- Já não estava habituada a isto: o abrir-me a porta, o deixar-me passar à frente dele... Até no carro me abre a porta para sair, acreditam? É tão atencioso comigo...
Na altura gozámos com ela, dizendo algo como:
- E vais escolher alguém só porque te abre a porta? E se daqui a dois meses já não abre? Acabas tudo?
Mas o amor não se explica. E aquela não era, definitivamente, "a" razão que a tinha levado a apaixonar-se. Aquela era, isso sim, apenas mais uma das justificações racionais que queria apresentar a si e às amigas para explicar tamanho amor que sentia. Como se tivesse que existir um "gosto dele porque", de forma a merecer total e absoluta aprovação. Não tinha. Para nós, bastava que ele gostasse dela também e que a tratasse bem. Não precisávamos de porquês.
No entanto, lembro-me muitas vezes do pormenor da porta e do gesto de cavalheirismo que a conquistou. Não sei se ainda hoje ele lhe abre a porta, mas penso muitas vezes nesta história. Porque sei que, no fundo, todas nós, mulheres, por muito independentes, ambiciosas e seguras que sejamos, gostamos de ser protegidas, apreciamos um gesto de cavalheirismo. Gostamos de ter um braço forte que nos agarre e diga "estás comigo, vai tudo correr bem". Gostamos de sentir que, se tudo desabar, aquela pessoa está ali e é capaz de lutar contra tudo e todos para nos salvar. Gostamos que nos abram uma porta, de vez em quando. Que nos perguntem se estamos bem, ou se precisamos de alguma coisa. Não sempre, porque isso faz-nos sentir inferiorizadas e frágeis. Por vezes, temos que ganhar um braço de ferro, para nos sentirmos igualmente fortes. Por vezes, na praia, temos que conseguir atirá-los à areia, com uma rasteira traiçoeira, e depois enchê-los de beijos, para nos sentirmos ágeis e invencíveis. Por vezes, temos que conseguir ganhar uma corrida de 100 metros, para nos sentirmos rápidas. Por vezes, temos que ganhar o Trivial, para nos sentirmos cultas. Muitas vezes, temos também que ganhar no SingStar, para nos sentirmos afinadas e com sentido de ritmo. Por vezes, vamos pagar o jantar, para nos sentirmos independentes. Muitas vezes, ao fazemos amor, vamos ficar por cima, para nos sentirmos dominadoras. Mas sei também que nós, mulheres, depois de nos sentirmos fortes no braço de ferro, ágeis e invencíveis nas rasteiras, rápidas na corrida, cultas no Trivial, afinadas no SingStar, independentes com o cartão Multibanco, e até dominadoras na intimidade... gostamos de ceder a cadeira do poder. E gostamos de vê-los vencer cada um dos anteriores desafios. Gostamos de os ver serem mais fortes, mais ágeis, ganharem um ou outro jogo, pagar-nos o jantar e agarrar-nos com destreza e convicção. Gostamos que nos sussurrem "passa" ao chegar a uma porta, e que nos abracem se temos medo ou estamos tristes.
Sim, gostamos de ser protegidas. Gostamos de cavalheiros. Podemos não gostar a toooooda a hora, mas de vez em quando sabe tãooo bem... E não me venham com histórias...
Incrível como consegues pensar exactamente como eu! E provavelmente como a maioria das mulheres por esse mundo fora!
ResponderEliminarJá agora este teu blogue é maravilhoso, adoro ler os teus textos. Força e não pares de escrever!! :)
Claro que gostam....como amigos. ;)
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