terça-feira, 17 de setembro de 2013

És um rato ou uma pessoa?

Pergunto-me muitas e muitas vezes isto: "és um rato ou uma pessoa?". Decido-me sempre pela segunda, cheia de força e convicção, e tomo as decisões custem o que custarem. E é esta convicção que me faz, por exemplo, meter-me num avião, mesmo que a viagem vá durar doze horas (e apesar de odiar andar de avião). E, em trabalho, é esta força que me faz aceitar novas propostas se me parecerem irrecusáveis, mesmo que o coração fique apertadinho e a vida pessoal sacrificada. "Sou uma pessoa, não sou um rato!", digo para mim mesma, e decido, avanço. Avanço... ou tento avançar. A verdade é que, por muito que decida, começo sempre a vacilar no momento de comunicar a decisão que tomei, pois, se há conversa que me custa horrores, essa é sempre "a" conversa. A parte do adeus. Da despedida. Do explicar as razões. A parte de saber que estou a magoar ou a desiludir alguém e, mesmo assim, ter que continuar a falar.

Decido-me sempre pela segunda - "sou uma pessoa!" -, tomo as decisões rapidamente, mas depois fico um longo período de tempo a marinar naquilo, a sofrer por antecipação até à conversa. Perco o sono. Fico com o coração acelerado. Repenso a minha decisão. Sinto o sangue a subir-me para a cara, um rubor estranho, de vez em quando. As mãos mais trémulas. Sim, o sofrer por antecipação é o pior. Só que estou apenas a repetir um erro que já cometi: decido, começo a sofrer por saber que vou ter que me despedir, mas vou adiando, adiando até ao limite, em sofrimento, apenas porque não quero magoar o outro. Ontem finalmente tive "a" conversa, mas tive a certeza, ao avançar para a porta, que não era pessoa nenhuma - sou um rato. Uma pessoa teria falado logo, não andava há duas semanas a pesar os prós e os contras, a pensar, a repensar, o sofrer, a adiar... Sou um rato.

A diferença é que, depois de ontem, sou um rato menos sofredor com a despedida, e mais ansioso pelo que aí vem, pelo futuro que escolhi. Decidi bem? Decidi mal? Não irei sacrificar a minha vida pessoal, ao aceitar algo que me vai exigir distância de todos aqueles que gosto, e ainda mais tempo de trabalho? Decidi a pensar um dia nos meus filhos (e num salário melhor, para lhes proporcionar melhor vida), mas não estarei simplesmente a hipotecar a possibilidade de, no futuro, ser boa mãe, ao meter-me em tanto trabalho? Não sei responder. Nunca sabemos se as decisões foram bem tomadas até as tomarmos e lidarmos com as suas consequências. Sei que decidi a pensar num futuro melhor, e numa vida mais folgada. Espero vir a ter tempo para a gozar. Espero vir a ter tempo para ser boa companheira, amante, amiga, filha, irmã, neta, prima, sobrinha, e, daqui a algum tempo, mãe. E foi nesse sentido que decidi assim. Espero que valha a pena o sacrifício. E que, mesmo que seja um rato, venha a ser um rato feliz.

3 comentários:

  1. Sejas um rato ou uma pessoa, o importante é seres feliz!

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  2. É o problema das decisões difíceis. É inevitável ficarmos eternamente agarrados ao "E se"?

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  3. Boa sorye e como o velho e sabido ditado:
    "Quem muda, Deus ajuda" ;)
    everything is gonna be alright

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