quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Cartas de amor

No meu liceu era prática comum (não seria em quase todos?) começar a haver o “Correio do Amor” por volta desta altura em que se aproxima o Dia dos Namorados. O mês de janeiro começava a chegar ao fim e os corações começavam a multiplicar-se um pouco por todos os corredores. No bar principal, aparecia uma caixa gigante vermelha que não deixava margens para dúvida: o amor depositava-se ali. Por isso, quem quisesse escrevia umas palavras à pessoa amada, sob o anonimato ou não, guardava-as num envelope, depositava-as ali e, mais tarde, as cartas eram entregues de sala em sala por ajudantes de Cupidos. E o quanto eu adorava este ritual! No dia 14 de fevereiro, lá batiam à porta. O professor mandava entrar e procedia-se de forma solene ao ritual da “chamada amorosa”.
- Ana Isabel?
- Aqui.
- Tens estas cartas para ti. (…) Pedro Miguel??
- Sim?
- Estas são para ti.


A ânsia era sempre grande. Eu não era propriamente a Miss Popular nessa altura. Era uma adolescente um pouco insegura e, por isso, esperava sempre o pior, ou seja, nada. No entanto, as cartas lá vinham. A maioria era das parvas das minhas amigas, que me inventavam admiradores secretos. Essas cartas percebia logo quais eram, geralmente pelo exagero da declaração e pelo perfume polvilhado, com um toque feminino inegável. No entanto, havia sempre alguma carta que me surpreendia completamente. Não sei se já disse aqui alguma vez, mas tive sempre tendência para atrair doidos rapazes um pouco tresloucados. Um ano, recebi uma carta do conhecido por ser "o maluquinho do corredor" – um rapaz continuamente repetente, ano após ano, que ia um dia de barbatanas para a escola e outro dia andava de óculos de sol dentro do edifício. Os Populares, gostavam das Populares. De mim gostavam os malucos. Vá-se lá saber porquê...

No entanto, agora que tantos anos passaram, admito que tenho saudades do que essa altura representava. Podia atrair personagens estranhas nesses tempos, mas tenho saudades de abrir as cartas e descobrir mundos novos, mesmo que imaginados pelas minhas amigas. Tenho saudades de cheirar o papel, analisar a letra, a cadência da escrita, a expressividade da pontuação. E do cheiro do papel, já falei do cheiro a papel? Numa altura de SMS, Whatsapp, Viber, Gtalk, emails, etc, as palavras escritas à mão são cada vez mais escassas. E fazem falta. Ainda mais nesta altura, pirosa ou não.

Por isso, se me estás a ler, este recado é para ti... ;)

5 comentários:

  1. Anna23:54

    E os bilhetes passados durante as aulas? :) Tenho tantas saudades, tenho tantos guardados, 6 ou 7 anos depois de ter acabado o secundário ..

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  2. O maluquinho do corredor01:53

    Estou a ler, mas eu sei lá a tua morada para agora te estar a escrever. A propósito, já acabei o 12º ano!

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  3. No Brasil, o dia dos namorados é no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antonio. Nessa ocasião,os namorados trocam presentes, geralmente durante um jantar especial.

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  4. Tenho saudades desses tempos de escola :)

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  5. Bonita memória.
    Eu recordo disso existir mas onde andei ninguém queria receber nenhuma, porque ia ser gozado. E o pessoal não as escrevia.

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