segunda-feira, 24 de março de 2014

Sim, estou viva! (e mais velha)

Não escrevo há uma semana. Foi o maior período que tempo que estive sem escrever desde que tenho este blog. Só que, na verdade, não estive sem escrever estes dias. Na verdade escrevi todos os dias e até mais que uma vez ao dia. O que aconteceu foi que, pela primeira vez, não carreguei no botão “publicar”, no fim de escrever cada texto. Faltou-me a coragem ou a vontade de me expor, não sei bem qual das duas foi. Costumo escrever tudo e publicar sem perder um segundo a pensar se será informação demasiado pessoal ou não. Nestes dias, no entanto, pela primeira vez, questionei até que ponto deveria expor-me tanto ou se não seriam posts demasiado da “esfera privada”. Um dos posts, escrito na terça-feira, era a divagar sobre as diferentes formas com que cada um lida com as emoções mais profundas. Uma pessoa próxima morreu, como terão percebido pelo último texto, e a morte de alguém que nos é querido mexe sempre connosco, mas mexe com cada um de uma maneira muito própria. E escrevi de forma emocionada sobre como foi ver a pessoa que mais gosto no mundo a debater-se para ser forte, na despedida da sua avó, quando eu própria não consegui ser. Escrevi sobre os homens que têm capacidade de se mostrar serenos, mesmo quando o mundo deles desaba e quando os seus corações perdem para sempre uma parte, de forma irreversível. E escrevi também como, por vezes, é difícil proteger, tranquilizar e dar força a alguém que já de si mostra força pelos dois. Num dos dias mais tristes da vida dele, sinto que foi ele que me protegeu e abraçou a mim, apenas "neta emprestada". Sinto que o cenário se inverteu. E sinto que, infelizmente, acabou por sofrer ele sozinho, num recanto isolado e distante dele mesmo, onde nem eu consegui chegar e confortá-lo. Sim, somos todos diferentes e nem todos lidamos de forma igual com a alegria ou com a dor.

Outro dos posts era depois sobre o meu dia de anos e o facto de, pela primeira vez, ir passar a meia-noite do aniversário sozinha. Eram considerações sobre o trabalho, sobre a vida pessoal, sobre o estar (voluntariamente, diga-se) obrigada a estar longe de tanta gente para poder continuar a evoluir profissionalmente - pelo menos assim o espero. Eram, portanto, considerações sobre mim, mim, mim. Cheguei ao fim e aquilo pareceu-me tudo demasiado egocêntrico. Não tive coragem de publicar, ia só maçar-vos com teorias sobre a minha própria maneira de ser e como evoluí nos últimos anos até me ter tornado muito muito menos carente. Não carreguei no “publicar”, porque pareceu-me um texto mais escrito em jeito de auto-psicologia barata que outra coisa qualquer. Não carreguei no “publicar” e, em vez disso, desliguei o computador, desliguei a televisão, liguei a música e decidi começar o aniversário da melhor maneira possível. Eram os meus anos e decidi mimar-me. Tomei um longo banho, fiz um chá, sentei-me no sofá a ler com a chávena ao lado, bem quentinha, com a Malti aos pés a observar-me de forma desconfiada e a bebé aos pontapés, a acompanhar a batida da música. À meia-noite, o telefone começou a tocar e a distância deixou de existir. As palavras começaram a preencher parte daquele sofá, ao ponto de me sentir abraçada e acarinhada. As palavras são só palavras, eu sei. Mas à meia-noite do dia dezanove de março, aquelas palavras ganharam vida e abraçaram-me, não me deixaram sentir sozinha, e festejaram comigo os recém-chegados trinta e dois.

Outro dos posts era um balanço do dia de anos. E contava a conversa que tive com uma tia minha que, basicamente, me perguntou, depois de dar os parabéns, se não me sentia invencível desde que estava grávida. A verdade é que sinto. Não sei se acontece com todas as grávidas, mas comigo tem sido assim. Sinto-me invencível, sim. Sinto-me cheia de força e energia. Já a minha mãe me dizia que nunca foi tão feliz como quando estava grávida, que se sentia bonita, feminina e otimista como nunca. Finalmente percebo o que as mulheres da minha família me foram dizendo ao longo dos anos. O trabalho longe de todos ou com demasiadas horas, os problemas que vão surgindo no dia-a-dia, tudo é relativizado, de repente. E talvez por isso não tenha conseguido publicar o que escrevi sobre a perda duma pessoa querida, ou sobre o facto de estar sozinha no dia de anos – não quis deixar registadas emoções tão negativas. Elas existiram e tiveram importância – muita importância. Mas foram devidamente expurgadas também. Sim, sinto-me otimista e forte. Sim, talvez por isso tenha decidido não publicar relatos menos felizes. Tenho uma vida a crescer dentro de mim e é a isso que me agarro: ao futuro, aos próximos trinta e dois. E que sejam pelo menos tão felizes como estes. A vocês que esperaram por mim... obrigada! ;)

10 comentários:

  1. Anónimo21:05

    já tinha saudades Pippa! Ainda bem que voltou :)

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  2. Anónimo21:07

    Faço anos no mesmo dia :) Muitos parabéns a nós!

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  3. Anna21:30

    Curiosamente, hoje dei por mim a pensar que já não lia nada daqui há imenso tempo, questionei-me se já teria chegado a bebé e tudo :)

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  4. Obrigada é por "voltares"! É sempre um prazer ler-te! :)

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  5. Anónimo23:38

    Acostumei-me a vir ao blog pelo menos ao fim do dia e já tinha pensado se estaria tudo bem...que bom que voltou a "publicar";) E no dia a seguir a ler o seu post também eu perdi uma "avó emprestada" que sempre me tratou como "neta"...uma mulher lutadora que passou pelo mundo e deixou uma linda história de vida...Uma bisavó tão querida e brincalhona... Falando dos 32, fiquei contente por saber que também é de 82;) só podia!!! Beijinho de PARABÉNS. Cátia

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  6. Texto bonito! Parabéns e muita força! ;)

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  7. Não voltes a faltar tanto tempo senão zango-me contigo ;p

    beijos

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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  8. Então PARABENS atrasados ;)

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  9. Anónimo10:58

    Já tinha saudades das suas palavras...! Mas compreendo a situação e deixo-lhe um beijinho de muita força * e já agora, os parabéns atrasados ;) muitas felicidades, tudo de bom pippa!
    Raquel P.

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  10. Já tinha saudades!!!! :)
    Feliz que esteja tudo bem!!
    Obrigada por ter regressado!
    Um beijinho.

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