quinta-feira, 17 de março de 2016

Olá, filho mais querido #2

(Podem ler a primeira parte da história aqui)

Foi, por isso, com um andar desastrado de pinguim (o andar que a emoção, juntamente com as calças ensopadas e os pés e sapatos molhados, permitiu) e os olhos a lacrimejar que entrei finalmente no serviço de obstetrícia. Como desta vez não foi nada planeado, não tinha a minha médica à minha espera e as caras com que me ia cruzando eram todas novas. Não conhecia ninguém! Toda a equipa que me acompanhou no parto da Constança não estava de serviço às terças, pelo que tive que me entregar nas mãos de enfermeiros e médicos desconhecidos. Naquele momento, no entanto, nada disso me estava a preocupar. Tinha decidido que, desta vez, não iria provocar o parto e iria ter o bebé da forma mais natural possível, respeitando os "timings" do bebé e do corpo, por isso, estava apenas a ter o resultado da minha decisão. Apareceu uma médica que me levou para um gabinete. Fez-me as perguntas da praxe - quantas semanas tem? sintomas? foi acompanhada aqui no hospital durante a gravidez e com quem? etc - e pediu-me para me despir. Ia começar a parte de que tinha menos saudades - o chamado "toque". Era preciso ver se já tinha alguma dilatação e se o colo já tinha sido eliminado. Deitei-me na marquesa, contraída e já a antecipar o desconforto do exame.
- Relaxe, por favor. Ainda por cima já passou por isto, não já?
(Eu só pensava - já passei, sim! Por isso é que não consigo relaxar! Dispenso ter uma desconhecida a meter-me os dedos no pipi, ok?! - mas não disse nada e esforcei-me por parecer descontraída a relaxadíssima, como se estivesse num picnic.)

- Ok, já está com 4 dedos de dilatação. E parte do colo eliminado. Parece-me bem encaminhado. E teve rutura parcial da bolsa, certo?
- Sim, tive agora mesmo, antes de entrar. Mas qquilo tudo foi só parte da bolsa?
- Foi... Não foi rutura total. Foi só um bocadinho.
(Fiquei a tentar imaginar como seria se tivesse rompido tudo)
- Entretanto, vamos ver o bebé?
- Vamos!
(Tentei disfarçar a emoção, que era um misto de alívio por o "toque" ter terminado com a alegria por ir ver o meu bebé.)
- Ora bem... Já lhe disseram que o bebé é muito grande, certo?
- Grande? Por acaso disseram o contrário... Estava no percentual 30... Só a semana passada é que disseram que, afinal, podia ter mais de 3,500kgs.
- Pois, mas olhe que tem mesmo. É um bebé muito grande.

Nesta altura, eu não tinha percebido que o facto de ser realmente grande poderia dificultar o parto. Estava convencida que era um erro e que, afinal, não seria assim tão grande. A minha mãe entretanto ligou-me e comentei isto com ela - "acho que o bebé é muito grande. A médica disse que tinha mais de 3,500kgs." Resposta querida da minha mãe - "Mas tu comeste assim tanto?!". Obrigada, mamã!

Fui fazer o CTG (máquina para medir as contrações) no gabinete em frente. Descalça, para não estar a pegar nos saltos, que naquele momento me pareceram totalmente despropositados e nada práticos. Fui logo apanhada.
- De quem são estes sapatos?, ouvi perguntarem alto e bom som no corredor.
- São meus...., respondi, muito baixinho.
A enfermeira veio ao gabinete em que eu estava, com os sapatos na mão.
- Estes. Estes não são seus, pois não?
- ... São...
- Tão altos?
- ... Sim...
- Consegue andar com eles no fim da gravidez?
- ... Consigo...
Entretanto, tinha mais caras à volta (outras grávidas, enfermeiras e duas médicas), qual comissão de avaliação do calçado das grávidas, a olhar para os sapatos e para mim em silêncio. Ninguém disse nada. Mas senti que tinha sido reprovada a minha avaliação.
- São confortáveis, tentei alegar em minha defesa.
- Hmmm...

(Conselho a todas as grávidas em final do tempo: ter sempre um par de sapatos confortáveis por perto, não vá entrarem em trabalho de parto a qualquer momento!)

As contrações eram fortes e constantes, por isso, não havia mesmo dúvidas... Nesse momento, eu ainda estava convencida que o segundo parto era sempre muito mais fácil que o primeiro, por isso, não havia grávida mais otimista e relaxada que eu. Olhei para o relógio - 5 da tarde? Lá para as 7h já devemos ter criança.

Não tínhamos. Cada trabalho de parto é diferente e único, sempre me disse a minha médica. É impossível prever como cada parto se irá desenrolar. E confirmou-se. Tive uma experiência completamente diferente da primeira. E o bebé não iria sequer nascer nesse dia ainda... Mas já lá vamos... Uma parte da história de cada vez.

... Continua...






2 comentários:

  1. :-( agora queremos o resto.... em especial de quem já dormiu mal por ouvir em várias ecografias o dito percentil 30...

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  2. Va vaa queremos saber mais :D :D

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