segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Terapia Casas dos Segredos

A primeira vez que ouvi alguém falar na Casa dos Segredos (a primeira), senti alguma repulsa. Já tinham passado uns anos desde o Big Brother, parecia-me que o formato já estava esvaziado de conteúdo e já tinha dado tudo por tudo, por isso, não me apetecia voltar a ouvir falar de pessoas a discutirem disparates dentro duma casa. Ouvia comentarem este e aquele concorrente, mas punha-me à parte e respondia apenas "nunca vi isso!". E tinha orgulho em não ter visto. Admito que respondia aquilo com aquele orgulho de quem acha que tem cultura a mais para perder tempo com esses disparates televisivos. Essa Casa dos Segredos acabou entretanto, e dela só fiquei a saber que o "Pastor" tinha ganho. Mais nada. E mais nada queria saber. Era feliz assim.

Até que a segunda Casa dos Segredos começou e as conversas de café (e mesmo no trabalho) andavam todas à volta dum tal de Carlos, que tinha ido para a cama já com duas miúdas, e duma Cátia que não sabia Geografia. Os vídeos no Facebook sobre as calinadas de Geografia sucediam-se. Não queria ver, não queria ver, mas a curiosidade foi mais forte que eu. Em casa duns amigos, num certo domingo, demos por nós todos colados à televisão a vermos uma gala e a rirmos às gargalhadas com algumas respostas dos concorrentes. Aos poucos, tornou-se um vício: aos domingos, reuníamo-nos e lá soltávamos umas gargalhadas. As semanas passavam com trabalho, com horários carregados, prazos, refeições para preparar, contas para pagar... e aqueles domingos serviam para desanuviarmos e esquecermos tudo. Aos poucos, passei a sentir um carinho especial por aquelas pessoas que expunham assim sem problemas a sua falta de cultura, falta de papas na língua, que falavam sobre tudo sem pensar duas vezes, que se apaixonavam e desapaixonavam e que não se importavam de ser vigiadas por milhares de desconhecidos. O meu trabalho é tão sério, com uma linguagem tão cuidada e tantos formalismos, que estas pessoas tornaram-se uma lufada de ar fresco.

Hoje, quando oiço alguém comentar a Casa dos Segredos (ou, atualmente, o Desafio Final), já não sinto repulsa nenhuma nem mudo rapidamente o tema. Com dias tão sérios, com problemas tão "de adultos" que tenho, estas pessoas e as suas histórias fazem-me regressar ao liceu, aos primeiros beijos, às discussões sem motivos, aos grupos, às rivalidades, às histórias de corredor. E regressar ao liceu com trinta e um anos, uma criança na barriga, um trabalho tão absorvente e as pessoas mais importantes da minha vida longe de mim, é tudo o que podia pedir dum programa. Obrigada, Casas dos Segredos e afins. São a minha terapia diária, lado a lado com as séries, o blog e algum possível desporto. Não me fazem mais culta nem apta a discutir Economia ou Política no dia seguinte, mas dão-me um sorriso em dois segundos de programa. E há dias em que é tudo o que preciso.

1 comentário:

  1. Anónimo19:16

    Nós, lá por casa, também temos de picar o ponto ao domingo à noite a ver a casa dos segredos, nem que seja só um bocadinho! Agora menos, porque andamos "colados" na série Breaking Bad, mas vemos sempre um bocadinho! É como dizes, funciona como a terapia semanal, ver toda aquela gente expor-se ao ridículo, e, em certas ocasiões, até sentimos vergonha alheia (ex. quando a namorada do Lourenço o pediu em casamento e ele nem sabia onde se havia de meter...). Digam o que disserem os mais cultos e sérios, enquanto houver reality shows eu vou ver, e isso não faz de mim fútil e inculta! ;) Beijinho!!! R.*****

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