quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O meu órgão/ instrumento de tortura*

Uma das minhas resoluções para 2013 era retomar alguns dos meus hobbies antigos, como a música.
Só que às vezes estamos cheios de força na passagem de ano, todos nostálgicos com o ano que acabou, e cheios de boas intenções, mas não conseguimos evitar que o entusiasmo depois se esmoreça. Engolimos as uvas passas cheios de garra, enquanto ouvimos as doze badaladas, gritamos bem alto o novo ano, abraçamos as pessoas que nos rodeiam e acreditamos mesmo: "vai ser um grande ano!!". Até que, no dia seguinte, tudo está igual. Old habits die hard e novos hábitos custam a nascer, pelos vistos.
No entanto, lembrei-me no último fim-de-semana, quando fui a casa dos meus pais, que não tinha mais desculpas. A casa tinha estado em obras de remodelação, andaram armados em "Querido, mudei a casa" e, por isso, a minha guitarra e o órgão tinham desaparecido para lugar incerto. Mas agora, com o fim das obras, descobri que o órgão tinha emigrado para o escritório e que a guitarra andava a espreitar timidamente por trás da secretária.
Ia eu ao escritório, muito contente, procurar uns livros e eis que me deparo com algumas das minhas resoluções para 2013 ali especadas a desafiar-me. Primeiro ainda desviei o olhar, mas já era tarde demais: tinha havido confronto visual e eles sabiam que eu sabia.
Sentei-me. Abri o órgão. Tantos anos depois, o reencontro...
A verdade é que sempre quis um piano, até porque passei rapidamente das aulas de órgão para piano, mas nunca o cheguei a receber. E o órgão sempre foi dando para ir treinando umas músicas fora da aulas na academia.
Comecei a tocar.
Naquele momento, senti que tinha novamente 17 anos e estava a tocar para um auditório cheio de gente em delírio.
Naquele momento, senti-me um verdadeiro Chopin e dei por mim a tocar nocturnos de forma irrepreensível.
Naquele momento, ouvi também uma voz:
- Filhaa, não tens que ir? Está a ficar tarde.
Era a voz da realidade. Enquanto eu ouvia Chopin, os meus pais deviam ouvir aqueles putos de 10 anos a treinar o Dó-Ré-Mi com a flauta.
Enquanto eu estava perdida do mundo, agarrada àquela melodia que saía dos meus dedos, os meus pais deviam estar perdidos de tão surdos, a tapar os ouvidos.
- A sério, olha que está a ficar tarde. É melhor ires.
Tenho mesmo que treinar. E arranjar um estúdio com paredes à prova de som, já agora.
Os meus pais devem estar, neste momento, a cavar um buraco para esconder novamente o órgão e eu nunca mais lhe poder pôr os dedos em cima.


*Porque é que me soa ordinário de cada vez que repito "órgão"? Há uns anos juro que nunca me soava mal. É por estas e por outras que tenho mesmo que comprar é um P-I-A-N-O!!! ;)

6 comentários:

  1. ahahaha, não posso crêr que torturas as pessoas quando tocas órgão?! vá, vá, toca a treinar e quem sabe para ono compras um piano!

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    1. Adorava. É caro, mas sempre foi o meu instrumento de eleição e o único que gosto de tocar.

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  2. Ahaha! Eu quando lia "órgão" pensei sempre em rins ou fígados. Nunca nada de ordinário.
    Tenho um vizinho que toca guitarra e de vez em quando lá tenho de o ouvir. A sorte é que ele não toca mal.
    O órgão não permite ligar uns phones?

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    1. Isso é porque nunca leste o Eurico Cebolo. Amanhã falo disso. ;) E não, não tem phones. Para mal dos pecados dos meus pais.

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  3. Por acaso, qd li órgão no título do post tbm me soou a ordinário, LOL. Deve ser da idade. Deixa-nos a mente mais poluída, é normal q há uns anos não te soasse mal :p

    Resoluções de ano novo são sempre difíceis de cumprir mas só depende da força de vontade. E tu pareces tê-la, se já andas a torturar os teus pais com o órgão... :p

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    1. Então estamos as duas muito poluídas, Cynthia :p ahah

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