terça-feira, 25 de novembro de 2014

Não tenho uma profissão com glamour

Hoje, à hora de almoço, fui fazer uma massagem. Uma das que recebi no voucher e cuja história contei aqui. E, enquanto, as minhas costas eram completamente massacradas (quem me mandou dizer que não estava a doer e que podia fazer com mais força?), dei por mim a pensar num tema relevante para o mundo e que me parece que ninguém está a dar a atenção devida: "o que contará um massagista à cara-metade no final do dia?". Falará do tipo de costas que tocou? Dos tipos de pele, mais ou menos macias? Descreverá o tipo de pessoas que massajou, mais ou menos sensíveis? De qualquer maneira, é algo que qualquer pessoa, tenha a formação profissional que tiver, compreenderá, certo? Pois... Uma decoradora igual. Um professor. Um jornalista. Até um arquiteto ou um engenheiro, imagino eu... São profissões que, mesmo que sejam complexas, passam por atividades relativamente fáceis de explicar e "palpáveis". Eu? Eu chego a casa, no final do dia, e sinto que tudo o que conto é chinês. Tento descomplicar. Tento contar de forma interessante. Tento contar só os pormenores que me parecem engraçados. Mas percebo sempre que continua a compreender o que faço tanto como os chineses nos compreendem nos restaurantes.

Ora, como perto de onde trabalho há um consultório dum psiquiatra, criei uma espécie de alter ego que uso quando estou sem vontade de falar do meu dia: sou uma rececionista muito ocupada e dedicada ao trabalho.
- Então como é que foi o teu dia?
- Ai nem digas nada! Hoje o Doutor teve um paciente que veio sem marcação no fim do dia e esteve lá mais duma hora. Já está em tratamento há três anos, mas agora teve uma recaída. Nem parecia o mesmo, estava mesmo perturbado! Tive pena do Doutor!
ou
- Estive a ligar para uns pacientes que não pagaram ainda. Isto está complicado, o Doutor facilita os pagamentos, porque já os conhece há muitos anos, mas eles depois não pagam e eu é que me chateio.

A verdade é que o meu alter ego tem um quotidiano bem mais fácil de explicar que o meu. Um dia destes crio outro alter ego relações públicas. E depois outro jornalista de famosos. E hei-de ter mil e uma histórias interessantes e cheias de glamour para contar no final do dia.

2 comentários:

  1. Se achas difícil explicar como foi o teu trabalho, é porque ainda te perguntam. A mim, já nem perguntam. No máximo, acontece este diálogo:
    - O trabalho correu bem?
    - Sim.
    - Fixe.

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  2. Anónimo20:59

    Tanta conversa e não ficámos a saber o que fazes :(

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