domingo, 22 de junho de 2014

O sorriso que me deste

Sábado de manhã. Acordar com as temperaturas a fazerem (finalmente!) lembrar o verão. Olhar lá para fora e ver o céu completamente azul a perder de vista. Decidir passar o dia junto ao rio, perdidos no meio dos recortes verdes das montanhas. Sorrir perante a possibilidade de andar de barco. Nadar. Bronzear. Dar uns mergulhos e umas braçadas no rio ou na piscina. Preparar as toalhas, o protetor, as havaianas, o saco da bebé. Andar uma hora e meia de carro. Sim, a promessa do dia paradisíaco fazia valer a pena a viagem. Chegar ao destino. Pegar em tudo, por a bebé na alcofa à sombra, a dormir. Despir. Ficar em bikini. Inspirar. Meter a barriga para dentro. E depois decidir assumir sem complexos o corpo imperfeito de um-mês-pós-parto. O dia estava bom demais para dramas desse tipo. Fechar os olhos. Sentir o sol a tocar a pele, finalmente. Abrir os olhos. Olhar para a piscina e para o rio, lá em baixo. Saborear os momentos de tranquilidade antes de mergulhar. Aiii, rico dia, finalmente!! Até ouvir um choro. Tímido, primeiro. Seguro, depois. E cada vez mais alto. Pegar na bebé. Pegar na bebé, que pelos vistos detestou o calor e queria atenção. Pegar nela e não conseguir voltar a deitá-la o resto do dia, sem que desatasse novamente a chorar de forma desalmada. Piscina? Rio? Sol? Esquecer tudo. Azar... Sol há sempre. E aquele sítio também. Pegar na bebé e ficar à sombra o resto do dia, a ver a paisagem paradisíaca à distância de um choro.

Sábado à noite. Jantar, cada um a pegar na bebé à vez. Despedir-nos do destino. Entrar no carro. Ligar a música. Fechar os olhos. Desfrutar do silêncio, finalmente. Até ouvir um choro. Tímido, primeiro. Seguro, depois. Será fome? Fome será certamente. Olhar para o relógio. Constatar que faltam 45 minutos para chegar ao destino. Decidir saltar para o banco de trás, tirar a bebé do ovo e dar-lhe de mamar. Nisto, reparar que o carro parou. Olhar para fora. Ver, com estupefação, dezenas de caras desconhecidas a olhar para dentro do carro no exato momento em que eu tinha posto a mama de fora para lhe dar de mamar. Pelos vistos tínhamos passado no meio duma festa popular qualquer que tinha ocupado parte da estrada onde passávamos. Oiço-o só comentar virado para trás, meio engasgado: "Pior timing era impossível, não era?". Sim, pior timing era completamente impossível. Escondo-me como consigo. Dou por mim a maldizer com todas as forças aquele sábado, 14, que é pior que mil sextas, 13.

Chegar a casa, cansada e rabugenta. Pegar na bebé. Prepará-la para por a dormir, a sentir-me em modo zombie, a dizer mal do meu dia. De repente, ei-lo. Ali, no meio da escuridão, apenas iluminado pelo candeeiro ao longe da mesinha de cabeceira. Primeiro, duvidei. Seria mesmo? Olhei para outro lado. Voltei a olhar. Seria? Seria? Mas ali estava mesmo. Confirmava-se! O primeiro sorriso da minha bebé querida. O primeiro sorriso rasgado, a desafiar todo o meu cansaço e rabugice. O primeiro sorriso... E repetiu-se. E eu a sorrir também, de modo pateta e descontrolado, sem conseguir parar de sorrir, e depois a rir, e a rir, sem conseguir parar de rir até doerem os músculos da cara. De repente, aquele sábado era um dia radiante e maravilhoso. O cliché do sorriso duma criança. Tornei-me uma pessoa que diz clichés como "nada bate o sorriso duma criança". Mas como não dizer? Não é uma criança qualquer. É a minha filha, que há um mês estava ainda dentro de mim. E riu-se. Riu-se para mim. Que dizer? Fez o meu dia. Sábado, catorze? Fica para sempre assinalado, sim. Mas pelos melhores motivos.

2 comentários:

  1. Acho que foi uma forma de pedir desculpa pelo dia e agradecer à mamã !
    Ser mãe deve ser a melhor coisa da vida!
    Muitos parabéns Pippa!

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  2. Como eu entendo... Basta um sorriso que se esquece tudo!

    http://www.ourbloomydays.blogspot.com.br/2014/06/nunca-me-senti-tao-cansada-nem-mais.html

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