sexta-feira, 8 de maio de 2015

Nunca chove tanto mais de sete minutos seguidos*

- Nunca chove assim tanto mais de sete minutos seguidos.
- ... Como?
- ... Esta chuva intensa? De acordo com um amigo meu, em Portugal nunca chove assim tão intensamente mais de sete minutos seguidos. Por isso, só temos que esperar mais uns minutos...
- Ok.
- ... E, nessa altura, corremos.

Estávamos ali todos parados, dentro do edifício, a observar em silêncio a chuva a cair lá fora, e a tentar perceber quem primeiro ganharia coragem para enfrentar o dilúvio e ficar ensopado na corrida até ao carro. Aquela frase, vinda do nada, acabou por quebrar o gelo. Já não via aquele meu professor há algum tempo e tinha acabado de o reencontrar numa formação. Lembrei-me, naquele momento, porque é que gostava tanto das aulas dele - tinha sempre algo inesperado para dizer. E, mesmo as frases ou pensamentos mais simples, soavam sempre a algo sábio se fossem ditas por ele.

- Já passaram seis minutos, comentei entredentes.
- Um minuto, então, e o temporal acalma.

Sinceramente, não sei bem se a chuva acalmou realmente aos sete minutos ou se fomos nós que ganhámos coragem, embalados por aquela revelação meteorológica. O que sei é que, sete minutos depois, o temporal parecia-nos a todos mais calmo. E sei que, oito minutos depois, já todos estávamos, cada um no seu carro, rumo a casa. Às vezes, é só isto que precisamos - no meio do temporal (seja o temporal de que tipo for), relaxar e deixar que chova sete minutos seguidos. Deixar que chova. Nunca chove tanto mais de sete minutos seguidos. Repetir: nunca chove tanto mais de sete minutos seguidos. E, ao oitavo minuto, tudo será mais fácil de enfrentar e a chuva parecerá mais calma. Digam lá que o meu antigo professor não tem uma veia poética...?

*E repetir, repetir, repetir. Porque há dias em que chove lá fora e em que chove dentro de nós.

2 comentários:

  1. É tudo uma questão de precipitação. Se te precipitares a correr para o carro, podes lá chegar toda encharcada.

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  2. Uma boa teoria para reter!

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