A barriga cresce de dia para dia. De repente, sinto que toda a gravidez até aqui foi a gozar e que só agora começa a gravidez a sério. Como se tudo tivesse sido um estágio muito fofinho e só agora tivesse realmente começado o trabalho a sério. E sinto que "isto" já é sério, porque a barriga já fala por si, as pessoas já não têm dúvidas quando olham para mim. Assim, até há pouco tempo, talvez porque sentia que não era notório o novo "estado de graça", não tinha tido ainda coragem de usar filas prioritárias nos supermercados, por exemplo. Sentia que teria que empinar a barriga e ainda chamar a atenção às pessoas e faltava-me coragem. Imaginava um diálogo algo assim: “Hello! Posso passar? ... Porquê? Porque isto é uma barriga de grávida e grávidas, podem passar. Onde é que está a barriga? Aqui, vejam. Esperem, deixem-me afastar um bocado o casaco para verem melhor. Já vêem?” Não estava para isso, por isso, fazia a minha vida nas filas normais e sem utilizar esta nova faculdade que assiste às grávidas. Só a semana passada, quando senti que a barriga de sete meses já falava sozinha (e porque tudo isto coincidiu com filas imensas de gente no Pingo Doce), é que arrisquei e saltei para uma fila prioritária, meia a medo. A verdade é que estava a sentir-me um bocado mal por estar a passar à frente de toda a gente só porque tinha mais barriga que eles (nem todos, devo sublinhar), mas… tenho esse direito, por que não usá-lo? Passei toda a gente pelo lado, muito sorrateiramente, com medo de ser insultada, e fui perguntar à empregada se podia pagar. Não sabia bem como é que as pessoas iriam reagir e se começaria a guerra das prioridades: velhos contra grávidas, grávidas contra pessoas com canadianas, velhos contra mais velhos, grávidas contra mais grávidas. Não aconteceu nada disso, afinal. As senhoras atrás de mim começaram a pedir-me desculpa por não se terem desviado:
- Desculpe, menina, nem a vimos!!
Os miúdos mais novos começaram também a juntar-se ao pedido de desculpas:
- Desculpe, estava aí há muito tempo?
Não estava à espera de tanta aceitação e compreensão. Para ser honesta, sinto-me na plenitude das minhas capacidades e este direito parece-me, para já, algo exagerado, daí só ter feito isto agora. Por outro lado, a fila prioritária existe para estes casos, não é? E se não a usar agora, quem sabe quando é que a conseguirei usar outra vez… E a verdade é que, aqui entre nós, nunca foi tão rápido fazer compras. O pacote da gravidez traz dores de costas incluídas e outros mal-estares associados? Pronto, pelo menos também traz este miminho da prioridade. Não sei se vou voltar a usar estas filas, mas valeu pela experiência e para perceber que as pessoas até parecem sensibilizadas para o assunto.
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