sexta-feira, 22 de novembro de 2013

À Cinderella já não basta o sapatinho servir

Encontrei há dias um amigo que não via há séculos. Palavra puxa palavra, novidades puxam novidades, perguntei-lhe pela vida sentimental. “Ainda namoras com a X?”. “Não. A última vez que tivemos contacto, mandei-lhe entregar um presente de aniversário e ela nem me respondeu nem agradeceu. Nunca mais insisti”. “A sério? E o que deste?” Fiquei boquiaberta com a resposta. Ele tinha-lhe dado o presente de sonho de 99% das mulheres, acreditem. Em forma de sapatos. “Oh… e nem uma resposta? Um mísero agradecimento?”. “Nada. Percebi que tinha acabado aí tudo.” Fiquei a matutar uns segundos naquilo. “Ouve lá, eu não tenho nada a ver com isso, mas só contaste histórias até hoje dela a dar-te para trás. Porque é que gostavas tanto dela?”. Ele riu-se. “Sei lá, talvez por isso. Nunca gostei duma mulher que não desse luta. As que me prendem são as que não respondem logo às mensagens. As que não dizem o que eu quero ouvir. As que não ficam logo todas apaixonadas. Não sei o que dizer. Devo ser masoquista.”. Entretanto, perguntou-me o que andava eu a fazer. Caí no erro de confessar que o meu novo hobby era entreteter-me a escrever num blog diariamente. Fez uma cara de surpresa. “Um blog? E escreves o quê?” Disse-lhe a verdade: “tudo o que me vier à cabeça. Mas o que mais gosto de escrever é sobre relacionamentos. Acho piada ao tema.”. “Olha, então já tens tema para amanhã: fala de homens, como eu, que só gostam das mulheres difíceis. E que, talvez por isso, vamos ficar sozinhos”.

Preferia contar uma história diferente, hoje. Só que a verdade é que fiquei a pensar nas milhares de Cinderellas que fazem o mesmo que ele e andam aí a escolher os príncipes difíceis, porque não gostam dos que lhe oferecem os sapatinhos. E fiquei a pensar nos milhares de príncipes conquistadores que nem veem as mulheres que têm à volta, com os pés frios e descalços. Sim, nem sempre é simples. Nas histórias que aprendemos, não me lembro de haver mulheres esquisitas com a pessoa que lhe leva o sapatinho: ele só tinha que servir e pronto. E o príncipe contentava-se com saber que o sapato assentava que nem uma luva. Sem problemas existenciais. Sem dúvidas. Apenas um: “ai serve? És meu. E tu és minha.” Assim era bem mais simples, não era?

3 comentários:

  1. De facto era bem mais fácil :) mas eu gosto de pensar que as histórias de hoje em dia também têm os seus finais felizes...ao fim de um tempo encontrei o meu e acho linda a minha história :)

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  2. eu tambem sou um pouco assim, por vezes ate sou dificil de mais. Mas gosto de historias que tem tudo para dar errado e que no final dao certo contra tudo e todos:)

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  3. Era mais fácil, era mas não saberia tão bem! Adorei a história! Já agora, não poderias dizer realmente qual era a prenda dada? Fiquei curiosa!

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