Comentavam os meus colegas de trabalho, aqui há dias, que os homens eram um bom exemplo de eficácia, no que toca à procriação, em contraposição com as mulheres. Porquê? Porque, segundo eles, a mulher demora nove meses a desenvolver aquilo que eles, em minutos, fizeram. “Os homens são eficientes! Dão-vos, em minutos, tudo o que precisam para trazerem uma criança ao mundo. Vocês é que são muito complicadas e passam meses e meses ali a fermentar aquilo, a deixar crescer aqui uma perninha, aqui outra, agora um braço, agora o outro, agora os pulmões... Não são eficazes, é o que é.”, diziam.
Será verdade? Será que eles são os eficientes e nós as complicadas? Se sim, deixem-me então dizer que esta tem sido, dentro de todo o leque de atividades pouco produtivas, aquela que mais prazer me deu até ao momento. Todos os dias é uma emoção. E não me lembrava de me sentir tão entusiasmada com algo! Acho que nem com os preparativos para o casamento andava assim, e também foram sensivelmente nove meses. Agora dou por mim a ir espreitar diariamente as cinco (!!) aplicações que tenho instaladas no telemóvel, para saber as novidades diárias que ocorrem dentro de mim, qual Big Brother das minhas entranhas. E só penso que ainda bem que ainda tenho três meses de descobertas pela frente! Todos os dias, conto o tempo que já passou desta gravidez. Todos os dias conto os dias que aproximadamente faltam até chegar o grande dia. Vejo quanto deverá medir a bebé. Vejo quanto pesará. Aprendo sobre as suas novas capacidades, como por exemplo o abrir os olhos, o desenvolver a audição ou até meter o dedo à boca. Descubro os sintomas normais de cada fase da gravidez. É, portanto, uma tarefa lenta, ok, mas Vasco da Gama não chegou à Índia em meia hora, certo? Nem, que eu saiba, Camões escreveu os Lusíadas numa produtiva e frenética tarde soalheira. Também não me recordo de ler que Vivaldi tenha composto as Quatro Estações num só dia. Nem nunca me descreveram a rapidez com que da Vinci pintou a Mona Lisa. As melhores obras demoram o seu tempo a estarem concluídas. Gosto de acreditar nisso. E, se o trabalho do homem no que toca à procriação, ficou efetivamente concluído naqueles minutos de prazer, gosto de pensar que a tarefa da mulher leva nove meses totalmente, porque é uma obra feita de amor, tal como o amor que cada um daqueles génios sentiu enquanto criava a sua obra ou desenvolvia a sua descoberta. É um amor que se constrói, devagarinho, em cada dia, é um amor que se constrói em cada centímetro que o bebé cresce, em cada grama que ganha, em cada pontapé que se sente e até em cada dor de costas que se maldiz. É um amor lento e que se constrói devagar. Mas é, por outro lado, um amor de tal ordem que hoje, quando acordei, foi também a esta futura mulher, que cresce dentro de mim, que disse baixinho “feliz dia!”. Porque há várias formas de amor. Há o amor pela pessoa que escolhi para me acompanhar toda a vida, que sinto que me completa e me preenche. E há este amor, que é tão diferente, mas que sinto cada vez mais perto como se fosse a minha Índia. Posso demorar meses a chegar lá, mas tenho a certeza que a viagem já está a valer a pena, pela emoção da antecipação. E já, agora – por que não dizê-lo? – a viagem está também a valer a pena pela companhia que vou tendo, essencial para a emoção de cada dia. Feliz dia do amor aos dois, à companhia, que é quem me faz feliz em cada segundo destes (ineficazes? ou apenas felizes?) nove meses, e ao destino desta viagem, para onde, lentamente, viajamos, e que queremos tanto, tanto conhecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário