domingo, 13 de setembro de 2015

Um bocadinho de mim

Estive a ler alguns posts antigos meus e foi um exercício engraçado: durante uns largos minutos, voltei a encontrar-me, lembrei-me de quem era há anos atrás. Adoro ser mãe, não me interpretem mal, e adoro conciliar o ser mãe com um trabalho exigente. Não me imagino de outra forma. No entanto, entre o trabalho, o gerir a casa, uma filha e um marido, entre o tratar de todas as facetas da vida, não tenho momentos de pausa. Estou sempre a ir, a fazer, a tratar, a dar, a telefonar, a perguntar, num verbo constante que não me permite, por vezes, simplesmente ser "eu", o sujeito sem predicados. Nos meus posts antigos foi isso que vi: eu, eu, as minhas considerações, opiniões, sonhos, piadas, dramas ou desvarios. "Eu" em modo pausa, contemplativo, às vezes só parvo, mas sempre com tempo, muito tempo.

Onde é que podemos ser nós no meio dos dias a dois, a três, a quatro, entre os dias que se atropelam, onde é que podemos ser nós no meio dos horários, dos prazos e das obrigações? Não sei onde está esse lugar, mas gostava muito de o encontrar outra vez, de vez em quando. Não sei se querer ser eu é, simplesmente, um exercício de narcisismo, um exercício egoísta e infantil, mas sinto que o meu equilíbrio passa por aí, por conseguir conciliar a vida do dia-a-dia com o ter tempo só para ser "eu", com as minhas tais considerações, opiniões, sonhos, piadas, dramas ou desvarios. Ontem estivemos numa festa e a Constança foi connosco. Queria ter uma conversa com princípio, meio e fim, mas não deu. Passei a festa a correr atrás dela, a brincar com ela, a falar sobre ela, a pegar nela e a alimentá-la. Não tive tempo para conversar 5 minutos seguidos nem que fosse sobre o facto de estar chuva ou vento. E isto deixa-me com uma sensação de algum vazio, como se o sermos "nós, família", com tarefas e afazeres me engolisse e me perdesse algures. Sei que nem todos os dias são assim, mas às vezes há um dia destes que nos deixa mais cansados e frustrados e com vontade de nos queixarmos. Faz parte do processo, não faz?


Nota: Gostava de saber escrever bem, ao ponto de conseguir tornar este desabafo um texto poético, bonito, melancólico e profundo, mas saiu assim: um desabafo tosco e desajeitado. Só que nem vou apagar: percebi que este desabafo tosco e desajeitado era, afinal, tudo o que precisava. Hoje, este texto foi o lugar em que me encontrei e fui "eu", só sujeito sem predicado.

2 comentários:

  1. Penso que é frequente. Eu também senti isso... o conceito de "eu" perde-se no conceito de família. Parece que é engolido ;) E ir a eventos sociais com crianças pequenas, esquece... Eheh. Missão impossível!

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  2. Tb sinto isso...descobri que a soluçao é deixar a criança com alguem e ir tomar um cafe com as amigas, só nós. Uma lufada de ar fresco :)

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