quarta-feira, 17 de junho de 2015

A Maria-vai-com-as-outras

Não gosto de desistir ou dizer "não". Lembro-me que o meu pai me dizia, quando era mais nova, que não podia dizer que "sim" a tudo. "Não podes ser uma Maria vai com as outras. Tens que saber dizer não". Mas eu nasci com vocação para Maria-vai-com-as-outras. E quem nasce com vocação para Maria-vai-com-as-outras dificilmente deixa de ir-com-as-outras. Está-lhe no sangue. E no meu sangue está o "sim". Para pena minha, à medida que os anos passam, cada vez há menos "outras" com quem ir. Cada vez há menos jantaradas, almoços, convites para festas, saídas, corridas, idas ao ginásio, programas vários. A Maria-vai-com-as-outras que há em mim sente-se perdida. Queria muito ir com as outras, mas não há outras para seguir. Por isso, ultimamente, convidem para o que convidarem, por muito cansada que esteja, não consigo meeeesmo dizer não. "Praia?". Mesmo com três horas de sono, vou a correr. "Almoço numa esplanada em frente ao mar"? Mesmo com vento e chuva, dores de ouvidos e uma constipação que insiste em não passar, lá vamos nós. E depois ainda há a minha voz interior, que também gosta de me lançar desafios e incitar a atividades, para preencher todo o tempo. "Trabalhar domingo de manhã para aproveitar o resto do dia?". A Maria-vai-com-as-outras corre e agarra-se logo ao computador. "Não é melhor aproveitar que estão todos a dormir e ir ao Pingo Doce fazer as compras da semana?" A Maria-vai-com-as-outras fica louca com o desafio e vai também. Nem que tenha que carregar quilos até ao carro que não foram feitos para serem carregados por uma só pessoa. "E se agora fosses ao ginásio? Aproveita o tempo". "E que tal agora arrumares toda a roupa de inverno? E arrumares os armários todos da roupa?" Sim. Sim. Sim. "Alinhas numa partida de padel?" Sim. Sempre sim. Não sei dizer não.

Até que ouvi um "estás mesmo exausta, não estás?". "Exausta? Estou ótima". "Não estás. Estás exausta. Não dormes. Trabalhas demais. Não descansas..." E percebi, a olhar ao espelho e ao ver-me com os olhos de outra pessoa, que estava, sim. Ando exausta. O querer fazer tudo deixou-me exausta. E faço tudo, mas faço tudo cansada, sem brilho e a meio-gás. O que é o mesmo que não fazer nada, certo? Por isso, escrevo isto talvez mais para mim que para vocês. Escrevo isto talvez para me obrigar, lendo o que escrevi, que tenho que saber dizer não. Tenho que saber, acima de tudo, dizer não a mim mesma. Deixar o computador no escritório e não o levar para casa, para sessões noturnas de mais trabalho. Não trabalhar aos fins-de-semana. E deixar que a Maria-vai-com-as-outras se concentre em programas mais divertidos que o trabalho. Praia, sim. Almoços, sim. Desporto, sim. Não dormir e só trabalhar, não. Sob pena de ficar "chéché" um dia destes...

1 comentário:

  1. Temos que saber quando parar...Há coisas muito mais importantes que o trabalho!

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