Mas esta teoria não nasceu ontem - começou a ser pensada há muitos e muitos anos. Corria o ano de 2006 ou 2007, já não sei precisar, quando conheci um rapaz que me despertou a atenção. Na altura pensei, de mim para mim, pelas características que ali detetei, que teria potencial para vir a gostar dele. Saímos umas vezes, conversámos imenso e achei que estava perante o início de algo. Até que... fizemos a primeira viagem de carro juntos. E a segunda. E a terceira. "Isto afinal não tem pernas para andar!", constatei rapidamente. Porquê? Simples: não nos entendíamos com as músicas. Ele estava numa de bossanova, apenas, e naquele carro só davam cds naquele registo. Eu estava numa de emoção e adrenalina, e a bossanova constrangia-me completamente e aniquilava de forma abrupta esse sentimento que queria sentir. Ficava nervosa ao fim de três minutos a ouvir só aquilo, como se alguém pegasse no meu coração e tentava abrandar o seu ritmo à força toda. Eu não queria estar num momento bossanova, muito calmo, lento e introspectivo - queria estar num momento de rock alternativo, queria rir-me, falar com intensidade e sentir o coração acelerado. Com ele, a letra da música do Rui Veloso fazia todo o sentido e percebi que nunca poderia amar alguém que não ouvia as minhas canções e - pior ainda - me obrigava a ouvir as dele. Surgiu então a teoria da canção e vaticinei: um futuro namorado teria que ter os meus gostos musicais. Até que uma amiga me mostrou as falhas do meu raciocínio: não era uma questão da música em concreto, mas de sintonia.
- Vocês não estavam sintonizados. Ponto, disse-me ela.
- Pois... como as rádios? Realmente, acho que ele estava mais numa de Antena 1 e eu numa de Antena 3.
E assim nasceu a teoria da frequência.
Retomando esta história, não era portanto uma questão de canções. Eu e ele nunca nós iríamos entender, nunca nos iríamos compreender, porque cada um vivia numa frequência diferente. Eu era mais acelerada (apesar da minha aparente calma), e sedenta de emoções e intensidade. Ele emitia numa frequência mais lenta (apesar de parecer mais acelerado), agia e vivia mais devagar. E nem que ouvíssemos a mesma canção mil vezes seguidas aquilo teria ido ao sítio, porque mesmo a canção igual iria ser sentida de forma diferente pelos dois. Com a minha teoria, percebi que podemos amar alguém alguém que não ouve a mesma canção, mas que dança ao mesmo ritmo que nós, por exemplo. Podemos dar-nos bem com alguém que não gosta dos mesmos filmes, mas que quer ouvir as nossas teorias sobre o desenrolar da Guerra dos Tronos. Podemos querer alguém que até é totalmente oposto de nós, mas depois também vibra com um golo do Benfica. Frequências. Tudo uma questão de frequência. Por isso, Rui Veloso, podes levar a tua teoria da canção para longe (deixa só o anel de rubi, que eu prometo tomar bem conta dele). Pode amar-se alguém que não ouve a mesma canção. Desde que emita na mesma frequência. Porque na mesma frequência, tudo o que dissermos, mesmo que não haja acordo em tudo (ou quase nada), mesmo que se diga praticamente em silêncio, é ouvido e (o mais importante de tudo) compreendido. Porque se está sintonizado. E é tudo muito, muito mais fácil. E intenso.
De acordo: nunca concordei com a teoria de se amar a mesma canção, a não ser como metáfora.
ResponderEliminarÉ que de forma literal o que é mesmo amor é estar ao lado de alguém cuja preferência musical nos faz sangrar os ouvidos :D
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Pippa, devia ler ou ouvir, novamente, a letra do Rui Veloso. Se não a interpretar literalmente, vai perceber que ele diz exactamente isso! :) Beijinhos.
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