segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Reguadas

De vez em quando lemos notícias como esta do Correio da Manhã:
Uma professora com 68 anos, que dava aulas de apoio ao estudo, foi acusada por um dos alunos, com 8 anos, de dar reguadas quando as crianças não decoravam a matéria ou se portavam mal. O Ministério Público entendeu não existir qualquer causa justificativa para a agressão e vai ser julgada.
Ler esta notícia levou-me a pensar no meu caso: levei duas reguadas na vida.
A primeira vez foi na 1.ª classe - alguém escreveu no quadro, durante o intervalo, algo impróprio e ninguém se acusou. Perante isso, a professora ameaçou dar reguadas a todos se ninguém confessasse a autoria da "obra de arte". Mantivemo-nos calados em solidariedade e levámos 3 reguadas cada. Não me custou nada, porque senti que aquele era um acto heróico, além do sentimento de pertença ao resto da turma.
Da segunda, pelo contrário, senti-me completamente injustiçada - estava na 3.ª classe, era uma criança estudiosa e muito calminha. Um dia, quis ajudar um colega a resolver um problema e levei duas reguadas. Apetecia-me chorar, não da dor, mas da injustiça. Apetecia-me agarrar na régua e ripostar. Seguiram-se dias de amuo que culminaram com um pedido de desculpas disfarçado da professora, que me chamou sem motivo aparente e elogiou demasiado algo que eu tinha feito. Percebi o "pedido de amizade" disfarçado (na altura não havia facebooks). E assim fizemos as pazes.
Acredito que seja complicado dar aulas a crianças. São agitadas, gostam de chamar a atenção, têm demasiada energia e muitas vezes problemas de concentração. São barulhentas, precisam de perceber o que é disciplina e conhecer os limites. No entanto, se uma leve reguada merecida tem toda a minha aprovação, já me parece que fazer disso hábito pode ter efeitos perversos: crianças revoltadas, com sentimento de injustiça ou - pior ainda - mais agressivas. Pelo menos comigo foi isso que aconteceu.
Há uma linha muito muito ténue entre aquilo que separa o castigo corporal construtivo do castigo corporal desajustado e destrutivo.
Mas enquanto os professores utilizarem os castigos (não têm que ser físicos, basta terem imaginação) de forma construtiva e proporcional, defendo, sem falsos moralismos, que recorram a eles.

11 comentários:

  1. hoje em dia não se pode tocar nos menininhos que ai coitadinhos que morrem e depois vêm os pais que de pais não têm nada...mas só os professores sabem o que passam com alguns dentro da sala de aula. Uma palmada de quando em quando e na hora certa faz milagres

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    1. Sim, hoje em dia passou-se para o extremo. E há alunos que "pedem" mesmo. :p

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    2. Anónimo12:23

      É muito mais traumatico para os alunos e professores estarem meses a fio em salas onde a indisciplina é total e incontrolável do que a palmada dissuasora. Os excessos praticados no passado impedem-nos hoje de perceber a importância de um castigo ligeiro e oportuno. Bofetadas não mas uma réguada com moderação sim.

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  2. Eu levei tantas e não era por me portar mal nas aulas, levava porque quando a minha professora vinha corrigir exercícios e eu tinha errado, ela sismava que eu tinha que lhe explicar porque razão eu tinha feito mal. Ora bem, se eu tinha feito mal desconhecia a razão de o ter feito uma vez que acreditava que aquela era a forma correta de fazer o exercício. Conclusão, como lhe dizia que não sabia porque tinha feito mal a mulher batia-me e não me deixava sair da escola. E lá vinha a minha mãe desesperada a correr até à escola por pensar que eu tinha sido raptada; e de facto tinha sido, pela professora chanfrada.

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    1. Ui Rita, que idiota de professora. Ainda dá aulas? Tens que me dizer em que escola, para não pôr os meus filhos lá. :p

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  3. Nunca levei reguadas, na minha altura já não se usava. Mas palmadas de vez em quando lá se via, embora também me tenha escapado. As crianças são cada vez mais protegidas, é em casa, na escola, são umas coitadinhas, ninguém lhes pode chegar. O resultado está mais do que à vista. Não acho que tenham de levar grandes tareias, mas esta geração de professores não tem o mesmo pulso que as antigas.

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    1. Carolina, então eras mesmo bem comportada. Conheço pouca gente que tenha escapado à primária sem uma palmada, sequer. :p

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  4. Gostei muito do teu texto e concordo a 100%! Eu levei uma vez um "cachaço" por injustiça também e, como tu, também me senti super revoltada. Mas também concordo que os meninos precisem de disciplina, até porque muitos pais agora deixam a função de educadores para os professores (não acho nada bem!)....
    Beijinhos

    Http://coisasquetaiseafins.blogspot.pt

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    1. Obrigada, sushi. :) E eu concordo com a tua última frase: os professores não devem nunca substituir os pais na educação, apenas complementar. Os pais têm obrigação de os disciplinar em casa, mas por vezes parece que têm medo de levantar a voz ou educar.

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  5. Concordo. Como professora nunca toquei em ninguém. Tive uma professora primária muito austera e que não me deixou saudades. Mas tenho que admitir que uma reguada sem intenção de magoar pode fazer a diferença. Disciplina e evita que se gere a confusão e o desnorte que existe em muitas turmas.

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    1. Então os meus parabéns! Se nunca tiveste que tocar em nenhum aluno é porque te respeitam apenas pela força das palavras. :)

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