganado. Voltei para a cozinha para pegar na travessa.
- O cão comeu tudo, não foi?
- Foi!! Como adivinhou? Não é que tinha comido tudo em 2 segundos?
Eu já sabia a história de trás para a frente.
Outra vez, a ouvir as notícias no telejornal:
- O Carlos Castro era meu primo em terceiro grau...
- Do lado da sua mãe, não era?
- Sim, como sabia?
A dada altura deixei de interromper. Ela tinha começado a olhar para mim como se eu tivesse capacidades sobrenaturais. Falava e fitava-me fixamente, como se a perceber se eu estava a ler nas estrelas. Passei apenas a sorrir enquanto ouvia as histórias pela enésima vez. Ela dizia-me que eu era uma excelente ouvinte. Eu pensava "Um dia pego nelas e escrevo sobre isso". E assim fiz.
Já não foi tempo perdido. Foram histórias que ganhei.
É que por muito culta e interessante que fosse, a minha senhoria tinha um problema: algumas perdas de memória. Ai já vos disse isto? E já contei a história do malamute? E do Carlos Castro? Estou a brincar. Só para ver se estão tão atentos como eu. ;)

Debaixo da língua

À mesa, com um grupo de amigos. Tento roubar-lhe um bocado do prato dele, já que a minha comida ainda não tinha chegado:
- Posso tirar?
- Não! Já sabes que detesto que me tirem comida do prato.
- Só um bocadinho...
- %$%&$%&
- Pronto, deixa lá. (voz de mimo)
Passado uns minutos.
- Como se chamava o pintor? Não era Picasso, era... Aii, está aqui debaixo da língua. Diz tu, não sabes? Sabes de certeza.
- Eu não. É que debaixo da minha língua não tenho nada, porque não me deixaste comer.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Vou ser mais turista que o maior dos turistas

Estive a ver o "Não aceitamos reservas (Lisboa)", na Sic Radical, e dei por mim a pensar que o Anthony Bourdain foi mais lisboeta nestes dias do programa que eu fui em anos.
Não sou lisboeta, mas o trabalho levou-me a trabalhar em Lisboa - primeiro no Saldanha, depois ao pé da Avenida da Liberdade. No entanto, as saudades levaram-me a fugir às Sextas-feiras 80% das vezes e a meter-me na A1.
E agora dou por mim a pensar que:
1. ainda não fui a uma casa de fados;
2. nunca andei de eléctrico;
3. nunca bebi a ginginha;
4. nunca entrei naquelas casas típicas com enlatados e produtos tradicionais portugueses;
5. nunca joguei chinquilho (nem sabia que existia, confesso);
6. nunca festejei o Santo António;
7. nunca fui ao mercado.
Acabei por conhecer melhor o centro, mas falta-me a essência. E assisti à essência ontem à noite, sentada no meu sofá, vivida por um homem que nem sequer é português.
Que golpe no meu ego.
Promessa a mim mesma para cumprir: mal possa, vou ser mais turista que o maior dos turistas em Lisboa.

A importância de saber falar*

Ela falava muito bem.
Era desenvolta e tinha um vocabulário extenso para a idade.
Utilizava correctamente os tempos verbais e aventurava-se até nalguns advérbios.
Havia um pequeno senão que poucos notavam. Digamos que, ao recitar o abecedário, quando chegava à letra "K" passava logo para o "M". Para ela, a letra "L" não existia.
Ora, como falava mesmo muito bem e tinha um vocabulário extenso para a idade, poucos notavam.
Acontece que, quando notavam, viam a verdade nua ali escondida: ela era uma porca.
"Desculpa?!", perguntarão vocês, incrédulos.
Calma, não estou a insultá-la.
É que, para mal dos pecados desta criança tão desenvolta, a sua avó chamava-se Celina.
"Como se chama a tua avó?"
"A minha avó é a avó Suína".

*Felizmente, posso adiantar que a criança cresceu e hoje diz correctamente os "L". Deixou de ser uma pequena porca e é agora uma adolescente com muito potencial para se tornar uma grande mulher.

A minha senhoria

Vi o anúncio. A casa parecia impecável, muito bem localizada, num dos meus bairros preferidos, e a um preço acessível. Escrevi-lhe.
No email de resposta, a senhora tinha tido até o cuidado de colocar um vídeo com uma fotografia dela, para que pudesse saber com o que contava. Marquei uma visita e lá fui eu.
Quando cheguei, deparei-me com uma senhora que me pareceu ter, mais ou menos, 234 anos. Só com alguns dentes, cabelo branco comprido, preso por um elástico, roupa larga demais para o seu corpo, demasiado grossa para a temperatura exterior e já sem formas. Nos pés, uma unha malandra a espreitar através da meia. Fiquei assustada. Seria aquela velha uma bruxa que tinha assassinado brutalmente a simpática senhora do anúncio?
- Dona X?...
- Sim, sou eu.
- Ahh... hmmm... olá...
- Olá!! Muito prazer!!
E atirou-se prontamente à minha cara, em busca dum beijo. Não sou pessoa de negar beijos, mas aquele hálito a café misturado com 4 maços de tabaco fez-me confusão.
Vi a casa. Era tal e qual o anúncio. O preço era óptimo. A localização era realmente a ideal. Com um terraço, cheia de luz. "E pode trazer a cadela! Adoro animais". Palavras vencedoras. Lá fiquei com a casa. "Vou ficar com a casa, não com a velha", pensei em clara auto-motivação.
Acontece que descobri mais tarde que a "bruxa" tinha afinal 50 e tal anos e era das pessoas mais cultas que já conheci. Vítima dum acidente de trabalho, quando trabalhava no Ministério da Cultura, partiu uma perna e nunca mais pôde trabalhar. Como já não ia para nova, andava a tentar que lhe dessem a reforma. E o cabelo por pintar, as roupas velhas e a ausência de placa dentária faziam parte do "esquema". Vi fotos dela com um ano de diferença e realmente parecia 180 anos mais nova. Não a pude criticar.
Adorava falar de política, das conversas que tinha com o "Pedrinho"e das histórias que viveu no Ministério. Fomos ficando amigas. E eu adorava chegar a casa de rastos, do trabalho, jantar, ligar o "piloto automático" e ficar apenas a ouvi-la. Até à 1h da manhã. Altura em que me retirava.
- Dona X, até amanhã.
- Até amanhã! Eu vou só tomar um cafezinho, que estou a precisar dum.
- Olhe que assim não dorme!
- Eu nunca tenho sono à noite, não sei porquê.
- Hmmm... Será do café?
- Como?
- Nada, nada. Olhe, durma bem! Boa noite.
- Por este andar, já será só bom dia. Estou mesmo com pouco sono, não sei porquê, dizia-me, enquanto bebericava o seu café em frente à Sic Notícias, e jogava Farmville no computador.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A minha cadela nunca mais fala

Lembram-se da cena do ET quando ele começa a falar?


Ou no Planeta dos Macacos, quando o César grita "nooo" pela primeira vez?


A minha cadela faz uns sons tão humanos, de vez em quando, que estou sempre à espera dum momento como estes.

Só gosto de pessoas bonitas

"O que conta é a beleza interior".
"Quem feio ama, bonito lhe parece".
Estávamos a almoçar e comentei com os meus pais, em relação a alguém que estava a dar na televisão, que tinha a cara mal distribuída, com demasiado espaço na testa e os olhos e o nariz muito próximos. Os meus pais deram-me um raspanete qualquer do tipo "oh mas é tão boa pessoa", que é o que se diz sempre que alguém é feio - isso ou o "oh mas é tão simpático". O ser boa pessoa ou simpático parece, portanto, ser sempre a tábua de salvação dos feios.
A minha avó, que partilha comigo a ausência de grandes moralismos no discurso, comentou: "então, mas não é verdade? Quando alguém é feio nem temos tanta vontade de olhar. Eu pelo menos gosto mais de estar rodeada de gente bonita, é mais agradável, até faz bem aos olhos". E rimos todos, porque a mesma verdade dita por alguém com mais 50 anos que eu ganha logo outra força.
O que é certo é sempre dei por mim a simpatizar mais facilmente com quem é bonito. Sei que é politicamente incorrecto admitir isto, mas concordo com a minha avó. De qualquer maneira, não sei o que vem primeiro: se acho a pessoa bonita porque gosto dela, ou se sou uma maníaca da beleza e só gosto da pessoa porque acho bonita. O que é certo é que acho maravilhosas todas as pessoas de que gosto.
A minha irmã é linda de morrer e tem uns lábios que devem ser a perdição do namorado. A minha mãe tem o sorriso mais bonito e rasgado que conheço, de actriz de cinema, enche uma sala. O meu pai tem o olhar carismático e intenso dos grandes líderes. Ele tem a voz do Elvis e o ar malandro do Robert Redford novo. As minhas amigas são todas maravilhosas.
Agora será que se aplicam aqui os ditados de cima? Não sei. Mas ninguém consegue ser objectivo a falar de quem gosta. É como discutir se primeiro vem o ovo ou a galinha.

Reguadas

De vez em quando lemos notícias como esta do Correio da Manhã:
Uma professora com 68 anos, que dava aulas de apoio ao estudo, foi acusada por um dos alunos, com 8 anos, de dar reguadas quando as crianças não decoravam a matéria ou se portavam mal. O Ministério Público entendeu não existir qualquer causa justificativa para a agressão e vai ser julgada.
Ler esta notícia levou-me a pensar no meu caso: levei duas reguadas na vida.
A primeira vez foi na 1.ª classe - alguém escreveu no quadro, durante o intervalo, algo impróprio e ninguém se acusou. Perante isso, a professora ameaçou dar reguadas a todos se ninguém confessasse a autoria da "obra de arte". Mantivemo-nos calados em solidariedade e levámos 3 reguadas cada. Não me custou nada, porque senti que aquele era um acto heróico, além do sentimento de pertença ao resto da turma.
Da segunda, pelo contrário, senti-me completamente injustiçada - estava na 3.ª classe, era uma criança estudiosa e muito calminha. Um dia, quis ajudar um colega a resolver um problema e levei duas reguadas. Apetecia-me chorar, não da dor, mas da injustiça. Apetecia-me agarrar na régua e ripostar. Seguiram-se dias de amuo que culminaram com um pedido de desculpas disfarçado da professora, que me chamou sem motivo aparente e elogiou demasiado algo que eu tinha feito. Percebi o "pedido de amizade" disfarçado (na altura não havia facebooks). E assim fizemos as pazes.
Acredito que seja complicado dar aulas a crianças. São agitadas, gostam de chamar a atenção, têm demasiada energia e muitas vezes problemas de concentração. São barulhentas, precisam de perceber o que é disciplina e conhecer os limites. No entanto, se uma leve reguada merecida tem toda a minha aprovação, já me parece que fazer disso hábito pode ter efeitos perversos: crianças revoltadas, com sentimento de injustiça ou - pior ainda - mais agressivas. Pelo menos comigo foi isso que aconteceu.
Há uma linha muito muito ténue entre aquilo que separa o castigo corporal construtivo do castigo corporal desajustado e destrutivo.
Mas enquanto os professores utilizarem os castigos (não têm que ser físicos, basta terem imaginação) de forma construtiva e proporcional, defendo, sem falsos moralismos, que recorram a eles.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Tesourinhos

Deram-me os cds com a promessa: "senta-te e vê com calma. É uma autêntica relíquia".
Sentei-me. Inspirei fundo.
Comecei a ver.
Que salto no passado.
Ri-me.
Corei de vergonha.
Ri, ri, ri. Até doer a barriga.
Revi as telenovelas. Os videoclips. Os telejornais. A teleculinária. Os vídeos das nossas viagens.
As nossas conversas. Tudo gravado, ao longo dos anos.
Passávamos dias e dias juntas, a preparar os guiões, as roupas, a distribuir tarefas. E depois a filmar. Que bela infância! E tenho a sorte de poder dizer que nos mantivemos sempre amigas.
Uma das pérolas que mais me fez rir foi isto, na teleculinária (era a receita para um bolo com um aspecto terrível):
"Um ingrediente essencial.
Essencial: café.
Tem que se dar um bocado às crianças.
Se não, andam sempre a dormir e também têm que trabalhar, porque têm um bom corpinho.
Pelo menos os meus têm."

sábado, 19 de janeiro de 2013

Estou no fim do mundo

Sem água quente.
Sem electricidade até às cinco da tarde.
Só a lareira a aquecer.
Sem rede nos telemóveis.
É nestas alturas que percebo que estou velha. Há uns anos ia achar giro e uma aventura. Agora só me apetece meter no carro e voltar para a cidade. Como não posso, escolhi a minha vítima: a única da casa que me deixa fazer-lhe transformações de visual.
Eu disse que ia começar a falar de moda ;)




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Blogs de moda*

Os blogs de moda chegam a render, segundo o Expresso, €2.500,00 por mês.
Assim sendo, optei por contar-vos (já andava a adiar isto há tempo demais, por coincidência decidi fazê-lo hoje) que também eu sou perita em moda. Tirei duas licenciaturas na área e amo moda de paixão.
Aliás, eu respiro moda. Eu transpiro moda. Eu vivo a moda.
Eu inventei a palavra "moda".
Eu sou a moda.
Para provar isso, vou falar de moda.
Mas não é hoje.
Agora vou assistir a um desfile a Paris, amanhã tenho outro em Milão e Domingo vou ter reuniões com marcas, que me querem propor contratos milionários para as representar. Que maçada.
Mas um dia destes falo disso, ok?
Marcas de roupa, calçado, acessórios, hotéis, spas, o meu email está ali no lado esquerdo.
Clix, o mesmo para ti, sim? Já disse que aceito alojar-me em ti. Temos só que acertar esses zeros do contrato.
beijinhos, até amanhã.

*Atenção: isto é uma brincadeira. Quem percebe de moda e gosta de escrever sobre isso, tem todo o meu apoio e admiração! Eu só não o faço, porque apesar de ser vaidosa e adorar o tema, não percebo nada. Ok? No hard feelings.

Doidas, doidas, doidas

Dizia a música que andavam as galinhas, não era? Alegadamente "para pôr o ovo lá no buraquinho".
Ora bem, quem fez a música lá saberá em que se baseou. Com certeza terá estudado estes pequenos galináceos durante anos e eu não sou ninguém para o contestar.
No entanto, aqui em casa descobri que doidas doidas andam as formigas.
Tive uma invasão de formigas, na última semana.
"Deixaste por descuido comida fora do frigorífico?", perguntarão vocês, muito expeditos.
"Pois, eu pensaria o mesmo... mas não.", respondo eu.
"Mas então descobriste o que procuram? O que as move? Afinal, o que as levou até tua casa?", insistirão vocês, com simpatia e um certo tom preocupado.
"Descobri, sim. Obrigada por perguntarem. São alcoólicas e descobriram, para mal dos meus pecados, que deixei uma garrafa de Martini Bianco mal fechada. É vê-las em alegre procissão a ir beber, em fila indiana, e a caírem depois inebriadas à volta da garrafa, em semi-coma alcoólica."
Para não pensarem que sou louca e vejo coisas (o que pode nem ser totalmente mentira, mas não interessa para o caso), tenho registo fotográfico. Notem que, como aqui já disse, o meu Blackberry (SIM, EU JÁ TIVE TELEMÓVEIS BONS COMO O RESTO DO MUNDO, 'TÁAA?) morreu e ando com um Nokia foleirito que tira fotos péssimas. Mas vejam lá se conseguem ver as micro bêbedas, à volta do gargalo:

Dos últimos desejos

Alice Pyne descobriu aos treze anos que tinha cancro. Independentemente de todo o turbilhão de sentimentos com que se terá confrontado (e que nem consigo sequer imaginar), decidiu meter mãos à obra e criou um blog (Alice's Bucket List) onde ia relatando a sua luta contra o cancro. Neste blog aproveitou para apresentar uma lista onde enumerou os seus últimos desejos e criou ainda uma fundação que realizasse os desejos finais de outras crianças como ela, em fase terminal.
Morreu no passado dia 12.
Estive a a ler alguns dos seus desejos. São eles:
- Tirar uma boa fotografia com a Mabel (a cadela)
- Arranjar o cabelo (se alguém conseguir)
- Fazer uma massagem nas costas
- Ver baleias
- Passar uma noite numa roulotte
- Ser treinadora de golfinhos
- Conhecer a banda "Take That"
- Fazer uma sessão de fotos com 4 amigas
- Conseguir o maior número de assinaturas para a lista de dadores de medula óssea
- Viagem ao Quénia
E foi com alegria que constatei realizou todos. Vi algumas fotografias e não consigo imaginar o que terá sentido ao viver todos aqueles sonhos, com o amargo de saber que teria pouco tempo de vida.
Não sei se teria a mesma força de espírito para conseguir ser feliz com o tempo limitado. Mas o que sei é que foi uma inspiração para mim ler esta história e que me fez realmente pensar.
Entretanto, posso dizer que, quanto ao primeiro desejo, confirmo que foi efectivamente realizado. Que bela fotografia, Alice. Espero que estejas num lugar melhor, um lugar cheio de maravilhas, à altura do teu nome.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Faço videoclips com as pessoas da rua

Sou viciada nesse jogo.
Passo a explicar: vou de carro sozinha, está a dar uma música na rádio ou nalgum cd. Se passar alguém na rua, começo a imaginar que a pessoa está a participar num videoclip e tento adequar os passos ao ritmo da música. A maior parte das vezes até bate certo e rio-me sozinha.
Velhinhos ao som de 50 cent, miúdos cheios de atitude ao som de gangnam style, etc.
Ando a pensar gravar um exemplo para vos mostrar. Fica tão nonsense que acho impossível não rir.

Água na boca

Corriam juntos, estrada fora. Até que começou a chover:
- Esperaaa!
- Então?
- Está a chover tanto! Nem consigo respirar com a chuva a entrar-me no nariz e na boca.
- Oh é tão bom! Eu adoro.
- Mas abrandaa.
- Logo agora que estou com mais pica que nunca. Já nem sequer estou cansado!

Em casa, a tomar banho de chuveiro:
- Fogo, a água está a ficar fria. Que gelo!
- Custa a tocar na cara, não é?
- Na cara? Estás maluca? Nunca lavo a cara no chuveiro. Detesto sentir água na cara.

Às vezes ela sentia que vivia num mundo à parte, só dela. Ou então que ele era bipolar.

A esteticista guardiã da Moral

Ela tinha um salão de beleza. Era esteticista, mas aproveitava para acumular as suas funções com o cargo de Guardiã-da-Moral-e-dos-Bons-Costumes.
Assim, se alguém pedia para depilar mais um bocadinho as zonas íntimas, resmungava qualquer coisa entredentes. Era o seu cargo como Guardiã que a tal a obrigava.
Isto aconteceu a uma amiga minha (é sempre uma amiga, nunca somos nós...):
- Dona X, será que pode depilar mais aí?
- Mais?
- Sim, como de costume. Não se lembra?
- Ah tudo? Mas... tem a certeza?
- Sim. Eu gosto mais.
- Mas... A sua ginecologista sabe? Não se deve tirar tudo. Os pêlos têm uma função, estão aí por um motivo: proteger as partes íntimas.
- Sabe, não se preocupe. Quando me examina estou assim e nunca disse nada.
- Pronto, o cliente é que manda. Eu é que acho que é perigoso. Deixa de estar protegido.
- Não se preocupe que eu vou muitas vezes à médica e está sempre tudo bem.
Uns segundos depois:
- Hmm... e atrás podia dar um jeitinho?
- fgdigckh krhdrichorch dihdirhd hierho (frase imperceptível, num tom praticamente inaudível).
No final, a minha amiga foi pagar. Estava muita gente na recepção.
- Quanto lhe devo? (baixinho)
- Deixe-me fazer as contas...
- Sim, faça e depois diga-me. (a murmurar, porque estava mesmo muita gente ao balcão também)
- Então vamos lá ver.... Umas VIRILHAS COMPLETAS.... UM ÂNUS... FEZ O ÂNUS NÃO FOI? (aos berros)
A minha amiga quis meter-se num buraco. Mas primeiro ficou vermelha. Depois lá teve que pagar. E depois, sim, foi para casa meter a cabeça debaixo dumas almofadas, tamanha foi a vergonha. Até podia dizer que estava com vergonha até à ponta dos cabelos, mas não seria verdade, porque cabelos já tinha poucos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Férias na neve

Para quem, como eu, anda a sonhar há meses com umas férias na neve (deixem-me só entregar a tese e pego logo na prancha de snowboard), encontrei aqui estâncias a menos de 200€.
Claro que temos que pagar ainda o avião, estadia, etc, mas parece ser de considerar... A ver vamos se isto serve de incentivo para finalmente terminar estas páginas que andam desejosas de sair do meu computador. :)

Perdi parte de mim

Cresci a acreditar em Deus. Não por imposição parental, mas porque julgo que estava naturalmente mais predisposta a ser uma pessoa de fé. Lembro-me de ir sozinha à catequese ao Domingo de manhã, quando os meus pais ficavam na cama. Lembro-me de estudar o catecismo para a comunhão como se dum exame nacional se tratasse. E lembro-me de sentir algo místico quando entrava numa igreja. Sentia que estava em contacto com algo superior, que me transcendia.
E sempre me acalmou pensar que tudo tinha uma razão de ser e que eu era apenas uma personagem deste filme. O guião estava escrito e eu limitava-me a representar o meu papel. Havia um peso que saía de mim quando sentia isto sem dúvidas ou inquietações. Havia um peso enorme que lentamente saía dos meus ombros a cada oração que rezava à noite. Rezava por mim, pela minha irmã, pelos meus pais e por toda a gente que gostava e que sabia que não acreditava. Rezava com todas as minhas forças. Sabia que estava a ser ouvida, que os meus pedidos iam ser analisados por ordem de chegada. E no dia a seguir acordava rejuvenescida, confiante e serena.
Até que o conheci. As suas palavras começaram a entrar em conflito com aquilo em que acreditava. Mas, qual maçã de Eva, não conseguia resistir. Aquele nervoso miudinho aumentava a cada palavra, mas precisava de continuar. Era o Jean-Paul Sartre, que viria a ser obrigatório nas aulas de Filosofia. Segundo ele, o homem era inteiramente responsável pelos seus actos. Tinha sido atirado a este mundo sem qualquer justificação ou significado, e cabia-lhe a si definir o seu futuro, dar-lhe um rumo e um sentido, já que a vida não o teria "a priori". Depois dos livros desse filósofo, muitos mais vieram que me projectaram para um mundo sem a presença do religioso.
Mas lembro-me que foi exactamente nesse primeiro livro que perdi aí parte de mim. E até hoje não voltei a encontrar essa parte. Ficou para ali espalhada, em cada página, em cada palavra. Gostava de voltar acreditar com aquela força genuína e sem questionar. Só que há passos que não têm retorno. E depois de me tornar nesta pessoa cheia de dúvidas nunca mais poderei voltar a ser o que era, aquela menina apenas com certezas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Irritação - afinal agora sou eu com a dor de cabeça

Queria ir correr de manhã - chuva.
Queria pagar a última mensalidade do mestrado - descubro que o %&$#%"$%&#% que me está a dever um pagamento (com 4 dígitos, diga-se de passagem) ainda não me pagou. Andei a perder dias com ele e agora perco meses para receber. Está bonito. Até já sonhei que o encontrei na rua e o comecei a bofetear. Sim, porque não tenho só sonhos cor-de-rosa e este foi bem terapêutico.
Queria fazer um jantar romântico logo (andei a ver receitas na net e tudo) - tem planos, afinal.
Queria uma resposta urgentemente esta semana (de trabalho) - ainda nada.
Apetece-me partir alguma coisa.
E não, não estou com TPM. Estou só muito irritada, hoje.

Quando eles é que queixam de "dor de cabeça"

Ou "estou cansado".
Se até agora era comum associar-se estas desculpas às mulheres, que atribuem a falta de desejo sexual ao cansaço, às dores de cabeça, à TPM ou ao excesso de trabalho, começamos agora a ser confrontados com estudos sobre a realidade oposta: a falta de desejo no masculino. Sim, porque, à semelhança das bruxas, que "lo hay, lo hay", mesmo que todos digam desconhecer esta realidade.
A verdade é que com os efeitos da crise, cortes salariais, com a pressão para serem os melhores nas suas profissões, parece que também os homens podem ter os seus momentos de menor interesse. De acordo com o estudo, e ao contrário do que seria de prever, conclui-se que é a faixa etária mais jovem, entre os 30 e os 40 anos, a mais afectada pelo problema. Além disso, do estudo comparativo com os restantes países da Europa demonstra-se que, apesar de não sermos, comparativamente, tão atingidos pelo stress profissional, é comum apontar-se, no entanto, o dedo (salvo seja) à passividade das companheiras, ao excesso de pornografia disponível na internet ou ainda à "resolução solitária desta problemática", vulgo, masturbação.
Assim, não sendo eu sexóloga nem nenhuma perita (calma, Marta Crawford, o lugar é todo teu!), parece-me apenas que a solução muito simples a retirar será: mulheres, mexam-se, desliguem o computador deles e façam-nos esquecer o stress no trabalho da melhor forma possível. Certo?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vergonha alheia é...

... Isto.
Acabei de ler que o Robert Pattinson, antes de ser vampiro, era modelo de roupa interior... chinesa! Não sei o que é o pior em toda esta história. Deixemos as fotografias falarem por si.
Gostam da meia puxada para cima? Sexy, hãan? Ah e estou na casa-de-banho.
Posso estar de boxers, mas sou um gentleman.
Daqui a uns anos vou estar tão traumatizado com estas imagens que vou desatar a beber sangue e a dizer que não posso sair de casa à luz do dia. Vergonha, muita vergonha.

Casa dos blogs

Ultimamente o meu subconsciente anda a pregar-me partidas.
Depois de ter sonhado que o Brad Pitt se atirava descaradamente a mim (no meu sonho ele estava louco, carente e precisava desesperadamente dos meus mimos - a Angelina deve tratá-o mal, coitadinho! -, mas neguei sempre, de forma estóica), tive outro sonho, esta noite, que manteve os níveis de estupidez em alta.
Sonhei que... txaraaaan!!... estava a participar numa espécie de Casa dos Segredos, com a Teresa Guilherme a apresentar (que a Teresinha nunca falha), mas em que os participantes tinham todos blogs e estavam lá a escrever! Se alguém conseguir superar esta insanidade, apresente-se no balcão de informação, por favor, porque tenho todo o gosto em conhecê-lo.
Julgo que este sonho se formou depois de ter acompanhado, no final do dia, a Maratona Blogueira que conheci por estar anunciada no blog do Homem Sem Blogue e, de seguida, ter assistido à Gala da Casa dos Segredos. O meu cérebro resolveu fazer, com estes dados, um cocktail de pura estupidez, misturou tudo e presenteou-me com um cenário em que todos estávamos nos nossos computadores a postar nos nossos blogs, mas dentro da Casa.
Acho que isto quer dizer que:
i) preciso de férias;
ii) é realmente verdade que ver a Casa tem, como efeito secundário, o assassinato brutal de neurónios;
iii) preciso de deixar as drogas;
iv) tenho que entregar a tese rapidamente, porque o stress está a enlouquecer-me;
v) há uma realizadora dentro de mim e devia apresentar a ideia à Tvi.
Até lá, deixem-me dizer, antes que perguntem, que não sei como era nenhum dos bloggers, porque estava tudo de costas a teclar. Muito simpáticos e sociáveis, portanto.

Só faltam uns computadores e a sala está pronta a ser habitada.

70.ª Gala dos Golden Globes Awards


Já verificaram se os vossos preferidos levaram ontem alguma das estatuetas para casa? Eu ainda não vi "Os Miseráveis", por isso não posso comentar o prémio para Melhor Filme (Comédia ou Musical), "Melhor Actor (Drama)" ou "Melhor Actriz Secundária", mas adorei que o "Argo" tivesse ganho na categoria Melhor Filme (Drama) e Melhor Realizador. Foi dos meus filmes preferidos este ano! Estava a torcer também pelo Bradley Cooper, mas talvez o Hugh Jackman tenha realmente superado. Tenho que confirmar. :)


LISTA DE VENCEDORES DE CINEMA:

MELHOR FILME (DRAMA)
Argo
Django Libertado
A Vida de Pi
Lincoln
00:30 Hora Negra

MELHOR FILME (COMÉDIA OU MUSICAL)
O Exótico Hotel Marigold
Os Miseráveis
Moonrise Kingdom
A Pesca do Salmão no Iémen
Guia para um Final Feliz

MELHOR REALIZADOR
Ben Affleck, por Argo
Kathryn Bigelow, por 00:30 Hora Negra
Ang Lee, por A Vida de Pi
Steven Spielberg, por Lincoln
Quentin Tarantino, por Django Libertado

MELHOR ATRIZ (COMÉDIA OU MUSICAL)
Emily Blunt, em A Pesca do Salmão no Iémen
Judi Dench, em O Exótico Hotel Marigold
Jennifer Lawrence, em Guia Para um Final Feliz
Maggie Smith, em Quartet
Meryl Streep, em Terapia a Dois

MELHOR ATOR (COMÉDIA OU MUSICAL)
Jack Black, em Bernie
Bradley Cooper, em Guia Para um Final Feliz
Hugh Jackman, em Os Miseráveis
Ewan McGregor, em A Pesca do Salmão no Iémen
Bill Murray, em Hyde Park on Hudson

MELHOR ATRIZ (DRAMA)
Jessica Chastain, em 00:30 Hora Negra
Marion Cotillard, em Rust and Bone
Helen Mirren, em Hitchcock
Naomi Watts, em O Impossível
Rachel Weisz, em The Deep Blue Sea

MELHOR ATOR (DRAMA)
Daniel Day-Lewis, em Lincoln
Richard Gere, em Arbitrage – A Fraude
John Hawkes, em Seis Sessões
Joaquin Phoenix, em O Mentor
Denzel Washington, em Decisão de Risco

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO
Alan Arkin, em Argo
Leonardo DiCaprio, em Django Libertado
Philip Seymour Hoffman, em O Mentor
Tommy Lee Jones, em Lincoln
Christoph Waltz, em Django Libertado

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA
Amy Adams, em O Mentor
Sally Field, em Lincoln
Anne Hathaway, em Os Miseráveis
Helen Hunt, em Seis Sessões
Nicole Kidman, em The Paperboy – Um Rapaz do Sul

MELHOR ARGUMENTO
00:30 Hora Negra
Lincoln
Guia Para um Final Feliz
Django Libertado
Argo

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Amour
A Royal Affair
Les Intouchables
Kon Tiki
Rust and Bone

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Brave – Indomável
Frankenweenie
Hotel Transylvania
O Origem dos Guardiões
Wreck-It Ralph

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
A Vida de Pi
Argo
Anna Karenina
Cloud Atlas
Lincoln

MELHOR MÚSICA ORIGINAL
For You, de Homens de Coragem
Not Running Anymore de Stand Up Guys
Safe and Sound de The Hunger Games – Os Jogos da Fome
Skyfall de 007 Skyfall
Suddenly de Os Miseráveis

PRÉMIO CECIL B. DEMILLE
Jodie Foster

LISTA DE NOMEADOS DE TELEVISÃO:

MELHOR SÉRIE (DRAMA)
Breaking Bad
Boardwalk Empire
Downton Abbey
Segurança Nacional
The Newsroom

MELHOR ATOR (SÉRIE DRAMA)
Steve Buscemi, em Boardwalk Empire
Bryan Cranston, em Breaking Bad
Jeff Daniels, em The Newsroom
Jon Hamm, em Mad Men
Damian Lewis, em Segurança Nacional

MELHOR ATRIZ (SÉRIE DRAMA)
Connie Britton, em Nashville
Glenn Close, em Damages
Claire Danes, em Segurança Nacional
Michelle Dockery, em Downton Abbey
Julianna Margulies, em The Good Wife

MELHOR SÉRIE (COMÉDIA OU MUSICAL)
The Big Bang Theory
Episodes
Girls
Uma Família Muito Moderna
Smash

MELHOR ATOR (COMÉDIA OU MUSICAL)
Alec Baldwin, em 30 Rock
Don Cheadle, em House of Lies
Louis C.K.,em Louie
Matt LeBlanc, em Episodes
Jim Parsons, em The Big Bang Theory

MELHOR ATRIZ (COMÉDIA OU MUSICAL)
Zoey Deschanel, em The New Girl
Julia Louis-Dreyfuss, em Veep
Lena Dunham, em Girls
Tina Fey, em 30 Rock
Amy Poehler, em Parks and Recreation

MELHOR TELEFILME OU MINISSÉRIE
Game Change
The Girl
Hatfields & McCoys
The Hour
Political Animals

MELHOR ATOR EM TELEFILME OU MINISSÉRIE
Kevin Costner, em Hatfields & McCoys
Benedict Cumberbatch, em Sherlock
Woody Harrelson, em Game Change
Toby Jones, em The Girl
Clive Owen, em Hemingway & Gelhorn

MELHOR ATRIZ EM TELEFILME OU MINISSÉRIE
Nicole Kidman, em Hemingway & Gelhorn
Jessica Lange, em American Horror Story: Asylum
Sienna Miller, em The Girl
Julianne Moore, em Game Change
Sigourney Weaver, em Political Animals

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO EM SÉRIE, MINISSÉRIE OU TELEFILME
Max Greenfield, em New Girl
Ed Harris, em Game Change
Danny Huston, em Magic City
Mandy Patinkin, em Segurança Nacional
Eric Stonestreet, em Uma Família Muito Moderna

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA EM SÉRIE, MINISSÉRIE OU TELEFILME
Hayden Panettiere, em Nashville
Archie Panjabi, em The Good Wife
Sarah Paulson, em American Horror Story
Maggie Smith, em Downton Abbey
Sofia Vergara, em Uma Família Muito Moderna