quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Afinal somos todos Charlie?

Não sou jornalista, mas sempre admirei a coragem de quem se deslocava a cenários de guerra, quem tratava temas controversos e de quem dava o nome e/ou a cara a expor a verdade, mesmo que polémica. Não sou jornalista nem sei se teria os ingredientes para o ser, nomeadamente a tal coragem de quem não se importa de correr riscos em nome da notícia. Confesso que também não acompanhava muito o jornal satírico francês Charlie Hebdo. Sei que eram sempre capas polémicas, sei que às vezes via uma ou outra e pensava "ei lá, pisaram um bocado o risco!" (como a capa com o Michael Jackson versão esqueleto e a legenda "finalmente branco!" ou a capa com o Maomé a dizer que é duro ser amado por idiotas - podem ver algumas aqui), mas sei também que os jornais satíricos são especialistas nisso mesmo - em brincar com todos os temas da atualidade, incluindo os mais sérios. Chama-se a isto liberdade de expressão, não é? Sou católica e não adoro que gozem com a minha religião, mas se for uma piada inteligente posso até rir-me também. O mesmo se passa com as minhas convicções políticas, com a minha inclinação futebolística ou até com o meu país ou cidade. Se o humor for inteligente, venha ele, para me rir também. Se for um humor menos inteligente, posso não rir-me, posso até ficar desagradada, mas nada que me tire do sério. No caso dos ataques terroristas em Paris, foi basicamente isto que aconteceu. Ora, o jornal terá ultrapassado os limites do humor? Não teve piada absolutamente nenhuma? O jornal foi até despropositado? Tudo interpretações, tudo subjetivo. O que não é de todo subjetivo é que o que aconteceu ali ultrapassou todos os limites do bem senso e do respeito pelo próximo. É indiscutível - e se não é, devia ser - que as palavras devem ser combatidas com palavras. O verbo deve ser respondido com o verbo. E não com armas. Não com sangue. Não com a vida de alguém. Não sou jornalista, mas ontem, mais que nunca, admirei todos os que escolheram essa profissão. Admirei e admiro todos aqueles que escrevem em nome da verdade e admiro todos aqueles que vivem da liberdade de expressão. Há algo que nos une nas nossas profissões - as palavras -, mas há algo maior que nos separa - a tal coragem que não tenho. Hoje, as minhas palavras estão com eles. E espero que mantenham para sempre a tal coragem que têm e que tornam este mundo um mundo melhor.

6 comentários:

  1. Nem mais..."as palavras devem ser combatidas com palavras". Não há direito de fazer isto.

    ResponderEliminar
  2. Totalmente de acordo. É isto mesmo.

    ResponderEliminar
  3. Acho que escreveste de forma perfeita. Concordo plenamente!

    ResponderEliminar
  4. Anónimo19:35

    Bem... Já me senti perto de levar umas estalas tuas no meio duma conversa sobre política=D

    ResponderEliminar
  5. Anónimo00:48

    Eu sou ateia e mesmo assim achava que eles eram um pouco "brutos" contra os muçulmanos. Mas a questão não é essa. É que mesmo assim acho que eles devem ter a liberdade para isso e quem não goste que não veja. Já dizia Voltaire qualquer coisa como "não concordo com o que dizes mas lutarei até à morte para que possas dizê-lo". Isso é a liberdade de expressão.

    ResponderEliminar
  6. "É indiscutível - e se não é, devia ser - que as palavras devem ser combatidas com palavras. O verbo deve ser respondido com o verbo. E não com armas. Não com sangue. Não com a vida de alguém."

    Para nós isto é básico, mas para os fundamentalistas não. Para eles todos os que não são crentes da religião deles, devem ser castigados com sangue.
    É uma pena que ainda existam formas de pensar assim.

    ResponderEliminar