quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Perdi parte de mim

Cresci a acreditar em Deus. Não por imposição parental, mas porque julgo que estava naturalmente mais predisposta a ser uma pessoa de fé. Lembro-me de ir sozinha à catequese ao Domingo de manhã, quando os meus pais ficavam na cama. Lembro-me de estudar o catecismo para a comunhão como se dum exame nacional se tratasse. E lembro-me de sentir algo místico quando entrava numa igreja. Sentia que estava em contacto com algo superior, que me transcendia.
E sempre me acalmou pensar que tudo tinha uma razão de ser e que eu era apenas uma personagem deste filme. O guião estava escrito e eu limitava-me a representar o meu papel. Havia um peso que saía de mim quando sentia isto sem dúvidas ou inquietações. Havia um peso enorme que lentamente saía dos meus ombros a cada oração que rezava à noite. Rezava por mim, pela minha irmã, pelos meus pais e por toda a gente que gostava e que sabia que não acreditava. Rezava com todas as minhas forças. Sabia que estava a ser ouvida, que os meus pedidos iam ser analisados por ordem de chegada. E no dia a seguir acordava rejuvenescida, confiante e serena.
Até que o conheci. As suas palavras começaram a entrar em conflito com aquilo em que acreditava. Mas, qual maçã de Eva, não conseguia resistir. Aquele nervoso miudinho aumentava a cada palavra, mas precisava de continuar. Era o Jean-Paul Sartre, que viria a ser obrigatório nas aulas de Filosofia. Segundo ele, o homem era inteiramente responsável pelos seus actos. Tinha sido atirado a este mundo sem qualquer justificação ou significado, e cabia-lhe a si definir o seu futuro, dar-lhe um rumo e um sentido, já que a vida não o teria "a priori". Depois dos livros desse filósofo, muitos mais vieram que me projectaram para um mundo sem a presença do religioso.
Mas lembro-me que foi exactamente nesse primeiro livro que perdi aí parte de mim. E até hoje não voltei a encontrar essa parte. Ficou para ali espalhada, em cada página, em cada palavra. Gostava de voltar acreditar com aquela força genuína e sem questionar. Só que há passos que não têm retorno. E depois de me tornar nesta pessoa cheia de dúvidas nunca mais poderei voltar a ser o que era, aquela menina apenas com certezas.

5 comentários:

  1. Quando tudo o que nos é apresentado como uma certeza absoluta se abala, nada volta a ser como d'antes, sei bem do que falas...

    Jinho

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  2. Tempos houve em q questionava se Deus existia, mas igrejas e afins n era para mim. Quis experimentar a catequese, achei uma chachada. Sempre tive a ideia de q Deus, a existir, com ele se fala em qq lado, de qq forma. A ideia dos padres, do papa, daquela hipocrisia deles q vivem sob todo aquele luxo, a igreja, a instituição q é... n gosto. Para mim, é lixo. É uma opinião e vale o q vale.

    Hoje digo q n acredito em Deus. Foi à conclusão q cheguei, ao longo do tempo. Mas respeito quem acredite. N tento convencer do contrário. Até pq, cm mt bem se diz, em religião, política e futebol n vale a pena tentar converter ng.

    Se te fazia bem acreditar, se, pelo q descreves, te fazia sentir melhor, n deves deixar q nada abale as tuas convicções. É pena qd isso acontece, pq a partir daí, como bem dizes, é difícil voltar ao ponto em q estavas antes.

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  3. Procura bem, dentro de ti :)

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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  4. Aquilo que eu acho da religião está explicado aqui e com muito humor: http://theoatmeal.com/comics/religion

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  5. Como tu, também cresci a acreditar em Deus e em todas as histórias biblícas como se fossem factos consumados... Depois cresci, comecei a fazer as minhas pesquisas, a ler, etc... E as minhas crenças ficaram abaladas.

    Não é que não acredite em nada. Acredite que haja uma energia universal, digamos assim, mas no Deus na Bíblia não. É um Deus com demasiadas contradicões...

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