Pois então era segunda-feira, terceiro dia no Sal, e acordei às 7h. Nos dois dias anteriores tinha-me apercebido de três coisas: com a diferença horária (menos duas horas lá), conseguia acordar muito mais cedo que cá; todo o hotel estava preparado para horários mais madrugadoras dos seus hóspedes; e, por fim, tinha-me apercebido também que a partir das 18h00 o vento levantava e não se estava muito bem ao sol. Assim, era segunda-feira, acordei cedo, mas decidi "abraçar" o dia e não negar o meu lado madrugador.
- Acorda! Vamos tomar o pequeno-almoço e ir até à praia.
- Hmmmppfgghtffff.
- Vá lá, acorda! Vamos aproveitar o dia.
- Hmmpff... Vai indo tu, que eu depois vou ter contigo.
- De certeza?
- Siim...
Não gosto de fazer coisas sozinha, mas o sol já estava a sorrir para mim lá fora, estava com energia e a confiança de estar num país diferente e exótico, por isso, depois de ficar uns minutos na cama, às voltas para um lado e para o outro, decidi ir. Eram quase oito horas. Saí do quarto e fui directa até à praia, que até era mais perto do quarto que a sala onde se serviam os pequenos-almoços. O pequeno-almoço podia esperar pela companhia deles os dois. Passei pela polícia que guardava o portão de acesso à praia, andei um pouco pela areia para decidir onde me deitar e escolhi uma das mil espreguiçadeiras disponíveis. "Isto assim até dá gosto", pensei, ao reparar que, àquela hora, podia ficar com o melhor lugar. Estendi a toalha, pus protector no corpo e reparei na brisa pouco agradável que tirava a vontade de me deitar ao sol. Olhei para o lado e estava um casal a passear junto ao mar. "Vou fazer o mesmo", pensei. "Quinze minutos para lá, quinze minutos para cá e pelo menos faço algum exercício". E assim fiz. Olhei para o telemóvel. Eram exatamente oito horas. "Perfeito. As oito e quinze volto para trás", disse para mim mesma, sem saber que, a essa hora, só ia desejar nunca ter saído dali da toalha. Tirei o vestido, mantive apenas o bikini no corpo, o telemóvel e as chaves do quarto na mão. Comecei a andar, completamente inocente e contente com a perspectiva de estar a aproveitar o dia e de ter ultrapassado o medo de fazer coisas sozinha. O dia estava a ficar melhor, mais quente e cada vez com menos vento. Tirei fotografias ao mar. Molhei os pés. Tentei tirar selfies, mas o vento e a cara de sono não estavam a proporcionar boas fotografias. Desisti. Continuei a andar. Senti-me grata por aquela experiência. Senti-me feliz por estar ali. Senti-me mesmo felizarda com tudo o que a vida já me deu. Acelerei o passo. Ao longe, com as paragens para molhar o pé e as selfies, a senhora que também caminhava já tinha desaparecido de vista. Olhei para o telemóvel. Eram oito e quinze. "Hora de voltar para trás", disse a mim mesma. 8h15. Não eram 8h14, nem 8h16. Eram 8h15. Porque há histórias que têm mesmo hora certa para acontecer. E a pior história da minha vida aconteceu com hora certa. Às 8h15 desse dia.
(Continua...)
A forma como contas as histórias é sensacional! Adoro! É por isso que gosto tanto de vir cá :)
ResponderEliminarOh terminou na melhor parte (ou pior)...Aguardo continuação! Adorei a descrição do local!
ResponderEliminarUiii... e uma pessoa fica assim suspensa? :o
ResponderEliminarEntão?? E o resto da história?? Vamos morrer de curiosidade. Continua com a óptima escrita :D
ResponderEliminarUau :D fico à espera do desenvolvimento :|
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