A temática não é nada fácil e podia dar lugar a um filme mais dramático se o realizador estivesse para aí virado. Podia ter-se enveredado pelo tom de crítica, pelo apelo às emoções mais básicas do espectador, podia ter-se incitado ao ódio pela igreja católica,... Todas estas opções seriam viáveis se o argumento estivesse entregue a outras mãos. Aqui, o que vemos é quase, pelo contrário, uma produção quase jornalística, em que a própria personagem masculina, jornalista, parece conter as suas emoções, reprimir um pouco as suas opiniões e intervir na história e no desenrolar dos acontecimentos o mínimo possível.
Por isso, mesmo quando parece que o jornalista, ateu e da vivido, vai intervir na história, é apenas ilusão de ótica. Mesmo quando embarcam no avião, porque ele insiste, foi afinal Filomena que assim o quis. Quando é obrigado pela sua chefe a ficar e a convencer Filomena do mesmo… é, afinal, Filomena que o decide. Quando decide entrar em casa do namorado do filho contra a vontade de Filomena, acaba por não intervir de forma alguma, porque é Filomena que age. Quando descobre os segredos do filho, já Filomena os tinha descoberto, afinal, de forma surpreendentemente tranquila. E quando a história é revelada e publicada, é-o apenas por vontade de Filomena. O jornalista poderia ter agido enquanto voz das críticas contra as freiras e, assim, contra a igreja católica. O jornalista poderia ter mudaado as linhas da história e lutar ativamente contra todas as injustiças que encontra. No entanto, o que é engraçado é perceber que, no fim de tudo, é afinal Filomena - essa senhora católica do meio pequeno, improvável heroína -, que nos dá a maior lição de justiça. E, sem raivas ou julgamentos, sem ódios ou sentimentos de vingança, tudo aceita e compreende. Tudo?... Ok, apenas até certo ponto.
Passei o filme todo a tentar entrar cenário adentro e abanar Filomena – “abre os olhos, mulher!! Faz alguma coisa! Revolta-te! Zanga-te! Tenta fazer alguma coisa!!”. Filomena manteve-se serena. E, no fim, foi ela que me abanou a mim. O filme conta uma história dramática e revoltante, mas sem criticar, como se fosse Filomena a estar por detrás das câmaras, a dar-nos a sua visão. E acreditem que vão gostar de conhecer esta mulher. No início vão achá-la quase-beata, passiva, resignada, com os seus romances básicos e a delirar com o pequeno-almoço do hotel. Podem não gostar logo dela, mas vão acabar por perceber que pode haver grandeza mesmo em mulheres assim. Bem... ou então não, vêem o filme, ficam com uma visão completamente diferente da minha e depois vêm aqui criticar este post. Em qualquer dos casos, serão sempre bem-vindos.
tenho de ir ver!! o homem é que nao esta muito virado para isso
ResponderEliminaradorei o filme e percebo exactamente o que estás a dizer!
ResponderEliminarFiquei curiosa, muito curiosa!!
ResponderEliminarnadinhadeimportante.blogspot.pt
O filme é tudo isso que dizes mas a atitude da Philomena (aceitação resignada) é fruto da educação dada pelas freiras da época. Revoltante pela injustiça feita a miúdas abandonadas pela sociedade. O compromisso a que se sujeitara só se desvaneceu cinquenta anos depois. Felizmente, para o bem e também para o mal, os tempos mudam e a humanidade evolui.
ResponderEliminarmozi