segunda-feira, 14 de março de 2016

Olá, filho mais querido

-Andas muito caladinha... O que se passa?

Eu sei que devem andar a pensar o que é feito de mim. Passo a explicar: andava eu a trabalhar com o mesmo ritmo de sempre, a treinar duas vezes por semana com a minha querida professora especialista em grávidas e recém-mamãs (até tinha corrido dois dias antes!) e a fazer a minha vidinha normalmente, quando, nesse dia, ao almoço, senti algo estranho... Umas contrações com dores bastante chatas. Como, quando estava grávida da Constança, tive um falso alarme antes do verdadeiro trabalho de parto, desta vez não liguei muito. Apenas comentei com ele, enquanto almoçávamos:
- Estou com algumas dores...
- Queres ir ao hospital?
- Acho que não vale a pena... Vou só se isto continuar.
- Ok. Mas vou trabalhar na mesma agora de tarde ou queres que fique contigo?
- Não, vai, vai trabalhar! Eu também vou. Assim nem me lembro das dores. Se depois piorar ligo-te e dou um saltinho ao hospital.
- Pronto, mas vê lá... Liga-me logo logo!

Voltei para o trabalho. Pelo sim, pelo não, tirei umas fotografias ao restaurante ("nunca se sabe se é mesmo hoje", pensei), ao rio, que estava com uma luz bonita, à cidade... e tirei ainda umas selfies pirosas ("nunca se sabe se é hoje, se for, depois mostro ao meu filho como estava no dia em que nasceu"). No fundo, tinha naturalmente esperança que o trabalho de parto estivesse a começar, mas o meu lado mais realista mandava-me acalmar e prosseguir com a vida normal.

Uns minutos mais tarde, sentada na minha secretária a ler emails e a estudar assuntos pendentes, o meu corpo, no entanto, ia-me pedindo para abrandar. As dores iam e vinham e eram tão fortes como dores menstruais - digamos que de intensidade 3 ou 4, numa escala de 0 a 10 -, mas já não me conseguia concentrar bem no que estava a fazer. Mandei mensagem à minha médica a dizer que estava com algumas dores e a perguntar o que devia fazer.
- Sente o bebé? Se as contrações começarem a tornar-se constantes, deverá ir ao hospital.

Estava perdido o meu dia - já não ia conseguir concentrar-me mais. Se sentia o bebé? Não fazia ideia! No meio das contrações, já não sabia o que sentia mais. O bebé estaria bem? Será que estava em sofrimento e que eu estava a ser egoísta ao armar-me em forte? Comecei a matutar naquilo. Liguei ao meu chefe.
- Já viste aquele email que te mandei? Podes estar presente na reunião?
- Posso, posso. Mas estava a ligar-lhe também por outro motivo.
- Então?
- Estou com algumas dores. Vou ao hospital ver se está tudo bem, ok? Levo o computador. Se estiver tudo bem, depois termino o trabalho em casa.
- Claro!! Vai lá. Depois diz alguma coisa.

Avisei alguns colegas que ia sair, mas que "não devia ser nada". A verdade é que tinha sempre um lado pessimista a dizer-me "não faças grandes filmes, porque quando estavas grávida da Constança também foste uma vez ao hospital e não era nada!". Fui para o carro. Olhei para baixo, para os meus saltos altos, e desejei ter levado outro calçado nesse dia, algo mais prático e "maternal". Viria a confirmar mais tarde que tinha escolhido o pior calçado possível! A viagem para o hospital ainda demorou uns 15 minutos, pelo que deu para ligar ao meu marido, aos meus pais, à minha irmã e ainda  para mandar mensagem às amigas, enquanto ouvia a música que dava na rádio. A meio da viagem, no meio das dores, ainda apanhei um susto no trânsito e dei por mim a pensar que, se morresse num acidente, a capa do JN já me estava destinada - "mãe a dar à luz morre em acidente". Abanei a cabeça - "que estupidez!" - e mudei a estação de rádio para ouvir uma música mais animada. Cheguei ao hospital. Estacionei nas urgências. Por sorte, tinha um lugar para grávidas vazio mesmo à porta. Escondi a mala com o computador no chão do carro. Saí do carro, entrei nas urgências e foi com alguma (muita!!) vergonha que, do alto dos meus saltos de 10 cms e mala ao ombro, informei as meninas da receção que pensava estar em trabalho de parto.

Deram-me uma pulseira com os meus dados, encaminharam-me para a obstetrícia e lá fui eu, ansiosa. Quando cheguei à parte da obstetrícia, decidi ir à casa de banho antes de entrar. Sentia-me a transpirar e precisava de dois segundos de calma antes dos exames todos, precisava de me refrescar e olhar ao espelho. Saí da casa de banho a sentir-me melhor. Só que.... "páaaaaas"!!! De repente, as pernas ficaram molhadas e quentes, e as calças ensopadas.

"As águas!! Rebentaram-me as águas!!".

Só que não foi só a bolsa de água que rompeu. Os meus olhos encheram-se de lágrimas e desatei num pranto tal que tive que me encostar à primeira parede que encontrei. Peguei no telefone. Liguei-lhe, mas nem conseguia falar de tão emocionada que estava.
- Estou a chegar, estou a chegar! Espera por mim!, dizia-me ele.

Um médico passou por mim. A ver-me a chorar assim, deve ter achado que algo de mal se passava:
- Está tudo bem?
- Está!! Desculpe! (sniiiiif) É que estou tão feliz. Estou mesmo feliz. (sniiiif) Rebentaram as águas. E eu nunca tinha sentido isto. E tinha sonhado tanto com isto... (sniiif) Estou mesmo feliz.

O médico desapareceu. Talvez tenha pensado em encaminhar-me para a psiquiatria. Mas cocktail de ocitocina com a emoção de entrar em trabalho de parto espontâneo deu naquilo... Eu estava tão emocionada e feliz que nem me conseguia articular direito.

O que acontecia dali a umas horas?
Esta imagem.
Dali a umas horas, tinha no colo o bebé mais querido, perfeito, adorável, sorridente (chamem-lhe espasmos musculares involuntários, não quero saber, para mim eram sorrisos!) que podia desejar, e com duas covinhas irresistíveis.
Dali a umas horas, descobria que, ao contrário dos meus piores pesadelos, era possível amar o segundo filho com a mesma força, intensidade e sentimento de novidade com que se amou o primeiro filho.
Dali a umas horas, deitava-me, agoniada em dores, com soro a entrar-me no braço, com todos os músculos do corpo doridos (principalmente dos braços), a testa ainda a latejar e um cansaço tal que me sentia atropelada por um camião. Mas deitava-me tão feliz, tão feliz, tão feliz. Tinha acabado de me despedir da filha, que estava radiante, e tinha ido para casa com os avós. E tinha acabado de conhecer o meu.... filho. :)
Conto todos os demais pormenores da história nos posts seguintes, porque lembro-me que gostaram muito da história do parto da Constança e não quero que falte nada. :)

Até já!

13 comentários:

  1. Anónimo17:53

    Oh até me emocionei com o teu texto. Muitos parabéns! Felicidades a vocês. Beijinhos

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  2. Adorei pipa!felicidades!um beijinho Márcia (ainda me lembro do teu e-mail)

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  3. Ohh já nasceu a coisinha fofa!! Parabéns! :) beijinhos e felicidades

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  4. Muitos Parabéns :D Que surpresa hein?

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  5. Parabéns pipa!!! Estou MT feliz por vocês! Que boas notícias, não imaginei que estivesse tão perto de nascer! Muitas felicidades e cá espero mais posts :*

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  6. Jáááá? Não tinha percebido que era para agora! Muitos parabéns :) Relatos positivos o quanto antes, que a minha deve estoirar esta ou a próxima semana!

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  7. Muitos parabéns e as maiores felicidades para vocês! Beijinhos

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  8. Parabéns!! Felicidades e tudo de bom. Beijinhos

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  9. Anónimo12:28

    Parabéns Pippa.. tudo de bom para o bebé.. Como se chama?

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  10. Até roí as unhas a ler este post!
    MUITOS PARABÉNS!!!

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  11. Anónimo21:25

    Tão lindo!!! :) Parabéns.

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  12. Muitos, muitos, muitos parabéns aos...QUATRO!

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  13. Cristina14:31

    Muitos Parabéns! Um beijo grande aos quatro*

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