sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O dia D #5 - conclusão

(Primeira parte: aqui; segunda parte: aqui; terceira parte: aqui; quarta parte: aqui)

Como prometido, hoje termino a história do parto e faço também uma síntese dos dias que se seguiram. Contar o desfecho desse dia tornou-se muito mais demorado do que era suposto, mas a verdade é que parte de mim não queria despedir-me desta história, como se o contá-la fosse assumir que realmente já é passado. Parte de mim não estava ainda preparada para terminar o relato, porque, de certa forma, queria ser ainda dona absoluta desses momentos. A qualquer momento poderia emocionar-me novamente e reviver o dia, como se ele estivesse em "pause" e, ao carregar no "play" para o contar, o perdesse para sempre. Hoje decidi que tenho que escrever antes que a demora tenha o efeito perverso de não me permitir lembrar de todos os pormenores e de os perder para sempre. Sim, tenho que terminar a história. Hoje, a história deixa de ser só minha e passa a estar guardada em palavras neste cantinho chamado internet. Quem sabe um dia a Cookie a encontre... Quem sabe...

Ora, depois de saber que a bebé era perfeitinha, como desejado, depois de a vestirem e trazerem novamente até mim, e depois de dar de mamar, vieram as fotografias da praxe, para registarmos os momentos para a posteridade. Nessa altura o meu sogro foi essencial, porque, sem que tenha na altura dado por isso, ia fotografando tudo, para mais tarde recordarmos (de qualquer modo, tenho visto fotografias lindíssimas do dia do parto, como estas da Catarina, do Ties, e tenho pena de não ter tido uma cobertura fotográfica profissional, mas a verdade é que na altura nem me lembrei disso. A ver se no próximo parto me lembro...) Depois disso, veio a realidade: fazer os telefonemas, escrever as mensagens a avisar que tinha nascido, o sermos informados do horário de visita do dia seguinte, tive direito a jantar, depois tive que mudar de quarto, e... a despedida. Como decidi ter a bebé num hospital público, eu já sabia que ia ficar sozinha sem ele. Sinceramente essa parte custou um pouco. Correção: custou muito. Tínhamos vivido aquilo tão juntos, era um momento tão dos três que, naquele momento, não me apetecia ficar a dormir sozinha só com a bebé. Mas teve que ser. Num futuro parto, no entanto, pensarei noutra solução, pois parece-me fazer muito mais sentido termos o marido connosco nesses dias tão importantes. Escusado será dizer que essa noite passei-a praticamente claro. Como todas as seguintes que passei no hospital. A bebé veio com os horários trocados, não queria dormir durante a noite e tinha fome de duas em duas horas, praticamente. Quando, às sete da manhã, eu tinha acabado de adormecer, já as enfermeiras entravam quarto adentro para medir tensões, temperatura e ver a bebé. Durante o dia, as visitas, mesmo que não fossem muitas, também me impediam de dormir.

Quanto ao meu corpo, lembro-me de, no primeiro dia, apalpar a barriga, para ver como estava, e ficar em choque: a barriga continuava grande, como se estivesse de sete meses, só que agora estava flácida em vez de dura e esticada. Parecia uma almofada grande e fofinha. Só ao fim dessa semana encolheu até parecer "apenas" que estava de quatro meses. A barriga no tamanho que tinha antes demorou cerca de uns três meses a aparecer. Quanto ao resto, não tive dores no pós-operatório. Tomei Benuron nos primeiros dias e foram suficientes para não sentir nada. Sei que levei pontos internos, mas pareceu-me sempre estar tudo impecável e no dia seguinte ao parto eu já andava pelos corredores, tomei logo banho, e fui logo à casa-de-banho sozinha. Nada traumatizante. Sentia-me mais dorida e não andava com a mesma desenvoltura, claro, custava um pouco a sentar, mas uma das vantagens do parto normal/ vaginal é isto: podemos fazer a vida normal logo a seguir. Ah e lá em baixo tudo fica igual, posso garantir. Esqueçam os mitos. Somos mais elásticas que a plasticina, o corpo da mulher está mesmo desenhado para isso.

Como disse no post de ontem, a parte de amamentar é que não foi logo tão mágica como tinha imaginado. O facto de termos sempre de estar a olhar para o relógio e a preocupação de confirmar se o bebé mama bem ou não tiram grande parte da magia do ato de dar de mamar. No entanto, vendo à distância, percebo que as enfermeiras foram uma ajuda preciosa nesses dias. Ao contrário do que imaginava, os bebés têm que ser ajudados no início: ou porque adormecem durante a amamentação e temos que os acordar, ou porque não agarram bem, ou porque depois não arrotam logo e bolçam,.. As enfermeiras não desistiam e andavam sempre à nossa volta. Ensinaram a dar banho, a mudar as fraldas e deram dicas até quanto a limar unhas,... Foram realmente incansáveis e fundamentais. Uma delas disse-me que muitas mães nunca pegaram num bebé antes de pegar no filho e, por isso, cada vez mais elas (enfermeiras) têm que estar sempre perto das recém-mamãs para ajudar e tirar todas as dúvidas.

Quando o dia da alta hospitalar chegou, nem queria acreditar que finalmente íamos ser os três novamente. Mais a Malti, claro, que também já estava em casa impaciente e já tinha cheirado as roupinhas da bebé, para se familiarizar ao novo membro da casa (segui todos estes passos do Cesar Millan para apresentar a Malti à bebé). Vesti a bebé, coloquei-a no ovo, e atravessei o corredor do hospital em direção à saída mais ansiosa do que quando entrei ali. Sim, porque agora era a sério. Agora íamos sair os três e íamos abraçar uma nova vida, sem médicos ou enfermeiros por perto. A primeira viagem de carro foi emocionante. Sentia que levava ali o presente mais especial do mundo, o tesouro mais valioso. Passei os primeiros dias em casa em total contemplação. Tudo o que ela fazia era novo. Não conseguia parar de olhar para ela. De cada vez que a via tinha quase que me beliscar para acreditar que era verdade. Era verdade. Não me fez confusão ter sempre gente a volta dela e a pegá-la, mas já várias mulheres me disseram que não gostam particularmente dessa parte. Quanto aos famosos baby blues, tenho a sensação que, se vieram, estavam tão misturados com o cansaço e o sono que nem dei pela sua presença. Fui-me um pouco abaixo uma vez no hospital, mas de frustração por não conseguir dormir, e outra em casa, porque a bebé não parou de chorar durante horas e naquele momento tive medo que realmente o meu leite "não fosse bom", essa frase que tanto ouvi de pessoas mais velhas. Quando falei com o pediatra, este tranquilizou-me e disse apenas "o leite da mãe é sempre bom. A bebé está a crescer muito bem". E nunca mais pensei nisso do leite.

Quantos às minhas certezas iniciais de que teria um parto com o mínimo de intervenção da medicina, com a minha filha a escolher a data, que não teria dores, que ser mãe seria totalmente instintivo, tal como dar de mamar, acalmar os choros, pô-la a dormir, de que conciliar o ser mãe com a vida amorosa e social seria simples, ou ainda a certeza que o meu corpo iria voltar ao normal num ou dois dias? Pois... Nada é tão simples como nos livros ou nos filmes. O nosso corpo pode ser caprichoso e não fazer tudo como queríamos, por isso, as minhas certezas não se verificaram. Acabei por provocar o parto. Quanto às contrações doem mais do que julgava, mas não mais que tirar um dente do ciso. Ser mãe não é apenas instintivo, como imaginava, também se aprende todos os dias: aprendemos a distinguir os choros, aprendemos a conhecer o bebé e os seus horários, aprendemos a gerir a nossa vida e a esticar as horas. A vida social e amorosa também retoma o seu ritmo, com calma. A barriga também volta ao sítio. O que não volta ao sítio é outra parte de nós. Há uma parte de nós que fica para sempre alterada: o coração. Aquela paixão assolapada que sentíamos aos dezasseis anos, aquelas borboletas na barriga que nos atacavam sem aviso prévio? Regressam, mas acompanhadas de uma sensação de tranquilidade tal, que é como se tivéssemos tomado dez Redbull misturados com calmantes (nunca experimentei, mas imagino que sim). Estamos constantemente em pulgas, excitados e felizes, mas ao mesmo tempo sentimo-nos em paz. Cada pessoa descreverá a maternidade de forma diferente, claro. Para mim, estes três meses desde o tal "dia D" têm sido isto: mil borboletas na barriga e, ao mesmo tempo, uma calma e uma sensação de estar totalmente preenchida como nunca tinha sentido. Tenho sono. Sim, tenho sono. Durmo menos. Tenho menos tempo para fazer tudo o que quero. Mas que adolescente apaixonado não dirá o mesmo...?

Por fim, umas palavras para vocês que estão desse lado: obrigada por insistirem comigo para terminar este relato. Obrigada por comentarem sempre estes textos. E obrigada por me terem feito sentir acarinhada por vocês neste momento tão especial da minha vida. Sinceramente comecei a escrever a história do parto mais para mim, julgando que vos iria maçar com um relato tão exaustivo e pessoal, mas foi muito muito especial para mim sentir que estavam realmente a ler e, mais que isso, a acompanhar-me de dia para dia. Não conheço a maioria que me lê, mas pela amostra de quem comenta, acredito que atraí gente muito muito boa onda, algo raro nestas coisas dos blogs. E sinto-me mesmo sortuda por isso. Obrigada. E já agora comentem mais, para vos conhecer mais um pouco, já que dou a conhecer tanto de mim.

24 comentários:

  1. Lindo :)
    Estou "praqui" a tentar segurar a lágrima!!

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  2. Mais um post espectacular! :) Gostei muito dos relatos do dia D. Muito realistas ao contrário de muito do que se vê na internet em que tudo é um mar de rosas cheio de lacinhos e cores pastel eheh Obrigada por partilhares esses momentos.
    Muitas felicidades para os três!
    Beijinhos

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  3. Anónimo12:53

    Matas-me com estes teus textos fantásticos!!! :')
    R. ******

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  4. Pippa, muitas felicidades para os 4 (pois, a Malti também!)!

    Adoro ler os teus textos, as tuas histórias encantam :)

    Beijinhos, Ana

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  5. Também estava ansiosa à espera do fim. O relato tão real e pormenorizado não é maçador, é mesmo algo que pessoas como eu, que nunca passaram pela experiência, agradecem. Um beijinho e muitas felicidades!

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  6. Também fiquei aqui a conter a lágrima!
    Andava ansiosa por ler o desfecho deste capitulo.Tenho a certeza que virão mais e que vamos continuar a deliciar-mo-nos com as tuas palavras!
    Muito Parabéns és uma mamã babada e deixas-me aqui com o meu lado maternal super apurado! :D Ficarei à espera de mais! Beijinho

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  7. Anónimo17:48

    A sua escrita é tão doce e provoca uma emoção tão boa que é impossível não sentir carinho pela pessoa que está desse lado.
    Muitas felicidades! :)

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  8. IsabelB17:55

    Querida Pippa, desde que vi no Arrumadinho o seu blog como blog da semana que o sigo, adoro a sua escrita.... e talvez porque descobri que estava gravida e fui seguindo a sua historia! O meu bebe nasceu entretanto e tem agora 15 dias... Por acaso queria perguntar lhe como fez para regular os horarios do seu bebe.... é que o meu bebe neste momento nao tem horarios, tanto dorme 1 como 4 horas, seja de manha a tarde ou a noite... pior... agora é capaz de ficar 5/6 horas acordado e pedir para mamar de dez em dez minutos! Deu chupeta a sua bebe? como sabe que ele quer mama ou chupeta?

    Agradecia se pudesse responder....

    Felicidades para os 4! é realmente isso...borboletas na barriga

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    1. Eu tentava mantê-la acordada de dia, com luz de casa acesas, e tranquilizá-la de noite, num ambiente mais calmo e escuro, até dormir. Mas demorou até ficar com os nossos horários... É insistir! Quanto à chupeta, ainda não gosta e já vou no 4o modelo. Vou continuar a insistir... Dizem que acalmam muito com a chupeta... Qualquer coisa, pergunta... :)
      Não sou nenhuma perita, mas é sempre bom trocar impressões...

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  9. oh, fizeste me lacrimejar again! aco que é mesmo isso que vou sentir. Muitas muitas felicidades :)

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  10. Anónimo23:52

    És um doce , vejo o nas tuas palavras. Não sou mãe, mas brilho ao ler te tanta ternura. O assunto tinha tudo para me aborrecer, mas não foi possível, limitou se a envolver me e a fazer me sorrir sorrir sorrir. És uma contadora de histórias espetacular. O bom enches de amor, o menos bom preenches de humor. E tanta tranqüilidade!!!
    O teu lado principal desperta o melhor dos teus leitores, porque o teu lado principal é ser genuinamente uma boa menina!
    Se muito feliz, assim desse jeito.
    Vou te mostrando o meu lado como simples leitora, mais uma entre muitas

    E por aqui me apresento,
    Bianca

    Beijos aos molhos!

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  11. Anónimo13:55

    Lindo!!!! :)
    Adoro as tuas partilhas. Que continue a ser sempre assim e que sejam uma família muito feliz!

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  12. Olá Pippa:) Vi-te "nascer" no blog, crescer na vida e no blog:) acompanhei-te e o nascimento deste teu grande amor é o auge de ti, na vida, no blog. As tuas palavras bebem-se. Alimentas-nos. Obrigada. Fazes-me viajar no tempo. Saber-te assim madura e crescida é lindo. Perceber que o teu blog é tão apreciado deixa-me feliz e encantada, porque tu mereces. Como a Sushi diz mantens vivo aquilo que para mim é verdadeiramente um bom blog. Continua:) eu por cá continuo também. Continuação de uma vida feliz:) agora a três. Até Sempre.

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  13. Gostei tanto que até me emocionei. Parabéns pelo blog. Aprecio imenso a forma como escreve e os temos que aborda. Leio religiosamente tudo o que publica. Sou uma verdadeira fã :)

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  14. Foi bonito :) gosto sempre dos teus posts. Tb quero ver se arranjo outra solução para q o pai do bebé fique comigo no próximo parto, porque é sempre melhor do q ficarmos sozinhas!

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  15. Que lindo! Faz qualquer um (uma) ter vontade de ter um baby. Até eu, que tenho pavor de abdicar da minha vida social

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  16. Little Bullet11:41

    Bom dia,

    conheci o teu blog quando vi o video sobre os teus desejos para 2013, e também eu desejo ter uma mala Chanel :) um dia quem sabe ;) desde então que acompanho o teu blog. Devo dizer que ainda não estou na fase de quer ter filhos mas adoro ler os teus textos. Gosto porque mostra uma realidade das mulheres que as mulheres vivem e por vezes acho que tem receio de partilhar. Muito obrigada por isso.
    Tens uma escrita fantástica e que cola qualquer um do inicio ao fim.
    Escreves numa revista ou jornal? desculpa se for demasiado pessoal.

    Vou continuar a escrever a minha tese.. continuação de uma excelente semana.
    cumprimentos para toda a família.

    Marina

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    1. Anónimo15:21

      Pippa, acabaste de ser confundida com a Pepa da mala Chanel! :P Bjs

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    2. Little Bullet23:32

      Bem, obrigada ao anónimo pela iluminação!! Adorei! Como é q eu pensei q era a msm pessoa? Não sei como é possível..
      Mais uma vez obrigada ao anónimo...
      Peço desculpa Pippa, pela confusão :S


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  17. Anónimo23:00

    A sua escrita envolvente, provoca uma emoção tão boa que é impossível não sentir carinho pela pessoa que está desse lado.
    Adorei acompanhar a sua gravidez e assim espero o crescimento da cookie!
    Beijinhos

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  18. Anónimo17:27

    Não tenho filhos nem tenciono ter tão cedo (tenho 22 anos), mas adoro crianças! Adorei a forma como descreveste este momento tão pessoal que acho que nos tocou a todos. Escreves realmente duma forma fantástica. Desejo as maiores felicidades para os 4 (Malti incluída, claro) e espero que surjam relatos das aventuras e gracinhas da pequena :)

    Beijinhos
    Joana

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  19. Agora fiquei ainda com mais vontade de ser mãe!
    Um grande beijinho e muitas Felicidades!

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  20. Anónimo20:12

    E eu que ando para aqui com medo do parto... excelente história :-D

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