sexta-feira, 25 de abril de 2014

As mulheres e o ginecologistas

Há um ano, falava aqui da minha resistência a ter uma consulta de ginecologia com um médico homem. Ainda se lembram? Basicamente explicava que me fazia confusão pensar em sentar-me naquela cadeira e ser analisada por um desconhecido do sexo masculino. Para mim, era acima de tudo estranho um homem querer trabalhar numa área que para todos os outros é lazer. Parecia-me contra natura. Só que a vida dá muitas voltas e quis o destino que, pouco depois de engravidar, começasse a ser acompanhada por um obstetra homem -  era o único médico que estava disponível naquele dia, àquela hora, no hospital, e tinham-me dado as melhores referências dele. Eu, que não tinha gostado muito da anterior médica, muito stressadinha para o meu gosto, acabei por ceder e fui sendo, desde aí, sempre acompanhada por este médico homem.

Como tem corrido? Muito muito bem. Não podia estar a correr melhor. Adoro o sentido prático dele, e a forma tranquila com que aborda todos os temas e me responde às dúvidas. Ainda na consulta das 37 semanas, nesta Terça-feira, comentava com ele que tinha ido ao estádio e aos festejos. Pensei que ia ouvir uma reprimenda. O que ouvi? "Então leva a Constança para o meio dum jogo desses? A miúda ainda lhe nasce só para poder fugir dali. Olhe que ela pode ser de um clube melhor!". Conclusão (além de ter descoberto que era sportinguista): até as minhas maiores loucuras são sempre apoiadas por ele. Sabe que continuo a ter que andar centenas de quilómetros de carro por semana, sabe que continuo a trabalhar entre dez a doze horas por dia, sabe que continuo a ir ao ginásio, mas nunca me impediu de nada a partir do momento em que percebeu que o meu trabalho não era fisicamente exigente. Ainda por cima é sempre pontual, é despachado, é profissional e tem sempre um espírito descontraído parecido com o meu. Sinto mesmo que encontrei o meu médico ideal. E afinal é homem. É para aprender a nunca dizer "nunca"!!

Esta semana fez-me, pela primeira vez, o "CTG" (exame para contar as contrações, batimentos cardíacos e movimentos da bebé) e, por fim, o famoso "toque" (quem já engravidou sabe do que falo!). Ou seja, ao fim de meses e meses a fazer ecografias apenas, desta vez tinha que me ver "por dentro" e de forma "manual", se é que me entendem. Como já nos conhecíamos há meses, não foi muito estranho. Sentei-me, tentei descontrair, fechei os olhos e estive ali... uns segundos apenas. Zero dor. Só um ligeiro desconforto.
- Só isto?, perguntei-lhe, ainda com medo da resposta.
- Sim. Queria ver a sua bacia e se a bebé estava bem posicionada. Está tudo ótimo. Ótima bacia.
- Ui... e viu isso tudo nestes segundos? Foi tão rápido!
Começou a rir-se.
- Sim. Já sabia que tinha um bom colo do útero, agora era só para confirmar a bacia e a posição da bebé.
E saiu do gabinete. Eu fiquei ali a vestir-me e a inchar de vaidade, toda orgulhosa do meu colo do útero e da minha bacia. No fundo, sei que deve ser um truque barato que lhes ensinam na Faculdade de Medicina, no internato de ginecologia ou obstetricia, para nos esquecermos do desconforto do exame: "não se esqueçam que elas precisam de uns elogios, depois de lhes tocarmos lá em baixo. Mulheres... já se sabe como são!!" Mas não interessa. Senti-me uma Miss-qualquer-coisa a receber a faixa pelo prémio que conquistou. Só que, em vez de Fotogenia ou Simpatia eu tinha conquistado o prémio da Miss Bacia e Colo do Útero. "Quero agradecer à minha mãe e ao meu pai", diria aos jornalistas.

Não é sempre assim que nós, mulheres, nos sentimos nestes exames, ao ouvir estas palavras? Entretanto, descobri este vídeo que parodia exatamente estes estranhos momentos de elogios ginecológicos. Aquela mulher ali sentada podia ser eu ou qualquer outra mulher. Estava indecisa se o partilhava ou não, mas somos todos crescidinhos, por isso, cá vai. (Nota: de qualquer maneira, aconselho só a sua visualização a quem não ficar incomodado com vocabulário mais "agressivo"!)

3 comentários:

  1. Não tens de te sentir constragida por partilhar. Faz parte do quotidiano como tantas outras coisas também. A ideia de ter um homem ginecologista nunca me perturbou. Prefiro um bom profissional ao sexo deste... Mas ainda não passei pela necessidade de recorrer a um por gravidez. Temo sim, cada vez mais, a dificuldade em encontrar bons médicos em todas as áreas de especialidades.

    ResponderEliminar
  2. Tão bom sentir esse apoio num momento mais... vá, embaraçoso!

    ResponderEliminar
  3. Anónimo23:54

    Já foi ter a sua bebe?

    ResponderEliminar