Peço também desculpa por não andar a ouvir todos os dias Chopin, Bach, Beethoven, Schumann, Liszt e Tchaikovsky de forma a permitir que o teu cérebro se desenvolva a uma velocidade estonteante, como os livros e os fóruns de grávidas na internet recomendam. Sim, ando a ouvir os meus grupos do costume, que vais com certeza achar antiquados quando fores mais velha.
Ah e desculpa também não andar a ler obras do Sófocles, Virgínio, Confúcio, Shakespeare, Goethe, Baudelaire ou Dostoievski no original, em voz alta para ti, todas as noites, de forma a nasceres já poliglota e intelectualmente evoluída, como também já li nalgum lado que devia fazer.
Desculpa. Mas garanto-te que, mesmo sem ter desejos de pratos gourmet, sem ouvir música erudita ou sem ler os grandes clássicos da literatura durante os meses em que estive grávida de ti, desde que te senti a primeira vez que não caibo em mim de alegria. Foi uma gravidez feliz, tranquila e sorridente. E acredito que, no final, isso vale mais que qualquer truque barato lido em fóruns de grávidas ou lido em livros dos grandes entendedores de bebés para fazer de ti uma pessoa também feliz e confiante. Sentes esta alegria toda, não sentes? Sentes este amor que não cabe em mim, não sentes? Quanto à tua erudição... Temos toda a vida para tratar disso se for essa a tua vontade.
Acho que ela vai dizer algo do género: "Eu acho que sou bem disposta porque a minha mãe quando estava grávida de mim andava sempre bem disposta. Até tinha um blogue muito bem disposto! Ou então, não, isto é tudo genético e saio ao meu pai."
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