terça-feira, 20 de maio de 2014

O dia D #1

Hoje vou escrever um pouco sobre o início do dia "D", o dia em que a Constança (ou "cookie", como a tratávamos carinhosamente durante a gravidez) nasceu. Tenho recebido comentários de outras grávidas e espero, com o meu relato, ajudá-las a elas, a futuras grávidas ou simplesmente a quem o assunto puder interessar. A verdade é que se fala muito da gravidez e do mundo dos bebés, escreve-se muito sobre o "antes" e o "depois", mas encontrei muito pouco escrito sobre o processo do parto em si. Eu tinha a cabeça cheia de mitos - achava, por exemplo, que as águas rebentavam quase sempre, e que era uma questão de minutos até o bebé nascer -, por isso, espero conseguir ajudar a desmistificar alguns. Não esperem que este blog se torne focado na maternidade, porque não vai acontecer. No entanto, se a maternidade passou a ser uma das facetas da minha vida, é natural que aborde o tema juntamente com outros. A quem não interessar este tema, aconselho a parar por favor na próxima linha e a voltar amanhã, sob pena de sair daqui totalmente entediado. Será muito bem-vindo na mesma. A quem interessar o tema, peço então que me acompanhe nas próximas linhas, em que vou explicar o início de tudo. Nos próximos dias continuo o relato, para não ficar hoje um post demasiado comprido. Vamos então a isto?

Como tinha dito uns dias antes aqui no blog, já estava a ficar desesperada por, mesmo a fazer tudo o que supostamente iria acelerar o nascimento - continuei a ir até ao ginásio nadar duas vezes por semana, andei quilómetros a pé sempre que tive oportunidade, percorri a A1 quase todos os fins-de-semana, mantive o ritmo no trabalho, fiz imensas arrumações em casa que exigiram esforço físico -, às trinta e nove semanas e meia de gestação parecia não haver meios de a bebé nascer ou dar sinais de ter pressa. O médico lá me elogiava o colo do útero, a bacia e todas as minhas entranhas reprodutivas, ao som de violinos imaginários na minha cabeça, a bebé continuava "ótima!! Os sinais vitais e os movimentos estão como se quer!", supostamente estava sempre no tamanho e peso certos, era a ode à gravidez, mas... o que é certo é que nunca (!!) mais acontecia o "tal" momento. Desesperada, a partir das trinta e oito semanas dei por mim a sair do trabalho e a andar quase quatro quilómetros a pé até casa. Fazia tudo o que vinha nos manuais e nas lições das nossas avós para acelerar o processo natural (pelos comentários que me tem deixado aqui no blog vocês sabem bem quais são esses truques, seus marotos). Durante a última semana e meia de gravidez deitava-me à noite quase a rezar para acordar toda coberta em água, ou cheia de dores de contrações. Cada dia que acordava igual era quase uma desilusão, nos últimos dias. Não tenho vergonha de o admitir: a partir das trinta e oito semanas estava mortinha por ser finalmente mãe.

Não me interpretem mal: eu adorei estar grávida. E não digo por dizer ou porque me parece soar bem. Não: adorei realmente estar grávida. Nunca tive enjoos, apenas uma ou duas tonturas ao fim de muito tempo parada de pé, nunca fiquei sensível a cheiros ou a sabores, nunca tive dores de qualquer espécie (a não ser um mau estar nas costas, na última semana), não apanhei sustos, não fiquei sonolenta ou cansada. Nada. E agradeço a todos os santinhos por isso. Agradeço mesmo, e do fundo do coração. Não sei se foi o trabalho que me salvou, mas acredito que foi em parte responsável. Como estava a trabalhar há pouco tempo, quis mostrar sempre que era tão capaz como outra pessoa não-grávida e acredito que essa determinação foi fulcral. O que tem que ser tem muita força e sinto que consegui que o meu corpo me ouvisse e estivesse sempre à altura do que lhe "pedi". Como dizia, adorei então estar grávida. Adorei todas as novidades: a barriga crescente, os primeiros pontapés, a curiosidade por saber quem ali estaria, o meu corpo mais feminino que nunca, com novas curvas, a minha pele mais brilhante... Adorei tudo. Até que... a dada altura, as grávidas que me rodeavam começaram a ser mães. E da minha barriga continuava a não sair nada. Sei que a gravidez dura supostamente nove meses/ quarenta semanas, mas a verdade é que poucas grávidas chegam mesmo ao fim do prazo e, a partir de certo ponto, quem continua grávida começa a ser alvo de pressão por parte de quem nos rodeia. E muitas vezes até por desconhecidos, ao sermos atendidas num café ou num supermercado.
- Ainda não nasceu?
(Nestes casos, apetecia-me responder: "Nasceu, sim. Mas portou-se mal e pu-la de castigo lá dentro outra vez!!")
- Então, está quase, não está?
(Muitas vezes respondia, só para me deliciar com a cara de pânico de quem perguntava: "Sim, pode ser a qualquer momento. Mesmo...")
- Ei lá, isso está por dias..!
(Aqui respondia algo parecido, para ver a cara de pânico: "Não diria 'dias'. Parece-me que está por horas.")
Sim, a pressão começa a ser muita. Como se o nosso corpo fosse anormal por aguentar a gravidez até às quarenta semanas. Foi isso que comecei a interiorizar no fim, confesso.

Por isso, quando, ao telefone, foi sugerido consulta "para ver se está tudo bem e se dá para 'acelerar o processo do parto', se for essa a vontade, já que já está no tempo", eu respondi que "sim!!!!" aos saltos e fui a correr preparar tudo. Pelos quatro avós o dia ideal era o dia treze. Lembraram-se todos que eram muito católicos, não sei. Eu não queria saber do dia, podia ser doze ou treze. Só queria conhecer esta bonequinha que levei dentro de mim nos últimos nove meses. Segunda-feira lá estava eu na consulta, ao amanhecer. Deu-me para a pirosice e fui com uns brincos especiais, coloquei máscara nos olhos, BB cream para dar cor à cara, blush... Ok, ok, se ficasse no hospital e se o parto fosse mesmo naquele dia, nada daquilo faria sentido, mas eu queria sentir-me bonita no dia em que podia vir conhecer a minha filha e, sim, queria ficar bem nas primeiras fotos guardadas para a posteridade enquanto mãe. Mãe, essa palavra que antes tinha apenas três letras e que agora me parece grandiosa demais para conseguir dizer sem me comover. Mãe... Seria eu mãe no final desse dia...?

(Continua)

8 comentários:

  1. Anónimo00:58

    Fico a aguardar a continuação do relato pois por aqui encontro-me com 40 semanas e 2 dias e uma bébé preguiçosa :)

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  2. Imagino que a ansiedade a partir de certa altura fosse frande.

    www.prontaevestida.com

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  3. Anónimo22:18

    Queremos maaaais, maaaiiissss :D

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  4. Anónimo22:36

    Sua marota!!!Ahahahah! Eu estou de 36 semanas, e agora fiquei curiosa...não se faz isso a uma grávida!!!Quero saber tudo, tudinho! Beijinhos,Cátia

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  5. À espera do resto da historia! Espero que esteja tudo a correr bem!

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  6. Anónimo15:28

    Por amor de deus vê se arranjas um tempinho para nos contaro resto da historia.
    Eu fui mae ha 4 semanas e ontem depois de alimentar a mnh "cria" às 5 da manha, fui ver se já tinhas escrito mais alguma coisa!

    Não sei se é o facto de estar a passar pelas mesmas fases (se bem que eu estou um pc adiantada em 3 semanas) adoro ler os teus posts acerca da maternidade!

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  7. AHAHA a Pipa colocou todas as grávidas em sintonia =)!está tudo na espectativa =) eu inclusivé mas tenho mais tempo, estou de 30 semanas! Já falta pouquinho mas penso ser o que demora mais a passar!

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  8. Anónimo23:27

    Falta a 3ª parte :)

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