terça-feira, 10 de setembro de 2013

Uma família que apenas queria ser como as outras.

Esta é a história de Cecil Gaines e da sua família. E quem é o Cecil? Sabemos que, desde pequeno, se habitou à ideia de que um homem não pode chorar. Sabemos que se habituou a assistir ao seu mundo ruir à sua volta, sem uma única lágrima no seu rosto, sem um único grito. Sabemos que, desde pequeno, se habituou a não depender dos pais e a ser independente. Sabemos que aprendeu a estar numa sala "como se não existisse". Sabemos que, desde pequeno, se habituou a não emitir opiniões, a ser isento, a não se interessar por política, e a refugiar-se no trabalho. E gostamos dele, torcemos por ele ao longo da história, e rejubilamos com o momento em que é convidado para ser mordomo na Casa Branca. Rejubilamos com cada Presidente que passa por ele. E com a forma como também ele passa por eles, quase sem respirar, discreto, gentil, elegante, delicado e sempre atento. Cecil é preto, sabe que pela sua cor é discriminado nas ruas, nos cafés, na política, nas escolas, mas sente-se afortunado por ter tido um melhor destino que os seus pais, por isso nada questiona.

Esta é a história de Cecil, da sua mulher (uma Oprah surpreendente), e dos seus filhos, que nascem numa boa casa, com boa comida, boas roupas, boas escolas. No entanto, o filho mais velho quer mais. Quer poder ir a um restaurante e sentar-se em qualquer mesa. Quer andar em escolas com brancos. Quer poder andar na rua livremente, sem medos. Quer igualdade de direitos. Quer fazer ouvir a sua voz. Junta-se a Martin Luther King. Quer fazer História.

A dada altura, dividimo-nos: por um lado, temos um pai trabalhador que sempre fez tudo para dar o melhor à família e proporcionar uma vida melhor. Por outro lado, temos uma mulher insatisfeita - mal agradecida? E temos ainda um filho revoltado - mal educado? Estamos de que lado? Do lado do pai, que age "como se não existisse" na sua própria casa? Do lado da mãe, que só quer atenção e amor? Do lado do filho mais velho, que exige o fim da discriminação com base na raça? No final, vemos que nem tudo é preto e branco: o mundo não tem apenas duas cores. E cada um pode ter as mil razões, cada um está em si mesmo certo e errado. E esta família, afinal de contas, só quer ser como todas as outras. E emociona. Muito. Muito mais que a classificação de 6,5 que é dada no Imdb. Muito, muito mais. E vale a pena ver nem que seja pela surpresa de ouvir o nosso grande Rodrigo Leão de fundo, nem que seja para assistir a participações inesperadas (Mariah Carey, Lenny Kravitz, a própria Oprah, entre actores consagrados), e ainda para relembrar um pouco da nossa História tão recente. Sim, porque esta é também a História de todos nós, e de todos os Cecil e família que a ajudaram a construir.

1 comentário:

  1. Parabéns Pipa!! Arrepiei-me ao ler tão lindo texto, estou ausente de Lisboa nesta altura ( sou Angolana e estou neste momento de férias em Angola, e não paro de ver os teaser´s de " o Mordomo e Diana ") espero encontrar quando voltar de férias.

    Por isso para mim, este texto teve Algo a mais,.

    Pipa nunca pares .... parabéns pelo lindo texto..

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